Definição
Amor:
Quatro letras, um vocábulo
E ao mesmo tempo tão arbitrário
Que nenhum dicionário
Consegue, de fato, conceituá-lo.
Lara Utzig
De noite
eu vigio estrelas.
Me embriago de amor e luar.
Passeio com Hemingway em Paris.
Visito os becos de Goiás com Cora Coralina.
E com Quintana eu tento descobrir
o que é que os grilos
passam a noite inteirinha fritando.
Dormir
é bom de manhãzinha
quando o sol
– ainda sonolento e tímido –
pula minha janela
pra me ninar.
(Alcinéa Cavalcante)
Destino
Que a sorte esteja convosco…
(Porque ela está!)
A sorte é de acordo
Com o passo que a gente dá…
O eco do espelho, Narciso
É o que te aprisiona ou liberta
Mantenha a porta interior desperta
Deixa o sol te tocar…
Destino, encontro com a fatalidade
Ora, quanta vaidade!
Culpar a divindade por teus atos
Nota, o mundo é todo abstrato…
Coerência é o que te pede a vida
E para teres a sorte escolhida
Talvez seja hora de acordares:
O sonho que vinga é aquele que regares…
Jaci Rocha
Um pouco mais além do Pau Cavado
Aqui estou
Olhando a barra azul do outro lado do rio
Como um cachorro sem osso e babento
À espera do girassol que vem do Mar. Vem, sim. vem, sim.
Que traz poesia em suas pétalas
E o vento de um ventilador gigante-amarelado em suas palhetas
Lá das bandas do Pau Cavado,
Onde eu acho que Deus mora.
Aqui me sento e sinto o blues
Incorpóreo e emblemático
De um barquinho de papel de longe tanto,
Da casa dos Oiampis, talvez
Tão longe, no rio de brumas,
Transportando minha angústia
E o meu coração quase sem pulso.
Estou pleno de mim
Assim como a alvineira que acabou de destroçar suas folhas para um verde jovem na frente da cidade.
São cores que deslembro
Em alcalinas manhãs e ocres tardes
Sou, talvez, um compasso sem giro
Um ex-quadro inacabado
Na cerração plausível do meu ser,
Na memória da eternidade interrompida
Que recorda e me projeta aos rastros de anjos num caminho em busca do Criador Incriado.
Ando. Ando não, vivo a imaginar que o interno do meu corpo
Me diz que o lado externo
Pode me trazer
Bocaberta de palavras indizíveis e nunca articuladas.
Agora, este instantinho,
Acho que o Céu fica um pouco mais além do Pau Cavado.
E o Mar vem pelos flancos encontrar-me neste estado
Com suas ondas de lâminas quebradas Luzindo sob o sol ouro-lírico da lesa-linha do equador.
Fernando Canto (em 11.05.2018)
A poesia pop e todo o encanto do trabalho detalhista feito pelo grupo Poetas Azuis será registrado em DVD, gravado na próxima sexta-feira, 11, a partir das 19h30, no Sesc Araxá. Este será o primeiro registro audiovisual do grupo, e será chamado de Enquanto a Pele Arrepiar.
No repertório estarão poemas-canções que já são conhecidos pelos fãs que acompanham o grupo como Feliz e Meio, Dia Dez, Quando o Amor Florir, A Poesia em Movimentos, entre outros. Os Azuis também apresentarão quatro novas canções inéditas para o trabalho 2018, incluindo a canção que dá nome ao DVD Enquanto a Pele Arrepiar.
A Apresentação contará ainda com a participação especial das cantoras Adriana Raquel, Márcia Fonseca e Lara Utzig, que interpretarão canções dos Poetas.
“Nós sempre buscamos fazer com a poesia o inimaginável, e já levamos esse trabalho para os mais diversos locais nestes quase seis anos de grupo e queremos agora registrar tudo isso para espalhar pelo mundo a poesia azul”, destaca o poeta Pedro Stkls.
No palco, além de Pedro Stkls e Thiago Soeiro, os músicos Vinicius Bastos, Igor de Oliveira, Paulo Júnior e Paulinho Batera dão ritmo aos poemas falados e cantados.
Poetas Azuis
O grupo litero-musical surgiu em junho de 2012 na capital amapaense e foi criado pelos poetas Pedro Stkls e Thiago Soeiro em parceria com o produtor musical Igor de Oliveira. A poesia-musical dos Poetas Azuis reúne elementos diversos tendo como principais influências o Folk, MPB, MPA e o Marabaixo (dança tipicamente amapaense). Suas letras abordam temas como o amor, a saudade, a solidão e as histórias do cotidiano.
Serviço:
DVD “Enquanto a pele arrepiar”
Data: 11 de maio (sexta-feira)
Hora: 19h30
Local: Sesc Araxá
Entrada franca
Classificação Livre
Fotos: Jhenni Quaresma
De lua
Por várias vezes a gente se transforma,
se deixa mudar,
se deixa escapar de si e do mundo.
Por várias vezes me vejo em fugas,
em maresias, em ventanias,
dentro e fora de mim.
Por várias vezes lamento meus desejos,
meus desgostos,
meus desamores,
que mais pareço nada amar.
Na outra lua volto,
cheia dos desejos,
dos gostos,
dos amores
e saudades de tudo.
Andreza Gil
Escala
Nenhum homem é Deus.
Nenhum homem é tudo.
Nenhum homem é nada.
Todo homem é conjunto:
harmonia e desordem,
todas as notas misturadas
que parecem uma nota só.
Paulo Tarso Barros
O farol da fortaleza
O farol da fortaleza
Guiava o navegador
Para achar o rumo certo
E navegar sem temor
Seu destino é ignorado
Com certeza foi roubado
Por algum governador
(…)
E foi assim que sumiram
Alguns dos nossos canhões
Que hoje moram no sul
E embelezam mansões
Será que eles vão voltar
Tomando o rumo do norte
Pra assumir seu lugar
O nosso querido forte
Hodias Araujo
POEMA DE AGORA (para Elton Tavares)
[Agora]
um poema que emane árias
deixando fluir passos aéreos
a propósito de fulgentes
paralelepípedos de assiduidades
(que nos faça refletir
sobre os tristes Lepidópteros
ancorados nas guimbas dos postes
a esperar pelo hipotético).
Poema pseudo-contemporâneo…sem forma e adereços
(que me faça lembrar
– em particular – dos poetas que se foram
impelidos pelo abana moscas
de suas palavras ásperas e ocas).
[Agora]
– apenas hoje –
um poema riso
que nos faça esquecer
as atrocidades das guerras
e os olhares de reproche
(levando embora
– em suas entrelinhas –
as aflições e disse-me-disses).
Um poema de agora
com versos tramados em girassóis
e eternidades latentes
(aquela vontade de declamá-lo
enaltecendo os afetos e os crepúsculos).
Um poema homilia…com feitio de agradecimento.
Marven Junius Franklin
Por Jorge Abreu
Aberta ao público, a nova apresentação do grupo lítero-musical Poetas Azuis quer reinventar a função da poesia. O recital “Enquanto a pele arrepiar” vai ser realizado no dia 11 de maio, a partir das 19h30 no Sesc Araxá, em Macapá.
Segundo o artista Pedro Stkls, o recital nasceu da vontade de dar a poesia novos significados e proporções diferentes. Ele ressalta que arrepio é aquilo que nos faz sentir na pele o que nos diz direto o coração.
“Esse é o nosso 10º recital e, em 2018, a gente completa seis anos de Poetas Azuis. É um show sobre o amor e o que esse sentimento causa. Existem essas relações com o amor, como o humor, saudade, paixão, entre outros”, ressaltou.
Serão cerca de 50 minutos de apresentação do grupo, que interage atrás da poesia falada e poesia cantada. O evento vai contar com participações das cantoras Adriana Raquel, Lara Utzig e Márcia Fonseca.
Serviço:
Recital “Enquanto a pele arrepiar”
Data: 11 de maio (sexta-feira)
Hora: 19h30
Local: Sesc Araxá
Entrada franca
Fonte: G1 Amapá
FULGOR EQUATORIAL
Um poema mavioso
que traga felicidade
às senhoras mariposas desprezadas
(provoque risos em corsários
envelhecidos).
Um poema canto
que diga bom dia aos bem-te-vis
e neutralize os genocídios
(esbocem guerrilhas de afeto
em subúrbios longínquos).
Um poema esburgado
[entretanto] que de tão exuberante
se torne fulgor equatorial
no céu de Macapá.
Marven Junius Franklin
Velhos & Novos
( ” por amor às causas perdidas”)
É demodé escrever à mão
Ouvir uma canção do Ney
Está ultrapassado, e, do outro lado
Ninguém acredita em papai Noel…
Dizem que daqui a 1000 anos
Ninguém saberá dizer ” te amo”
Não haverá camada de ozônio
E seremos alienígenas de nós…
Não existirá papel marché
Coisas que existem apenas para deleite
Como riso, teatro, sorvete
Ou bichos sentimentais,
Bichos como eu e como tu
São coisas esquisitas
Que pedem guarida
À memórias escritas com a tinta da emoção …
E, de antemão
Desistiram de fazer parte
Do dia a dia que arde
No calendário seco
Da modernidade
Perdem tempo – e ganham vida
Com a luz estonteante das estrelas
Brincam de escrever poemas
E escrever na areia
Mensagens de amor…
Jaci Rocha
Talvez seja Macondo
Talvez seja Macondo
Quando a chuva
Vence o dia
Nos últimos ramos de abril
Talvez sejam fortalezas
As borboletas
Que se dissolvem
Nas asas do céu
Talvez esses incêndios
Estejam há séculos
Perdidos e roucos
Na fila do SUS
Talvez seja o equinócio
Aquecendo o cio da cidade,
Separando o amor da ressaca
Separando a fome da dor
Talvez o ano tenha pernas
Mais afobadas que o sol
E talvez não tenhamos roupas
Para todos os dias do mês
Talvez seja Macondo
O ombro deslocado
Dançando desgraçadamente
Nas noites de maio
E talvez a chuva
Vença o dia
Nos últimos ramos de abril
Por dois incêndios
Inacabados,
Dois peixes embriagados
De Gabos e Benedettis
Que talvez sejas tu e talvez seja eu
E talvez tu e eu nos sejamos
Perdidos, entre pretéritos
Intransitáveis, nas praias
Dos dias assim…
O quarto clareou timidamente, enquanto o ar condicionado soprava um vento frio nos pés, a única parte descoberta pelo edredom. Levantou nadando contra o rio de preguiça nos ossos, na pele e nos pelos, tropeçando em meias, pornografia, latas de cerveja e canções de Mercedes Sosa.
Tomou um banho frio com sabonete Phebo, para exorcizar o álcool que exalava do corpo. Preparou o café e bebeu sem açúcar, ouvindo um programa evangélico no rádio. Em nada pensava e olhava para o nada como se o nada nada fosse. Apenas existia, de cueca, sentado na única cadeira da cozinha.
Arrumou-se uma vez mais como um robô, vestindo-se, colocando o notebook na mochila, o celular no bolso e esquecendo religiosamente o boleto da conta de luz.
Ao abrir a porta para a rua, ouviu um som crescente como um assobio rasgar o barulho do trânsito e uma luz intensa e ardente a tomar conta de tudo, até tudo se calar e desaparecer.
Júlio Miragaia