Porque escrevo (Fernando Canto) – Por Fernando Canto

O grande Fernando Canto – Foto: João Canto

Escrevo porque o ato de escrever é aprendizado “imparável”, constante, é forma de enclausuramento voluntário, evocação de mistérios que instigam a (re)criação da (i)realidade. É como navegar, no dizer de Pessoa. Mas necessariamente, contatar o estranho, rir do absurdo e ultrapassar barreiras que o real não permite. O escritor tem passaporte para qualquer lugar porque escrever é processo conduzido pelo voo imaginativo. É flecha, é corredeira, é bólido que tem destinação. É paradoxo porque cada frase sua pode ser recriada ou refeita pelo leitor.

Escrevo porque posso fotografar na minha mente formas, ambientes e personagens; diluir e transformar sonhos e expressar várias visões de mundo através deles.

Escrever é ato libertário. Deve-se escrever para ser lido, óbvio, mas, sobretudo para ser debatido, criticado, odiado, amado; para provocar reações e sentimentos diversificados. Escrever é como produzir fluidos no corpo e fazê-los sair pelos poros da alma.

Fernando Canto – Escritor (o maior escritor vivo do Amapá), jornalista, compositor, sociólogo, meu amigo e um cara paid’égua. Republicado por hoje ser o Dia Nacional do Escritor. 

Use com moderação – Crônica de Luli Rojanski

Crônica de Luli Rojanski

Abra a porta da minha vida com firmeza, mas não abra mão de entrar de vez em quando pela janela. A primeira coisa que vai me encantar é sua atitude. A segunda, suas garras de tigre. Eu gosto do olhar distraído, mas cuide de onde e quando vai acionar o off, pois embora eu adore seu braço tatuado e o desenho pós-moderno de sua boca, meu tesão maior é por seu cérebro. Nunca pense que sei menos porque falo pouco ou que sei muito porque mostro profunda concentração. Costumo olhar mais para os barcos que passam do que para a teoria do caos. Em compensação, sei dizer duas palavras em polonês: Mój Kochany – Meu amor.

Lembre-se sempre da data do meu aniversário, mas jamais mencione quantos anos eu tinha quando você nasceu. Acredite na minha infância, você vai notar que ela ainda existe! Não ria quando eu falar da encarnação em que fui rainha porque, se você prestar bem atenção, vai ver que trago resquícios de uma altivez real. Portanto, me reverencie, às vezes, porém sem se curvar diante dos meus caprichos, porque eu costumo enjoar da submissão. Mais do que flores, me dê garantia de duradoura libertinagem, de doses diárias de afagos na nuca. Em minha presença, você só deve olhar para mim, ainda que estejamos na presença de uma superstar. Quer olhar para outra mulher? Olhe para Martha Medeiros, pois com ela eu não exitaria em dividi-lo. Mas se ainda assim quiser olhar para outra, que seja só para constatar que eu sou muito melhor!

Não precisa gostar de futebol apenas porque eu gosto, mas jamais torça contra meu time. Tenha noção de tempo, e nunca pergunte as horas quando estiver na cama comigo. Tenho muitas manias, mas não a do amor apressado nem a do sono antes da meia-noite. Depois, o que pode haver além de nosso mundo quando estivermos sobre um lençol com a estampa de uma partitura em allegro*?

Não me deixe brigando sozinha. Eu posso pensar que você não é de nada. Discuta à altura, mas não esqueça de que no final das contas eu tenho razão. É o único modo de eu reconhecer que a razão é sua. Goste de carne vermelha malpassada, de lasanha de espinafre e de pudim de maracujá, ou nunca poderemos jantar juntos. De minha parte, prometo gostar imensamente de rúcula, de tomate seco e de pão integral. Perceba e elogie a mudança de cor dos meus olhos, conforme a luz do dia ou de acordo com meu humor, mas jamais diga que estou com olheiras. Desnecessário. Tenho em casa vários espelhos.

Seja sempre terno, doce e inusitadamente louco. Adoro quebrar a mansidão com uma pegada bem firme, sair da rotina com um convite à pirataria, a um bar imaginário, ao heavy-punk-trash-rock. Cante pra mim ao telefone, me conte de quantas seitas foi adepto, confesse que tomou Daime, que fez picolé de cogumelo e que adorou cannabis no narguilé. Mate-me de rir de sua cueca nova, me sirva pão com ovo e café com leite pela manhã, pois eu sou de carne e osso, embora adore fazer você pensar que nasci no Olimpo. E nunca se canse de repetir que me ama “bem muito”. Acredite: vai sempre funcionar!

*Andamento musical leve e ligeiro.

**Crônica do livro Pérolas ao Sol – 2017.

Feliz aniversário, Obdias Araújo!

Hoje é aniversário do guarda territorial do Amapá, poeta, escritor, pai amoroso, flautista, pirata da batucada, doido de pedra, guardião da Fortaleza de São José de Macapá e querido amigo deste jornalista, Obdias Araújo.

Entre as coisas das quais me gabo, está o fato de ser amigo de músicos, escritores, poetas e artistas em geral. Vários malucos geniais como Obdias Araújo.

O Fernando Canto diz que “OB” (ele odeia essa apelido dado pelo Fernando) é um “velho militante da literatura amapaense, irmão de outros bons poetas, primo de loucos-varridos-da-porta-da-igreja e parente de punha-mesas”.

Obdias é um cara talentoso, que tive a sorte de conhecer numa noite quente de Projeto Botequim, há alguns anos. Fui apresentado a ele pelo também gênio Ronaldo Rodrigues. Ambos são uma mistura de Quincas Berro D’Água e Charles Bukowski tucuju.

Além das poesias, gostos dos diálogos com OB e do escracho brilhante do cara. Obdias Araújo é dono de uma sagacidade, bom humor e sacanagem ímpar. Além de ser um representante um grande da cultura literária amapaense.

Por tudo isso, desejo vida longa ao poeta maluco. Obdias, que Deus siga a lhe dar saúde e sucesso. Meus parabéns e feliz aniversário!

Elton Tavares

Hoje é o “Mandela Day” – Viva Nelson Mandela! (Se vivo, o herói da liberdade faria 102 anos neste sábado)

18 de julho é o Dia Internacional de Nelson Mandela, conhecido como “Mandela Day” e adotado pelas Nações Unidas em 2009. A data foi escolhida por ser a mesma do nascimento do herói da liberdade, falecido em 2013. Ele faria 102 anos hoje.

Ex-presidente da África do Sul, dono de um Prêmio Nobel da Paz e um dos homens mais respeitados do planeta, Nelson Mandela morreu aos 95 anos em Pretória, na África do Sul. Ele foi vítima de um câncer ao qual lutava contra desde 2001.

Ele foi o maior símbolo de combate ao regime de segregação racial conhecido como Apartheid, que foi oficializado em 1948 na África do Sul e negava aos negros (maioria da população), mestiços e asiáticos (uma expressiva colônia de imigrantes) direitos políticos, sociais e econômicos. A luta contra a discriminação no país o levou há ficar 27 anos preso, acusado de traição, sabotagem e conspiração contra o governo, em 1963.

Condenado à prisão perpétua, Mandela foi libertado em 11 de fevereiro de 1990, aos 72 anos. Durante sua saída, o líder foi ovacionado por uma multidão que o aguardava do lado de fora do presídio.

Mandela defendeu o ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com oportunidades iguais.

Frases:

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”

“Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos.”

“Aprendi que a coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas o que conquista esse medo.”

Viva Nelson Mandela!

Elton Tavares

Para saber mais sobre a história deste fantástico homem do bem, assistam o documentário “O Milagre Mandela”:

ADORADORES DO LIVRO IMPRESSO (*) – Crônica de Fernando Canto

 

Crônica de Fernando Canto

Desde o surgimento dos computadores pessoais que ouço falar no fim do livro impresso. E já se vão anos.

Cientistas falam de um mundo novo, de substituição de tecnologias, e apontam como exemplo a revolução sem igual na história que foi a invenção do livro impresso, por Gutenberg, pois antes disso só havia livros copiados, manuscritos que valiam fortunas. A revista Superinteressante do mês passado traz um artigo muito atual sobre o assunto, enfatizando esses aspectos inclusive com a informação de que a revolução citada acima já acabou há dez anos, “quando a internet começou a crescer para valer”, e que ela passaria uma borracha na história do papel impresso e começaria outra. Cita que “os 7 milhões de volumes que a Universidade de Cambridge mantém hoje nos 150 quilômetros de prateleiras de suas várias bibliotecas caberiam em quatro discos rígidos de 500 gigabytes. Só quatro. Sem falar que ninguém precisaria ir até Cambridge para ler os livros”.

Mas apesar disso tudo a internet não mudou muito a história dos livros. Permanece um mistério inexplicável. O livro não foi morto nem enterrado. A Super diz que o segundo negócio online que mais deu certo (depois do Google) é uma livraria, a Amazon. E informa também que o mercado de livros eletrônicos deslanchou nos E.U.A com vendas em torno de 350 milhões de dólares em 2009, sendo que em 2008 elas atingiram um patamar inferior a 150 milhões.

Concordo que ler um livro no computador é um negócio ruim, até mesmo insuportável, porque ler por horas numa tela é o mesmo que ficar olhando uma lâmpada acesa. Não há quem aguente. Porém já apareceu (há três anos) o primeiro livro realmente viável: o Kindle, da Amazon, que cabe 1.500 obras e só pesa 400 gramas. Tem tela monocromática e pequena. Ele não emite luz e a tela é feita de tinta, preta para as letras e branca para o fundo. No início deste ano apareceu o iPad, da Apple, que segundo a revista citada, “tudo o que o Kindle tem de péssimo este tem de ótimo: tela enorme, colorida, páginas que você vira com os dedos, sem botão como se estivesse com um livro normal, mas a tela é de LCD. Não dá para ler um romance inteiro nele”.

Agora dezenas de empresas estão trabalhando para unir o que os dois têm de melhor, até chegarem ao livro eletrônico perfeito. A Phillips, por exemplo desenvolve o protótipo Liquavista, com tela de tinta colorida e a Pixel Qi um com LCD sensível ao toque, mas que não emite luz, de acordo com a informação da Super.

Mas enquanto o “livro perfeito” não vem vou fazendo como os adoradores de livros impressos o fazem sem pestanejar: curtir meu afeto por eles. Quantas pessoas, apaixonadas ou não, já não guardaram dentro deles flores, folhas, cartas, bilhetes, e até mechas de cabelos que lhes trazem boas lembranças, de amores e de desilusões? Folheá-los pode significar o encontro com algumas cédulas de real guardadas por acaso para uma ocasião e esquecida sem querer. Arrumá-los na estante é um trabalho que nunca dá preguiça. Lê-los, sobretudo, é apreender e conhecer o legado da Humanidade. No livro eletrônico essas historinhas bobas de quem ama os livros não seriam possíveis.

Recentemente, ao receber meu livro “Adoradores do Sol” da editora que o confeccionou, confesso do prazer de senti-lo ao tocar sua capa e abrir suas páginas, de ver impresso um trabalho de anos, da satisfação de tê-lo nas mãos e de saber que iria compartilhar com meus queridos leitores as informações e opiniões que deixei escritas em um objeto vivo, que todos podem, como eu, acariciar e carregar nas mãos. Que venha o livro eletrônico. Tudo muda, mas o livro impresso ainda é o bicho.

(*) Texto escrito em abril de 2010 (portanto, desatualizado tecnicamente) e publicado no jornal A Gazeta. Mas, vale ressaltar que os shoppings estão, ainda, cheios de livrarias.

A fé das crianças – Por Daíse Lima – @DaseLima2

Por Daíse Lima

A menininha de grandes olhos verdes, sentada no colo da mãe, ao meu lado no ônibus sorriu para mim e disse:

– Oi. Qual é o seu nome?
– Meu nome é Daíse.
– Nossa! Eu nunca ouvi esse nome.
– Nem eu. – respondi e ela sorriu. – E o seu nome qual é?
– É Maria.
– Nossa! Eu nunca ouvi esse nome. – brinquei.
– Mas tem um monte de Maria. Minha professora chama Maria, minha tia chama Maria, a tia da cantina também chama Maria. Tem um monte.
– É verdade. Tem mesmo. Eu tinha esquecido. Eu sou muito esquecida!
– A minha mãe também é. – e a mãe dela sorriu para nós. – Qual é o seu nome mesmo? – a menininha perguntou.
– Já esqueceu? Acho que você também é esquecida.
– É que seu nome é difícil. – e ela deu dois tapinhas de leve na testa, como se dessa forma a ajudasse a se lembrar.
– Meu nome é Daíse.
– É mesmo. Você tem vô, Daíse?
– Não tenho. – respondi torcendo para que ela não perguntasse porquê eu não os tinha. Eu não queria falar da morte. Essa é conversa para a mãe. E ela não perguntou.


– Eu tenho um vô.
– Que legal! E qual é o nome dele? Ou você já esqueceu o nome dele?
– Não! – ela sorriu. – O nome dele é Raimundo.
– Que nome bonito que ele tem.
– É
– Ele mora aonde?
– É um pouquinho longe. Tem que ir de ônibus. Eu tô indo lá na casa dele. A gente vai todos os dias, né, mãe? – a mãe concordou com a cabeça. – A minha mãe vai fazer comida para ele e dar banho nele.
– Entendi. Ele já está bem velhinho.
– Mas ele é adulto. Só que ele é criança. Ele não fala e não anda. Ele fica o dia todo deitado assistindo televisão, mas quando eu chego lá a gente assiste desenho. Ele dá risada com os desenhos. Quando ele aprender a falar e a andar eu vou passear com ele lá na praça. Você sabia que eu ensinei ele a falar o meu nome?
– É mesmo?
– É. Quando eu chego ele fala Má, não é, mãe? Logo ele vai aprender a falar.

A mãe sorriu triste para mim. E eu pensei: a fé das crianças.

*Daíse Lima é uma escritora baiana que vive em Sampa desde pequena apresentada a mim pela cantora, compositora, poeta e atriz (amiga minha), Sabrina Zahara.

IMPORTAR – Por Vladimir Belmino

A palavra importar é da classe gramatical verbo do tipo regular, etimologicamente vem do Latim (importare: ‘trazer para dentro, importar’). Como verbo, pode ter vários significados, variáveis de acordo com sua flexão e com seu emprego, seja como verbo intransitivo, seja como verbo pronominal, seja como verbo transitivo direto e, finalmente, como verbo transitivo indireto.

Para efeito deste rápido trabalho, nos interessa o verbo pronominal, o que traduz ‘dar importância a’; ‘fazer caso de’, podendo ser utilizado como nas frases: “não se importa com nada” e “ele se importa com ela”.

Ainda como verbo, como todo e qualquer verbo, ele é ação em sua essência. Ou seja, o palavra-verbo importar implica um movimento; sendo da classe verbo às palavras que fazem a vida existir, a exemplo do famoso texto bíblico de João 1:1-4 “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito, foi feito sem ele. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens”.

E esse pensamento é muito poderoso, uma chave de conhecimento, independente de sua contextualização religiosa. Em verdade, a mensagem que vem do texto bíblico transpassa a religiosidade ao se perceber que não é dado a ninguém, nem mesmo ao Deus, realizar sem ação, sem verbo.

Então, na frase “ele se importa com ela”, o que nos conta o verbo ‘importar’ na utilização pronominal? A qual movimento nos agita? A qual ação nos inspira? Ele nos diz que temos que nos importar com o outro, mas como se dá essa ação de se importar com o outro? É a compaixão, seria compreender o que o próximo está passando ou o colocar-se no lugar do outro? Refletindo sobre outro trabalho apresentado na sessão da Loja Zohar, de autoria de nosso irmão José Lobo Neto, cheguei a outra conclusão.

Se importar com o outro é o movimento de trazer o outro para dentro de si; como se fosse um ato de importar produto do estrangeiro para dentro de nosso pais. É mais que sentir compaixão, muito mais do que se colocar no lugar do outro, sentir na pele o que ele passa. Isso é só o começo do ‘se importar com o outro’.

No momento em que se realiza a dificuldade alheia, percebendo-a, foi dado o primeiro passo no complexo ato de ‘se importar’ com o outro, na sequencia vem a ação propriamente dita de tirar o outro de onde se encontra – ajudar a sair da dificuldade ou do sofrimento – trazendo-o para seu mundo onde esta vicissitude não existe, ou onde pode ser mais branda pelo compartilhamento da solidariedade.

Solidariedade é um ato de bondade com o próximo ou um sentimento, uma união de simpatias, interesses ou propósitos entre os membros de um grupo. Ao pé da letra, significa cooperação mútua entre duas ou mais pessoas, interdependência entre seres e coisas ou identidade de sentimentos, de ideias, de doutrinas. Alguém quer falar de sua etimologia? Pois ela não é verbo, mas rende bons pensamentos também.

Por fim, para que repouse em nossa mente algo de útil sobre o verbo e sobre agir, que demonstre a beleza de seu movimento e a pequenez de nossa mente, socorro-me e espalho o pensamento inquietantemente belo de Manoel de Barros, no poema VII de “Uma didática da invenção” (in Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011), deixando a quem deseje, criar a poesia IMPORTAR:

No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele
delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer
nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio.

Confrade Vladimir Belmino de Almeida, cadeira nº 31 Moacyr Arbex Dinamarco, em 12.02.2017.

Amapá Solidário, MPT e ONU/UNOPS entregam mais de duas mil cestas básicas para a população

Neste sábado (27), o movimento Amapá Solidário, em conjunto com mais 45 entidades, promovem a entrega de 2175 cestas básicas, 2000 máscaras de tecido e 1000 unidades de frascos de álcool em gel para as comunidades, com esta ação, o projeto atinge cerca de 3 mil famílias.

Os donativos são entregues para ONG’s que integram a rede de solidariedade que atua no enfrentamento ao coronavírus. A distribuição será para famílias em todo o Amapá, entre elas, 800 cestas irão para reservas indígenas.

As cestas básicas foram adquiridas pelo UNOPS, organismo das Nações Unidas, especializado em infraestrutura, compras e gestão de projetos e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) no Amapá, decorrentes de Ações Civis Públicas e de Termos de Ajuste de Conduta.

Os demais donativos são frutos de doação da empresa multinacional L’Oréal Brasil, que destinou 20 mil frascos de Álcool em Gel, dos quais 7 mil foram destinados ao Amapá Solidário. As máscaras foram direcionadas pela iniciativa Doe Máscaras Brasil, que destinou o quantitativo de 5 mil em tecido e 2 mil do tipo”face shield”, um total de 7 mil equipamentos de proteção individual para os amapaenses.

Como ajudar?!

As arrecadações continuam, por meio do senador Randolfe Rodrigues, o movimento 342 Artes, incentivado por artistas de renome nacional, como Caetano Veloso, estão com um vakinha virtual, que já arrecadou mais de R$90 mil. Você pode doar pelo link: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/acao342-solidariedade-ao-amapa

Sobre a distribuição:

A logística de distribuição será coordenada pela plataforma local de entidades do Amapá Solidário.
Local: Av. Ernestino Borges, 1224 – Jesus de Nazaré.(Comunidade Evangélica Reviver)
Data:Sábado, 27 de junho.
Horário: 8h às 12h
Informações: (96)8801-5742 / [email protected]

P R I M H U S. – Conto Ficcional de Luiz Jorge Ferreira

Conto Ficcional de Luiz Jorge Ferreira

Ele mergulhou o pé caloso pelas inúmeras e frequentes caminhadas naquele terreno seco e pedregoso, e teve receio que as tiras ressecadas e praticamente a beira de se partirem, o fizessem…mas qual aguentaram firme e até relaxaram um pouco dando um leve descanso aos seus pés também repleto de cicatrizes …estava aflito…hoje o Primo viria ser batizado por ele…O Nazareno, como diziam…o que caminhava sobre as águas…o que apacentava as tempestades…dito isso para si mesmo, olhou o remanso que o movimento de balanço das suas pernas e pés dentro do riacho provocava…


O Rio Jordão estava quase transformado em um filete d’água se arrastando, uma seca se estendendo a muito tempo, queria beber de toda a sua água, já secará as Tamareiras e outros arbustos frutíferos por ali espalhados, sobrará aquele franzino ao seu lado que frutificava uns frutinhos escassos com textura de esponja e gosto de vinagre, que deixava um grude na boca, mas mesmo assim com eles ele enganava a fome, e quando um figurão da realeza mais por curiosidade que propriamente conversão vinha ter aqui trazendo consigo um servo mais afeiçoado pela família que desejava ser batizado, doavam-lhe um naco de pão preto, ou uma frasqueta de azeite de oliveira, o coração se alegrava…mas hoje seu Primo vinha, seu coração aguarda aos saltos.

Vinha porque os estudiosos das leis e dos livros Sagrados haviam escrito que um dia o Pastor de todas as as Tribos da Judéia, seria batizado nas águas de um riacho…as vezes ele fica a pensar, não seria detrás desses Montes, daquele outro, ou daquele mais longe, onde deverá ter um outro batizando, em nome de Deus?

Eu batizo aqui nesse lugar nem mesmo sei porque parei aqui e já se vão vários Equinócios….
Comecei a falar sobre o que vem na minha mente, e foram chegando pessoas, até mesmo de outras aldeias que não falam Aramaico, falam Grego, Latim, Hebreu, e outras , mas eu os entendo e se me perguntam se há um só Senhor do Céu e da Terra…eu respondo que sim …e lhes conto a Parábola do Bom Samaritano, e eles abençoam minhas palavras, e como foi que me entenderam, não sei…saem a dizer…Deus é um só, e seu filho está entre nós, para nós salvar.


Hosana!

A noite conto as estrelas, mas sempre as confundo com algum brilho de Pirilampos que se aproximam da lama das margens para umidecer suas bocas e piscam suas luzes de alegria quando encontram umidade, eu confundo os números, embora os tenha riscado na areia do chão…
Ele, dizem, sabe.


Como vou batizar ao Primo…se nao sou digno de lhe abotoar as sandalias, o que direi …se todos já dizem que ele é o filho de Deus entre nós…

Retirou os pés das águas do riacho e se encolheu medrosamente…estava amanhecendo…lá adiante uma carroça sem os animais jazia no chão como que desenhando contra os Montes um vulto de alguém de joelhos…prestou atenção e molhou os olhos com a água que escorria da sua mão…
Um dos que por lá pernoitara…se aproximou… João…João…beba e lhe deu uma caneca de chá cuja a fumaça subia dela formando uma branca espiral…

Tomou de um grande gole.
O Nazareno está chegando…
Tem certeza que é aqui, comigo, nesse riacho quase seco que ele vem ser batizado…?
Há outros que batizam atrás desses Montes cheios de Oliveiras…
Estas com medo João?
Perguntou o estranho.
Estou sim, respondeu…

O Monte Hermon, ali adiante, apontou, olhou ao redor, o estranho havia sumido.
Podia ouvir agora prestando mais atenção um barulho de vozes se aproximando, caminhando em sua direção , alguns da tribu de Jassé, que costumavam pernoitar com suas ovelhas por ali, perto da entrada da Gruta do Eco, assim chamada porque guardava consigo o segredo de provocar um eco até mesmo de uma pequena moeda e lhe multiplicar várias vezes, bastava que ela caísse ao chão na sua entrada.


Por isso eles cercavam a entrada dela com gravetos, para que as ovelhas lá não entrassem e provocassem um imenso bééééééééé….
Já despertos se aproximaram com suas fundas armadas com grandes pedregulhos.
Ele fez um sinal para que parassem e caminhou em direção ao grupo.
Reconheceu-o apesar dos muitos anos sem vê-lo., teve vontade de andar bem rápido e lhe abraçar…dizendo…

Que bom vê -lo…eu estou tão feliz…que agoro posso morrer…
Ao que o Primo, como que lendo seus pensamentos, pós a mão em seus ombros e disse…antes que faças qualquer coisa, cumpramos as profecias…me batize.


Dito isso, retirou a túnica descalçou as sandálias e entrou no Jordão, que perfumou-se de Alfazema, sem que houvesse nenhum arbusto dessa família por ali, a não ser o que frutificava pequenas frutinhos vermelhos ácidos e travosos, que depois que João voltou a si de tudo, seus pés, continuavam dependurados dentro do Rio Jordão, a silhueta da carroça havia desaparecido, nenhum balido de ovelhas, nem sinal da caneca de chá, e uma sensação estranha de silêncio interno, sentiu fome e esticou a mão em em direção ao arbusto de frutinhos azedos e travosos…
Mordeu… e atônito reparou que haviam se transformados em frutos a semelhança de uvas…e o que estava ali volumosa e carregada, era uma parreira.
Levantou-se, já chegava a noite…foi ao princípio da estradinha e viu marcas de muitos passos..haviam vindo muitos…
Abaixou-se a cheirar as pegadas, algumas delas cheiravam a um perfume que havia se diluído, mas não era de todo indiferente…
Pensou…teriam vindo…e ele dormirá?
Imaginava ter embebecido após tomar a caneca de chá de uma só vez, mas estava sedento.
Não havia ninguém…
As águas sabiam o que havia acontecido, mas as águas não falam…
Olhou o Rio Jordão…
Continuava ali…

Para o lado da caverna havia um barulho de vozes…lembrou -se dos pastores…
Foi caminhando…
Havia alguém falando mais alto que todos e o eco trazia as palavras até ele.
Aproximou-se reconheceu sua voz…que poderia estar falando…sim …pode ouvir com nitidez, estrondosamente, ele batizava o Nazareno. Prostrou-se ao chão…
Como um pesadelo, sonhou que sua cabeça jazia dentro de uma bandeja de prata e lhe chamava…
Venha João Batista.
Acordou sobressaltado…

O coração aos saltos…por acaso voltará a dormir, tão exausto que se encontrava.
O Rio Jordão quase moribundo, como por milagre recebia as primeiras chuvas.

* Osasco (SP) – 23.06.2020

Sou a favor – Crônica de Lulih Rojanski

Crônica de Lulih Rojanski

É uma pena que ser a favor não mude coisa alguma em lugar algum. Mas é confortante ser a favor… Sou a favor de desligar o rádio e a TV para ouvir a chuva; sou a favor da instalação de espreguiçadeiras nas beiras de rios, lagos e oceanos, e de um sistema de revezamento para usá-las que permita um tempo curto de espera para contemplar as paisagens, de pés descalços e com as mãos atrás da cabeça.

   Sou a favor da distribuição gratuita de picolés de limão pela prefeitura nos dias de calor; do direito de não aceitar governantes e de governar a própria vida do modo mais livre e não contemplado em nenhuma constituição; de fazer jardins em qualquer lugar onde haja terra desocupada; de andar nu pelas ruas, avenidas e logradouros, sem risco de execração; de vestir fantasias coloridas para ir ao trabalho… As cores têm a propriedade de transformar os sentimentos amargos em partículas de alegria.

    Sou a favor de orfanatos para animais abandonados; do aprendizado de instrumentos musicais desde o jardim de infância; da leitura dos clássicos da literatura todas as noites antes de dormir; da infinita acessibilidade aos livros; da liberdade de levar um edredom para o cinema; de chupar pirulito durante a aula, pois ele ajuda a manter a concentração; de repetir o prato sempre, seja do que for; de gritar ao ar livre para expulsar os demônios ou para acordar os anjos; de trocar o tapinha nas costas por uma pirueta; de encurtar os caminhos para tudo o que dê prazer; de colocar os varais de roupas floridas na frente da casa; de contar as estrelas apontando com o dedo, sem medo de verrugas; de dar às ruas nomes engraçados.

  Sou a favor de desligar a televisão na hora do jantar; do uso do guarda-chuva preto ou das sombrinhas coloridas em todas as ocasiões, porque a nostalgia é sempre bem-vinda; de água gelada nas torneiras públicas; do fim dos copos descartáveis; do barateamento dos chocolates; da anulação do ciúme e do reconhecimento da saudade como o mais belo sentimento; do uso universal dos colares artesanais de dois reais, dos vestidos florais, das sandálias de couro com túnicas brancas; do cultivo de ervas no quintal por quem aprecie os chás ou as poções.

  Sou a favor de tudo o que prolonga a vida; da alimentação natural e também dos churrascos dominicais; de taças generosas de vinho em todos os almoços; da venda de laranjas descascadas; das caminhadas que alcançam a noite; da extinção dos barbitúricos, ansiolíticos e analgésicos químicos que prometem combater a tristeza e a dor, mas instalam os vícios; de acender fogueiras nas noites de lua ou sem lua, para incentivar o florescer da alegria.

  Sou a favor de trocar o nome das coisas que têm nomes feios, como seborreia, cônjuge e fronha; de inventar palavras mais poéticas e gestos mais cordiais; da volta definitiva do vinil; da viagem no tempo, para que possamos todos voltar à infância e ver nossa própria doçura; da compreensão das gerações passadas; do conhecimento da história; das crianças ouvirem os velhos; da criação artística de toda natureza.

  Sou a favor das longas viagens por lugares distantes; de visitar os pais; de escrever cartas e enviá-las pelo correio; de conversar com os bichos e compreender sua resposta; dos shows gratuitos de música clássica; da entrada franca em cinemas, galerias e museus; do direito de dormir nos gramados das praças; de mudar o nome de batismo quando o nome que nos deram não nos cabe; da instalação de brinquedos para adultos nos parquinhos infantis.

E para concluir este apanhado de sonhos que nunca constarão dos textos massacrantes das leis, declaro que sou incondicionalmente a favor da desobediência civil, do amor natural e da crença na vida além da vida.

Leitura alternativa do calendário maia sugere que o fim do mundo é hoje, 21 de junho – Égua-moleque-tu-é-doido!

Calendário maia antigo – Imagem New York Post

Se você pensou que COVID-19, distúrbios civis, gafanhotos, erupções vulcânicas e furacões sinalizaram o Armageddon – você pode estar certo!

A leitura do calendário maia estava errada, de acordo com uma teoria da conspiração no Twitter, e, embora o mundo não tenha terminado em 21 de dezembro de 2012, como foi originalmente profetizado pelos leitores do calendário, o dia do juízo maia é em algum momento. Postagens em redes sociais sugerem que houve um erro de cálculo e que na verdade o mundo acabaria em 21 de junho de 2020. Dia também conhecido como HOJE.

Após o calendário juliano, estamos tecnicamente em 2012… O número de dias perdidos em um ano devido à mudança para o calendário gregoriano é de 11 dias. Durante 268 anos, usando o calendário gregoriano (1752-2020) vezes 11 dias = 2.948 dias. 2.948 dias / 365 dias (por ano) = 8 anos ”, twittou o cientista Paolo Tagaloguin na semana passada, de acordo com o Sol. A série de tweets já foi excluída.

Se Tagaloguin estiver correto, somando todos os dias perdidos, a data do juízo final maia é … esta semana.

Em 2012, os teóricos do dia do juízo final estavam convencidos de que o mundo estava terminando em 21 de dezembro, e hordas de fiéis se reuniram em locais maias no México e na Guatemala – apenas para ficar desapontados e sujos devido à falta de saneamento nas pirâmides maias antigas.


Meu comentário: Bom, como eu disse, na virada de 1999 para o ano 2000, nos tempos do famoso “Bug do Milênio”; em 2012, por conta do tal calendário Maia (a existência se extinguiria em 12/12/2012 como dito no texto acima) e a teoria da facção religiosa chamada de “Deus Pentecostais em Camuy” (que afirmou que o fim chegaria entre os dias 22 e 28 de setembro de 2015, por meio de um asteroide); em 29 de julho de 2016 ( quando os polos da Terra se inverteriam, causando uma mudança de temperatura tão drástica que o planeta vai se tornar inóspito para a raça humana, provocando sua extinção) e em 2017, quando um asteroide arrepiaria tudo aqui,  repito: se o mundo acabar, minha vida valeu a pena. E como valeu!

Nessa vida, que segundo a previsão da tal releitura do calendário maia, está na reta dos boxes, curti, amei e honrei minha família e amigos; namorei muito; viajei bastante; bebi e comi demais; amanheci na farra incontáveis vezes; dei porrada em safados de todo tipo (verbal, textual e fisicamente); assisti a shows de rock; escrevi e disse o que quis para quem gosto e para os que detesto; pulei carnaval; vi o Flamengo ganhar vários títulos e a seleção brasileira ser campeã do mundo duas vezes; trabalhei e fui reconhecido; fui amado e também odiado quase na mesma proporção.

Portanto, querido leitorado deste site, se mesmo rolar apocalipse, diga “eu te amo” para familiares, amigos de verdade e seus amores. E que todos nós levemos o farelo. Pois, se ficarem uns gatos pingados pra contar vantagem, aí é sacanagem!

Apesar de eu ter certeza que é só mais um papo furado, caso este editor estiver errado, tenham um ótimo fim. Senão, este site seguirá com sua programação normal. É isso.

Elton Tavares

Fontes:    OVNI Hoje   , History &    New York Post 

Noite sem trasladação – Por @juliomiragaia

Por Júlio Araújo (quem também é o Júlio Miragaia)

“Andando eles, ouvi o tatalar das suas asas, como o rugido de muitas águas, como a voz do Onipotente; ouvi o estrondo tumultuoso, como o tropel de um exército. Parando eles, baixavam as asas.” (Ezequiel. 1:24)

I

Sempre achei irônico o fato de o Cine Ópera ficar praticamente ao lado da Basílica de Nazaré. O único cinema pornô de Belém, por muito tempo, tão perto do principal símbolo religioso da cidade. Antes, ao lado do Ópera, funcionava o Cine Nazaré, sala de cinema comprada anos atrás pela Igreja Universal do Reino de Deus e tempos depois pela Lojas Americanas. Hoje, resta nessa quadra do bairro de Nazaré uma carga simbólica: entre a fé, a promiscuidade, a miséria dos mendigos e a padaria da esquina.

Há também uma série de hippies pela calçada, um ponto de táxi na esquina com a Generalíssimo Deodoro e uma loja ao lado do Ópera chamada “Mandarin”, a qual nunca prestei atenção no que se vende lá. A paisagem não se completa, claro, sem as vendas de tacacá, maniçoba e demais comidas típicas. Um pequeno elemento de regionalidade que se funde à urbanidade e também à multidão na parada de ônibus em frente ao Centro Arquitetônica de Nazaré. Uma massa de pessoas de todos os tipos e alheios uns aos outros. Compartilhando do sol quente, do vento tímido e da espera pelos ônibus lotados que passam nos fins de tarde.

II

Era um fim de tarde de sábado, pós uma chuva não tão forte, em outubro. O céu se abria à direita, no sentido de quem estava indo na contramão da Nazaré. Pensei, quando vi a primeira vez, se tratar de um protesto a multidão na rua e a gritaria. Rapidamente percebi que não era isso. Um objeto luminoso, prateado, que emitia o som de motor velho, pousou no meio da rua, o que levou todos a correr desesperadamente em direção inversa ao caminho que eu fazia. Alguns poucos curiosos permaneciam. Viaturas da polícia chegavam e cercavam rapidamente o local enquanto era possível ver os mendigos, os hippies, as vendedoras de tacacá e todas as outras pessoas saindo em desespero. De dentro da Lojas Americanas, da padaria, do Cine Ópera, do Mandarin, da Igreja, de todos os lugares.

O objeto emanou um feixe de luz que atingiu e paralisou um grupo de pessoas e as levou ao chão. Foram cerca de 3 horas em que tudo durou. Caminhões do exército chegaram ao local para também cercar a área e impedir que os curiosos, que filmavam e transmitiam nas reses sociais, se aproximassem. Eu fiquei ali, parado, em frente ao Mc Donalds, na 14. Pude ver as vítimas dos ataques no chão, com machucados nos braços e no pescoço. Eram umas 20 pessoas entre homens, mulheres, crianças e idosos.

IV

Com a mesma rapidez que pousou, surgindo entre as nuvens que restavam da chuva, o objeto começou a girar e a se revestir gradativamente de uma luz branca intensa. Subiu aos céus e desapareceu em alta velocidade. Equipes médicas em ambulâncias chegavam para socorrer as dezenas de feridos pelo misterioso objeto. A cidade estava em histeria coletiva, com o fato viralizado na internet.

V

Era noite de sábado, pré-Círio de Nazaré. A multidão que vai todos os anos à trasladação, há mais de um século, não saiu.

Algumas pessoas que estavam na orla da cidade, Portal da Amazônia, Estação das Docas e até na orla da Icoaraci informaram que viram pelos céus um conjunto de luzes coloridas que se movia para todos os lados, em grande velocidade, e que desaparecia para depois voltar a surgir.

Relatos também foram gravados em bairros como Sacramenta, Pedreira e Pratinha de pequenos globos brancos de luz percorrendo calmamente as regiões, invadindo casas e disparando feixes de luz contra pessoas.

Todos os jornais no Brasil e no mundo falavam com destaque sobre o assunto, mais comentado no Twitter e Facebook. Suicídios foram registrados e transmitidos. Pessoas se jogavam na frente de carros, ônibus, atiravam-se de prédios. Muitos saíam de Belém de carro ou lotando o aeroporto e a rodoviária.

Não eram poucos os que diziam se tratar de Nossa Senhora de Nazaré. Outros que eram seres do espaço. Nunca se soube ao certo o que ocorreu naquele dia.

VI

O Círio ocorreu no domingo, apesar do número visivelmente menor de participantes e do clima de medo.

Dias depois, o estado de calamidade decretado pela prefeitura foi suspenso e, aos poucos, a cidade foi voltando ao normal.

VII

Os fatos ocorridos naquele dia foram sendo esquecidos e todos foram voltando a sair às ruas, e a frequentar regiões como a da Basílica de Nazaré, onde tudo começou.

Um sentimento de espera fez alicerce nos dias, semanas, meses e anos inteiros dos que viveram o evento.

No dia a dia, o assunto era ignorado, como se nada tivesse acontecido, apesar da sobrevivência silenciosa de algum tipo de medo. E de uma melancólica incompreensão sobre o que passou e, inexplicavelmente, permaneceu.

Associação Cultural Marabaixo do Laguinho completa 20 anos de sua fundação

Dia 16 de junho do ano de 2000, jovens do Bairro do Laguinho fundaram de fato a Associação Cultural Marabaixo do Laguinho, com o primordial objetivo de difundir, valorizar, resguardar e perpetuar a cultura negra do Estado do Amapá, e o Marabaixo tem destaque maior neste contexto por ser uma manifestação cultural genuinamente africana e amapaense.

Foto: Faculdade Unopar

A Associação Cultural Marabaixo do Laguinho tem feito seu papel dentro do processo de ramificação de nossa cultura, e tem feito sua parte com propriedade na reprodução da cultura do Estado do Amapá, por meio de importantes e concretas ações de salvaguarda da maior expressão cultural do Amapá. Suas pesquisas, apresentações de Marabaixo e oficinas desenvolvidas por todo o estado, interagem com todo o cenário cultural de nosso Estado, resgatando e fortalecendo a identidade cultural do povo amapaense.

O Marabaixo do Laguinho presta homenagem a todos os seus componentes, apoiadores, apreciadores e simpatizantes, que juntos estarão sempre lutando por seu povo, sua história e tradição, através do canto, da dança e da poesia marabaixeira.

Danniela Ramos
Presidente da Associação Cultural Marabaixo Do Laguinho Laguinho

Cartas Que recebi, Mas leio agora (parte II) – Conto de Luiz Jorge Ferreira

Conto de Luiz Jorge Ferreira

19.04.1930

Eu …Fernando…e três guapos raparigos…brinco com você…Ferreira Luiz…

Aqui sentado, com a brisa vinda do Tejo, trazendo um pouco de água que embaça meus óculos…

Estou aqui a ler sua Missiva.

Ora pois…pois…embora acha que Vosmecê, errou na datação…ou a Companhia de Entrega de Correspondência, cá de Lisboa, atrapalhou-se com endereços, ou pouco me achou…

De fato é…que datas ela escrita em 2020, coisa com que me espanto, pois ao por meus olhos sobre um Calendário, que traz uma paisagem de Monet…ah!…

Precisavas conhecê-lo…sorve um Cálice de Absinto, como se bebesse pura água da mais limpa bica do escadão do Porto.

Mas nós encaminhemos para o assunto aqui tratado…olhando novamente o referido Calendário, vejo a data de 18 Abril de 1930…estou quase a fazer 42 anos.

Voltando ao assunto da Missiva em minhas mãos, estás nela a fazer um elogio ao Poema ‘A Tabacaria’…

Até o rotulas como um dos mais belos escritos em língua Portuguesa…ora pois pois…Guapo Raparigo do Brasil.

Muito me honra…apesar de que ao mostra-la para o proprietário da própria, qual foi -me o espanto, ele não lê…vi-me na obrigação de fazê -lo…ouviu…ouviu…em Silêncio…

Depois saiu a porta, foi até ao meio da rua e ficou a mira-la, certificar-se que era a mesma.

Alberto, Álvaro e Ricardo, rimos a não poder mais.

Pois acertastes, Gajo.

Quando dizes encontrar traços dos nossos jeito de escrever, dos três nesse Poema.

E eu aproveito para informar a Vossa Senhoria.

Que estamos sempre juntos…

Risos!!!!

Eliot…ias adorar essa conversa.

Eu traduzi ele, e foi pandego.

Não vou me alongar mais, pois não tarda para as Tabernas fecharem, e tenho evitado ser convidado a deixar ambiente tão agradável e acolhedor,em que eu, desculpe, nós…eles e eu…tanta coisa criamos.

E um pouco mais bebemos…

Ia cometendo um senão…

Abraços aos das Letras, inclusive soube do passamento de Castro Alves, tão jovem…

Mas infelizmente a vida nos prega essas peças.

Lisboa…

Já cá estamos em 19 de Abril de 1930.

Nos visite …Saúde…

Fernando Pessoa.