Poema de agora: PAPEL NO PAINEL – Luiz Jorge Ferreira

PAPEL NO PAINEL

Na minha cabeça, milhares de Universos.
Defronte de meu carro parado no estacionamento do Carrefour , tão vazio como o Saara.
Apenas um cão magro faz companhia e se preocupa com sua Sarna abundante, suas meia duzias de pulgas magras também, e com uma multidão de formigas de fogo, em fila, que estão assustadas com o Sol refletido no cimento da calçada.


Para descer e sair caminhando terei que chutar uma estrela que ali amanheceu, com certeza se esqueceu de alcançar voo até a Constelação de Cirius.
Doem meus dedos, ando digitando demais, usarei mais a voz para falar com o eco, e alojarei pensamentos no espaço incomensurável dos neurônios, para estende-los da década de Cincoenta, até agora neste momento em que leio 12.53, de 19.04.2019.

Entrarei na sétima década…Faunos.Sacis.
Fadas. Yaras e Gnomos, nunca os vi.
Vejo solitário o estacionamento do Carrefour…
Dou por mim , noto a ausência da silhueta heptagonal daquela estrela.
Pode ter subido célere como sugada por um buraco negro.


Pode estar no terceiro banco, a direita, da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré em Macapá.
Ouvindo Deus calar a fala dos Padres.
Pode estar em Viseu, pondo os pés frios na lama toda marcada das patas dos caranguejos.
Ou pode estar entre os milhares de Universos que abrigo entre os neurônios do meu cérebro.


Onde estiver perambulando, será bem vinda.
Pode ter levado as pulgas, as formigas, o cão, e as sombras.
Tudo sumiu em um piscar de olhos.
Por Deus, assim que eu sorrir, todos serão bem vindos.

Luiz Jorge Ferreira

 

* Do livro de Poemas “Nunca mais vou sair de mim sem levar as Asas” – Rumo Editorial – São Paulo.

Poema de agora: A ALMA NOS OLHOS – Pat Andrade

A ALMA NOS OLHOS

na fogueira,
de dentro das chamas,
vejo arder os olhos de Joana.
Maria Antonieta
tinha olhos de menina.
eu os vi, na guilhotina.
nos olhos de Marley,
vejo a fumaça,


a luta pela cor e raça.
Gandhi tinha nos olhos
a tão sonhada paz;
ninguém a espera mais.
sem pensar no tom da pele,
me diz: como eram
os olhos de Marielle?

Pat Andrade

Poema de agora: Vento forte do Norte – @ManoelFabricio1

Vento forte do Norte

o vento de forte, soprou
soprou, soprou, soprou
parecia caminhar pelos telhados
assoviando por todos os lados
a memória da morena
me assombrou quando percebi, estava arrepiado
fui lá fora ver toda essa confusão
o vizinho que não conheço acenou
– o vento tá forte, né meu chegado?
entendi a pergunta, no seu acenar…
enquanto olhei para o lado


o telhado voava, parecia uma folha de papel
dos panfletos jogados ao léo
placas voando, tampas de caixas d´águas
espalhadas pelo céu
tudo que estava em pé
caiu!
ninguém tem tanta sustentação assim
lembrei-me da ação e disse: vento leva!
a memória que está armazenada no hipocampo
meu irmão!


o vento desobediente não levou nem porra
levou só o que não tinha sustentação
tudo o que precisava ser levado
para que o ciclo fosse renovado

Manoel Fabrício

Poema de agora: Para dependurar contra o vento – Luiz Jorge Ferreira

Para dependurar contra o vento

O reflexo da minha mão direita dentro do espelho
conta as pingos da chuva
pares.
Os ímpares eu os sopro para detrás da sombra do cão que a tudo olha.


O ruido do arco íris sacudindo o dorso para se livrar dos limbos agarrados ao cume das mangueiras.
Ponho dentro de um LP
do Taiguara.
Tomará milnovecentos e setenta e dois permaneça livre dos olhares da Censura, da Libélula, e não provoque ansiedades incontroláveis…na estátua de Isnard, lá no remanço da Fortaleza.

Estou de joelhos, olhando meus passos distantes dos pés, anunciarem a chegada.
Falarão com os olhos dos torturadores…com a alma dos tatuados…um diálogo…digno dos Palcos do Teatro de Arena.


Dou um tapa na chuva.
E Canto…Menina da Ladeira…Canto de Ossanha…e acho que conquistei o Mundo.
Atrás da geladeira…um par de meias postas a secar…
Recorda…o quanto caminhei…debaixo da chuva…debaixo da sombra de um par de urubus…ao lado do canto de um rouxinol em sua gaiola de buriti.

O par de meias…parceiro inconsolável…chora em si meio Omo…meio Brilhante…
Nunca fui tão adiante…ele sabe.
Agora que caminho de dentro para fora de minha própria paisagem.
Ele espera o calor do motor da geladeira
E desconfia

Luiz Jorge Ferreira

* Do livro de Poemas “Nunca mais vou sair de mim sem levar as Asas” – Rumo Editorial – São Paulo.

Há 52 anos, The Beatles lançou o antológico álbum Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band

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No dia 8 de junho de 1967, há exatos 52 anos, a banda britânica The Bealtes lançou o antológico álbum Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band” (A Banda do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta). O disco, que vendeu mais de 30 milhões de cópias, é tido como um dos mais importantes da história do Rock and Roll e até mesmo da música.

Os quatro Beatles viviam o final da “Beatlemania e, como sempre, surpreenderam com o mitológico “Sgt. Peppers” . Com Sgt. Peppers , os Beatles se reinventaram, mudaram a música moderna e influenciaram toda uma geração.

A obra arte espetacular é repleta de lendas. Paul não depositou muita confiança no lançamento de um disco não comercial, já que Sgt. Pepper pouco tocaria nas rádios, mas Lennon bateu o pé (graças a Deus) e a banda lançou o álbum com riffs de guitarra elétrica e em formato Hard Rock. O resultado: 4 prêmios Grammy – inclusive o de melhor disco daquele ano – e 11 milhões de cópias vendidas só nos Estados Unidos.

Desde moleque, sempre quis saber quem eram a maioria daquelas pessoas na capa do LP Sgt. Peppers, sem falar nas mensagens subliminares.

“Quando o observa através da perspectiva atual, se vê que ‘Sgt. Pepper’s foi como um ícone. Foi o disco daquela época e provavelmente mudou a forma de gravar, mas não o fizemos de forma consciente”, afirma George Martin, produtor dos álbuns dos Beatles, na autobiografia do grupo, “Antologia”.

“Sgt. Pepper” demorou mais de 700 horas para ser gravado e custou cerca de US$ 75 mil, números inéditos naquela época.

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Foi Paul McCartney quem propôs a seus companheiros que se “transformassem em outro grupo” e sugeriu o nome de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, inspirado nas bandas que surgiam nos Estados Unidos naquela época.

Gravaram a faixa título do álbum, uma canção que começava com o ambiente de um concerto – instrumentos sendo afinados, o barulho do público – e que emendava com “With a little help from my friends”, a segunda faixa do disco.

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Esta foi outra novidade de “Sgt. Pepper”: as canções se sucediam de forma contínua, sem interrupções. A partir da terceira música – a composição de John Lennon “Lucy in the sky with diamonds” -, as faixas deixaram de ter uma ligação temática. “O disco ia transcorrer como uma ópera, mas depois dissemos: ‘Ah, que se dane!'”, declarou Ringo Starr.

“Sgt. Pepper” acabou se tornando um diversificado cardápio de canções, algumas tão afastadas do rock clássico como “Within you without you”, de George Harrison, gravado com um grupo de músicos da Índia e uma pequena orquestra de cordas.

A faixa que dá nome ao álbum volta a tocar numa versão mais rápida quase no fim do disco, que termina com “A day in the life”, uma das parcerias de Lennon e McCartney.

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Para apresentar as canções, os Beatles encomendaram a Peter Blake uma montagem fotográfica na qual os quatro integrantes do grupo aparecem vestidos com uniformes de guerra de cores chamativas e cercados por vários personagens. É a capa mais famosa da história.

Marlon Brando, Marilyn Monroe, Bob Dylan, Edgar Allan Poe, D.H. Lawrence, Karl Marx, Johnny Weismuller, Stan Lauren e Oliver Hardy são algumas das celebridades que acompanhavam os Beatles na fotomontagem, da qual foram eliminados Hitler e Gandhi. A contracapa do álbum foi outro marco: pela primeira vez, as letras das canções apareciam impressas num disco.

Desde então, não deixou de liderar as listas de melhores discos do rock e, quando completa 52 anos, continua sendo uma referência cultural.

Mais informações neste vídeo de 2017, quando o discaço fez 50 anos: 

Fontes: Whiplash; Wikipédia e O Globo .

 

Poema de agora: A GAVETA DA MEMÓRIA – Pat Andrade

A GAVETA DA MEMÓRIA

desdobrei
uns pedacinhos de passado
que encontrei largados
no fundo da gaveta da memória…

amarelados e roídos pelo tempo
gritam minha história
acordando paixões
batendo o tambor do coração
tremendo minhas mãos…

frente a frente com o passado,
esqueço o presente
e brinco de futuro…

Pat Andrade

Hoje: Poetas Azuis retornam ao palco com a turnê ‘Saudade’

Saudade. Um sentimento que todo mundo já conheceu. É provável que, ao ler essa palavra, você tenha lembrado de algo ou alguém. Pode ser uma época, um lugar por onde passou ou alguém que marcou a sua vida. Pode ser triste por ter passado ou feliz por ter tido a oportunidade de ter vivido. Saudade é o sentimento que poucos sabem descrever, mas todos entendem. E esse foi a palavra escolhida para intitular a mini turnê que marcará o retorno do grupo litero-musical Poetas Azuis, depois de 7 meses longe dos palcos. O show de estreia vai acontecer no dia 7 de junho no Sesc Araxá, a partir das 20h.

Mas os recitais, ao contrário do que muitos pensam sobre a saudade, não terão nada de melancólico. Segundo Pedro Stlks, um dos fundadores do grupo, a escolha do tema foi proposital, pois serão momentos especiais para relembrar a história do Poetas Azuis até aqui. “Demos esse nome porque é um recital que a gente estará visitando toda a nossa trajetória de Poetas Azuis desde o começo. É uma forma de olhar pra trás e ver o quanto a gente cresceu até aqui”, explica ele.

Foto: Eudes Vinícius

O grupo, que este ano completa 7 anos de existência, coleciona inúmeras experiências com seus trabalhos apresentados em recitais com a participação de grandes nomes da música amapaense, acompanhado e admirado por um público de todas as idades não apenas em Macapá, mas no Brasil todo. O grupo, composto também pelo poeta Thiago Soeiro, tem em sua rede social mais de 130 mil seguidores. É lá que eles compartilham suas criações, assim como de outros poetas, como Saulo Pessato e Zack Magiezi, nomes bastante conhecidos pelos apreciadores da poesia contemporânea.

Foto: Eudes Vinícius

Sobre a primeira das três apresentações da turnê Saudade, Pedro conta que será um show intimista, visando a inclusão direta do público no show, como já é característico dos recitais do grupo, que desta vez terá apenas o acompanhamento de Vinícius Bastos no violão. “Vai carregar um pouco da simplicidade, da nostalgia, das nossas memórias. Então é esse assunto que a gente quer dialogar com os nossos fãs. É um presente nosso pra eles antes de mostrar tudo o que a gente tá preparando de fato para 2019”, diz o poeta, antecipando que muitas novidades ainda estão por vir este ano.

Foto: Eudes Vinícius

“Saudade” contará com a participação das cantoras Silmara Lobato e Tani Leal, ambas amigas do grupo e parceiras de palco há anos. Uma das novidades da noite ficará por conta da participação da cantora e compositora Jessy Abreu. Além das participações especiais, o grupo também prepara outras surpresas, privilégio de quem for assistir e matar a saudade em grande estilo. Vale a pena conferir!

Serviço:

Recital “Saudade” do Grupo Poetas Azuis
Dia: 7 de junho
Horário: 20h
Local: Sesc Araxá – Rua Jovino Dinoá, 4311, Beirol, Macapá/Ap
Entrada gratuita

Mais informações:

Evelyn Pimentel: 96 99123-0923
Thiago Soeiro: 96 98140-4994
Pedro Stlks: 96 98140-4980

Evelyn Pimentel
Assessoria de imprensa

Poema de agora: Tempestade em mim – Pat Andrade

Tempestade em mim

Há em mim uma tempestade que não cessa,
Que me arrasta por vastidões
Sem me tirar do lugar;
Que me leva além do céu,
Que me empurra para o mar…
Mais que tempestade,
Às vezes é furacão.
Furioso, me arranca do chão
Me joga no ar…
Na queda, me recomponho,
Me refaço,
Num doce chuviscar.
Há em mim uma tempestade que não quer cessar

Pat Andrade

Poema de agora: ALGO QUE PENSO SOBRE A CHUVA – Marven Junius Franklin

ALGO QUE PENSO SOBRE A CHUVA

nesse exato instante
em que resolvo
– a duras penas –
romper com a mesmice
dos bate-bocas enfadonhos

decido
– de pronto –
tomar banho de chuva
no percurso entre
a minha casa e o bar

algo como me depurar
e dizer:
la puie est comme des larmes!

Não entendo
– confesso –
o que proferem as religiões

(as horas para mim
correm ao contrario
– como o voo absurdo
das andorinhas sem bando)

e o véu que camufla a solidão
é tênue como o brado de um
recém-injustiçado

assim
entre tempestades e tamarineiros
eu seguirei – pois vasta é a minha aflição
que não me deixará alcançar longevidade

e no limite do tempo
alguém virá atrás de mim
– ponderara coisas absurdas sobre
amizade

(ficarei em silêncio
e responderei com uma a poesia livre
– como prometido!!

Marven Junius Franklin

Poema de agora: Rima lógica – Pat Andrade

Rima lógica

Quando penso que sou única,
Me sinto mágica,
Me ouço música.
Quando penso que sou lúdica,
Me sinto sátira,
Me vejo lúbrica.
Quando penso que sou tácita,
Me sinto lépida,
Me faço cênica…

[…]

Quando penso que sou lógica,
Me sinto métrica
E me perco em rima.

Pat Andrade

Poema de agora: Suíte…para sobreviventes dos inseticidas bioorganofosforados – Luiz Jorge Ferreira

Suíte…para sobreviventes dos inseticidas bioorganofosforados

Entre nós um revoar de asas escuras cujo o dono esta vestido a rigor…
Adiante uma carcaça magra de um búfalo agora couro, e ossos.
Eu poderia estar em uma Metrópole Indiana.


Eu poderia estar em Gotham City.
Ou sentado a beira do cais de Ananindeua…ouvindo The Marmalade.
Ou simplesmente O Grupo Paçoca cantar Alfredo Reis…


Mas assobio Rita Lee, e gargalho Elis.
Nem par nem ímpar, estou indo de carro entre Osasco e Carapicuíba…


Na companhia de uma formiga saúva, e um raio de sol meio Cannabis que não sabe onde pousa, e escolhe uma barra de chocolate Nestlé
doida para se sentir mordida…


Ando meio Mutante impressionado com a brincadeira de Deus, ao espalhar o todo ao redor do nada.
Quem sabe a formiga saúva…ache que encontrou Deus em mim, e eu seja a criação que a colônia que a pós em um

foguete Atlas 49…com asas supersônicas.
Esperasse encontrar.


Ela me sacode as antenas, talvez fale por meio de ondas cicloeletrônicas de alta intensidade.
O raio de sol pisca intermitente…
Por acaso me acha uma saúva sob o teto do Golf 2010…
Que para a indignação de quem acelera …morre no início da ladeira…

Luiz Jorge Ferreira

* Do livro de Poemas “Nunca mais vou sair de mim sem levar as Asas” – Rumo Editorial – São Paulo.

Poema de agora: MEU BARCO AVARIADO – Joãozinho Gomes

Joãozinho Gomes – Foto: Ricardo Prado

MEU BARCO AVARIADO

A peste tem nos emprestado
e a tempestade à têmpora da aurora
não contemporiza-se a dor
da tua âncora aos corais.
Meu barco às pedras encalhado
Posseidon cedo pôs
seu dom a balouçar-te, nem Eufemo
o demoveu de libertar o réptil
para engendrar o nosso rapto
e Poriclimeno o viu decrépito
e eu o nominei, o Crápula
e Calipto o chamou de mentecapto.
Ecrepto, o Apto, o deus Apito
optou por abafar os gritos e o ranger
da tua quilha a roçar-se
a Argo naufragada a esta ilha
à oeste do infinito.
A peste tem nos emprestado
e a tempestade à têmpora da aurora
não basta ao escamoso mito.
Meu barco com o casco avariado
como chegaremos ao Egito?

Joãozinho Gomes