Poema de agora: CANÇÕES DA RAINHA DO RIO – Carla Nobre

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CANÇÕES DA RAINHA DO RIO
I
Lá vai a rainha do rio
no vazio da noite
ela pesca estrelas que ninguém viu
lá vai a rainha e sua lamparina
no vazio da noite
alimenta sonhos de arrepio

Vem pro fundo a rainha do rio
ela é feitiço
afundou meu navio

Lá vai a rainha do rio
desliza nas águas no anoitecer
naufraga saudades
chora alvorecer

vem pro fundo a rainha do rio
ela é feitiço
afundou meu navio

lá vai a rainha
sumiu com meu rio

CARLA NOBRE

Poema de agora: Explicação – Por @alcinea

Explicação

Vivo do ato de escrever
sobre tragédias
e espetáculos
Sobre o candidato vitorioso
e o derrotado
Sobre o deputado corrupto
e o governante que finge ser honesto
Sobre a exportação da mandioca
e a importação da farinha
Sobre a fome
e a riqueza
Sobre o real
e o dólar.
Perdoa-me, Anjo,
não sobrou tempo
para escrever
um poema de amor.

Alcinéa Cavalcante

Poemão sobre o Azul – Thiago Soeiro – (@ThiagoSoeiro)

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A gente nunca mede o tempo do amor
este que se espreguiça
entre beijos
séries
poemas
arranhaduras de briguinhas

ainda ontem
eu disse que rodaria
o mundo com você
na asa de uma borboleta
mas o amor cresceu tanto
que precisamos de uma asa maior
pra carregar toda essa
bagagem

é da verdade do amor
eu esquecer a panela no fogo
porque a gente tá rindo
de uma piada boba
quantas vezes a gente
não riu sem motivo?
era a própria felicidade
de estar juntos
sendo maior que a gente

ainda choro
quando a gente briga
porque a gente briga
quando quer encaixar o amor
e a gente chora quando
um realiza um sonho

é do comum do amor
a gente ter domingos
inteiros de preguiças
e noites de shows
baladas, insônias
tardes intermináveis
de fotografias
doces, filmes antigos

ainda quero te fazer
o maior poema de amor
só pra cobrir teu corpo
todo de palavras
ainda quero acordar do teu lado

atravessar o oceano
conhecer as ilhas geladas do ártico
onde você vai escrever um
poema só pra eu ouvir
e ficar pra sempre
com tua voz morando
nos meus ouvidos

é um mistério o amor
um enigma
e não tem pistas
a gente só desvenda
ele amando.

ontem você disse
que me amava
e a palavra amor
dita por você
sempre reverbera
aos quatro cantos
do mapa
como um canção
que a gente não
consegue esquecer
e nunca é clichê
dito isso assim
porque a gente
já reinventou
1825 maneiras
de dizer
eu te amo

Thiago Soeiro

Poema sobre a vida (@tagahasoares)

Sobre a vida

tá com a roupa tão larga e tão fora de moda
a viola afinada, mas tão longe da roda
a viagem marcada, o errado é a hora
que se a vida se acaba sem amor
nenhum lábio, mas onde eu compro um sorriso
tanta fé nesse Deus mais de pão que preciso
toda noite o meu sangue é doado às pragas
e se a vida se acaba por tanta dor
como carne em mercado eu tenho o meu preço
pelo menos a vida bem sei que mereço
e se ela termina sem ter um começo
pois quem é que me salva ou me vira do avesso
eu também como Cristo já fui açoitado
ou então como Judas estou perdoado
já perdi companhia e ganhei inimigos
é que eu brinco com a vida e ela briga comigo
penitente ou demente o que eu fiz foi tão pouco
sou pedinte, indigente, o mais louco dos loucos
e se a roupa é surrada é que a vida anda pobre
e por tantos pecados não há quem me cobre…

Tãgaha Soares Luz

Poema de agora: Amor na 5° dimensão – Carla Nobre


Dos dias em que dividi o amor em passado, presente e futuro; o que mais gostei foi aquele em que visitamos a 5° dimensão. O tempo suspenso no teu olhar brilhate no banheiro. Se ali eu morri, não me dei conta. Sei que um pedaço meu ficou grudado na tua coxa pela eternidade, vagando docemente nas redondezas do domingo. Deste dia, lembro bem que esquecemos qualquer lei da gravidade e as normas vigentes da justiça federal. Estalamos beijos num cometa e descobrimos a constelação do leao faminto. Se era passado perfeito eu não sei, mas sobra no peito cacos de vidro solar ferindo as lembranças no domingo.

Carla Nobre

Hoje é dia de Elton Tavares – Poema de @PedroStkls1

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Hoje é dia de Elton Tavares

hoje é dia de rock
hoje é dia de pauta
hoje é dia de post
hoje é dia do Elton Tavares
aquele amigo que a vida me deu
aquele da melhor qualidade
aquele que posta a minha poesia
aquele que posta meu cartaz azul
aquele que me emociona com sua crônica
aquele que gosta de cervejoca igual nós
aquele que vai no meu show e fotografa
aquele que chegou aos quarentas
aquele que mesmo que eu o veja pouco
mas admiro muito e tanto
e isso era pra ser um poema sem rima
mas isso é um poema de aniversário
que rima com bolo feliz aniversário
abraço e felicidades e tudo de bom
desculpe pelo poema torto
mas fique com meu desejo que quer dizer:
parabéns pelo teu dia, amigo.

Pedro Stkls

Poema de agora: MORMAÇO – Poetas Azuis (com participação da @rebeccabraga)

MORMAÇO – (Pedro Stkls/ Igor de Oliveira) – Com participação de Rebecca Braga

Você plantou em mim uma saudade
Dessas de raízes fortes
Que vão pro fundo da terra
E não sabem voltar

Tanta coisa linda pra viver
Tanta chuva pra se aproveitar
E nós dois aqui nessa distância
De lembranças e remendos

Hoje vou pegar o meu barco
E do meio do mar
Eu vou cantar aquela canção
Sobre a roseira
E debaixo do sol sob o mormaço
Vou lembrar que um dia
Eu te transformei em poesia

Poema de agora: DOMINGO – @alcinea

LINDA-MANHA

DOMINGO

Eu preciso de uma manhã
dourada de domingo
para sair por aí
assoviando numa bicicleta azul.
Eu preciso de uma tarde de domingo
enfeitada com arco-íris
para atar uma rede na varanda
e embalar meus sonhos
lendo Quintana
e ouvindo Caetano.
Eu preciso de uma noite clara de domingo
para sentar na calçada
desenhar o mapa das estrelas
e jogar conversa fora com os vizinhos.
E depois dormir
feito criança
sem compromisso
para o dia seguinte.

(Alcinéa Cavalcante)

Poema de agora: Escólio (para Fernando Canto) – Obdias Araújo

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Desenho de Obdias feito por Fernando

Escólio (para Fernando Canto) – Obdias Araújo

A palavra é conto e canto
O calar é desencanto
A palavra é alegria.
Por isso
meu povo
canta
Que o calar é nostalgia
A palavra é conto e canto
O silêncio é desencanto
A palavra é alegria.
E se a palavra é alegria
O silêncio é desencanto.
A palavra é conto e canto
Por isso
Meu povo
Canta
Que o calar é nostalgia!

Obdias Araújo

OUÇA BEM O QUE VOU GRITAR NO SEU OUVIDO – Poema de Fernando Canto

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OUÇA BEM O QUE VOU GRITAR NO SEU OUVIDO

Ouça bem o que vou gritar no seu ouvido:
Este avião segrega a minha dor e sequestra meu desejo.
Mas nem assim tirarei o ranço da mochila pra te machucar nesta viagem.
Sou, bem sabes, um viajante extemporâneo hoje em dia,
Ainda que tenha te seguido em prantos
Por desertos e luas paridas sem orgulho.
Sou estratégia, luta e morte agora.
Um calcanhar de sólido e obtuso aço
A deixar pegadas órfãs de grama ao caminhar.
Por ti gestei palavras e poemas
Ensanguentado de mágoas e lâminas enferrujadas no nosso jardim de amarílis, mas não deixei que mesmo à tua voz renitente a dor fosse objeto de vindita.
Mas ouça bem, porque neste avião a manobra de valsalsa me faz surdo e um surto de angústia povoa meu ser, posta a natureza falsa do cabelo da aeromoça que passa me ofertando um tango e um sanduíche no cartão de crédito.
Tiro da cartola um coelho e um moinho de lágrimas e te digo novamente: ouça-me bem, amore, a minha biografia foi filmada em celular e num segundo milhões de acessos contemplei. Ouça -me: despertei do sonho, da prisão do pesadelo que embalava minha rede branca na varanda. Meu coração já não sofre tanto por ti. Ouça -me. Ouça -me! Você pode me ouvir, sim. O avião pousou. Desembarca. Já!

Fernando Canto