Poema de agora: Aquele Sobrado – Carla Nobre

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AQUELE SOBRADO

Você lembra daquele sobrado
Onde dividimos planos
Para o fim do mundo?
Onde Deus e o Diabo riam juntos
Observando um casal de borboletas
Ocupados de cio?
Você lembra da cor do nosso lençol
Na cama daquele sobrado?
É, nem eu lembro…
Eu lembro do céu que você fazia
Na minha estrela naquele sobrado
Você lembra de dois dinossauros
Comendo pedaços um do outro
Durante a noite inteira naquele sobrado?
Você lembra que te dei pimenta
No café da manhã naquele sobrado?
Que ele nem era assombrado
E vivíamos loucos com os fantasmas De todos os amantes de antes de nós?
Você lembra do jeito como o pecado ficou de inveja
Quando viu o nosso amor
Naquele sobrado?
Eu lembro de ter chorado
No dia da tua partida do sobrado
Mas gosto mais de lembrar
que foi naquele sobrado
A tua volta ao redor do sol
Como o homem mais amado
Bem no meio do mundo,
num sobrado de madeira
Onde te dei uma mulher inteira. ..

CARLA NOBRE

Poema de agora: Iconoclasta (Obdias Araújo)

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Iconoclasta

A esperança
reduzida a cacos
salta aos olhos
– meu olhar sanguinolento.
O messias jaz no pó
tombado ao peso
de suas próprias falhas.
Onde a mulher
que fui buscar
no brega?
Bebi com ela
dancei com ela
dormi com ela
e só.
Despejam azeite
sobre minhas muralhas.
Soam trombetas
defronte ao meu repouso.
Lançaram sorte
sobre meu manto
e me deixaram nu.
A diaba protetora dos poetas
em menopausa beijou-me os lábios
e o cadafalso que me serve de abrigo
ameaça ruir sobre minha cabeça.
Amaldiçôo
a todos.
Troco um olhar cúmplice
com Maria – a magdalena
e exijo meu espírito de volta!

Obdias Araújo

Poesia que não se esgota (Fernando Canto)

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A poesia não se esgota no pensamento porque ela é o esforço da linguagem para fazer um mundo mais doce, mais puro em sua essência;

A poesia procura tocar o inacessível e conhecer o incognoscível na medida em que articula e conecta palavras e significados;

Cada imagem representada, projetada pelo sonho, pela imaginação ou pela realidade, é um símbolo que marca o que sabemos da vida e seus desdobramentos, às vezes fugidios.

Mas nem sempre é o poeta o autor dessa representação, pois tudo o que surge tem base social e comunitária, depende da vivência de realidade de quem propõe a linguagem e a criação poética.

Quando isso ocorre estamos diante da autenticidade do texto poético. E todos somos poetas, embora nem sempre saibamos disso. E ainda que nem tentemos sê-lo.

Fernando Canto

HOJE: Grupo vai apresentar no AP recital com linguagens poética e musical

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Poetas Azuis – Foto: Elton Elton Tavares

Por Jéssica Alves

Como forma de comemorar os três anos dedicados à música e à poesia, o grupo amapaense Poetas Azuis realizará em Macapá, nos dias 7 e 8 de agosto, o “Recital dos Verões”, que mesclará as linguagens para agradecer ao público que acompanha o trabalho deles. A programação acontecerá às 20h, no Teatro Marco Zero, localizado no bairro Perpétuo Socorro, na Zona Leste da cidade.

O evento terá a participação de músicos convidados. Segundo o poeta Thiago Soeiro, um dos fundadores do grupo, o show vai misturar poemas e canções de autores amapaenses, nacionais e internacionais, lembrando também dos trabalhos autorais que foram produzidos durante os três anos de existência dos Poetas Azuis.poetas-21

O show busca celebrar, em primeiro lugar, esses três anos de trabalhos e vamos chamar para o palco pessoas que fazem parte desta história e contribuíram, de maneira direta ou indireta, para o nosso engrandecimento. É um show para agradecer ao público que nos acompanha”, reforçou.

Os ingressos podem ser comprados antecipadamente ao preço de R$ 20. No dia 7 de agosto, os poetas receberão no palco as musicistas Silmara Lobato, Lara Utzig e a instrumentista Cássica C. Monteiro, que tocará clarinete durante o show. E no dia 8 de agosto, a apresentação contará com as cantoras Brenda Melo, Rebecca Braga e Deize Pinheiro.

Segundo o grupo, o sucesso dos Poetas Azuis tem força na internet, onde atualmente eles somam cerca de 40 mil seguidores na rede social Instagram e 10 mil no Facebook.

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A história do grupo iniciou em 2012, quando um jornalista, um letrado e um físico, que têm em comum a paixão pela literatura, decidiram unir forças e criar o grupo. Thiago Soeiro, Pedro Stkls e Igor de Oliveira começaram então a declamar textos de escritores brasileiros e amapaenses através de músicas em diversas apresentações pela cidade.

Além dos declamadores, fazem parte do grupo Poetas Azuis os músicos multi intrumentistas Barbara Marina e Danilo Barbosa. O grupo também tem outros projetos, como séries de fotopoemas, ensaios fotográficos e audiopoemas.

Serviço

Recital dos VerõesCABEÇALHO-AQUI
Data: 7 e 8 de agosto
Hora: às 20h
Local: Teatro Marco Zero – avenida Oscar Santos, 397, Perpétuo Socorro
Entrada: R$ 20
Postos de Vendas: Lojas Fortunas (Amapá Garden Shopping) e Livraria Acadêmica News (Macapá Shopping)
Classificação: Livre

Fonte: G1 Amapá

Poema de agora: Tradução Literal (Obdias Araújo)

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Tradução Literal

Uso uma frase
Linda
Pra falar de você
:Tu ressembles
À une poupée.
Menina de olhares tristes
De pele clara e cabelos
De boneca de marfim
Por que me olhas assim
tão triste
fixamente
com se eu fosse o espelho
e tu a Fada Morgana
Por que me olhas
Menina
de rosto de camafeu?
Há um mistério em teu rosto
Um oceano em teus olhos
e teus cabelos escondem
mil segredos, mil pensares
E aumentam meus penares
Teus olhos fitos em mim
o que esconde
menina
este rosto de marfim?
oOo
ELLEN

OUI

Obdias Araújo

POEma ao lAÇO – Fernando Canto

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Tela de R. Peixe/1984 – Acervo de Fernando Canto

POEma ao lAÇO – Fernando Canto

ão, não quero falar de gente
Em meu intento oculto
Pois o poema abre-se lento
E impoluto
À luz de vela

Em seu percurso
Traz palavras que se fecham
Em seus recursos

É manhã, cães de plumas
Voam, escalartes
E um claro signo de livra
Dos grilhões da noite

Meu poema é rocha sobre a carne
Não consiste em cúmulos ou nimbos
É mortal, tem lama, luz e flama
– Firma-se na própria ausência –

E como tal
Alimenta-se de vidro
E está preso apenas
Ao laço prata da memória.

Fernando Canto