Resenha do livro 1984, de George Orwell – (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

1984 foi a última obra de George Orwell e teve sua primeira edição publicada no ano de 1949. Ultimamente este livro está voltando a ser lido por tratar de questões atemporais, bem como pela polarização, pois tanto a direita quanto a esquerda, usam a obra para identificar fragmentos no oponente que indiquem traços denunciados pela obra. Acredito que para entender melhor a obra, temos que entender o mundo de George Orwell e a atmosfera de sua época. O autor vivia o período do entre guerras e a segunda guerra mundial, em um mundo que era recentemente monárquico e democracia um conceito novo. Se apresentava como um social democrata onde este conceito também se apresenta diferente do que conhecemos hoje. Em sua época mostrava um conceito de liberdade que é contrária a qualquer regime totalitário, observe o Nazismo e o Stalinismo e se veja imprensado por ambos, daí tire suas conclusões.

O livro apresenta uma estrutura de mundo soviético e nazista, que vai do bigode de Stalin ao modo de ilustrar um inimigo da forma que Hitler pintou os judeus.

A personagem central do livro é Winston, um homem que vive na Oceania neste mundo distópico que é dividido em três blocos: Oceania, Eurasia e Lestásia. Oceania, que antes fora Londres, é comandada pelo partido do “grande irmão ” que, através de suas teletelas observa e controla o comportamento e, até os pensamentos e sonhos da população. Wiston trabalha no Ministério da verdade, onde sua labuta consiste em mudar a história, reescrevendo notícias, informações que eram alteradas conforme à vontade do partido, pois o grande irmão nunca erra. Se mês passado a Oceania estava em guerra com a Eurasia e no mês seguinte a oponente se tornasse aliada, a guerra anterior era apagada e nunca teria existido. Este era o trabalho de Wiston, lidar com a mentira como verdade incontestável. Para que houvesse eficácia entra o “duplipensamento”, onde o sujeito tem que fazer um exercício mental de acreditar no partido independente de seu julgamento e conhecimento pessoal. Mas essa não seria uma tarefa fácil, mas para tanto, o partido cria, entre outros mecanismos, o dicionário da “novafala “, onde a linguagem é limitada, como por exemplo a palavra : bom. Neste dicionário não existiam graduações, ou era bom ou “desbom”. Mais ou menos, médio, razoável, estas palavras que geram variações tinham que ser extintas para que os pensamentos se mantivessem binários. Se você precisa de parâmetros para raciocinar, então acaba -se com os parâmetros.

Existiam ainda outros ministérios; Ministério do Amor, Ministério da Pujança, Ministério da paz. Todos os ministérios executava tarefas antagônicas ao proposto em seus nomes, pois a verdade neste mundo é maleável e se adéqua à realidade que o partido apresenta. As pessoas são educadas desde sempre dentro desta crença, havendo inclusive, crianças denunciando orgulhosamente seus pais ao partido.

Dentro deste mundo opressor, onde os únicos sentimentos aceitos são o ódio ao inimigo e o amor ao partido, Wiston se encontra sedento por sentimentos e sensações humanas e sua estória se desenrola dentro desta necessidade humana em existir por completo.

Já li Admirável mundo novo do Aldous Huxley, Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, Senhor das moscas de Willian Golding que, ao meu ver, apesar de perturbadoras, não são tão pesadas, densas e, sinceramente, desesperançosas como 1984. A conclusão que tive, é que a humanidade vai sempre subjugar os seus em nome do poder, este que para as mentes totalitárias, tem muito mais valor que o dinheiro, ouro ou vida. O totalitarismo está em qualquer lado do espectro e só a eterna vigilância nos garantirá a liberdade.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de Literatura e devoradora compulsiva de livros.

Quarta-feira (que já foi) de cinzas – Crônica de um estranho Carnaval de Ronaldo Rodrigues

Ilustração de Ronaldo Rony

Crônica de um estranho Carnaval de Ronaldo Rodrigues

Nesta quarta-feira (que já foi) de cinzas, abro a janela para o dia e não estou cansado de ter sambado na Banda. Este ano a Banda não passou e deixou meu coração folião ressacado de saudade. E olha que nem sou um folião fanático. Apenas, de vez em quando, deixo meu espírito se fantasiar e saio a bailar ao som de qualquer batucada ou mesmo embalado pela tradição de grandes sambas que o Brasil ostenta. Isto me tira um pouco do trauma que é não saber sambar sendo do País do Carnaval. Desculpa aí, gente! Já me basta a carga de ser do País do Futebol e não ter a mínima intimidade com a redonda. E antes que me perguntem você samba de que lado, de que lado você samba, você samba de que lado, de que lado você samba, de que lado, de que lado, de que lado você vai sambar, já adianto que o samba está em mim de todo lado, pois meus domingos infantis e juvenis tiveram a trilha sonora de Paulinho da Viola, João Nogueira, Clara Nunes, Alcione. Como ficar imune ao feitiço desse gingado e dessas letras que vão fundo no que é mais profundo?

Porque é Carnaval e não é Carnaval, o samba vem à tona. Em qualquer esquina eu paro, em qualquer botequim eu entro. O samba é revolucionário e rebelde, porque ouço samba no som de Sérgio Sampaio e Tom Zé (e se for além, em Raul também). Então o samba me leva, me eleva e, a quem pergunta onde estou, diz que fui por aí. E desde que o samba é samba é assim.

Mesmo sendo um cara um tanto do rock, minha alma batuca numa caixinha de fósforos, onde cabe toda uma bateria de escola de samba. Alcanço até os acordes de um tamborim que me arrebatam os sentidos. O pandeiro estica no couro a malemolência de quem me diz para não deixar o samba morrer, não deixar o samba acabar. O samba pulsando no asfalto, nos vozeirões dos Jamelões, intérpretes de samba-enredo das escolas de samba deste meu Brasil, que me faz tirar o chapéu para Cartola e abraçar a Vila de Martinho e Noel.

O Carnaval não deixou de rolar, pois é possível celebrar a vida em qualquer situação, ainda mais nesta onda de pandemia que decretou o nosso não encontro com o Rei Momo. A caixa de som do celular me acompanhou por todo o período que seria do Carnaval e ainda agora, nesta quarta-feira (que já foi) de cinzas, ela dispara os ritmos carnavalescos que não devem silenciar até o fim da semana, porque nessas horas sou meio de Salvador, meio de Olinda e levo o folguedo até as últimas consequências.

Vamos segurando a onda este ano para que tenhamos Carnavais com mais saúde e com mais futuro, com mais encontros etílicos ou somente na base da sagrada água, a bebida mais forte, que nutre e abençoa. Porque é hoje o dia da alegria (todos os dias) e a tristeza nem pode pensar em chegar.

Para compor esta crônica, me vali de várias citações: Samba de lado (Chico Science) / Diz que fui por aí (Hortêncio Rocha e Zé Keti) / Desde que o samba é samba (Caetano Veloso) / Não deixe o samba morrer (Edson Conceição e Aloísio Silva) / É hoje – Samba-enredo da escola de samba União da Ilha (RJ), 1982, (Didi e Mestrinho).

Uma breve análise geográfica da obra “O passeio de Dendiara”

Capa da obra “O passeio de Dendiara”

Por Gutemberg de Vilhena Silva

Há poucos dias tive o prazer em receber da amiga de longa data Ana Beltrame seu primeiro livro: “O passeio de Dendiara” (Tema Editorial, 2020) . Ana é diplomata de carreira, tendo servido em vários países no mundo. Um de seus postos mais recentes foi o de cônsul-geral em Caiena, na Guiana Francesa, de 2008 a 2013. Ao longo de seus anos de trabalho em plena floresta amazônica, foi possível a ela ter contato com grandes temas que permeiam os estudos amazônicos e, certamente, a atividade garimpeira foi um que deixou marcas nas suas mais profundas memórias

A procura por metais preciosos, em especial do ouro, é um dos temas socioeconômicos e geopolíticos mais antigos e duradouros na e sobre a região amazônica. Outros temas como a preocupação com a degradação ambiental, os problemas sanitários e as ilegalidades generalizadas que nos garimpos ocorrem, como a prostituição infantil e o tráfico de seres humanos por exemplo, são questões que perfilam na literatura especializada há apenas algumas décadas, fruto de empenhos individuais e coletivos na luta por um mundo seguro, com justiça social e ambientalmente adequado.

“O passeio de Dendiara”, obra de ficção baseada em fatos reais, narra problemas enfrentados por uma criança brasileira de 10 anos que migrou para a Guiana Francesa e lá viveu breve, mas intensamente, as agruras relacionadas a garimpos. Dendiara, nome fictício claro, tornou-se prostituta, contraiu diversas doenças, engravidou – mesmo muito jovem – e engrossou as estatísticas da prostituição infantil. A nosso ver, contudo, a obra tem uma envergadura maior: é um relato sobre a dura vida clandestina de brasileiros nos garimpos (imensa maioria ilegais) da Guiana Francesa. Não é meu papel aqui contar de ponta a ponta o percurso de Dendiara narrado por Ana. Eu quero me dedicar – como fiz no texto anterior que publiquei aqui no Blog DeRocha sobre o livro “Então, foi assim?” (https://www.blogderocha.com.br/geografia-e-musica-os-bastidores-da-criacao-musical-brasileira-amapaenses-por-gutemberg-de-vilhena-silva/), a alguns aspectos geográficos do livro. Identifiquei na obra de Ana Beltrame ao menos dois temas transversais de grande interesse geográfico: o ambiental e o da conectividade de fixos e de fluxos.

O tema ambiental

Desde os anos 1970 a preocupação com o uso racional do meio ambiente tomou conta de parte da agenda das nações, embora somente nos anos 1990 em diante este tema tenha se tornado sólido nas discussões e fóruns internacionais. A Amazônia certamente não é o pulmão do mundo, mas é certo também que ela cumpre um papel central na regulação do clima, fruto de sua rica biodiversidade – uma das maiores e mais importantes do mundo. Ana Beltrame mostra com perspicácia o “viver” na Amazônia. A autora, sem perder de vista o fio condutor da obra, aproveita partes de seu livro para descrever o meio ambiente da região, seu clima, as características de seu relevo, solo, as formas como os rios serpenteiam a floresta e a importância das comunidades indígenas como ‘guardiões’ da floresta. Ana Beltrame ainda descreve com bastante clareza os efeitos nocivos da ação antrópica nos garimpos e aqui destacamos dois: o desmatamento e o uso do mercúrio.

Ilustração: Ronaldo Rony

Os garimpeiros limpam a área que será explorada com o uso de motosserras, cortando o que veem pela frente, depois entra em cena a retroescavadeira para arrancar o que não foi possível retirar na etapa anterior. Em seguida usam-se bombas hidráulicas para injetar água e mercúrio, sob pressão, diretamente no solo. O mercúrio aglutina o ouro, gerando pepitas maiores. Com isso, destaca Ana Beltrame, ele se torna um insumo tão vital para o garimpeiro quanto o combustível que abastece as máquinas. Quando se separa o mercúrio do ouro, na última fase, aquecendo-o acima de trezentos e cinquenta e cinco graus Celsius, ponto em que evapora, o gás é lançado à atmosfera sem qualquer tratamento e, quando se esfria, na própria corrutela, nome dado à moradia dos garimpeiros, contamina todo ambiente inclusive pequenos moluscos no fundo dos rios e, a partir deles, toda a cadeia alimentar, até chegar nos seres humanos, sejam eles garimpeiros ou não.

O tema da conectividade de fixos e de fluxos.

A Conectividade entre fixos (lugares concretos) e fluxos (a informação) é um dos fundamentos elementares da geografia. Pessoas se deslocam e com elas a informação circula ou, em razão da tecnologia, também se propaga por meio das ondas sonoras dos rádios, objeto este fundamental para o funcionamento dos garimpos da Guiana Francesa. É por meio deles que os garimpeiros sabem o que está ocorrendo “no mundo”, com informações repassados pelos controladores dos equipamentos em Oiapoque, e é também como estes se atualizam sobre o que ocorre nos garimpos.

“O passeio de Dendiara” mostra uma hierarquia de relações territorialmente localizadas, mas espacialmente pulverizada no mundo, desde a extração até a venda do ouro nos mercados internacionais, passando por diversas pessoas ou empresas que compõem essa ‘trama’ de conectividades de fixos e de fluxos. Eis algumas partes das conexões: O Putanic, um barco-puteiro que faz pit stop de garimpo em garimpo, é parte dessa engrenagem. Os catraieiros que – quando atuam para levar equipamentos, pessoas e/ou mantimentos nos difíceis rios da Guiana Francesa, chamam-se pilotos, são outra parte daquele universo. Os operadores das rádios comunitárias dos garimpos e aqueles que recebem e transmitem as informações em Oiapoque, também são partes de destaque. Todos eles, que de alguma maneira interagem, são “figuras” importantes na conectividade estabelecida entre a extração e a venda do ouro, seja para o atravessador, seja para outra pessoa ou empresa que consiga “legalizar” aquele metal precioso. Após ser “legalizado”, entram em cena outras tantas ‘tramas’ e agentes que amplificam a conectividade de fixos e de fluxos daquela atividade.

A leitura do livro de Ana Beltrame obviamente não se limita a destacar apenas estes dois temas que tratei, pois percorre vários outros aspectos sensíveis da atividade garimpeira que foram se entremeando na obra por meio de inúmeras narrativas sobre o cotidiano da jovem Dendiara. A autora, em seu primeiro livro – digno de virar documentário ou um longa-metragem, já mostra toda sua sagacidade com a escrita e com a forma fácil, hábil e clara ao tratar de variados assuntos importantes no transcorrer de seu livro.

*Gutemberg é professor Doutor na Universidade Federal do Amapá onde atua na Graduação e na Pós Graduação, além de desenvolver pesquisas sobre a região das Guianas.

O trajeto da A Banda através do tempo e antigos pontos de referência (minha crônica saudosista)

Foto: Maksuel MArtins

Durante mais de 20 anos, sai na Banda pelas ruas de Macapá. Eu e meus amigos esperamos a terça-feira gorda o ano todo, pois a marcha louca e feliz sempre foi um dos dias mais felizes. Como disse minha amiga Rejane: “o coração batuca na esperança de ver a Banda voltar a passar”. Republico essa crônica por motivos de saudades: 

A Banda, maior bloco de sujos do Norte do Brasil, tem o mesmo trajeto nestes 56 anos de existência (caso a passeata alegre fosse às ruas hoje, mas sabemos que não irá por conta da pandemia), mas o que ficou pelo caminho do tempo nestas mesmas ruas de Macapá? Fiz uma espécie de resgate (um tanto desordenado) de vários locais que povoam a memória afetiva do macapaense. Deixa suas lembranças agirem e vamos lá:

O ponto de partida do bloco, o mais popular dos festejos de Momo no Amapá, é na esquina da lanchonete Gato Azul e a loja Clark. Os foliões seguirão pela frente da loja A Pernambucana, dobrarão na esquina do Banco Bamerindus (pois “o tempo passa, o tempo voa…); Farmácia São Benedito; Moderninha e da Banca do Dorimar. As pessoas se trombam ao redor dos trios e carros de som. Todos molhados de suor, ou chuva.

A folia desce a Rua Cândido Mendes e o trajeto passa em frente também da Irmãos Zagury – Concessionária da Ford; Farmácia Modelo; do Banap; lojas São Paulo Saldo; Esplanada; Cruzeiro; Hotel Mercúrio; Casa Estrela; Casa Marcelo; Setalar; Tecidos do povo; Tecidos do Sul; A Acreditar; Casa Estrela; Beirute na America, ponte do Canal; Banco Econômico e Farmácia Serrano. Pelo caminho, muitos se juntarão a multidão.

Os foliões passarão em frente a Fortaleza de São José de Macapá, dobrarão na esquina da Yamada, subindo pela lateral da Feira do Caranguejo, em frente a boate Freedom e subirão a ladeira até o supermercado Romana, na esquina, a curva do Santa Maria. Sempre com os ritmos levantam nosso astral.

A marcha alegre seguirá pela Feliciano Coelho, onde a maioria já estará possuído pela cerveja, passará pelo Urca Bar; Leão das Peças; Cine Veneza e Farmatrem. A Banda chegará à Esquina do Barrigudo, na Leopoldo Machado. Continuará a passar em frente a Acredilar, lanchonete Chaparral, Casa Nabil, Hotel Glória e Baby Doll. Na brincadeira terá folião de toda idade, a maioria na maior curtição, sempre driblando os poucos que querem confusão.

A Banda é sempre cheia de colombinas faceiras, pierrôs malucos, palhaços embriagados, piratas sorridentes, enfermeiras enxeridas, bailarinas cambaleantes, diabos bonzinhos, anjos não tão angelicais, etc. O importante é alegria de quem vive a emoção de estar lá ou somente ver a banda passar.

A Banda dobrará na Avenida Fab, no canto do CCA (o couro continuará comendo); passa pela Prefeitura de Macapá; Palácio do Governo; Esporte Club Macapá; Praça da Bandeira; lanchonete Táxi Lanches; Bar do Abreu e novamente a Cândido Mendes até a Praça do Barão, onde as bandas Placa Luminosa e Brind’s farão um som até mais tarde.

Nunca saberemos quantos fantasmas carnavalescos seguem conosco na Banda, mas se assim for, que sigam pela luz e brilho do encanto deste sublime momento (entre o ontem e o hoje).

*Hoje seria dia de cair na folia na marcha alegre ou ver a Banda passar. Mesmo a gente com saudades da passeata louca e feliz, o importante é prevenir, combater a Covid-19 e ter esperança para que, em 2022, nos encontramos na Banda. É isso!

Elton Tavares

UM DIA DE ELLEN PAULA – (relato verídico de Carnaval – Por Fernando Canto)

Ellen Paula

Claro que não é a mesma coisa. Mas já me senti a própria miss da Expofeira deste ano que viu seu direito de ganhar o concurso ser usurpado (propositadamente ou não). Tudo por causa de um suposto erro de contagem do júri.

No meu caso a situação aconteceu nos fins de 1985, quando fui convidado para participar de um festival de samba-enredo da Associação Recreativa Piratas da Batucada, na sede do Trem Desportivo Clube. O tema era “O sonho de um rei”, e o regulamento dava margem para mudar o título, desde que o samba se encaixasse no que os carnavalescos da escola queriam.

Como na época eu pertencia à ala de compositores dos Piratas Estilizados, que era do segundo grupo, resolvi participar. Então convidei o Neck para defender a música “O Rei da Brincadeira”, para a qual fiz os arranjos e acompanhei no cavaquinho. Aconteceu, porém, que o Jeconias Alves de Araújo também estava inscrito no festival, mas não havia encontrado quem interpretasse seu samba. Pediu-me para cuidar disso. Cuidei. Ensaiamos os dois sambas na sede dos escoteiros do Laguinho com uma turma de batuqueiros dos Piratinhas.

No dia anunciado para realizar a escolha do melhor samba – um, sábado – havia seis inscritos. O primeiro a ser cantado, por sorteio, foi o do Jeconias, denominado “Sonho de um Rei”, cantado pelo Neck e acompanhado por mim no cavaco. Os intérpretes do samba seguinte – “O sonho de um pirata”, de Leonardo Trindade – não apareceram.

O próximo foi o meu samba, que o Neck interpretou magnífica e profissionalmente, sendo bastante aplaudido. A quanta composição, intitulada “O sonho de um rei no carnaval”, de Alcy Araújo, também não concorreu. Mas as duas seguintes, “Sonho de um rei fantasiado de pirata”, de Venilton Leal, e “Sonho em forma de samba”, de Zoth e Antoney Lima eram muito boas e também foram bastante aplaudidas pela galera do Piratão.

Fernando Canto e o saudoso Jeconias Araújo

Após uma longa e nervosa espera – um sofrimento para quem participa de festivais – finalmente o presidente do júri anunciou o resultado, favorável ao Jeconias Araújo, que por sinal era compositor dos Piratas da Batucada desde a sua fundação. Jeconias recebeu o cheque no valor de dois mil cruzados novos, contente da vida, enquanto eu e o nosso intérprete nos perguntávamos onde foi que erramos. Mais tarde, tomando uma gelada no badalado bar Balaio, na Praça Nossa Senhora da Conceição, o Jeconias, que depois viria se tornar um grande amigo meu, me esnobou balançando o cheque na minha frente. E nem agradeceu o favor.

Como essas coisas aconteciam nos festivais não liguei muito. Na segunda-feira o Manoel Torres, que fora secretário do júri do festival e pertencia à diretoria da escola, chamou-me na reprografia da Secretaria de Planejamento do Governo do Território, repartição que trabalhávamos. Ele queria me mostrar que o festival tinha sido feito com lisura e honestidade. Para tanto me deu uma planilha com os resultados.

Na ocasião eu estava acompanhado do Rui Lima, que como eu também era técnico da SEPLAN. De posse da planilha o Rui somou rapidamente os resultados com olhos de economista e detectou que o mesmo estava alterado. Em vez de 59 pontos o samba de Jeconias aparecia com 69: 10 pontos a mais. O meu samba havia alcançado 65,5 pontos, portanto eu ganhara o festival.

Não devolvi a cópia da planilha. Guardo-a até hoje. Fui atrás dos meus direitos e os consegui: o samba foi gravado (pelo Neck) e cantado na Avenida Fab no Carnaval de 1966.

O ruim disso foi que o Jeconias não recebeu o dinheiro do prêmio e por isso nunca mais fez samba para a sua escola. Por outro lado, no ano seguinte fui convidado pelo Monteiro para fazer o samba que homenagearia o Biroba, espécie de ícone do bairro do Trem. Então o samba ajudou o Piratão a ser campeão pela primeira vez, na FAB. Coisas do carnaval.

Prova do erro: planilha da pontuação

Compreendi a intenção do Manoel Torres, que não foi ingênuo, mas honesto; a de Jeconias, um vencedor que não levou o prêmio; e agora a da jovem miss Ellen Paula, que como eu fez seu trabalho, mas que por causa de um erro (intencional ou não) se viu impedida de comemorar a vitória. Mesmo assim eu acredito que sempre há um tempo para corrigir injustiças.

*Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 13.12.2009

Cineasta seleciona atores para filme sobre a corrida do ouro no Amapá

Cineasta Rodrigo Aquiles – Foto: Diário do Amapá

Por Cleber Barbosa

Em busca de novos talentos para o cinema, o publicitário, designer, escritor e cineasta Rodrigo Santos, o conhecido “Aquiles”, confirmou na última sexta-feira (05), em entrevista ao programa Café com Notícia, na rádio Diário FM (90,9), estar em busca de dois novos atores para o curta-metragem de ficção “Tu Oro” que começa a ser rodado esse ano.

A produção vem sendo trabalhada desde janeiro de 2020, participando de editais de subvenção tanto estaduais como nacionais, tendo sido aprovado pela Associação Nacional do Audiovisual Negro, que agora presta toda a consultoria para a roteirização, criação do elenco e a pesquisa de campo, que envolve busca por documentos, textos e o assessoramento de um profissional de história – outro objeto de seleção pela produção.

O nome do curta-metragem é uma alusão à corrida pelo ouro que sempre esteve presente na trajetória do Amapá, isso há séculos. “Acaba sendo também uma excelente oportunidade para se mergulhar na história do nosso estado, pois a trama se passa num período histórico do século XIX, numa disputa entre dois homens, então a gente vai sair de um micro cosmo para um macro cosmo”, disse Aquiles.

De acordo com o produtor, a busca agora além das pesquisas para a contextualização do roteiro, é identificar dois atores – um negro e outro branco. “Mas o ator branco terá que falar um francês básico, pois o filme aborda também a questão do contestado entre Brasil e França pela disputa do garimpo no município de Calçoene”, aponta.

Aquiles acredita que a pandemia ainda irá prejudicar bastante o cronograma e o calendário inicial previsto, mas que até o mês de maio a trama começa a ser rodada. Para interessados em alguma etapa da seleção, a produção disponibiliza um contato de WhatsApp, o número (96) 98122-1285.

Fonte: Diário do Amapá

Macapá Cheia de Prosa e Verso (Por Fernando Canto) – republicado por conta dos 263 anos de Macapá

Rei da Espanha, Carlos V

Por Fernando Canto

“Adelantado de Nueva Andaluzia. Tu sabias, mano que esse foi o primeiro nome oficial às terras do nosso Amapá?

Em 1544 o Rei da Espanha, Carlos V, concedeu a Francisco Orellana este lugar, mas o grande navegador não chegou a assumi-lo por ter naufragado quando para cá se dirigia.

Desde Pinzon que os espanhóis e os portugueses disputavam acirradamente nossas terras em virtude do Tratado das Tordesilhas.

Depois vieram os holandeses, os ingleses e os franceses.

Depois portugueses, índios e negros, nossos avós, garantiram nossos destinos conquistando definitivamente a foz do rio Amazonas rechaçando com atos de heroísmo os flibusteiros e marinheiros europeus.

Francisco Xavier de Mendonça Furtado

E nós, como povo, temos nossa História. Brava História.

Por isso, compadre, que um dia, na antiga Província dos Tucujus, chegou o governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado para fundar neste local a então Vila de São José de Macapá.

Era o dia 4 de Fevereiro de 1758.

Daí em diante esta cidade cresceu e se fez bonita.

O avião era uma Catalina, anfíbio – Primeiro avião que apareceu em Macapá – Imagem: Google.

E em maio de 1944 Macapá foi transformada em capital do Território Federal do Amapá, criado um ano antes.

Foram chegando os pioneiros.

Cada qual com seu trabalho e sua coragem. Saga e valentia.

Só mesmo homens e mulheres dispostos a trabalhar poderiam modificar aquele quadro triste de doença, analfabetismo e miséria. Nossos pais e avós, todos juntos, reuniram suas forças para trabalhar por esta terra. O sentimento de amor e de progresso era superior ao esmorecimento e ao pessimismo.Tudo foi modificando-se.

Chegou o primeiro carro e o primeiro avião.

O Caixa de Cebola foi o nosso primeiro ônibus – Foto do acervo do jornalista Edgar Rodrigues

O primeiro campo de aviação foi construído e foi para o ar o primeiro programa na velha e querida Rádio Difusora de Macapá, uma das pioneiras do Brasil.

Instalou-se a primeira usina de luz, o primeiro hospital.

Égua! O Caixa de Cebola foi o nosso primeiro ônibus. Depois veio o Gavião Malvado… Tudo tinha nome ou apelido.

“Turma do Buraco” que arborizava Macapá… Em Macapá faziam sátira com a música “Cidade Maravilhosa” e cantavam assim: “Cidade Maravilhosa/ Cheia de catabil…” – Foto: acervo do jornalista Edgar Rodrigues

Havia a “Turma do Buraco” que arborizava Macapá…

Em Macapá faziam sátira com a música “Cidade Maravilhosa” e cantavam assim: “Cidade Maravilhosa/ Cheia de catabil…”

Pois sim, essas pessoas que a cantavam, assim o faziam porque não tinham a visão do futuro.

Macapá tinha o horizonte aberto para receber as mãos dos homens trabalhadores que chegavam de todas as paragens.

Avenida Cora de Carvalho, no bairro alto – Foto: acervo do jornalista Edgar Rodrigues

E juntos, com os que aqui já se encontravam – mineiros, cariocas, nordestinos, gaúchos – todos trabalhavam e pensavam em progresso. E como na lenda da cigarra e da formiga uns cantavam, mas a maioria trabalhava.

E esta cidade, mano, foi crescendo ao som do Marabaixo que a preta velha cantava na Quarta-Feira da Murta pelas ruas do Laguinho e da antiga Favela.

“Passei pelo lírio roxo
Cinco folhinha apanhei
Cinco sentido qu’eu tinha
Todos os cinco lá deixei”.

Todo um sentimento poético abraçava a cidade. E Macapá estava linda sob o sol.

Aliás, a luz sempre simbolizou a vida.

Foto: Camis Rocha

O sol beija o rio na maior parte do ano. E ao nascer todos os dias ele traz para nós a esperança de dias melhores e mais mansos.

Sabe, mano, enquanto soubermos discernir o bom do ruim faremos deste lugar a razão de nossa felicidade, pois ela permanecerá acesa nos nossos lares.

Devemos ainda aprender a amar nosso chão e nosso céu de sonhos. Temos tudo para ir adiante, assim como nosso primeiro nome, lembras?

Adelante, adiante, para a frente.

Foto: Manoel Raimundo Fonseca

É importante sermos otimistas e ter os pés neste solo. Batalhar e trabalhar para fazer desta terra um mundo de coisas boas.

Sim, um mundo moldado com as mãos e com a respeitável inteligência de nossos irmãos.
Tu já fizestes uma viagem, não foi? Sem querer tu pensaste em alguns detalhes e fostes e voltaste.
Assim como tu, nossos dirigentes também pensam, planejam e realizam obras que nossos filhos vão falar com orgulho e seus corações também falarão através de um grande sorriso em suas bocas.

Foto: Netto Lacerda

É preciso continuar planejando para atender aos anseios de nossos irmãos carentes.
É preciso combater os malefícios e pensar no bem-estar geral. É preciso, compadre, é preciso trabalhar.
E nós estamos trabalhando prá viver e se for preciso até morrer por este lugar.
Adiante, adelante, adelantado.
Bem ali, no mais tardar das esperanças tu construirás o teu tempo.
Nem que seja sobre a folha que cairá de uma árvore sob o impacto da chuva.

Olha, mano, deves ter a certeza que o rio corre para um único destino: o mar.
E nesta linda cidade paira a luz sobre nossas cabeças.
Então, iluminados, devemos homenageá-la.
Já viste o rio amazonas deitado no seu leito. Já viste a importância da Fortaleza de São José. Já viste também os namorados apreciando o rio parir uma lua gordinha lá no Quebra-Mar.

Foto: Floriano Lima

Então tu sabes, mano, como é linda e hospitaleira a nossa cidade, né? Pois é.
O Marco Zero do Equador passa aqui pertinho, separando o mundo em dois hemisférios. Já notaste que vem tanta gente aqui pra visitá-lo?
Tem uns turistas louros, morenos, pretos e amarelos que só tiram fotografias com as pernas abertas dizendo que estão no meio do mundo.
Sabes por quê? Ora, Macapá é importante…

Mas tu sabes o que significa a palavra Macapá? Não?
Macapá é uma variação de Macapaba, que quer dizer, na língua dos índios, estância das macabas, o lugar de abundância de bacaba.
Bacaba é uma fruta boa e gostosa, né?

Foto: Alexandre Brito

Apesar de gordurosa ela alimenta muito a gente e o seu vinho ainda tem aparência de café com leite.
É assim como o açaí, o nosso petróleo comestível que a gente compra um litro na amassadeira do Ramiro e dá de pau na hora do almoço. Temos tanta fruta que tu nem imaginas…

Temos cupuaçú, graviola, bacuri, jenipapo, uxi, pupunha, camapu, ingá, chega a dar água na boca.
Mas, compadre, Macapá é uma linda morena.
Vês que de manhã aquele solzão bate no Amazonas que chega até encandear a gente.
Macapá é uma cidade segura. Aqui o rio nunca transbordou.

E quando o sol vai embora, mano, nós ficamos com a certeza que ele voltará.
E assim como nós acreditamos nisso, nós acreditamos no futuro e no trabalho de nossos irmãos.
Na essência da poesia a Macapá o que vamos encontrar é a alma do povo. O povo que sonha, ama e constrói.

Foto: Elton Tavares

Neste poema, cada dia reescrevemos um verso apaixonado. Uma declaração de amor à nossa cidade, que mesmo se tornando uma capital diferente daqueles dias de Adelantado, não aceitou perder sua alma, nem endurecer seu coração.

Nota do Editor: Esta arrumação de história, prosa e poesia do escritor Fernando Canto serviu para ilustrar cartazes e folhetos distribuídos há algum tempo por iniciativa do então secretário de Planejamento, Antero Dias Lopes. A tiragem foi limitada de modo que não muita gente teve acesso a essa tirada do Fernando. publicando o trabalho, a A Província dá oportunidade a milhares de leitores enxergarem Macapá por um lado diferente, saboroso.

*Jornal do Amapá – N°148 Pág.12, 2° Caderno. A Província do Pará – Belém, Domingo, 17 e Segunda-Feira, 18 de abril de 1988.

Editor: Hélio Penafort.

VI Festival de Iemanjá abre programação em comemoração ao aniversário de 263 anos de Macapá

Iemanjá – Imagem ilustrativa surrupiada da amiga Telma Miranda

Nesta terça-feira (2), a Prefeitura Municipal de Macapá, por meio do Instituto Municipal de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial (Improir), realiza o VI Festival de Iemanjá. Este ano, em decorrência da pandemia da covid-19, a festa em saudação à Rainha do Mar acontecerá em local fechado e será transmitida a partir das 17h30 através de uma Live na página da Prefeitura de Macapá no Facebook.

Todas as atividades foram organizadas em parceria com Federação dos Cultos Afro-religiosos de Umbanda e Mina Nagô do Amapá (Fecarumina) e a programação conta com homenagens aos membros das comunidades tradicionais de terreiro vítimas da covid-19, rufar dos tambores com saudações de candomblé, umbanda e mina, entregas de oferendas e banho de cheiro.

Programação:

17h30 – Início da Live com homenagens aos membros de comunidades tradicionais de terreiro vítimas da Covid-19

18h – Pronunciamento das autoridades religiosas e gestores públicos municipais

18h30 – Rufar dos tambores com saudações de candomblé, umbanda e mina

19h20 – Ritual de entrega das oferendas e banho de cheiro

20h30 – Encerramento da Live

Serviço

Local: Escola Municipal Antonio Barbosa
Endereço: Avenida Novo Horizonte, 153, Santa Inês
Horário: a partir das 17h30

Aline Paiva – 98116-1016
Ascom PMM

A minha querida irmã que a vida me trouxe (de @KellyPantojaa para @BernadethFarias)

Inicio essa homenagem com a palavra GRATIDÃO, pois é isto que resume toda a nossa história de amizade. Contigo aprendi que a experiência de uma amizade verdadeira é uma das coisas mais importantes da vida. Sempre tive seu apoio, carinho, sua companhia e cumplicidade. Demorei a perceber o quão precioso isso era pra minha vida, mas depois que entendi eu realmente pude sentir o verdadeiro significado de amizade, o verdadeiro significado da tua amizade e desde então não teve um dia sequer que não fui grata por isso.

Tento demonstrar diariamente nas minhas atitudes e ações, e ainda acho que posso fazer muito mais. Meu desejo é que a cada dia eu possa melhorar como amiga e retribuir tudo o que você fez e faz por mim. Não por obrigação, mas sim porque você merece todo amor, carinho e amizades verdadeiras por ser exatamente como você é, uma amiga real com defeitos, manias e muitas qualidades que fazem toda a diferença.

Você é uma irmã que a vida me deu e de brinde veio o meu amorzinho, a minha querida vó Maria, que eu amo como se fosse uma mãe pra mim. Deus é realmente maravilhoso e nos surpreende de uma maneira que nem nós conseguimos entender.

Eu poderia também falar de você como profissional, mas o seu trabalho é tão grandioso que todos lhe conhecem e sabem da sua competência. Um exemplo de profissional a ser seguido. MANA! Contigo aprendi tanta coisa, vivi tanta coisa que só sentando uns três dias na mesa do bar do índio pra eu contar tudo…

Amo muito você, minha amiga, de verdade, e desejo que a nossa amizade se mantenha pela vida toda!

Aproveita cada minuto desse dia porque você merece muito!

Feliz teu dia!

Kelly Pantoja – Jornalista.

Há 415 anos, morria Guy Fawkes (para alguns, conspirador, para outros, herói)

Preso, torturado e condenado à morte, Guy Fawkes teve os testículos e o coração arrancados, e acabou decapitado e com o corpo não só esquartejado, como exposto em praça pública para apodrecer e servir de alimento aos corvos. Tudo porque ele era católico na Inglaterra (país de maioria anglicana) e decidiu participar de um complô para explodir o Parlamento, matar o rei, sequestrar sua filha e liderar uma insurreição popular. Ele morreu em 31 de janeiro de 1606. Há exatos 415 anos.

Guy Fawkes nasceu em 1570, em família anglicana e se converteu ao catolicismo aos 18. Em 1588, junta-se à armada espanhola contra os ingleses e adota o nome Guido Fawkes. Cinco anos depois, alista-se no exército do arquiduque da Áustria. Os católicos ingleses recuperam o direito ao voto em 1829 e o 5 de novembro vira o Guy Fawkes Day, feriado nacional.

Em 1977, Johnny Rotten, líder da banda Sex Pistols, chama-o de precursor do anarquismo punk.

Sua história inspirou a HQ V for Vendetta (V de Vingança), de Alan Moore. Em 2006, V de Vingança foi adaptado para o cinema. Dois anos depois, o movimento hacker Anonymous adotou a máscara para protestar contra a Igreja da Cientologia nos Estados Unidos.

O acessório se tornou um símbolo de 2011, quando foi visto em protestos por todo o mundo, como nos movimentos Occupy. Mesmo sendo um ícone anticorporações, a venda da máscara dá dinheiro a uma grande empresa. A Time Warner detém seus direitos autorais.

Vídeo sobre a história de Guy Fawkes:

Fonte: Superinteressante.

 

Há 52 anos, os Beatles se apresentaram pela última vez

Foto: Tumblr Bealtes

No dia 30 de janeiro de 1969, uma tarde de quinta-feira fria em Londres, no alto do edifício sede da Apple Records, os Beatles realizaram sua última apresentação para o “público”. Na realidade eles vinham de um trágico período de gravações e ensaios num estúdio londrino, onde gravavam o filme Let It Be. As sessões foram terríveis, pois além da figura de Yoko Ono (grudada em John Lennon 24 horas), a banda estava brigando muito entre si. Desde o Álbum Branco, os quatro já não se entendiam muito no estúdio.

Quando decidiram que Let it Be deveria ser gravado no novo, porém precário Apple Studios, os Beatles também pensaram que poderiam agir normalmente. As sessões no prédio da Apple ocorreram com mais calma, tanto que a ideia de tocar no telhado do prédio veio do próprio Lennon.

Antes, Paul McCartney tinha planejado realizar um concerto no final das gravações. Locais no mundo inteiro foram vistos para o show, porém a maioria deles não havia como, ou estavam com agendas apertadas. Então amargamente, os Beatles decidiram tocar no telhado do prédio. Até Harrison, avesso a shows, gostou da ideia.

Naquela tarde fria, os primeiros acordes de Get Back foram fundamentais para que os moradores dos prédios vizinhos viessem até a sacada para dar uma olhada naqueles cabeludos tocando rock.Os Beatles tocaram nove músicas e durante 40 minutos, até a Polícia bater na porta da Apple e um nervoso Mal Evans tentando explicar que “Os Beatles” estavam tocando no telhado da Apple.

Segundo o livro “The Beatles – Biografia” de Bob Spitz, a polícia nem sequer pediu para acabar com o show, apenas solicitaram que os Beatles abaixassem o volume dos instrumentos, eu disse abaixassem, porém, como eles eram, não houve acordo e o show teve que acabar antes que eles pudessem terminar o set previsto.

As canções tocadas foram:

1. Get Back (1)
2. Get Back (2)
3. Don’t Let Me Down (1)
4: I’ve Got A Feeling (1)
5: One After 909
6: Dig A Pony
7: I’ve Got A Feeling (2)
8: Don’t Let Me Down (2)
9: Get Back (3)

O show foi adicionado ao filme Let it Be e na realidade é o que vale a pena naquele filme. As sessões de Get Back (Let it Be) foram finalizadas, porém os Beatles não deram importância para as fitas, entregando nas mãos de Glyn Jones e depois nas mãos de Phil Spector, que destruiu tudo que eles fizeram, enfiando orquestrações e um solo de guitarra metálico para Let it Be, na qual George odiou.

Após a intervenção da polícia (que precisou ameaçar os funcionários da gravadora de prisão caso não permitissem o acesso ao prédio), os Beatles tocaram durante mais alguns minutos e encerraram o show com “Get Back”.

Foto: Tumblr Bealtes

Paul chegou a brincar com a situação, improvisando a frase “Você está brincando no telhado de novo e sabe que sua mãe não gosta, ela vai mandar te prender”. John Lennon agradeceu ao público presente (e onipresente), com a frase “Quero agradecer em nome do grupo e de nós todos e espero que tenhamos passado no teste”.

Foto: Tumblr Bealtes

Meu comentário: Não lembro onde achei o texto acima, mas o republico aqui há uns 10 anos. Apesar de amar Led Zeppelin e Pink Floyd e Rolling Stones, para mim, os Beatles foram e sempre serão os maiores. O último show, no terraço, foi reconstituído no filme “Across The Universe”, onde a banda que interpretou os caras de Liverpool executou a canção “All You Need Is Love”. Após 52 anos, todos nós ainda curtimos o som dos besouros e sempre precisaremos de amor.

Assista aqui mais sobre esse momento histórico do Rock:

Paranoias de quem sente o tempo passar – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Ilustração de Ronaldo Rony

Crônica de Ronaldo Rodrigues

De vez em quando, batem algumas paranoias, tipo o medo de perder o movimento do braço direito. Para quem é destro, ficar com esse braço fora de combate é um pesadelo. Dia desses, bateu esse medo, que era mais do que medo, era a absoluta certeza de que eu amanheceria sem conseguir desenhar ou escrever.

Alguém pode sugerir que eu passe a escrever com a mão esquerda. Isso não é tarefa difícil no teclado do computador, só é mais demorado. Acontece que eu só começo a escrever no computador depois de ter rabiscado no papel grande parte do texto.

Mas a preocupação de não poder usar a mão direita está relacionada mais à prática do desenho do que da escrita. Pois é. Quando bateu a certeza, no meio da madrugada, de que eu amanheceria com o braço direito inerte, passei a desenhar freneticamente. Na minha cabeça, eu tinha que produzir tudo o que me restava para desenhar e concluir a minha carreira de cartunista.

Ao acordar, conferi de imediato minha habilidade com a mão direita e respirei aliviado. Ainda teria mais algum tempo para produzir os meus cartuns. Minha carreira não estava encerrada. O que bom disso é que, forçado a criar e depois de passar o crivo, vi que muito desenho legal tinha surgido dessa paranoia.

Na madrugada seguinte, a cisma foi outra. Achei que poderia acordar cego. E toca a ler, escrever e desenhar tudo o que podia, aproveitando os últimos clarões de uma visão que já não é lá essas coisas.

No dia seguinte, para meu consolo e júbilo, meus olhos ainda estavam aqui, me servindo, precisando ainda da muleta dos óculos, mas intactos.

Que paranoias são essas que o passar do tempo vai colocando em nossa existência, como numa corrida com barreiras que precisamos saltar? Ops! Neste momento, bateu mais uma dessas: tenho a firme convicção de que vou perder completamente a memória, que já há algum tempo vem dando sinais de pane.

Licença aí que eu vou fazer tudo o que consigo lembrar. Se for só paranoia, a gente se fala depois, em outra crônica. Ok? Tchau!

(O que é que eu vou fazer mesmo?)

Monólogo Mundo Moderno – Texto genial e saudoso Chico Anysio

E vamos falar do mundo, mundo moderno marco malévolo mesclando mentiras modificando maneiras mascarando maracutaias majestoso manicômio meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres miscigenação morticínio, maior maldade mundial madrugada, matuto magro, macrocéfalo mastiga média morna monta matumbo malhado munindo machado, martelo mochila murcha margeia mata maior manhazinha move moinho moendo macaxeira mandioca meio-dia mata marreco manjar melhorzinho meia-noite mima mulherzinha mimosa maria morena momento maravilha motivação mútua mas monocórdia mesmice muitos migram mastilentos maltrapilhos morarão modestamente malocas metropolitanas mocambos miseráveis menos moral menos mantimentos mais menosprezo metade morre mundo maligno misturando mendigos maltratados menores metralhados militares mandões meretrizes marafonas mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente modestas moças maculadas mercenárias mulheres marcadas mundo medíocre milionários montam mansões magníficas melhor mármore mobília mirabolante máxima megalomania mordomo, mercedez, motorista, mãos magnatas manobrando milhões mas maioria morre minguando! moradia meiágua, menos, marquise mundo maluco máquina mortífera mundo moderno melhore melhore mais melhore muito melhore mesmo merecemos maldito mundo moderno mundinho merda!

Chico Anysio

Mazagão velho, a cidade que atravessou o oceano, completa 251 anos – Por Elton Tavares

Mazagão Velho – Foto: Gabriel Penha.

Mazagão Velho completa 251 anos de fundação neste sábado, 23 de janeiro. A minha família paterna veio do Mazagão, não do Velho, mas do “Novo” (que não tem nada de novo). Bom, vou falar um pouco da cidade e depois da relação do local com o meu povo.

Ruínas de uma igreja construída no século XVIII – Foto: Hélida Penafort

O município de Mazagão tem uma história peculiar, rica em detalhes sobre o Amapá. Mazagão foi fundada porque o comerciante Francisco de Mello pretendia continuar com o comércio clandestino de escravos, mas pressionado pelo governador Ataíde Teive, resolveu cooperar, fornecendo índios para os serviços de construção da Fortaleza de São José, na capital do Amapá, Macapá.

Mazagão Velho, no frame de vídeo (documentário em produção) cedido pelo amigo Aladim Júnior

Em retribuição, foi anistiado e agraciado com o título de capitão e diretor do povoado de Santana; mas, por conta de uma epidemia de febre, que acometeu os silvícolas, foi transferido para a foz do Rio Manacapuru, e, pelo mesmo motivo em 1769, para a foz do Rio Mutuacá.

Antigo cemitério de Mazagão Velho, no frame de vídeo (documentário em produção) cedido pelo amigo Aladim Júnior

Em 10 de março de 1769, D. José I, Rei de Portugal (POR), desativou a cidadela de Mazagão, na então colônia do Marrocos (MAR); eram 340 famílias sitiadas pelos mouros. Elas foram transferidas para Belém (PA). Para alojar estes colonos, o governador mandou construir um povoado às margens do Rio Mutuacá. Em 7 de julho de 1770, começaram a ser transferidas 136 famílias para a Nova Mazagão, hoje cidade de Mazagão Velho, como já se denominava o lugar, pois desde o dia 23 de janeiro de 1770, havia sido elevado à categoria de Vila.

Prefeitura de Mazagão – Foto: Elton Tavares

Na verdade, meu saudoso avô paterno, João Espíndola Tavares, nasceu na região do alto Maracá, no Sítio Bom Jesus – localidade de difícil acesso. Para se chegar ao local, as embarcações precisavam passar por muitas cachoeiras do município de Mazagão. E minha santa vó, Perolina Tavares, bisneta do senador do Grão Pará, Manoel Valente Flexa (que foi manda-chuva em Mazagão, no tempo em que lamparina dava choque), também nasceu naquelas bandas. Ah, meu vô foi prefeito do Mazagão (preso pelo golpe de 1964, a então “revolução”).

Acervo familiar.

Lá eles namoraram, casaram e constituíram família. Meu pai, Zé Penha e meus tios Maria e Pedro, nasceram no Mazagão. Os filhos mais novos do casal, Socorro e Paulo, nasceram em Macapá, onde minha família paterna é uma das pioneiras. Meu vô partiu em 1996 e meu pai depois dele, em 1998. Mas a família Tavares preserva a dignidade, o respeito e a amizade – fundamentais para a vida – aprendidos no Mazagão e trazidos para a capital amapaense.

Eu, com vó e vô. Gratidão! – Mazagão (AP) – 1978

Quando criança, fui ao Mazagão, mas não tenho essas lembranças na cachola. Retornei ao município em 2009, quando meu avô foi homenageado na Loja Maçônica da cidade, por ter sido um de seus fundadores. Depois em 2010, a trabalho, para cobrir a Inauguração da Ponte sobre o rio Vila Nova, na divisa da cidade com a vizinha Santana. E depois, em 2012, para a cobertura do aniversário de fundação da antiga vila (há exatos nove anos).

É, minha família paterna veio do Mazagão (na década de 50). De lá trouxe uma nobreza que admiro e muito me orgulho. Não sei explicar a sensação de ir lá, mas a senti todas as vezes. Parece um lugar em que já estive há muito, muito tempo. Quem sabe noutra passagem por aqui. Do que tenho certeza, é que tais raízes nos deram muita cultura, histórias legais e respeito às tradições. Meus parabéns, Mazagão!

Elton Tavares


*Este texto, atualizado para hoje, é parte da monografia que escrevi para o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Comunicação. E também é um entre os 60 do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado no último dia 18 de setembro. Ah, A obra tá linda e está à venda na Public Livraria ao preço de R$ 30,00 ou comigo, Elton Tavares (96-99147-4038).

Ainda sobre Mazagão Velho, assistam os o trailer do documentário “Mazagão – PORTA DO MAR” e a reportagem do programa “Repórter da Amazônia | Mazagão”: