Poema de agora: Poetas – Marven Junius Franklin

Imagem: Logan Zillmer

Poetas

avalio que os poetas
são despojadas criaturas aladas
que habitam mundos isomorfos
e vez ou outra
Declinam a dois palmos do chão
[ao modo terrestre]

emanam em busca de suas Pasárgadas estilhaçadas
só assim são notados
e geralmente correndo atrás
de estrelas cadentes
[repousando exaustos]
no sopé
de singelas
auroras boreais

assim mano Benny
somos na verdade viajantes atemporais
nos iludindo com fantasmagóricos
moinhos de vento
que surgem [aleatórios] por trás de
suntuosos castelos de brisa

Marven Junius Franklin

Poema de agora: Poros (Jorge Herberth)

Poros

O calor
No amor
Eva poras

O amor
No frio
Congela
O vapor
Do mar

No amor
Viajam
Continentes
Gêiseres
Geleiras
Sol

Na natureza
Do amor
Haverá sempre
Um aroma
De enxofre
E cobre
Oxigênio
O amor
Antropofágico
Eva poros

Jorge Herberth

Poema de agora: Turbulência sob a claridade do escuro…(Luiz Jorge Ferreira)

Turbulência sob a claridade do escuro…

Eu sou morto de sede por água.
Faço selfie das gotas da chuva na vidraça,
e as congelo no olhar.
Sopro o vento que dá de encontro ao meu rosto.
E o invejo, porque carrega gotículas transparentes de chuva.
E não as deixa sobre ele, some com elas entre meus pensamentos,
e sufoca a alma que olha de dentro do olhar…
Vai apressado, querendo caminhar sobre as pisadas que deixei na rua, e pisar sobre um resto de luar sujo de mim, que larguei na esquina,
antes de correr do próximo manhã.

Queria pegar as sandálias de Cristo para caminhar sozinho rumo ao final dos tempos, e reencontrar com o vento sujo dos meus anseios de ser feliz…
Ele úmido dos meus choros,
e ainda me reconhecendo pelos poemas deixados em páginas amareladas…
Querendo desenhar uma pequena história sobre um reflexo…
ainda da chuva sobre as pedras do aquário …
…ainda da chuva sobre a rua.
…ainda da chuva sobre a chuva.
… coisa estranha de noite é lua…
E você deitado sem as asas esquecidas nas entranhas, construindo fugas banais pelo vão das telhas,
inutilmente se imaginando voar de si.

Luiz Jorge Ferreira

Poeta Pat Andrade lança livro na 4ª Conferência Nacional de Cultura

Espaço de debates sobre o Plano Nacional de Cultura (PNC), a 4ª Conferência Nacional de Cultura (4ª CNC) irá promover o lançamento de livros dentro da programação do evento. As atividades, com a participação de delegados, convidados e público em geral, serão realizadas nos dias 5, 6 e 7 de março, no Palco Multicultural, na área interna do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Entre os autores, a poeta paraense radicada no Amapá, poeta Pat Andrade, que lançará na quarta-feira (6), seu livro “Entre a Flor e a Navalha”.

A chefe de Divisão de Economia do Livro da Secretaria de Formação, Livro e Leitura (Sefli) do Ministério da Cultura (MinC), Maria Carolina Machado, explica a iniciativa: Cerca de 80 autores e autoras apresentarão suas obras e estabelecerão contato direto e contínuo com o público. Os títulos abarcam grande diversidade, passando por obras ficcionais e não-ficcionais, de poesias a estudos sobre políticas públicas. Todas as pessoas inscritas, que confirmaram presença, participarão desse evento.

Realização

A 4ª CNC é realizada pelo MinC e pelo Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), e correalizada pela Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI). Além disso, conta com apoio da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso Brasil).

O Festival da Cultura, que também integra a programação, é apresentado e patrocinado pelo Banco do Brasil, como realização do MinC e do CNPC, correalização da OEI e apoio da Flacso Brasil.

Confira as atividades:

05/03 (terça-feira)

das 15h às 15h50
Mestre Wertemberg Nunes – Poemus
Benedito José Pereira – Teatro em Sala de Aula
Jussara Prates – Educação Democrática: O Impacto dos Projetos Escolares
Cláudia Leitão – Criatividade e Emancipação nas Comunidades-Rede: Contribuições para uma Economia Criativa Brasileira

das 16h às 16h50
Paulinho Rícoli – O Marciano ET
Fernando Inácio da Silva – Cordel – As Aventuras do Negrão, o Poder da Adoção
Geraldo Vitor da Silva Filho – Selenita´s
Priscila Guidio Bachiega – Entre Haters e Memes: Como o Bullying Virtual Afeta a Sociedade
Daniel Munduruku – Meu Vô Apolinário – Um Mergulho no Rio da (Minha) Memória

das 17h às 17h50
Eva Potiguara – Abyayala Membyra Nenhe’gara
Jester Luiz Furtado – Joaquim, Negra Sim!
Marcos Antonio Trocoli (Ümanto) – Marchinha de Carnaval – 125 Anos – Vol. 1
Mateus Paulo de Lima – … Tempo de Pietra

das 18h às 18h50
Osny Zaniboni Neto – Ima(r)gens
Maria Graciema A. de Andrade – Carta-folheto do I Congresso Brasileiro de Literatura de Cordel

das 19h às 19h50
Lucivone Rodrigues dos Santos Dourado – O Ponto Dourado do Diamante
Juvenal Francisco Dourado Filho – A Fonte das Lágrimas de um Poeta
Reynaldo Domingos Ferreira – As Raparigas da Rua de Baixo
Bernardo Novais da Mata Machado – Política Cultural: Fundamentos
Tony Gigliotti Bezerra – A Emergência do Sistema Nacional de Cultura

06/03 (quarta-feira)

das 09h às 09h50
Yussef Campos – Palanque e Patíbulo: o Patrimônio Cultural na Assembleia Nacional Constituinte e + 3 títulos
João Almir Mendes de Sousa – Cordel Piauí de Belos Sol e Ladeiras
Eunice Tomé – O Oceano em Mim
Patrícia Andrade Vieira – Entre a Flor e a Navalha

das 10h às 10h50
Saulo Barreto – Marx: Estado, Direito e Ideologia
Maiza Pereira Jacques – Salamancas, Mitos e Lendas
Haroldo de Vasconcelos Bentes – Teorias e Práticas: Trilhas Formativas em Educação Profissional e Tecnológica (EPT)

das 11h às 11h50
Lucimar Barros Costa – Guardados da Memória e do Coração

das 12h às 12h50
Edilberto Alves de Abrantes – Quem Apaga os Lampiões

das 15h às 15h50
Bruna Motta – Várias Faces da Mesma Solidão
Carlile Max Dominique Cérilia – Alvorecer do Exílio

das 16h às 16h50
Pitter Lucena – Despertar em Clausura – O Renascer em Meio às Limitações da Vida
Moisés Santos Reis Amaral – Maria Preta, Escravismo no Sertão Baiano
Bárbara Araldi Tortato – Trilogia do Descabido

das 17h às 17h50
Jakeline Sol – A Dor do Silêncio e as Vozes dos Abusadores
Renato Paulo Carvalho Silva – Espera Feliz: O Circo de Marionetes Bem-Me-Quer e suas Andanças…

das 18h às 18h50
Raine Silva Medeiros Furtado – O Livro de Eva
Janio Gouveia Andrade – O Cárcere Religioso, os Dilemas Existenciais de um Judeu
Francisco de Assis Rocha Carvalho Júnior – A Princesa do Vale do Canindé: Narrativas de Santa Rosa do Piauí
Daniely Peinado dos Santos – Cia Vitória Régia 40 anos: Tempos de Teatro
Emílio Carlos Ribeiro Tapioca – Breviários de um Poeta de Ofício e Devoção

das 19h às 19h50
Arnaldo Ricardo do Nascimento – Cartilha como Solicitar Publicações Especiais em Braille e Libras para Formação de Acervo Especial para Usuários: Biblioteca Prof. Luis Palhano Loiola, da Faec
Luane Araujo – Vozes das Autoras do Teatro contemporâneo – França e Brasil – Perspectivas Feministas e Visões Políticas no Fim dos anos 2010
Gilvan Ribeiro – Malês: a Revolta dos Escravizados na Bahia e seu Legado
Antonio Albino Canelas Rubim – Políticas Culturais. Diálogos Possíveis
Mariana Resegue – Cultura em Evidência: Aprendizados para Fortalecer Políticas Culturais no Brasil

07/03 (quinta-feira)
das 10h às 10h50*
Gleycielli Nonato Guató – Vila Pequena: Causos, Contos e Lorotas
Obá Kaiesi Adekunle Aderonmu – A Identidade Tirada de Nós
Manoela Serra – O Diário Bipolar 2

das 11h às 11h50
Marleide Lins de Albuquerque – Antologia Poética Brasil – Moçambique +1
João Mancha – Caderno Resumo da Conferência: Apresentação do Evento e Propostas (1ª Conferência Livre Nacional do Rock)
Patrícia Marys – O Chão que Pisamos: Reimaginando os Territórios da Mediação Cultural
Daniel Machado – Candieiro
Onã Silva – Coleção de Cordéis, Série Notáveis em Cordel
Crisóstomo Pinto Ñgala – Por que a Escola ainda Existe?

das 12h às 12h50
Queiroz, Marijara Souza e Cunha, Érika Matheus – Catálogo da exposição Corpos que Resistem
Valdete Sousa – Memória: Relatos do Teatro de Rondônia

das 15h às 15h50
Júlio Emílio Braz – Pretinha, Eu?
Helder Ramos – Desconstruindo Frases Prontas
José Carlos da Silva – Opressão e Dignidade
José Carlos Franco de Lima – Etnografia Vivencial: um Recurso para Ativistas, Profissionais e Pesquisadores que Atuam em Ações para a Transformação Social

das 16h às 16h50
Rafael Fernandes de Souza – De Capa, Máscara e Boné!
Virgínia Ferreira – Chumbo
Tuca Moraes – Cadernos Vermelhos – Vol. 1 e 2: Edição Ensaio Aberto / Teatro dos Trabalhadores
Guilherme Varella – Direito à Folia: o Direito ao Carnaval e a Política Pública do Carnaval de Rua na Cidade de São Paulo

das 17h às 17h50
Cristiane Sobral – Caixa Preta
Edymara Diniz Costa – O Ensino do Teatro nos Quilombos: Memórias e Identidades Kalunga em Cena
Maria do Socorro Alves de Sobral – Minha História, Minha Gente: Valorização Cultural, Histórica e Geográfica
Juliani Borchardt da Silva – Benzedores de São Miguel das Missões, RS: a Construção de suas Identidades a Partir de Memórias e Tradições
Cynthia Magno Panca – Mulher Caiçara do Mar à Poesia
Morgana Ribeiro dos Santos – Literatura de Cordel em Perspectiva

das 18h às 18h50
Mauricio da Silva – Cartas a Teodora: Confluências para uma Arteducomunicação Decolonial
Duclerc João da Silva – Diacuí Flor dos Campos 70 anos
Vitor da Trindade – O Ogan Alabê, Sacerdote e Músico

das 19h às 19h50
Aline Gomes Rossi Moraes – Coleção Amazônia Paraense
Fábio Abreu dos Passos – Corpos (In)Visíveis
Tiarajú Pablo D’Andrea – A formação das Sujeitas e dos Sujeitos Periféricos: Cultura e Política na Periferia de São Paulo
Jose Cleiton de Souza Carvalho – Menino da Mata
Lawrence Fontes de Oliveira Lima – Aquila Impetum

Ascom da 4ª CNC

Poema de agora: o amor passeia – Pat Andrade

o amor passeia

o amor desceu à terra na lua cheia
desbravou corações
percorreu praias e rios
e colecionou vidrinhos de areia

perto de minguar
já perdido nas paixões
o amor encontrou asas de orvalho
e aprendeu a voar

enquanto o amor crescia
foi escrevendo sua história
nas estrelas do céu
com um toquinho de giz

e antes de ir embora
o amor fez lua nova
pra ser feliz

Pat Andrade

Poema de agora: Desamarrando balões – Luiz Jorge Ferreira

 


Desamarrando balões

A roupa ficou folgada em mim…
Mas eu a enchi de lembranças e saudades
de modo que quem me ver vai recordar de alguma coisa.
Ou sorrir por um motivo engraçado, ou lagrimar por estar defronte a uma súbita tristeza.
O sapato puído quer caminhar sozinho…se acha o dono do meu destino como eu fui do dele décadas atrás.
Sob a luz embaçada da antiga lâmpada eu crio figuras abstratas sobre a minha pálida sombra, talvez um esboço de Migliane nos becos tuberculosos de Paris…

Depois do silêncio que espreita atrás da cortina manchada de amarelo,
a Canção de Nico Fidenco barulha cutucando a solidão com sobras sobreviventes da paixão que me tornou febril por toda a caminhada.
Eu costuro pedaços desiguais de paixões e amores…e invado o Teatro para pedir desculpas aos aplausos.

Prazeroso seria eu carregar o mar nos bolsos e ensopar com eles as lágrimas secas dos tristes.
Estes não me olham frente a frente, sempre de soslaio..
São arredios aos meus votos de felicidades
E nunca dançam quando eu canto Bob Marley
Ou entoo Gilberto Gil.
Saem sutis, e amanhecem nas estrelas.

Não há janelas a abrir, não há sol a desenhar no dorso da escuridão, todos bailam em uma só direção, lamento ter te puxado pela mão para uma última dança, ter enlaçado tua cintura para imitar o vôo dos pássaros migrando para o Sul.
Lamento todas as melodias dependuradas em meus tímpanos.
E que eu em tua direção as açoitei para que entendesses o azul.

E por fim ignorei minha inútil tentativa de ser luz.
Fadigado procurando Deus entre os Vaga-lumes coloridos.
Fico na saída da sala, sem saída.
Para o resto do resto do tempo que me resta.
Embora tudo…desapareça.
Nada foi embora.
Resta-me ainda…atirar para fora de mim…
Eu.

Luiz Jorge Ferreira

Poema de agora: Prazer, sou Maria – Alcinéa Cavalcante – @alcinea

Escritora/poeta e imortal da Academia Amapaense de Letras (AAL), Alcinéa Cavalcante. Foto: Arquivo pessoal da literata.

Prazer, sou Maria

Dá licença, seu moço,
que eu agora vou me apresentar:

Sou Maria,
mulher guerreira,
não puxo briga
mas não corro de bicho-papão
nem tenho medo de coroné metido em fardão.
Sou Maria,
mulher simples e humilde
mas tenho alguns tesouros.
Não sou dona do mar
mas conheço os segredos da floresta
e marimbondo de fogo não vai me ferrar.
Sou Maria,
mulher poeta e jornalista.
De noite escrevo versos,
de dia escrevo notícia.
Minha caneta é liberdade
a consciência o meu guia.
Sou doce, mas valente,
nem tente me calar
pois não tenho medo da sua gente.
Me ajoelho só pra Deus.
Santo e poeta eu olho com o coração
e político da tua laia
eu olho de cima pro chão.
Pra quem é do bem
eu digo: “Vem comigo, amor”
Pra quem é do mal
eu só sei dizer “Xô”.
Encerro minha apresentação
te fazendo um pedido:
Fica lá no teu quadrado
deixa em paz o povo tucuju
ou eu viro Maria mal-educada
e te mando…

Alcinéa Cavalcante

Deus segundo Spinoza (muito bom)

Deus segundo Spinoza (muito bom)

“Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.
 
Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.
 
Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.


 
Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
 
Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau. O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria.
 
Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.


 
Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho… Não me encontrarás em nenhum livro! Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?
 
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
 
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.


 
Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
 
Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez?
 
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade?
 
Que tipo de Deus pode fazer isso?


 
Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
 
Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti.
 
A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
 
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.
 
Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.


 
Eu te fiz absolutamente livre.
 
Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
 
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho.
 
Vive como se não o houvesse.
 
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.
 
Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não.


 
Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste… Do que mais gostaste? O que aprendeste?
 
Pára de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar.
 
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
 
Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.
 
Pára de louvar-me!
 
Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.
 
Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
 
Te sentes olhado, surpreendido?… Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.
 
Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim.
 
A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas.


 
Para que precisas de mais milagres?
 
Para que tantas explicações?
 
Não me procures fora!
 
Não me acharás.
 
Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti”.


 
*Baruch Spinoza (ditas em pleno Século XVII. Continuam verdadeiras e atuais até a data de hoje).

Ariano Suassuna, escritor brasileiro falecido em 2014, em um vídeo que encontrei no Canal Brasil, reproduz de outra forma o que Spinoza disse. Ele discorre sobre Deus, o sentido da vida e declama a poesia de Lenadro de barros.

Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?

Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?

Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?

Lenadro de barros

 

Definitivamente, o meu Deus, é o de Spinoza (Elton Tavares).

Fontes: Divulgando Ascensão , Canal Brasil e Canal Curta.

 

 

 

 

 

 

 

Poema de agora: Carnaval Moderno – Pat Andrade

CARNAVAL MODERNO

andei à procura da máscara ideal
teci minha bela fantasia
para brincar mais um carnaval
comprei confete e serpentina
encomendei lança perfume
purpurina e coisa-e-tal
[mas não achei salões para bailar]

o Arlequim se mudou pra Bahia
finalmente cansou de chorar
a Colombina, poderosa,
vive a trocar de par
o Pierrô foi morar na praia
agora é dono de pousada e bar
[parece que lá pra Marudá]

nesse carnaval moderno
já vi gente com cara de sério
já vi gente pulando de terno
nesse carnaval moderno
não dá mais pra se apaixonar
é esquecer o que vira cinza
depois que o sol raiar
[no carnaval deste ano, vou é me acomodar]

PAT ANDRADE

Poema de carnaval: Fervilhando…(Luiz Jorge Ferreira)

Fervilhando…

Eu quero ser bulido…da cabeça ao ventre…eu quero pôr o avesso sem avesso no avesso.
Eu quero ser a sorte distante.
Eu quero ser a lua minguante.
O livro sobre a estante, letras sobrenadantes dentro do olhar.
Eu que ser a fome gorda dos meninos esqualidos dentro dos mangues.
Eu não quero ser dentes afiados que nunca morderam pescoços, nem ancas.
Eu quero ser a boca que engole a brisa que cheira a comida, e que mata a fome da fome.
Eu quero ser a luz escura que envolve a lua, e se derrama dentro do que lembro, atento aos movimentos dos quadris nervosos da morena sassariqueira,
que o samba dança.
O mesmo samba que ela recorda, quando do Carnaval, só se esperava o barato de cheirar lança perfume …
Eu quero ser lido…eu quero ser lenda…eu quero ser nesga de um vento…que traga fragmentos da nossa vida…
Eu não quero viver morto.
Eu não quero morrer vivo.
Eu quero estar contigo debaixo da chuva…de quatro, de cocoras…cantando um frevo… fazendo um fervo, criando fofocas…fazendo fuxico…chupando tua língua…cuspindo um sorriso…
despindo tua vida feito fantasia…para a alegria da felicidade.

Luiz Jorge Ferreira

‘Uma festa pulsante e do povo’, reforça poeta e escritor sobre Carnaval do Amapá

Das batalhas de confete na Praça do Barão, na década de 1960, aos desfiles das escolas de samba, o carnaval amapaense se mistura no imaginário e na história do Amapá nos últimos 80 anos. A festa também está presente na memória do poeta, escritor, professor e compositor Fernando Canto, que trouxe a folia para sua obra. Este ano, com apoio do Governo do Amapá, o Carnaval 2024 promete alegria e memórias relembradas na Avenida Ivaldo Veras.

Para o poeta e folião, o momento na avenida se traduz como manifestação genuína de um povo que constrói o Carnaval. Fernando Canto explica que a festa é viva e que pode ser aproveitada por qualquer um que queira se juntar a ela.

“O carnaval é pulsante, é uma coisa do povo, é inalienável, aliás, tudo é dele, toda a arte advém do povo, porque ninguém sabe exatamente como as coisas surgem ou momento que se modificam. Essa festa também é um lugar de paixões, de desfilar, de mostrar cada um à sua própria vaidade, mas sempre no sentido da festa, daquilo que é importante para todos nós, sem a pretensão de ter aquela seriedade dos outros tipos desfiles, como procissões ou Sete de Setembro”, reforça Fernando Canto.

Como amante da escrita e do samba, Fernando Canto não teve como escapar da vontade de compor sambas-enredo, emplacando dezenas de letras para diferentes agremiações do estado, como a Boêmios do Laguinho, a escola do coração dele, Piratas Estilizados e Piratas da Batucada.

Foi, curiosamente, a escola Piratas da Batucada, uma das principais rivais do Boêmios, a protagonista de uma divertida história de composição de sambas do poeta. Em 1986, Canto compôs um samba-enredo para ser disputado na agremiação, e conseguiu alcançar o segundo lugar no concurso. Porém, dias depois, um amigo matemático acabou percebendo que a conta das notas estava errada e que o compositor havia sido prejudicado. Após contestar o resultado, o samba dele foi cantado na Avenida FAB naquele ano.

Em 1987, os dirigentes da escola encomendaram um novo samba para o escritor, sobre o enredo “Biroba – o maquinista da alegria”. Ele concordou, mas, com o passar do tempo, acabou esquecendo do pedido. Chegando mais perto do desfile, um dos diretores do Piratão foi até a casa de Fernando pedindo o samba, que acabou tendo que solicitar um tempo a mais para produção da letra.

“Nunca havia escrito um samba-enredo em apenas trinta minutos, mas no final das contas ele foi para o desfile e foi o samba que embalou o primeiro título da história do Piratas da Batucada, em um ano em que foi contada a trajetória de uma figura histórica do bairro do Trem, o Biroba”, conta o escritor.

História no Boêmios do Laguinho

A Boêmios do Laguinho, com 70 anos de existência – mesma idade de Canto –, é a grande paixão do folião, que coleciona sambas e momentos inesquecíveis. A agremiação fica localizada na mesma rua onde o compositor cresceu e foi nela que ele foi eleito Mestre da Nação, título dado às figuras históricas da escola e que é carregado com orgulho.

Além disso, Canto também já foi presidente da escola e uma vez homenageado pela “Nação Negra”, em 2012, juntamente com o compositor Osmar Júnior, com o enredo “Laguinho África minha, cantos e revoadas de dois poetas geniais”. Uma das grandes emoções vividas por ele na avenida, que também ocorreu outras vezes, com a Unidos do Buritizal e Piratas Estilizados.

“Foi uma alegria muito forte, nossa obra foi colocada na avenida, foi cantada pelas pessoas, mas, sobretudo, fica a marca de quem fez alguma coisa para arte, e isso me revigora. Estava ali eu e a obra que eu escrevi, que eu fiz, que eu musiquei, isso nos traz uma felicidade imensa”, disse o escritor.

Carnaval e poesia

Desde o tempo das batalhas de confete às festas das marchinhas de Carnaval que viveu na cidade, lá pelos anos 1960, Fernando Canto aproximou cada vez mais a sua obra da expressão cultural, ora inspirando seus textos, ora seus textos inspirando o próprio Carnaval.

O escritor sempre manteve a irreverência e a fantasia dessa época tão rica, na terra do bloco A Banda e de diversos outros de rua, como pode ser visto no conto “Super-Heróis no Carnaval”, do livro “O Centauro e as Amazonas”, publicado por ele em 2021.

“(…) Eduardo Luís, o Mãos de Tesoura, que acabara de terminar seu relacionamento com a Supermoça, olhava, deprimido, aquela cena enquanto a Mulher Maravilha dançava com o Homem de Areia a marchinha ‘A Jardineira’, mais bêbada que um trem descarrilhado”.

Carnaval 2024

Em dezembro, o Governo do Amapá fez o repasse de R$ 4,5 milhões para o Carnaval 2024. Os eventos carnavalescos fortalecem a cultura, o turismo e a economia, gerando emprego e renda para profissionais como costureiras, estilistas e aderecistas.

O investimento, fruto de articulação do senador Davi Alcolumbre, foi entregue diretamente às 10 agremiações em uma parcela única, por meio da Liga Independente das Escolas de Samba do Amapá (Liesap).

Texto: Luan Rodrigues
Foto: Albenir Sousa/GEA
Secretaria de Estado da Comunicação

Poema de agora: Macapá, minha cidade – Pat Andrade #Macapa266Anos

MACAPÁ, MINHA CIDADE

Minha cidade comemora
mais um ano de existência.
Digo minha, porque dela
me apodero, todos os dias,
em dura jornada;
todas as noites,
em longas caminhadas.
Macapá me cobre
com seu céu inconstante,
me descobre em versos e rimas;
me abriga em seus bares,
em suas ruas, em seus becos,
em suas praças, em seu rio…
Macapá me expõe, me resgata,
me ampara, me liberta…
E aqui permaneço,
retribuindo com meu amor,
minha esperança
e minha alma de poeta.

Pat Andrade

Poema de agora: reminiscências – Pat Andrade

reminiscências

se chegarem flores na tua casa
não fui eu que as mandei
se o carteiro chamar teu nome
o remetente não sou eu
não encontrarás bilhetes
ou retratos do nosso amor

mas te peço que fiques atenta
aos crepúsculos da tarde
eles te oferecerão cores
que só quem ama pode ver

procura no céu as últimas estrelas
elas vão sussurrar nossos segredos
observa o brilho nas águas do rio
ele vai refletir os olhares
que trocamos em cumplicidade

quando estiveres sozinha
no jardim delicado da memória
a luz da lua vai atravessar as folhas
ela escreverá nossa história
no idioma singular dos amantes
e saberás do nosso amor bem mais
do que eu jamais poderia te dizer

Pat Andrade

Poesia de agora: Bocona Aberta (Três Poemas De Morte E um Assombro Inelutável; E outros três) – Fernando Canto

Pré – Munição

O poeta olhou pro céu e viu araras negras resmungando no pedaço
Sentiu um calafrio taquicardia
E um sonho cor de aço.
Somente no hospital lhe eterfonaram na TV:

“Osama nas hallturas pôs as asas pelos braços.”

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A Morte

Quem faz o fogo no escuro
Se um brilho se acende cedo
Pra cedo domar a noite e o frio que mora escondido nas dunas do Oriente?

A morte ronda montanhas
A morte rompe defesas
A morte rasga mortalhas de homens que foram gente.

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O ar

Windows of world
Abram-se em ângulos azuis
Quero ver estrelas
War da arrogância ensimesmada de ENTULHOS
God save América
Incensos e velas

Que os Orixás protejam os pequenitos de Allah!

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Crime

Ó! Bocona aberta!
Grito pelo rio de ondas verticais
Sons de ferramentas – grilos (cry cry cry) abafam tua angústia no banheiro
Hitcock passa como um Alfredo jardineiro num macacão de jeans molhando a grama vermelha.

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Phódrio Two

Tizingida cor em teu selo maisgentile
Corpo caseiro
Sem plateia ver – te – coito
Provisiona alimentos lactos
Laticínios morticídios para bulimia anorexial pós – mortefambre de todos los Dias/Noches

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Equilíbrio

Abraço os olhos na hora de deitar na cama
– Minha muleta é meu olho.
Já meus pés não são tão confiáveis
Parecem pranchões acizentados de poeira
Onde grafo pelos dias/noches meus erros gramaticais.

Fernando Canto

 

* Poemas de 11 de setembro de 2001, sobre a antiga guerra do oriente médio, que resultaram na destruição das Torres Gêmeas do World Trade Center.