Poema de agora: Entrega (Obdias Araújo)

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Entrega

Quando teu desejo
abrir-se em direção ao meu
teu corpo me terá inteiro
à luz do dia da noite das velas
e teus compassos serão meus
assim como teus anseios estão
contidos por minha presença.

Quando teu olhar penetrar o oceano
lá no fundo eu estou
para reanimar-te.

Pois o vinho que entorpece a alma
é o mesmo que aquece o corpo
e a luz que acende minhas dúvidas
também ilumina
o túnel de teus olhos.
As nossas bocas
olhos adeuses lenços beijos
berram nossos sofrimentos.

E assim me fortefaço
e continuo (e) vivo.

Pois o pensar em ti é minha alma
– mesmo nas distâncias
ao teu lado.

Obdias Araújo

Hoje rola “Poesia ao Vinho”

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O Grupo Poetas Azuis realiza hoje (7), a partir das 20h30, mais uma edição do Projeto Poesia Ao Vinho. O evento será realizado na cafeteria Chocolate com Tapioca. O evento é um encontro de amantes de poesia, poetas e apreciadores de literatura. Na ocasião, a escritora Clarice Lispector será homenageada com declamação de parte da sua obra.

Durante o Poesia Ao Vinho, os Poetas Azuis farão o sarau musical (aliás, muito porreta), o público declama poemas de escritores brasileiros e ainda há espaço para os poetas amapaenses apresentarem seus trabalhos. É uma ação cultural muito divertida. Recomendo!

Serviço:

Evento: “Poesia ao Vinho”
Data: 07/03/2015.
Hora: a partir de 20h30
Local: Chocolate com Tapioca (Avenida Almirante Barroso, número 1028, no bairro Santa Rita).
Entrada: franca.
Couvert artístico: R$ 5

Elton Tavares

Semana do Calouro do curso de Jornalismo: hoje rola Poesia na Boca da Noite na Unifap

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Hoje (5), a Universidade Federal do Amapá (Unifap) receberá  o Movimento Poesia na Boca da Noite. A participação faz parte da programação cultural da Semana do Calouro do curso de Jornalismo. As intervenções poéticas começarão às 18h30, na entrada do Anfiteatro da Unifap.

O movimento Poesia na Boca da Noite, pilotada pela Poeta Alcinéa Cavalcante, já descobriu talentos, realiza trabalho de valorização e divulgação da literatura amapaense, incentivo à leitura, distribuição de livros e poemas em Macapá.

“Poesia é o mundo que nos leva a sonhar”.

Poema de hoje: O Dia da Criação – Vinícius de Moraes (Porque hoje é sábado!)

 
O Dia da Criação
 
“Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há um tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado” 
 
Vinícius de Moraes 

Très chic: poesia de Alcinéa Cavalcante é publicada em antologia francesa – @alcinea

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A poeta Alcinéa Cavalcante está entre os autores brasileiros que tiveram obras publicadas em francês. A antologia será lançada no Salon du Livre , maior e mais badalado evento literário da Europa.

Alcinéa já é uma escritora com moral fora e dentro do Brasil, mas essas coisas precisam ser celebradas sempre, pois dá um orgulho danado pra gente que é amapaense. Parabéns, Alcinéa!

Elton Tavares

Poema de agora: O Roubo do Velho Forte (Obdias Araújo)

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O Roubo do Velho Forte

Tu sabias
que a Fortaleza
foi toda construída
no Curiaú?
Diz que o Sacaca
o Paulino e o Julião Ramos
vieram em cima da Fortaleza
varejando até chegar na beira do Igarapé Bacaba
onde amarraram a bichona na Pedra do Guindaste
e foram tomar uma lá
no boteco do sêo Neco.
Diz que o o Alcy escreveu uma crônica
E o Pedro Afonso da Silveira Júnior leu
Oito horas da noite
no Grande Jornal Falado E-2.
Diz que, né?
Diz que o mestre Zacarias
vinha em cima do farol
tocando um flautim feito
com as aparas da porta de ébano…
E que Dona Odália vinha fazendo
flores de raiz de Aturiá
sentada no maior de todos os canhões
brincando com a Iranilde
que acabara de nascer.

Diz que o Amazonas Tapajós vinha
cantando ladrões de Marabaixo
-ele, o Edvar Mota e o Psiu.
E o João Lázaro transmitia tudo para a Difusora.
Diz que até o R. Peixe pintou um mural
-aquele que ficou no pátio da casa do Isnard
lá no Humilde Bairro de Santa Inês
de onde foi roubado pelo Galego e trocado
por duas garrafas de Canta Galo
e uma de Flip Guaraná, lá na Casa Santa Brígida…
Hoje Macapá amanheceu bem
mais triste que de costume.
Roubaram a Fortaleza!
Levaram o velho forte! De madrugada
Dois ou três bêbados remanescentes
viram passar aquela enorme coisa boiando
rumo norte, parecendo uma usina
de pelotização.

Andam comentando lá
pelo Banco da Amizade
que foi o Pitoca
a Souza
o Quipilino o Pombo
o Zee e o Amaparino…
E que o Olivar
do Criôlo Branco
e o Cirão
estão metidos nessa história.
Eu, hem!

Obdias Araújo

Hoje rola Poesia e Vinho

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O Grupo Poetas Azuis realiza hoje (21), a partir das 20h30, mais uma edição do Projeto Poesia Ao Vinho. O evento será realizado na cafeteria Chocolate com Tapioca. O evento é um encontro de amantes de poesia, poetas e apreciadores de literatura. Na ocasião, a poetisa Cecília Meireles será homenageada com declamação de parte da sua obra.

Durante o Poesia Ao Vinho, os Poetas Azuis farão o sarau musical (aliás, muito porreta), o público declama poemas de escritores brasileiros e ainda há espaço para os poetas amapaenses apresentarem seus trabalhos. É uma ação cultural muito divertida. Recomendo!

Serviço:

Evento: Segunda Temporada do “Poesia ao Vinho”
Data: 21/02/2015.
Hora: a partir de 20h30
Local: Chocolate com Tapioca (Avenida Almirante Barroso, número 1028, no bairro Santa Rita).
Entrada: franca.

Elton Tavares

Poema de agora: Ethereal (@cantigadeninar )

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Ethereal

há uma citação de Scott Fitzgerald…
there are all types
of love in this world
but never the same love twice.
amores são sempre tão plurais
e singulares em cada recomeço…
basta dar adeus aos ais
abrindo chance para virar-se do avesso.
amores vêm e vão:
alguns resistem aos empecilhos,
outros ficam retidos em algum vão,
uma fresta, lapsos temporais presos em estribilhos
de poemas nunca publicados,
pelo chão espalhados,
por toda a casa;
casa esta que está impregnada
do aroma de antigos buquês de flores
e das lembranças de cada namorada.
eis que entre todos os amores,
um único é o amor de sua vida:
o dono da mais úmida lágrima derramada,
durante meses contida,
na resistência de aceitar a perda da amada.
em meio a esse processo
é perdoável qualquer excesso:
quando dizes se cuida,
no fundo ainda quero ser cuidada.
a tal tristeza é comprida,
cumprida fielmente e a cada dia
crescida na esperança de ser curada.
de todos os amores que tive,
em apenas um me detive:
o amor que se perpe(tua).
em mim há a absoluta certeza
de que serei permanentemente tua
e essa é minha maior fra(n)queza,
porque sou livre e mesmo assim sigo na contramão
ao ser ciente
de que meu efêmero coração
te pertence
eternamente.

Lara Utzig

Poema de agora: Imemorial – @cantigadeninar

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Imemorial

eu queria tanto te fazer um poema
ou algo que pudesse eternizar o que sinto
(desde quando ditongo aberto tinha acento e ainda se usava trema)
mas toda vez que tento me lembrar das tuas lacunas
– mistério nunca extinto –,
sou tomada de ausências inoportunas:
entre todas as coisas em ti que me servem de inspiração
me falta o léxico e sou tomada por um vazio:
o vazio dos apaixonados.
não me entenda errado,
pois esse vazio é causado
pelo impacto daquilo que me assola;
a surpresa é um coelho sendo tirado de dentro da cartola:
só existe o desejo de contemplação
e eu permaneço, contra minha vontade, estática.
mas me vendo imersa em tanta ternura
joguei fora a gramática.
reservei um tempo para tirar palavras do indizível
perdidas em meio aos teus silêncios
e meu próprio espaço intangível.
talvez isso nem seja um problema, afinal;
foi como descobri o amor: longe, distante, calado.
nunca precisei pronunciar, sabia que estava ali por bem ou por mal,
aparentemente camuflado
e hoje? aflorado.
tulipas espalhadas na rotina do que se guardou,
um baú de acúmulos: anos-bola-de-neve
e essa é apenas a ponta do iceberg.
as calotas polares derretem e eu sigo te amando
Titanic afundou e eu continuo te amando
Julieta morreu e nada mudou
e se amanhã eu morresse também… mesmo assim não seria diferente.
então finalmente entendi que amor é calmaria
por tudo que me ensinas dia-a-dia
e nesse sentimento maduro
eu (per)duro
passe o tempo que for,
foi, é e sempre será amor.

Lara Utzig

Poema de agora: Lembranças (@ThiagoSoeiro)

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Lembranças

Ajeito as pernas. há sempre um espaço apertado para você
que cresceu além do que devia.
mas não tem explicação essas coisas de crescer.
tudo em nós cresce.
outro dia pensava em minha cidade natal.
odiava me sentir perdido, sem explicação pra essa estranha
mania de gostar das coisas pequenas e das grandes ao mesmo tempo. perdia as horas decorando letras de música,
sem saber se aquele era o meu destino, meu passo marcado.
os cheiros, os sons, o silêncio no fim de tarde quando sentava sozinho
pensando nos amigos que não tive.
minha vó tinha unhas cumpridas e sempre vermelhas.
eu via um pouco de aventura em seus olhos.
juntos falamos de coisas que mais ninguém entendia.
era como se tivéssemos uma linguagem só nossa.
há perigo demais em viver de lembranças?
só vovó sabia as melhores histórias de um tempo que eu não existia.
sempre gostei mais das histórias reais.
acho que herdei dela esse jeito para contar as coisas,
para gostar das lembranças.
ajeito de novo as pernas
e ao meu lado ninguém sabe que não estou ali.
conto as paradas de ônibus.
tem sempre que haver alguém esperando na vida.
meu lugar é outro.
meu corpo é só o lar da saudade.

(Thiago Soeiro)

Poema de agora: Morena (Andreza Gil)

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Morena

Nasci ali no Igarapé das Mulheres.
Fui criada com a fartura do açaí e camarão.
Filha do Rio Amazonas,
Da sua água barrenta e benta abençoada pelo São José,
Que está na foz sempre protegendo a sua gente.

Minha mãe me criou ouvindo
As poesias de Osmar Junior,
A doce voz de Amadeu Cavalcante
E o samba da Boêmios do Laguinho.

Macapá, teu orgulho maior são teus
Filhos que te amam e cuidam,
Que te fazem viva no Marabaixo e no Batuque,
Dos giros das saias das tuas filhas morenas.

Minha Macapá, és a morena da
Poesia dos teus filhos poetas.
Teu encantamento é a inspiração
Que nele brota,
É o alimento que ele precisa
Para deixar tua história viva
Aos filhos que ainda virão para te conhecer.

Andreza Gil