Pequeno instante de retorno a um lugar chamado passado
O som vem lá do Pecó. (*) É a voz de Carlos Gonzaga cantando Diana. Eu deitado, imberbe, na rede que fede a mim. Balanceio entre o Trópico de Câncer e o de Capricórnio. Em vão, procuro criar uma linguagem nova para conversar com as estrelas. Cybelle, sob o sol tropical picha muros, ou apenas anda zigzagueando entre pedregulhos grávidos. Atropelados por um pneu Firestone. Portinari… Picasso… Dali… R. Peixe… Ray Cunha. Estão por ali entre sombras da noite e fantasmas magros. Todos gêmeos das paredes de madeira ruídas de cupins. Copulam cores. Dentro do sol. Dentro de mim a Babilônia se arrasta pela Ernestino Borges. Vem da casa de Seu Paulino, Maiambuco, com Marabaixo, e Coló. Eu em silencio, decorando a música de Carlos Gonzaga, vinda do Pecó. Deitado na rede que tatua minha costa com listas e calombos. Espreguiço entre a Fortaleza cicatrizada de tempo, e o tempo cicatrizado na Fortaleza. Farto de azedos, gaguejo uma língua nova para a surda lua anciã. Da alma ao ânus. Lavado de suor. Olho as unhas dos pés crescerem. Sujas do chão do Pacoval. Elas desnorteadas com o Norte mapeado aos seus pés. Arranham em Si, o terceiro compasso. Sou um homem negro. Pardo com duas orelhas. Páginas demais em branco. Apaixonado por sereias. Versos de Drumonnd. Lendas do Isnard. Refém do som do Pecó. Olhando as telhas. Dialogando com estrelas sujas de céu. Xingo os tímpanos. Incomodado com o barulho da massa do pão lá na Padaria do Seu Osvaldo, ainda cru sendo esmagado na mesa. Sobre bactérias indefesas. Gritando em Morse. Vittorio Gassman. Zorro. Chaplin. Bardot. Estimulam o diálogo das pulgas com o cão, em Braille. Isto impede que eu decore a segunda parte da letra da música de Carlos Gonzaga, que vem do Pecó. Que vem só. Respirando entre ruas e becos, lá do Igarapé das Mulheres, entre cheiros de peixe, e odores vaginais. Quase amanhece debaixo do assoalho em que a música se esconde. Ernestino Borges. Odilardo Silva. Odilardo. Fernando Canto. Nikita Kruschchev. Chefe Humberto. Cabralzinho. Bongos… Uníssonos solfejam a semínima com que a música termina. O barulho das tábuas estalando. Impede que eu decore o resto. Cuspo frases inteiras da música no saco de roupa, onde a camisa de ontem encharcada com um resto de chuva, não cabe mais em mim. Mil e Novecentos. Outubro de 62.
Luiz Jorge Ferreira
(*) Pecó = prostíbulo em Macapá, cujo som emitido por vários alto-falantes inundava o silêncio das suas madrugadas na década de sessenta.
…as vezes a noite já vai longe e quase chega a madrugada Olho no Zap…estás ligada a ele também… Como ignoro onde…com quem…ou lês simplesmente… Guardo as palavras na mente e não deixo que meus dedos a digitem… De manhã cedinho não saberei o que diria Mas a sensação de um vazio permanece até a terceira xicara de café Dai em diante presto atenção no texto que lerei dentro da dinâmica do trabalho e quando saio…. Deus extendeu novamente a noite Olho para ela indiferente ao que penso Joga- me gotas d’água e me esbofeteia com um sopro gelado. Então eu ligo o carro e ligo o rádio…e uma frase musicada me diz que devo levar prá casa, remédio para a solidão.
Celebrando os 10 anos de atuação, os Poetas Azuis, tradicional grupo amapaense de poesia, apresenta na quinta-feira, 27, de julho, o recital Remix Poesia, no Festival de Inverno de Garanhuns – FIG. Este é o segundo ano que o grupo levará uma performance para o evento que chega a sua 31ª edição em 2023.
Com produção da Duas Telas Produtora Cultural, os Azuis, embarcam no dia 26 para Garanhuns, cidade do Agreste Pernambucano. A seleção ocorreu por meio de inscrição no edital de chamada pública realizada em abril.
Para este ano o grupo apresenta, o Remix Poesia, que é o recital-show que traz releituras de diversos trabalhos construídos durante a sua primeira década de existência, agora acompanhados por um DJ.
Poetas Azuis
É um grupo lítero-musical amapaense criando em 2012 com o intuito de promover o encontro da poesia falada e a poesia cantada através de seus recitais-shows. Já se apresentaram em outros estados do Brasil e participaram de festivais ligados a literatura e a música tais como: Off Flip, FLIMAR, FLIU e Música na Estrada. Além de circular por projetos apoiados pelo SESC como Viajando Pelo Mundo da Literatura e SESC Amazônia das Artes.
FIG 2023
O Festival de Inverno de Garanhuns – FIG, chega a sua 31ª edição e acontece de 21 a 30 de julho. A programação conta com shows de Lenine, Nação Zumbi, Arnaldo Antunes, Maneva, Tiago Iorc e Priscila Senna e atrações locais.
É possível que eu te conte uma história de príncipes e fadas que escutarás com o olhar perdido na infância. Ou que te conte uma piada tão engraçada que rolaremos de tanto rir. Nossas gargalhadas contagiarão os passantes e de repente todo mundo estará rindo sem nem saber por quê. É possível que eu faça um café com tapioca e te chame pois café, tapioca e amigo tem tudo a ver. É possível que eu chegue na tua casa sem avisar só pra te ofertar uma rosa que acabara de nascer e te oferecer um Johrei. É possível que eu te ofereça uma música no rádio ou te mande, pelo Correio, uma carta numa folha de papel almaço. É possível que eu te ligue no meio da noite no meio do dia a qualquer hora – mesmo na mais imprópria – só pra dizer: Amigo, eu amo você.
Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Neste décimo nono dia de julho, o amigo Luiz Jorge Ferreira, gira a roda da vida pela 70ª vez e lhe rendo homenagens, pois trata-se de um baita cara talentoso e gente fina demais!
Luiz Jorge é médico, escritor, poeta, contista, cronista e cara porreta. Um amigo que eu nunca vi pessoalmente, mas tenho respeito e admiração por ele.
Em 2016 ou 2017 – não recordo agora a data precisa – o Fernando Canto, maior escritor vivo do Amapá, apresentou este site – por conta de incontáveis publicações da obra do amigo – ao Luiz Jorge.
A partir daí, o Fernando começou a me passar contos e poemas deste tal Luiz Jorge. Rapá, o cara é fera! Peguei o contato do escritor e me tornei amigo do figura. Comecei a publicar. De lá pra cá, mantenho contato com o Jorge, que é fã de música boa, um cara muito pai’égua e excelente artista das letras. Até livros dele ganhei de presente via Correios.
O Jorge nasceu em Belém (PA), morou quando criança e jovem em Macapá (AP) e formou-se médico na Universidade Federal do Pará, hoje exercendo o nobre ofício em hospitais da grande São Paulo, onde reside há décadas. Além de ser um sujeito muito gente boa, um médico competente e um escritor foda, sei também que o cara é ainda um pai e um avô amoroso.
Luiz Jorge Ferreira é um dos membros fundadores da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES). Autor dos livros “Cão Vadio”, “Berro Verde”, “Beco das Araras”, “Thybum” e “O Avesso do Espantalho”, participou em coletâneas da União Brasileira de Escritores – UBE (PA), da qual também é membro. Já letrou música pra compositores de MPB e Música Regional de Raiz. Milton Batista, Edinaldo Lobato, Alfredo Reis, José Serra e Fernando Canto são alguns dos seus parceiros (fonte Rumo Editorial).
O cara é um escritor premiado em vários concursos literários de contos e poesia no Brasil e no exterior. E vocês acreditam que um figura com esse currículo me manda mensagens e diz: “mestre, segue um conto (ou poema). Veja se gosta”? Porra! Sempre adoro, pois é cheio de memória afetiva, poesia nostálgica, contos cinematográficos. A cabeça do homem é uma usina de coisas legais passadas pelas palavras.
Quando estive em São Paulo (SP), tentei tomar umas cervejas com ele, mas não deu certo por conta de compromissos profissionais dele (plantão) e meus, já que eu estava na capital paulista a trabalho.
Já andava há algum tempo com vontade de escrever algo sobre esse amigo e colaborador deste site. Mas a convivência é a munição para tais textos. Ontem comentei com o Fernando Canto sobre o aniversário do Luiz e pedi uma manifestação dele, já que é amigo do cara desde que lamparina dava choque e foi quem me apresentou o médico escritor.
“Luiz Jorge Ferreira é médico de coração e letras. Vai ser amigo assim nas nuvens, na terra e na ferrugem . Além do grande talento como escritor, compositor, cantor e médico seu gênio é encantar o mundo com sua poesia fantástica. Adoro esse meu amigo. Feliz aniversário“, disse o Fernando Canto.
Por tudo dito e escrito acima, hoje rendo homenagens para o Luiz Jorge. Mestre, que tu sigas com toda essa humildade, talento e paideguice que te é peculiar, sempre com muita saúde para curtir a vida e os teus amores. Gosto muito de ti. Agradeço as contribuições. Sucesso sempre, parabéns pelo teu dia e feliz aniversário, amigo!
Na terça-feira (18), a frente do Mercado Central ficou tomada por talentosos artistas que participavam do terceiro “Verão das Artes”, que levou diversos segmentos das artes visuais, literatura e audiovisual para o espaço. A atividade faz parte do maior Macapá Verão de todos os tempos.
O projeto é uma vitrine para os artistas locais e proporciona uma experiência cultural única para o púbico. Acontece todas as terças-feiras de julho em frente ao Mercado Central, espaço para o talento e expressão local.
A primeira a subir no palco, foi Negra Áurea, vigorosa na récita, navegou nas palavras, com a desenvoltura de uma verdadeira mulher da literatura negra local. “São momentos como esses, que nos oportuniza a evidenciar a diversidade através da poesia. Assim, pude levar a nossa identidade para a sociedade”, disse a artista.
Os talentosos artistas Ezaú Silva, Annie Caroline, e Graça Senna, também apresentaram suas obras literárias. Para encerrar, a exposição de audiovisual ficou por conta de Aldine Moura, Marcelo Claudio De Jesus Coimbbra, Adilene Araújo Dias e Elielson Junior.
Annie Caroline de Carvalho, há 10 anos é poeta. “Sou geógrafa, meus pais professores e através da leitura busquei a poesia. É gratificante, quando o poder público nos apoia nesse lindo projeto. Eu tenho um grande sonho, que é de ser ouvida e vista mundo a fora e com o apoio dos gestores de nossa cidade, sinto que isso pode se tornar real”, finalizou Annie.
Pudesse extrairia seu coração para escondê-lo da saudade…embora sabendo que cedo ou tarde ela ia encontrá-lo. Porque os rastros que deixasse na areia da estrada …seriam evidentes demais para não serem seguidos E o silêncio dos meus passos não abafaria o som dos seus tic-tacs, e o perfume que a paixão evapora quando se afasta em busca de esconderijo, são enormes, e ela vive se esquecendo que esconder-se segura é se esconder em si mesma… …e calar
Qualquer grito aflito que signifique lhe chamar. Finja que não ouviu… Finja que o tic tac do relógio marcando o tempo como se desenhasse asas, a nada leva. E se imagine sempre recomeçando, e se flor se arranque as pétalas, se beijo se interrompa, se sonho se prolongue, e se assuste com o cheiro do café correndo em direção as suas narinas… Para atingir a alma…só lágrimas
Alma não se mata, apenas se tortura com saudades. E essas são permanentes… Tente escondê-las…procure um lugar no infinito do infinito…onde não chegam nem palmas, nem gritos. Porém, só de tentar fazê-lo já as ressuscitou.
O Mercado Central será palco de um grande encontro de artistas locais nesta terça-feira (11), quando acontecerá o segundo Verão das Artes, integrando a programação do Macapá Verão 2023. A partir das 10h, o público poderá apreciar as obras de 15 artistas das áreas de artes visuais, literatura e audiovisual, selecionados pelo edital 007/2022 da Fumcult.
As artes visuais abrirão o evento, com as exposições de Nau Navegar, Dekko Matos, Ecinildo Barbosa, Carla Priscila, Campis e a Associação de Artes Educadores do Amapá.
Às 15h30 tem poesia literomusical com os Poetas Azuis, Pedro Stkls e Thiago Soeiro. Além deles, a programação conta com a participação dos também poetas Thiago Quingosta, Andreia Lopes, Mary Paes e Coletivo Juremas.
No início da noite, 18h, é a vez do audiovisual apresentar as produções locais, com trabalhos de Glauber Khan, Balança Cultura, Eliana Moreira e Rodrigo Aquiles.
O Verão das Artes é uma iniciativa que valoriza e divulga o talento e a expressão local, e acontece todas às terças-feiras de julho em frente ao Mercado Central.
Marcas Oficiais do Macapá Verão 2023 – O maior de todos os tempos
CEA – Grupo Equatorial Energia, Concessionária de Saneamento do Amapá (CSA), Você Telecom, Mercadão dos Medicamentos, Santa Rita Engenharia, Domestilar, AK Motor’s, Águas da Amazônia, Ecopostos, Laboratório Dr. Paulo J. Albuquerque, Center Kennedy, Limpex Hospitalar, Tratalyx, Rede Amazônica, TV Equinócio, Faculdade Estácio e Claro Brasil.
Chega nas plataformas de streamings no dia 11 de julho, às 12h, o single ‘Quando Amor Florir’, canção do grupo Poetas Azuis, que faz parte do repertório do grupo desde 2016. Essa é a primeira de uma série de canções antigas do grupo que ganhará uma versão de estúdio.
O grupo lançou no ano passado um EP de canções inéditas chamado “O Amor Mora Aqui” e prepara para este ano o lançamento de canções que só eram tocadas nos shows. “Muitas pessoas que acompanham nosso trabalho sempre pediram para gravarmos essas canções, são muitas as composições feitas nos últimos dez anos, mas escolhemos para levar pro estúdio as mais afetivas”, conta o poeta, Pedro Stkls.
Os lançamentos que estão chegando a partir de julho fazem parte também da comemoração de 10 anos do grupo com produção da Duas Telas Produtora Cultural. “Depois de um planejamento demorado, resolvemos este ano comemorar nossos dez anos relembrando shows, momentos e pessoas que marcaram essa década, e nada melhor como começar com essa canção que deu muito ritmo a diversas apresentações nossas”, ressalta o poeta Thiago Soeiro.
O trabalho foi gravado no Romanos Studio com a produção do produtor musical Mardokeu Mascarenhas, que é quem assinará a produção de todos os singles que serão lançados nos próximos meses. ‘Quando o Amor Florir’ tem letra de Pedro Stkls, com música assinada por Deize Pinheiro, Marcelo Souza e Paulo Júnior.
A partir desde mês os admiradores dos Poetas Azuis poderão acompanhar mensalmente um lançamento por mês, serão cinco lançamentos no total, até o mês de outubro.
Show
No dia 11 de julho também acontecerá o show do grupo na programação do Macapá Verão no Mercado Central às 15h. O recital de produção da Duas Telas Produtora Cultural, que é quem acompanha e cuida da carreira os Azuis. “Encontrar nosso público é sempre uma alegria, e no dia 11, vamos todos ouvir a canções antigas e as novas que fazem parte do nosso EP, além de muita poesia falar”, explica Pedro Stkls.
Ficha técnica:
Produção Executiva: Susanne Farias
Direção Geral: Josimar Barros
Produção musical: Mardokeu Mascarenhas
Composição: Pedro Stkls, Deize Pinheiro, Marcelo Souza e Paulo Júnior
Gravado, mixado e masterizado por Mardokeu Mascarenhas
Fotos: Pedro Stkls e Thiago Soeiro
Arte da capa: Pedro Stkls
Como disse a escritora e poeta portuguesa Natália Correia “A poesia é para comer”. E foi assim, com poesia e música que o público vivenciou a programação do Macapá Verão, dessa tarde de terça-feira(4), em frente ao Mercado Central, patrimônio histórico da capital.
O evento intitulado “Verão das Artes” reuniu os artistas Edu Gomes, Pat Andrade, Ricardo Iraguany, Hayam Chandra e Carla Nobre, que mostraram talento e carisma no palco.
Olavo Almeida, diretor-presidente da Fundação Municipal de Cultura (Fumcult), destacou as atrações artísticas culturais da programação voltada para o público amante da literatura e da música. “O ‘Verão das Artes’ contempla os segmentos da arte e da cultura, como a poesia, contação de história, música, artes visuais e o audiovisual. A programação está linda”, disse o diretor-presidente.
Além das apresentações, os artistas também puderam expor e comercializar seus trabalhos durante o evento.
A poeta Pat Andrade, que trabalha há 30 anos, escrevendo e declamando poesias, conta, que há 20 anos, passou a produzir seus próprios livros de forma artesanal. Ela ressaltou, com orgulho, ter2 livros com ISBN ( International Standard Book Number/ Padrão Internacional de Numeração de Livro), ambos publicados por meio de edital emergencial de apoio à cultura, e 28 livros artesanais, além de alguns e-books e participação em coletâneas regionais e nacionais.
“Esta é a terceira vez que participo do Macapá Verão. É importante que eventos como esse aconteçam para dar visibilidade à nossa arte, principalmente para a literatura. A gente torce para que a poesia continue marcando presença nos espaços públicos. Macapá tem muitos poetas e escritores talentosos”, frisou.
Naldo Martins, professor e artista visual, estava prestigiando o evento e aproveitou para comprar o livro “Entre a Flor e a Navalha” , da escritora Pat Andrade. “Sempre que posso, compro arte porque é a forma que encontro para valorizar o artista da minha cidade. O Macapá Verão é uma vitrine de artistas e de obras valorosas”, destacou o professor.
Nessa mesma linha de pensamento do professor Naldo, o músico e compositor Edu Gomes, falou que vê o evento como uma janela de oportunidades para mostrar ao público, suas canções autorais. “É muito emocionante poder mostrar canções que eu criei para um público novo, o artista precisa de momentos como esse, para mostrar sua arte”, completou.
O “Verão das Artes” acontece às terças-feiras, no Mercado Central e nos fins de semana, no Bioparque da Amazônia.
Texto: Mary Paes Fotos: Jesiel Braga Secretaria Municipal de Comunicação Social