‘Uma festa pulsante e do povo’, reforça poeta e escritor sobre Carnaval do Amapá

Das batalhas de confete na Praça do Barão, na década de 1960, aos desfiles das escolas de samba, o carnaval amapaense se mistura no imaginário e na história do Amapá nos últimos 80 anos. A festa também está presente na memória do poeta, escritor, professor e compositor Fernando Canto, que trouxe a folia para sua obra. Este ano, com apoio do Governo do Amapá, o Carnaval 2024 promete alegria e memórias relembradas na Avenida Ivaldo Veras.

Para o poeta e folião, o momento na avenida se traduz como manifestação genuína de um povo que constrói o Carnaval. Fernando Canto explica que a festa é viva e que pode ser aproveitada por qualquer um que queira se juntar a ela.

“O carnaval é pulsante, é uma coisa do povo, é inalienável, aliás, tudo é dele, toda a arte advém do povo, porque ninguém sabe exatamente como as coisas surgem ou momento que se modificam. Essa festa também é um lugar de paixões, de desfilar, de mostrar cada um à sua própria vaidade, mas sempre no sentido da festa, daquilo que é importante para todos nós, sem a pretensão de ter aquela seriedade dos outros tipos desfiles, como procissões ou Sete de Setembro”, reforça Fernando Canto.

Como amante da escrita e do samba, Fernando Canto não teve como escapar da vontade de compor sambas-enredo, emplacando dezenas de letras para diferentes agremiações do estado, como a Boêmios do Laguinho, a escola do coração dele, Piratas Estilizados e Piratas da Batucada.

Foi, curiosamente, a escola Piratas da Batucada, uma das principais rivais do Boêmios, a protagonista de uma divertida história de composição de sambas do poeta. Em 1986, Canto compôs um samba-enredo para ser disputado na agremiação, e conseguiu alcançar o segundo lugar no concurso. Porém, dias depois, um amigo matemático acabou percebendo que a conta das notas estava errada e que o compositor havia sido prejudicado. Após contestar o resultado, o samba dele foi cantado na Avenida FAB naquele ano.

Em 1987, os dirigentes da escola encomendaram um novo samba para o escritor, sobre o enredo “Biroba – o maquinista da alegria”. Ele concordou, mas, com o passar do tempo, acabou esquecendo do pedido. Chegando mais perto do desfile, um dos diretores do Piratão foi até a casa de Fernando pedindo o samba, que acabou tendo que solicitar um tempo a mais para produção da letra.

“Nunca havia escrito um samba-enredo em apenas trinta minutos, mas no final das contas ele foi para o desfile e foi o samba que embalou o primeiro título da história do Piratas da Batucada, em um ano em que foi contada a trajetória de uma figura histórica do bairro do Trem, o Biroba”, conta o escritor.

História no Boêmios do Laguinho

A Boêmios do Laguinho, com 70 anos de existência – mesma idade de Canto –, é a grande paixão do folião, que coleciona sambas e momentos inesquecíveis. A agremiação fica localizada na mesma rua onde o compositor cresceu e foi nela que ele foi eleito Mestre da Nação, título dado às figuras históricas da escola e que é carregado com orgulho.

Além disso, Canto também já foi presidente da escola e uma vez homenageado pela “Nação Negra”, em 2012, juntamente com o compositor Osmar Júnior, com o enredo “Laguinho África minha, cantos e revoadas de dois poetas geniais”. Uma das grandes emoções vividas por ele na avenida, que também ocorreu outras vezes, com a Unidos do Buritizal e Piratas Estilizados.

“Foi uma alegria muito forte, nossa obra foi colocada na avenida, foi cantada pelas pessoas, mas, sobretudo, fica a marca de quem fez alguma coisa para arte, e isso me revigora. Estava ali eu e a obra que eu escrevi, que eu fiz, que eu musiquei, isso nos traz uma felicidade imensa”, disse o escritor.

Carnaval e poesia

Desde o tempo das batalhas de confete às festas das marchinhas de Carnaval que viveu na cidade, lá pelos anos 1960, Fernando Canto aproximou cada vez mais a sua obra da expressão cultural, ora inspirando seus textos, ora seus textos inspirando o próprio Carnaval.

O escritor sempre manteve a irreverência e a fantasia dessa época tão rica, na terra do bloco A Banda e de diversos outros de rua, como pode ser visto no conto “Super-Heróis no Carnaval”, do livro “O Centauro e as Amazonas”, publicado por ele em 2021.

“(…) Eduardo Luís, o Mãos de Tesoura, que acabara de terminar seu relacionamento com a Supermoça, olhava, deprimido, aquela cena enquanto a Mulher Maravilha dançava com o Homem de Areia a marchinha ‘A Jardineira’, mais bêbada que um trem descarrilhado”.

Carnaval 2024

Em dezembro, o Governo do Amapá fez o repasse de R$ 4,5 milhões para o Carnaval 2024. Os eventos carnavalescos fortalecem a cultura, o turismo e a economia, gerando emprego e renda para profissionais como costureiras, estilistas e aderecistas.

O investimento, fruto de articulação do senador Davi Alcolumbre, foi entregue diretamente às 10 agremiações em uma parcela única, por meio da Liga Independente das Escolas de Samba do Amapá (Liesap).

Texto: Luan Rodrigues
Foto: Albenir Sousa/GEA
Secretaria de Estado da Comunicação

Poema de agora: Macapá, minha cidade – Pat Andrade #Macapa266Anos

MACAPÁ, MINHA CIDADE

Minha cidade comemora
mais um ano de existência.
Digo minha, porque dela
me apodero, todos os dias,
em dura jornada;
todas as noites,
em longas caminhadas.
Macapá me cobre
com seu céu inconstante,
me descobre em versos e rimas;
me abriga em seus bares,
em suas ruas, em seus becos,
em suas praças, em seu rio…
Macapá me expõe, me resgata,
me ampara, me liberta…
E aqui permaneço,
retribuindo com meu amor,
minha esperança
e minha alma de poeta.

Pat Andrade

Poema de agora: reminiscências – Pat Andrade

reminiscências

se chegarem flores na tua casa
não fui eu que as mandei
se o carteiro chamar teu nome
o remetente não sou eu
não encontrarás bilhetes
ou retratos do nosso amor

mas te peço que fiques atenta
aos crepúsculos da tarde
eles te oferecerão cores
que só quem ama pode ver

procura no céu as últimas estrelas
elas vão sussurrar nossos segredos
observa o brilho nas águas do rio
ele vai refletir os olhares
que trocamos em cumplicidade

quando estiveres sozinha
no jardim delicado da memória
a luz da lua vai atravessar as folhas
ela escreverá nossa história
no idioma singular dos amantes
e saberás do nosso amor bem mais
do que eu jamais poderia te dizer

Pat Andrade

Poesia de agora: Bocona Aberta (Três Poemas De Morte E um Assombro Inelutável; E outros três) – Fernando Canto

Pré – Munição

O poeta olhou pro céu e viu araras negras resmungando no pedaço
Sentiu um calafrio taquicardia
E um sonho cor de aço.
Somente no hospital lhe eterfonaram na TV:

“Osama nas hallturas pôs as asas pelos braços.”

==

A Morte

Quem faz o fogo no escuro
Se um brilho se acende cedo
Pra cedo domar a noite e o frio que mora escondido nas dunas do Oriente?

A morte ronda montanhas
A morte rompe defesas
A morte rasga mortalhas de homens que foram gente.

==


O ar

Windows of world
Abram-se em ângulos azuis
Quero ver estrelas
War da arrogância ensimesmada de ENTULHOS
God save América
Incensos e velas

Que os Orixás protejam os pequenitos de Allah!

==

Crime

Ó! Bocona aberta!
Grito pelo rio de ondas verticais
Sons de ferramentas – grilos (cry cry cry) abafam tua angústia no banheiro
Hitcock passa como um Alfredo jardineiro num macacão de jeans molhando a grama vermelha.

==

Phódrio Two

Tizingida cor em teu selo maisgentile
Corpo caseiro
Sem plateia ver – te – coito
Provisiona alimentos lactos
Laticínios morticídios para bulimia anorexial pós – mortefambre de todos los Dias/Noches

==


Equilíbrio

Abraço os olhos na hora de deitar na cama
– Minha muleta é meu olho.
Já meus pés não são tão confiáveis
Parecem pranchões acizentados de poeira
Onde grafo pelos dias/noches meus erros gramaticais.

Fernando Canto

 

* Poemas de 11 de setembro de 2001, sobre a antiga guerra do oriente médio, que resultaram na destruição das Torres Gêmeas do World Trade Center.

Poema de agora: EXÍLIO – Luiz Jorge Ferreira

EXÍLIO

Estou pronto para ir às estrelas.
Coloquei as meias sujas dos últimos passos.
Limpei com areia as lentes cinzas dos óculos.
E arrumei ideais sobre ideias, e lembranças inúteis.
Entre planos esquecidos emudeci alguns dos meus gritos.
E violentei minhas sombras projetadas na parede da sala.
Com sílabas tônicas retiradas de uma música afônica.
Saída de um rádio sobre a estante.

Estou pronto para ir às estrelas.
Rabisquei com os dedos sujos de dedos.
Rotas estranhas que vão se perder em suas axilas.
Desaparecer em suas costas largas, e embaraçarem-se entre seus cabelos.
E como anônimos Pontos Cardeais, retornarem a mim.
Eu agora, sombra pregada na parede, ando em círculos, tendo contra mim, o Tempo e o Vento.
Ambos velhos e cabisbaixos…surdos a música afônica que sai pela boca do rádio.
E escapa pela fresta da janela.

Estou pronto para ir às estrelas.
Satisfaço-me em lembrá-la como antes.
Lábios abertos, e estilhaços de risos, flutuando até mim.
Eu estou com as mãos ocupadas pelas palavras.
Livrando-as da chuva fina que enfileira pingos.

Escrevo algo como tantos outros algos que escrevi, talvez uma despedida para ninguém, ou um pequeno adeus.
E nunca os completo!

Fica difícil exilar-me nas estrelas.
Há a angustia da espera, que me enche de nódoas .
Umas nuvens vagabundas escondendo a saída.
E um barulho rouco de uma música.
Algo como um choro, que sai da boca do rádio.
No momento maravilhoso em que calo.
As mãos, e a fala.

Luiz Jorge Ferreira

* Poema do Livro Thybum – Editora Expressão & Arte – 2004 – São Paulo.

Poema de agora: Descalço pulando Amarelinha – Luiz Jorge Ferreira.

Descalço pulando Amarelinha

Estavam fugindo de mim pela janela da sala todos os meus fantasmas
Uns ainda envoltos em toalhas de banho, e outros vestidos de estranhas casacos…
Eu com um lápis crayon tentava desenhar a face de Deus em uma folha branca
Mas eles molhavam com uns respingos que lembravam o cheiro de Curimatã.
Alguns mascavam chicletes, outros iam ao toalete, outros me xingavam em Alemão
Dois ou três quiseram me dar a mão, mas acabaram deixando um Jornal do Pasquim.
Outro lambuzou o corrimão da escada que levava ao Ártico. de Glostora.
Um deles, que parecia canhoto, quis escrever no papel que eu mantinha sobre a tampa do piano, toda a história, do homem na terra…


Achei longa, e toquei Tico Tico no Fubá… mas ele pediu Strauss, somente uma Valsa em Mi Menor
Dormimos a tarde, cansados, eu distraído com a velocidade dos pensamentos, a presença de rugas, e o terceiro movimento da Heroica.
Eles de mangas arregaçadas, jogando sinuca, apostando fragmentos de paixões desenfreadas, um ganhou Romeu…


Outro trocou Julieta por uma garrafa de vinho Chileno… que abandonou na terça-feira de Carnaval…
Estava muito calor …
Comi gelo, e molhei os cabelos com uma xícara de Chá Preto…
Na bandeja Ostras Madrepérolas, uns retratos da Revolução Francesa.

Flores Congeladas, e Polens Envidraçados.
Saltimbancos da Caixa de Música, anêmicos prometiam amar os Girassóis, eu veloz prometi a mim…amar-me!
Um fantasma carregado de sotaque Irlandês…
Gritou…- Não te traías…
Messallina te enforcará com a linha do Equador.
Empapuçado de pó de toucador,
fingi definir o amor,
e me apaixonei por anáguas
Depois flutuei entre um compasso, e outro de um Tango bem cantado, rodopiei insano…
Sai pela janela…todo molhado.


A alma calma cintila aguardando o passaporte embrulhado em um papel perolizado de chocolate Nestlé.
Os gnomos saíam de dentro do meu estômago, mas saíam felizes, eu parecia ser o pai de todos os Ghosts, e os vendia por quilos,
coisa que ruborizava as estrelas nas entrelinhas das vielas vizinhas.


Não se afastem de mim a galope, não se aproximem a trote, estou tonto de Gim, culpa dessa Tilápia louca que me mastiga a boca a engolir minhas palavras.
Brincamos de trocar nomes, eu lhe apelidei de Vida, ela me chamou de Alma.
Perambulo a esmo com meus segredos costurados em Organdim preso a um vestido lilás…
Como poderemos dançar em paz.
Ela insiste em ser eterna.


Eu só peço que ela seja bela, e finja como uma atriz.
Eu sou apenas um fantasma, a desejar pular pela janela, e se dispersar nas trevas desesperadamente olhando para trás.

Luiz Jorge Ferreira.

 

*Do livro “Defronte a Boca da Noite…ficam os dias de Ontem” – Rumo Editorial São Paulo Brasil. 2020.

Poema de agora: DOZE OLHOS – Fernando Canto

DOZE OLHOS

Mano, estarás presente aqui no chão
E 12 olhos sustentarão
O teu olhar ardente
Do nascer do sol até o escárnio
Das orações que farão de ti
Um lobo de espécie em decadência.

Então cada sorriso teu só brilhará
Com a cura que virá
Para tua alma envenenada
Que teu coração primordial não esquece.

Mas veja bem:
Os 12 olhos te perseguirão
Nos caminhos iluminados por tochas de estrelas
Na caminhada inevitável em direção
Da luz maior que derreterá tua alma fria.

E quando olhares para trás
Os 12 olhos vão lacrimejar na despedida
Ofuscados pelas luzes radiantes
Da partida.

Fernando Canto

Poema de agora: Safra Permanente – Fernando Canto

SAFRA PERMANENTE

1.
Urge dizer a todos que te amo
e me alastrar, sôfrego, à tua procura diária
falar aos quatro cantos que o amor é necessário
na aventura floral desses caminhos
e que o rio transborda, seca e deixa restos
porque sou resíduo de ti,
que me semeias e me acendes
em busca de um novo tempo.

Tu és fêmea, e como tal carregas, de milênios,
a inconclusa compreensão concebida no teu útero,
estigma mundano – o homem, o preconceito.

2.
Não seria fortuita a insaciável renitência dos olhares
que nos tangem – céticos – a mover pálpebras
à palidez da luz da lua.
Seria por certo a espelhação daquelas almas
conflitantes e inseguras
Na absoluta podridão de suas mazelas.

3.
Perfurados ou não, nós nos cerzimos
rasgados ou não, nos costuramos,
temos tempo para usar borracha e corrigir
o desenho do futuro – arte coloquial que criticamos
desde a configuração abstrata
delineada no passado.

4.
Faz-se urgente empanar a couve-flor, enrolar charutos turcos e beber vinho do porto.
A água está no copo de alumínio pra tirar a espinha atravessada na garganta,
pois se o rio dá de comer o peixe não tem culpa dessa fome incontrolável.

5.
Decididamente tenho que gritar acompanhando o vento
ainda que me vire de repente
pois a alastração do meu amor por ti é inevitável
é profusa, é disseminadora.

6.
– Quem é esse? Hão de inquirir, procurando agruras:
– Ofiófago, furfurácio, bucéfalo, hendecágono, biltre,
escatológico, onívoro, herbicida, satrapanca, hetacombático,
súcio, teratológico, celeumático, metacromático, tabífico,
santiâmem, ovovivíparo, safilítrico, tribático, safídico,
troglodítico, tranchucho, safardana…?
Ou ainda: – Onírico? Um pássaro? Um avião?
– pelos poderes de Grey Skul, eu tenho o sonho!
A força desmedida e crua – extensão do meu amor.

7.
Por essa ambientação do cosmo que transformo
O sol em sol
O sol em sonho
O sonho em safra permanente de existência.

8.
Não haverá ritmo ou canção
o brilho desse amor estará preso ao laço
que se ampliará conforme o tempo.
A chuva pingará o essencial nas estranhas da terra
e a terra germinará o exato para que vingue a flor
e a flor perfumará o necessário para estimular os sentidos
todos eles, inclusive aquele que inventarem à noite
para que o sonho sobreviva de manhã.

Fernando Canto
Macapá, janeiro de 1986

Lei Paulo Gustavo: inscrições abertas em editais no valor de R$ 22,6 milhões no Amapá

Por Rafael Aleixo

Estão abertas até 22 de fevereiro as inscrições nos editais para seleção de projetos culturais no Amapá a partir de recursos da Lei Paulo Gustavo. Produtores e agentes culturais podem participar dos editais Latitude Zero e de premiação Maré Cheia.

Os editais lançados pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult) somam aproximadamente R$ 22,6 milhões e devem contemplar cerca de 1,2 mil iniciativas nos 16 municípios do estado.

Do total de recursos, R$ 14,6 milhões foram destinados ao segmento audiovisual, R$ 5,6 milhões para outros segmentos culturais e R$ 1,1 milhão para a operacionalização da lei.

O governo informou ainda que R$ 1,3 milhão foi destinado a uma adaptação do Centro de Difusão Cultural João de Azevedo Picanço para uma Sala de Cinema.

Edital Latitude Zero

O edital seleciona até 365 projetos do audiovisual, com valores que variam de R$ 1,5 mil até R$ 400 mil. O responsável pelo projeto deverá exercer a função de criação, direção, produção, coordenação ou gestão artística de destaque com capacidade de decisão dentro do projeto.

Veja o edital
Inscreva-se

Edital Maré Cheia

O edital de premiação Maré Cheia vai selecionar agentes culturais de diversas áreas que tenham prestado contribuição relevante para o desenvolvimento artístico e cultural no Amapá há pelo menos dois anos. Serão mais de R$ 5,6 milhões em premiações para 835 projetos, que podem variar de R$ 5 mil a R$ 10 mil.

Veja o edital
Inscreva-se

Lei Paulo Gustavo

A proposta foi batizada em homenagem ao ator e humorista que morreu em maio de 2021, vítima da Covid-19. Paulo Gustavo era um dos artistas mais populares do país e faleceu aos 42 anos.

Para o Amapá foram destinados cerca de R$ 30 milhões pelo governo federal, sendo cerca de R$ 22,6 milhões para o estado e R$ 7,5 para os municípios. No estado, a lei foi regulamentada através do Decreto nº 8.901 de 13 de novembro de 2023, onde se dispõem que os recursos previstos serão utilizados em ações emergenciais destinadas ao setor cultural.

Os cinco municípios com maior previsão de transferência de recursos no Amapá são Macapá (R$ 4,6 milhões), Santana (R$ 952 mil), Laranjal do Jari (R$ 419 mil), Oiapoque (R$ 233 mil) e Porto Grande (R$ 189 mil).

Fonte: G1 Amapá

Jornada Fé, Luta e Arte acontecerá no período de 19 a 21 de janeiro na biblioteca comunitária do Amapá Garden Shopping

Poeta Carla Nobre

O Projeto “Jornada Fé, Luta e Arte” reunirá no período de 19 a 21 de janeiro, artistas de vários segmentos da cultura e da literatura amapaense, na Bibliogarden – biblioteca comunitária localizada no Amapá Garden. Durante três dias, o espaço estará aberto ao público que poderá participar de oficinas e apreciar recitais, performances de dança e poesia, exibição de filmes, encontro com escritores e exposições fotográficas. A programação diversificada e gratuita acontecerá a partir das 16h.

O objetivo, além de promover encontros com talentos locais para compartilhar a diversidade de obras e expressões artísticas que são produzidas no estado, é comemorar o Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa, que acontece domingo, 21. O evento é realizado pelo grupo Abeborá das Palavras, com o apoio da Prefeitura de Macapá, Coletivo Juremas, Maré Literária, Arte da Pleta e Amapá Garden Shopping.

Poeta Bárbara Primavera

“Essa programação compartilhada num espaço democrático, que é a Bibliogarden visa dar visibilidade a diversidade de manifestações religiosas e artísticas. É preciso respeitar e conhecer os diversos credos que nos rodeiam. Essa é mais uma ação em que nossos artistas irão trocar experiências com o público e todos estão convidados”, frisou Carla Nobre, escritora, poeta e uma das coordenadoras da Bibliogarden.

Confira a programação:

Local: Bibliogarden – Garden Shopping – Rodovia Josmar Chaves Pinto

Fotógrafo Aog Rocha

Sexta-feira, 19

16h – Exposição fotográfica: Macapá em Prosa & Verso – Aog Rocha
Exposição fotográfica: Ecos do Amapá – Raih Amorim
Exposição fotográfica: Salmos e Paisagens – Bárbara Ribeiro
Exposição Poemas de Sustentabilidade – diversos escritores e artistas
Oficina de Caderno Artesanal – Carla Nobre, Bárbara Primavera, Ana Anspach e Raih Amorim

Poeta Pedro Stkls

Sábado, 20
18h – Exibição do filme Tempo de Chuva – Direção: Nani Freire
Exibição do filme Capitão Açai – Direção: Marcelo Nobre
19h – Recital “Quem me benze” – Bárbara Primavera
20h – Performance “Variações do Infinito” – Carla Nobre
20h30 – Leitura de Poemas Paquete “O Exílio dos Olhos” – Pedro Stkls e convidados
21h – Performance “Toda reza é santa” – Grupo Abeporá das Palavras

Fotógrafa Raih Amorim

Domingo, 21
19h – Poesia e Mandalas Poéticas – Pedro Henrique
20h – Performance Fragmentos – Talita Espósito
20h30 – Performance “Vozes Negras” – Andreia Lopes e convidados
21h – Espetáculo profano/sagrado – Tonny Silo

Assessoria de comunicação

Poesia de agora: Solidão – Jorge Herberth

Solidão

A rosa do deserto
Era amorosa flor
Charmosa
Um doce
Nunca solitária

Na areia quente
Ou frio noturno
Flor de amor sofisticado
Estilosa
Como peça
Da tecelagem de kyoto
Coração
Desenhado à unha
Fio a fio

Flor amor
Alinhado
Por suaves mãos
Como um papel de kyoto

Impressão oriental
De libido
Desenhada
Na fibra dos sentimentos

Minha rosa do deserto
Fusão de energia e dor
Tem um amor por companhia
É ilustre
De fabril delicadeza
Que nem o cravo percebeu

A rosa do deserto
Fincou espinhos
Delicados
Como seu perfume
No coração
Da seda
De Kyoto

Rosa açucena casou, morreu
No universo
De amálgama e mágoas
Das dores
Ausência
Solidão milenar
Do amor das flores

Jorge Herberth

Poema de agora: O MOVIMENTO – Ori Fonseca

O MOVIMENTO

Quando ponho os pés em Belém,
Penso que a vida não passa;
Logo ela, a vida, apressada e mutante.
As ruas de minha vida, em minha vida,
São as mesmas, com maquiagens que eu ignoro,
Com penteados que não quero ver,
Com alguma coisa de novo querendo despontar das coisas velhas
Que se recusam a morrer.
Eu percorro cada beco
Com o mesmo sobressalto dos dias passados,
Coração acelerado pelo medo
E pelo amor.
Ah, minhas amadas que ainda vagam por aquelas ruas,
Que sorriem quase inocentes,
Que me fazem sofrer,
Amalgamadas naquela piçarra atemporal,
Naqueles charcos que não evaporam,
Naquele mato cortante e eterno.
Ah, amadas minhas, que eu jamais toquei,
Que é feito de todas elas
Aprisionadas nessas vias fantasmas?
Por que não descansam em paz
Como tudo o que vive
E que um dia se vai?
Por que ainda se riem
Num eco interminável?
O eco, repetição insistente
Do que não pôde ser calado,
E que viaja em movimento próprio
Para as bordas da eternidade,
É vivo porque se move
E move-se por ser vivo.
A vida é movimento e pulsação,
Todas as coisas vivas se movem,
Mesmo as aparentemente estática
Estão a se mover neste universo de pressas.
Os cataclismos,
As explosões,
Todas as estações
São manifestações vivas do movimento divino.
A saudade é viva
Porque é o movimento incorpóreo
Da alma em busca do que não está.
O amor é vivo
Porque é o movimento
De todos os sentimentos de desejo
A ebulir na veia
E a palpitar no coração e nos olhos.
A morte é viva
Porque é o movimento cíclico da renovação,
Da transformação em outras vidas,
Da infindável procura pela eternidade.
A poesia é viva
Porque é o movimento inútil
De tomar as palavras por arranjo
Para dar visibilidade ao que a alma
Esconde do campo visível material.
Se me movimento por Belém,
Mesmo sem estar lá,
É porque busco vida.
Busco fôlego como um afogado
Precipitando-se para a superfície.
Vejo espectros de minha felicidade,
Vejo vultos de meu medo,
Vejo minhas amadas a cantarolar
Uma ciranda em um idioma
Que eu não conheço mais,
Numa dança que eu nunca aprendi.
E vejo rastros de uma esperança
Que se embrenhou nas matas de um tempo
Que eu só consigo alcançar em sonho,
Porque o sonho é vivo…
Porque se move.

Ori Fonseca

Poema de agora: Absurdo – Pat Andrade

Absurdo

no momento exato
em que voa o pássaro
a roupa cai do varal

no momento exato
em que a mão acena
a lágrima brilha e cai

não sei se seria
coincidência
ou um balé singular
sem roteiro prévio
shakesperianamente
absurdo

Pat Andrade

Poema de agora: Celofane – Luiz Jorge Ferreira

Celofane

Na ante sala onde deixei minhalma agora vivem os pombos
Os seus muitos arrolhos talvez sejam os soluços dela
Esses arrolhos não passam pela janela
Eu com minha curiosidade me esfrego ao chão e passo por debaixo da porta agora torta pelo entra e sai do tempo.
E vou olhar em volta e nada vejo…não sabia que almas não se enxergam e se ouvem tangos…e se escutam Baladas…a semelhança da Musica dos Pholhas …My Mistake…
Voltam ao passado pisando para trás atabalhoadamente.

Sei que almas sofrem de saudade…
Sofrem de Artrite…sofrem de solidão…e são tímidas…
Só surgem a noite e não tem fisionomia…ninguém as reconhece
Elas atravessam sob a chuva, sob a lua, sob meu olhar miope, e dançam com minha sombra, um Bolero Cubano, e eu choro uma lagrima, disfarçada de coceira nos olhos…

Estou em farrapos…o cão percebe que sofro e uiva de um jeito desastrado que força um vizinho assustado a abrir a janela…a lua foge para sua casa e deixa um rastro que os Pirilampos nele se embriagam e aumentam a esteira infindável de pisca-piscas coloridos.
Todos morremos uma vez, eu acho que já morri três…
Vejo que perdi as pálpebras e meu olhar está despido, por isso a alma envergonhada se escondeu na ante sala…
E em mim se instalou o pranto como um vivente esquecido, que vive eternamente triste, até com a
sua própria alegria…


Por último emudecem os pombos…tudo ao seu redor faz barulho, até o silêncio quando chega faz barulho…
Por isso as almas nos assustam, e se assustam até com assobios do vento nas venezianas…
Os pombos como nada compreendem, voam com suas almas sem asas, sem rumo, e se me convidam, digo que lhes sigo…
Como voam sem rumo, eu me apresso a segui-los…assim que a vida me devolva…
Asas e rumos!

Luiz Jorge Ferreira

*Do livro Defronte a Boca da Noite ficam os dias de Ontem.