Poema de agora: Noturno – @alcinea

a7-1
De noite
eu vigio estrelas.
Me embriago de amor e luar.
Passeio com Hemingway em Paris.
Visito os becos de Goiás com Cora Coralina.
E com Quintana eu tento descobrir
o que é que os grilos
passam a noite inteirinha fritando.

Dormir
é bom de manhãzinha
quando o sol
– ainda sonolento e tímido –
pula minha janela
pra me ninar.

(Alcinéa Cavalcante)

Poema de agora: Destino – Jaci Rocha

Destino

Que a sorte esteja convosco…
(Porque ela está!)
A sorte é de acordo
Com o passo que a gente dá…

O eco do espelho, Narciso
É o que te aprisiona ou liberta
Mantenha a porta interior desperta
Deixa o sol te tocar…

Destino, encontro com a fatalidade
Ora, quanta vaidade!
Culpar a divindade por teus atos
Nota, o mundo é todo abstrato…

Coerência é o que te pede a vida
E para teres a sorte escolhida
Talvez seja hora de acordares:
O sonho que vinga é aquele que regares…

Jaci Rocha

Poema de agora: Um pouco mais além do Pau Cavado – Fernando Canto

Um pouco mais além do Pau Cavado

Aqui estou
Olhando a barra azul do outro lado do rio
Como um cachorro sem osso e babento
À espera do girassol que vem do Mar. Vem, sim. vem, sim.
Que traz poesia em suas pétalas
E o vento de um ventilador gigante-amarelado em suas palhetas
Lá das bandas do Pau Cavado,
Onde eu acho que Deus mora.
Aqui me sento e sinto o blues
Incorpóreo e emblemático
De um barquinho de papel de longe tanto,
Da casa dos Oiampis, talvez
Tão longe, no rio de brumas,
Transportando minha angústia
E o meu coração quase sem pulso.

Estou pleno de mim
Assim como a alvineira que acabou de destroçar suas folhas para um verde jovem na frente da cidade.

São cores que deslembro
Em alcalinas manhãs e ocres tardes
Sou, talvez, um compasso sem giro
Um ex-quadro inacabado
Na cerração plausível do meu ser,
Na memória da eternidade interrompida
Que recorda e me projeta aos rastros de anjos num caminho em busca do Criador Incriado.

Ando. Ando não, vivo a imaginar que o interno do meu corpo
Me diz que o lado externo
Pode me trazer
Bocaberta de palavras indizíveis e nunca articuladas.

Agora, este instantinho,
Acho que o Céu fica um pouco mais além do Pau Cavado.
E o Mar vem pelos flancos encontrar-me neste estado
Com suas ondas de lâminas quebradas Luzindo sob o sol ouro-lírico da lesa-linha do equador.

Fernando Canto (em 11.05.2018)

Poetas Azuis gravam primeiro DVD ‘Enquanto a Pele Arrepiar’

A poesia pop e todo o encanto do trabalho detalhista feito pelo grupo Poetas Azuis será registrado em DVD, gravado na próxima sexta-feira, 11, a partir das 19h30, no Sesc Araxá. Este será o primeiro registro audiovisual do grupo, e será chamado de Enquanto a Pele Arrepiar.

No repertório estarão poemas-canções que já são conhecidos pelos fãs que acompanham o grupo como Feliz e Meio, Dia Dez, Quando o Amor Florir, A Poesia em Movimentos, entre outros. Os Azuis também apresentarão quatro novas canções inéditas para o trabalho 2018, incluindo a canção que dá nome ao DVD Enquanto a Pele Arrepiar.

A Apresentação contará ainda com a participação especial das cantoras Adriana Raquel, Márcia Fonseca e Lara Utzig, que interpretarão canções dos Poetas.

“Nós sempre buscamos fazer com a poesia o inimaginável, e já levamos esse trabalho para os mais diversos locais nestes quase seis anos de grupo e queremos agora registrar tudo isso para espalhar pelo mundo a poesia azul”, destaca o poeta Pedro Stkls.

No palco, além de Pedro Stkls e Thiago Soeiro, os músicos Vinicius Bastos, Igor de Oliveira, Paulo Júnior e Paulinho Batera dão ritmo aos poemas falados e cantados.

A apresentação será gratuita e acontece no dia 11 de maio, no Sesc Araxá, a partir das 19h30.

Poetas Azuis

O grupo litero-musical surgiu em junho de 2012 na capital amapaense e foi criado pelos poetas Pedro Stkls e Thiago Soeiro em parceria com o produtor musical Igor de Oliveira. A poesia-musical dos Poetas Azuis reúne elementos diversos tendo como principais influências o Folk, MPB, MPA e o Marabaixo (dança tipicamente amapaense). Suas letras abordam temas como o amor, a saudade, a solidão e as histórias do cotidiano.

Serviço:

DVD “Enquanto a pele arrepiar”
Data: 11 de maio (sexta-feira)
Hora: 19h30
Local: Sesc Araxá
Entrada franca
Classificação Livre

Fotos: Jhenni Quaresma

Poema de agora: De lua – Andreza Gil

De lua 

Por várias vezes a gente se transforma,
se deixa mudar,
se deixa escapar de si e do mundo.

Por várias vezes me vejo em fugas,
em maresias, em ventanias,
dentro e fora de mim.

Por várias vezes lamento meus desejos,
meus desgostos,
meus desamores,
que mais pareço nada amar.

Na outra lua volto,
cheia dos desejos,
dos gostos,
dos amores
e saudades de tudo.

Andreza Gil

Poema de agora: O farol da fortaleza – Hodias Araujo

O farol da fortaleza

O farol da fortaleza
Guiava o navegador
Para achar o rumo certo
E navegar sem temor
Seu destino é ignorado
Com certeza foi roubado
Por algum governador
(…)
E foi assim que sumiram
Alguns dos nossos canhões
Que hoje moram no sul
E embelezam mansões
Será que eles vão voltar
Tomando o rumo do norte
Pra assumir seu lugar
O nosso querido forte

Hodias Araujo

Poesia de agora: POEMA DE AGORA – De Marven Junius Franklin para Elton Tavares

Imagem: Um homem carrega corpo do filho, próximo á fronteira com o Camboja. 19/03/1964.

POEMA DE AGORA (para Elton Tavares)

[Agora]
um poema que emane árias
deixando fluir passos aéreos
a propósito de fulgentes
paralelepípedos de assiduidades
(que nos faça refletir
sobre os tristes Lepidópteros
ancorados nas guimbas dos postes
a esperar pelo hipotético).
Poema pseudo-contemporâneo…sem forma e adereços
(que me faça lembrar
– em particular – dos poetas que se foram
impelidos pelo abana moscas
de suas palavras ásperas e ocas).
[Agora]
– apenas hoje –
um poema riso
que nos faça esquecer
as atrocidades das guerras
e os olhares de reproche
(levando embora
– em suas entrelinhas –
as aflições e disse-me-disses).
Um poema de agora
com versos tramados em girassóis
e eternidades latentes
(aquela vontade de declamá-lo
enaltecendo os afetos e os crepúsculos).
Um poema homilia…com feitio de agradecimento.

Marven Junius Franklin

Reinventar a função da poesia é a proposta de novo recital dos ‘Poetas Azuis’ no AP

Por Jorge Abreu

Aberta ao público, a nova apresentação do grupo lítero-musical Poetas Azuis quer reinventar a função da poesia. O recital “Enquanto a pele arrepiar” vai ser realizado no dia 11 de maio, a partir das 19h30 no Sesc Araxá, em Macapá.

Segundo o artista Pedro Stkls, o recital nasceu da vontade de dar a poesia novos significados e proporções diferentes. Ele ressalta que arrepio é aquilo que nos faz sentir na pele o que nos diz direto o coração.

Grupo Poetas Azuis lança 10º recital em Macapá (Foto: Jhenni Quaresma/Arquivo Pessoal)

“Esse é o nosso 10º recital e, em 2018, a gente completa seis anos de Poetas Azuis. É um show sobre o amor e o que esse sentimento causa. Existem essas relações com o amor, como o humor, saudade, paixão, entre outros”, ressaltou.

Serão cerca de 50 minutos de apresentação do grupo, que interage atrás da poesia falada e poesia cantada. O evento vai contar com participações das cantoras Adriana Raquel, Lara Utzig e Márcia Fonseca.

Serviço:

Recital “Enquanto a pele arrepiar”
Data: 11 de maio (sexta-feira)
Hora: 19h30
Local: Sesc Araxá
Entrada franca

Fonte: G1 Amapá

Poema de agora: FULGOR EQUATORIAL – Marven Junius Franklin

ARTE: Crush artístico! As mulheres surreais de Christian Schloe

FULGOR EQUATORIAL

Um poema mavioso
que traga felicidade
às senhoras mariposas desprezadas
(provoque risos em corsários
envelhecidos).
Um poema canto
que diga bom dia aos bem-te-vis
e neutralize os genocídios
(esbocem guerrilhas de afeto
em subúrbios longínquos).
Um poema esburgado
[entretanto] que de tão exuberante
se torne fulgor equatorial
no céu de Macapá.

Marven Junius Franklin

Poema de agora: Velhos & Novos (Jaci Rocha)

Velhos & Novos

( ” por amor às causas perdidas”)

É demodé escrever à mão
Ouvir uma canção do Ney
Está ultrapassado, e, do outro lado
Ninguém acredita em papai Noel…

Dizem que daqui a 1000 anos
Ninguém saberá dizer ” te amo”
Não haverá camada de ozônio
E seremos alienígenas de nós…

Não existirá papel marché
Coisas que existem apenas para deleite
Como riso, teatro, sorvete
Ou bichos sentimentais,

Bichos como eu e como tu
São coisas esquisitas
Que pedem guarida
À memórias escritas com a tinta da emoção …

E, de antemão
Desistiram de fazer parte
Do dia a dia que arde
No calendário seco
Da modernidade

Perdem tempo – e ganham vida
Com a luz estonteante das estrelas
Brincam de escrever poemas
E escrever na areia
Mensagens de amor…

Jaci Rocha

Poema de agora: Talvez seja Macondo – @juliomiragaia

Talvez seja Macondo

Talvez seja Macondo
Quando a chuva
Vence o dia
Nos últimos ramos de abril

Talvez sejam fortalezas
As borboletas
Que se dissolvem
Nas asas do céu

Talvez esses incêndios
Estejam há séculos
Perdidos e roucos
Na fila do SUS

Talvez seja o equinócio
Aquecendo o cio da cidade,
Separando o amor da ressaca
Separando a fome da dor

Talvez o ano tenha pernas
Mais afobadas que o sol
E talvez não tenhamos roupas
Para todos os dias do mês

Talvez seja Macondo
O ombro deslocado
Dançando desgraçadamente
Nas noites de maio

E talvez a chuva
Vença o dia
Nos últimos ramos de abril
Por dois incêndios

Inacabados,
Dois peixes embriagados
De Gabos e Benedettis
Que talvez sejas tu e talvez seja eu

E talvez tu e eu nos sejamos
Perdidos, entre pretéritos
Intransitáveis, nas praias
Dos dias assim…

O quarto clareou timidamente, enquanto o ar condicionado soprava um vento frio nos pés, a única parte descoberta pelo edredom. Levantou nadando contra o rio de preguiça nos ossos, na pele e nos pelos, tropeçando em meias, pornografia, latas de cerveja e canções de Mercedes Sosa.

Tomou um banho frio com sabonete Phebo, para exorcizar o álcool que exalava do corpo. Preparou o café e bebeu sem açúcar, ouvindo um programa evangélico no rádio. Em nada pensava e olhava para o nada como se o nada nada fosse. Apenas existia, de cueca, sentado na única cadeira da cozinha.

Arrumou-se uma vez mais como um robô, vestindo-se, colocando o notebook na mochila, o celular no bolso e esquecendo religiosamente o boleto da conta de luz.

Ao abrir a porta para a rua, ouviu um som crescente como um assobio rasgar o barulho do trânsito e uma luz intensa e ardente a tomar conta de tudo, até tudo se calar e desaparecer.

Júlio Miragaia