Escritos sonâmbulos – Alguns textos avulsos de Ronaldo Rodrigues

Alguns textos avulsos de Ronaldo Rodrigues

· Pronto. Já montei o álibi. Agora é só cometer o crime perfeito.

· Ficar sem conexão por dez segundos já deixa a criançada furiosa ou triste. E a minha geração, que passou a infância toda sem internet?

· O tempo vai mudando a gente. A gente vai mudando de tempo.

· Tomara que ele não venha tomar satisfações comigo, mas acho o Super-Homem um personagem superchato.

· Quando a gente vai ao médico e paga pra ele detectar nossas doenças não é um tipo de delação premiada?

· Fico aqui pensando coisas do tipo: se Noé colocou na arca todas as espécies de animais, colocou também o cupim. Olha o risco que ele correu de a arca ter afundado…

· Não, eu não sou velho. Sou um jovem de muuuuuuito tempo.

· Sou um vaidoso ao contrário. Fico horas na frente do espelho, conferindo cabelo, sapato e roupa. E só saio de casa após me certificar de que tudo está devidamente esculhambado.

· Continente é uma ilha muito grande. Tão grande que cabem nela vários países.

· Julgamento no tribunal divino? Sei não… E se no dia do juízo final a sua ida ao inferno ou ao paraíso for decidida no cara ou coroa?

· Fome é uma palavra que devora.

· Um dia a gente vai virar a mesa nessa porra se essa porra não virar.

· Conheço muita gente que pra ser podre de rica só falta ser rica.

· Avanço da tecnologia: os filósofos de botequim foram substituídos pelos analistas de redes sociais.

· Estou com uma estranha vontade de fazer as pazes com quem nunca briguei.

· “Todos esses que aí estão / Atravancando meu caminho / Eles que se fodam!”. Eu bem sei que Mario Quintana não aprovaria essa paródia de seu Poeminho do Contra, mas deu uma vontade de desabafar um pouco…

Frases, contos e histórias do Cleomar (Edição Especial Coronavírus)

Tenho dito aqui, desde fevereiro de 2018, que meu amigo Cleomar Almeida é cômico no Facebook (e na vida). Ele, que é um competente engenheiro, é também a pavulagem, gentebonisse, presepada e boçalidade em pessoa, como poucos que conheço. Um maluco divertido, inteligente, gaiato, espirituoso e de bem com a vida. Dono de célebres frases como “ajeitando, todo mundo se dá bem” e do “ei!” mais conhecido dos botecos da cidade, além de inventor do “PRI” (Plano de Recuperação da Imagem), quando você tá queimado. Quem conhece, sabe. Desta vez, a publicação é Edição Especial Coronavírus.

Saquem o capítulo dos disparos virtuais do nosso pávulo e hilário amigo sobre situações vividas em tempos de Covid-19. Boa leitura (e risos):

Descrédito

Aquela segunda-feira que tu tá mais sem moral do que o Aedes Aegypti, depois que apareceu o Coronavírus.

Corrida aos supermercados

Queria saber o tamanho da geladeira desse povo que corre pra o supermercado pra comprar tudo. Deixa de doidice viado!

Isolamento

Se o Coronavírus não acabar com meu casamento, não tem cão no mundo que acabe.

Quarentena

Já tô a tanto tempo dentro de casa, que os carapanãs daqui, passam por mim e fazem cara de nojo.

Pronunciamento do Bozo

Aí eu te pergunto, vais confiar nos médicos, cientistas e pesquisadores, ou no retardado? E outra coisa, atleta de cu é rola!

Quarentena II

Se me perguntar se quero ir pra rua: Claro que quero.
Se me perguntar se eu vou: Claro que não, ainda não tô doido!

Viva São José, o nosso santo padroeiro!

São José de Macapá, em cima da Pedra do Guindaste – Foto: Márcia do Carmo

Hoje é o Dia de São José de Nazaré, esposo de Maria, pai de Jesus Cristo e padroeiro do Amapá. Por conta da profissão do santo, hoje também é Dia do Carpinteiro e Dia do Marceneiro. São José, que também é padroeiro dos trabalhadores e padroeiro da Bélgica.

Amo o Amapá e Macapá. Nasci e me criei aqui. Por isso, peço a “São Jusa” que interceda contra a criminalidade e trânsito pirado, tudo em larga escala para uma capital tão pequena, entre outras mazelas que assolam essa terra.

São José não protege somente a nós, amapaenses, mas todos que para cá vem viver e contribuir para a melhoria de nossa terra. Pena que, como santo, ele não pune os que só sugam, saqueiam e ainda desdenham da nossa linda Macapá.

O feriado

Desde a criação de Macapá, São José sempre foi o padroeiro da capital amapaense, mas uma Lei Estadual de 2012 oficializou o santo padroeiro do Amapá, o que fez do dia 19 de março feriado em todo o Estado.

São José é o santo que nunca cansou de ficar de pé na Pedra do Guindaste, de frente para o Amazonas, sempre “vigiando” a nossa capital, contra maldades exteriores.

Enfim, não sou muito religioso, mas respeito a crença de todos. Como diz o poetinha Osmar Junior: “Ô São José da Beira Mar, protegei meu Macapá…”.

Viva o santo carpinteiro, valei-me meu São José!

Elton Tavares

Papo Casal: fui o primeiro a comprar o livro

Há exatos 12 anos, em 11 de março de 2008, visitei o Ronaldo Rodrigues, que também é Rony. Era noite. Ele morava na casa da Floriano Peixoto (a galera sabe onde) e estava feliz. Tinha chegado os exemplares de seu livro ‘Papo Casal’.

Tenho orgulho de ter sido o primeiro comprador da obra. Nela, RR ironiza o cotidiano e situações comuns dos casais de forma inteligente e divertida. Tenho o livro até hoje, pois a publicação é atemporal.

Elton Tavares

A mulher da chuva e do sol do Equador (Fernando Canto)

Por Fernando Canto

Chove em Macapá neste amanhecer de pétalas caídas nos jardins. Ondas verticais fustigam a pobreza das ruas, alagam o oco das pedras e atiçam o furor do céu, onde deuses cavalgam atônitos em busca das últimas estrelas que o firmamento esconde nesta época de nimbos. Uma dádiva esta chuva. É uma faca que golpeia o rastro dos caracóis e que retarda o voo das aves migratórias. Uma chuva é uma caba colossal dona de seu próprio voo que procura sobre a terra o segredo do veneno perdido na face espelhada das lamas matinais Uma chuva é um dom de Deus na relativa necessidade de quem a almeja. E assim eu te quero, chuva. Hoje mais do que nunca, porque és elemento da minha paisagem cotidiana, cenário da transformação do meu amor e indubitável perfume que cai suavemente sobre nós, sobre mim e ela, a mulher da minha vida.

Mulher que chove aos cântaros quando envidraça a escuridão dos teus sentidos, mulher que arde – absolutamente chama – sem o consumir do fogo. E chama a oceânica vontade do teu ser plural no sexo espumoso que especula degredos, inda que guardando segredos indizíveis na semente do tucumã, fruta ancestral. Mítica mulher que habita a cavidade dos sonhos enredados e abre as portas para o resoluto amor. Inexorável és como as calvas cúpulas da serra do Tumucumaque, a cobra adormecida, a morada dos alados seres que nunca estilhaçaram o gelo inexistente no teu dorso. Reserva-te ao direito de seres como Mitaraka, ó mulher, a montanha em forma de gente, observada pelos invasores de tua curta solidão, que chegam com o vento em alucinantes tropéis. Ora podes ser um arquipélago. Uma teia abissal de ilhas perdidas no oceano, ilhas que bailam e que dançam sob a música dramática dos dias da civilização. Ora podes ser também a mãe orgulhosa do fulgor das vozes e o relâmpago capaz dessa esperança. Talvez até no sol que invade a tua garganta com sua luz vertiginosa das manhãs cênicas do Bailique tu podes transformar-te, ó mulher.

Eu amo o teu estuário de loucura e a generosidade das águas que em ti moram e louvo o bailado das ondas fulgurantes e o esplendor das estações que existem em ti. Amo, sim, pois és a chibata que açoita os pesadelos, o sustentáculo que abriga bons augúrios, a flor, o jardim e a raiz das plantas crescidas no sabor da aurora, esta que invade nossa casa sem precisar pedir licença. Eu amo o teu cabelo e o magnetismo depositado na escova, assim como as páginas viradas de um livro que relemos rindo. E ali no canto do banheiro talvez uma sandália virada espe
re teus pés para que calces novos planos e andes na direção do oriente. Nossos livros e telas, nossos vinhos e cds flutuam sobre uma lona azul-turquesa. Estão lá, junto aos amigos, os cerzidores do que rasgamos no passado, inquilinos que são da nossa vida para sempre.

Agora me despeço. Eu vivo a luz e a sombra da mulher que esbraveja o verbo e absorve a vida. Eu observo a mão que trata a argila do manancial diário das notícias da família, eu voo vaga-lume perto deste refletor iluminante, lâmina certeira, mulher dadivosa de chuva, enfeitada de estrelas e de andaimes, amante inconclusa da minha vontade.

Agora sim, eu me despeço inundado em poesia, sobre a mesa posta que abriga somente o pão quentinho e o aroma do café que tomamos juntos quando o dia chega. Eu me despeço naufragado na ternura dos teus olhos cuidadosos, enquanto a chuva, lá fora, lava almas e plantas e espera o sol brilhar para todas as mulheres que trabalham, sofrem e amam nesta terra salpicada de luz do equador.

*Do livro “Adoradores do Sol”. Scortecci, S. Paulo, 2010.

Dois textinhos para eu não perder o emprego neste site (crôniquetas de Ronaldo Rodrigues)

 

Crôniquetas de Ronaldo Rodrigues

Sabe aqueles macacos que são usados como cobaias de experiências científicas? Zé Chimpanzé era um desses, um dos mais procurados por cientistas malucos de todos os quadrantes. Ele era um superstar da categoria. Seu cachê era o mais alto. Zé Chimpanzé ganhou tanta notoriedade que sua agenda vivia lotada. Zé Chimpanzé era uma celebridade, sua fama atravessava fronteiras, sua fuça era vista com muita frequência na National Geografic.

Mas um dia, cansado de tanta bajulação a que os grandes astros são expostos, entediado com os holofotes e já sem paciência com os paparazzi, Zé Chimpanzé isolou-se em seu castelo à beira-mar e nunca mais quis saber de ser cobaia de cientista maluco. Imitando Greta Garbo, Zé Chimpanzé repetiu a célebre frase da diva – “ I want to be alone!” – e entrou numa reclusão que dura até hoje.

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Sempre que Mona Lisa sorria enigmática, Leonardo errava a pincelada. A cada retoque, a Mona Lisa, a pintura, se parecia menos com a Mona Lisa, a mulher. Após dar por terminada a tela, uma das mais famosas do mundo, Leonardo teve que fazer uma cirurgia plástica na modelo, usando sua perícia como grande estudioso da anatomia humana, para que ela ficasse parecida com a figura retratada na pintura.

Foi tanta a euforia de Leonardo com a experiência que ele passou a se dedicar a retratos femininos, como o que fez de Marilyn Monroe, deixando para que Andy Warhol, já no extinto século 20 assinasse. Coisas de gênio.

Asterix, na edição “Astérix e a Transitálica”, previu o “Coronavírus”

Adoro gibi, sempre gostei. Fui leitor fanático de várias sagas de diversos personagens do universo dos quadrinhos. Meu amigo Fernando Bedran, que é aficionado pelos quadrinhos de Asterix – o herói gaulês, mostrou-me dia desses que na edição “Astérix e a Transitálica”, os gauleses previram o “Coronavírus”.

Ah, para quem não saca: “Asterix é uma série de quadrinhos, francesa, que conta a história de uma aldeia de gauleses (antepassados dos franceses) que teima em resistir ao invasor romano – enquanto toda a Gália já se rendeu. A aldeia de Asterix resiste graças a poderes especiais conferidos por uma poção mágica”.

“Astérix e a Transitálica” foi a 37ª edição da revista, lançada em mais de 25 países, em 1977. Curiosamente, em uma parte da história, quando os irredutíveis gauleses visitam a Itália, um cocheiro (de máscara) fala “Coronavírus!” “Coronavírus!”, para seus cavalos negros que puxavam a biga do mascarado (na verdade é um elmo dourado, mas a gente contextualiza como máscara por causa da doença da moda no nosso mundo louco).

A HQ tem enredo de Jean-Yves Ferri e arte de Didier Conrad, com supervisão de Albert Uderzo. Asterix é uma criação de René Goscinny (falecido em 1977) e Albert Uderzo, e sua primeira aventura começou a ser publicada em 29 de outubro de 1959, nas páginas de revista Pilote # 1.

O mundo está em polvorosa por conta da enfermidade. A doença já chegou ao Brasil e bate na porta do Amapá via Guiana Francesa. Espero que, como no gibi, o Coronavírus seja domado e sigamos nossas vidas sem esse alarde ou medo de qualquer relincho/espirro.

Elton Tavares

Junior: O Maestro – Por Marcelo Guido

 


Por Marcelo Guido

Ele aprendeu a jogar bola na praia, conquistou os gramados do Brasil e foi mostrar na Europa a classe do nosso futebol.

Com talento transcendental, quase impossível para um ser vivo, a bola era sua companheira dentro de campo. Defendeu as cores do Torino e Pescara na Itália, mas escreveu com sangue, suor e talento uma brilhante história no Flamengo. Falo nada mais nada menos de Leovegildo Lins da Gama Junior, o Maestro.

Junior era a magnitude soberba do futebol – talento em estado bruto. Em um time de feras, conseguia se destacar pela seriedade com que entrava em campo; para ele não existia bola perdida.

Ambidestro, começou na lateral esquerda, onde abria caminho nas encostas verdes do gramado para servir atacantes. Sua visão cirúrgica do jogo o fez logo evoluir para meio campo, onde – como um verdadeiro Cristo – fazia-se onipresente em toda área de talento dentro das quatro linhas. Dos seus abençoados pés saíam jogadas que os Deuses do futebol em seus melhores dias haviam planejado.

Fez o mundo se render ao Flamengo, trazendo junto de Zico o campeonato mundial para Gávea. Participou de uma das melhores seleções de todos os tempos 1982, um time que realmente jogava por música, “Voa Canarinho” de sua autoria, embalava aquele selecionado recheado de craques do mais puro quilate, o caneco não veio, mas o reconhecimento ficou, Junior honrou como poucos a camisa amarela.

Na Itália, contratado a peso de ouro pelo Torino, conduziu o time grená ao vice-campeonato logo no ano de estreia; atuando mais avançado, marcou sete gols e foi eleito o melhor jogador do “cálcio”, deixando para trás gente da estirpe de Maradona, Platini, Zico e Falcão. Ídolo máximo da torcida em Turim, sofreu com racismo em um derby contra a Juventus, conotações racistas sobre a cor de sua pele e seu vistoso “Black Power” vindos da torcida juventina fizeram com que os grenás gritassem em coro, mas antes “negro que juventino”.

Primeiro estrangeiro a defender o pavilhão do Pescara – de quebra, carregou a faixa de capitão – foi o segundo melhor jogador estrangeiro do campeonato.

Em 1989, volta para sua casa. Um pedido do filho que nunca o tinha visto atuar com o manto rubro negro, fez Junior voltar para os braços da nação. De 1989 a 1993 foram dois títulos nacionais e um estadual pelo Mengão.

Um caso de amor do gênio com clube – recíproco, com certeza absoluta. A magnética sabia que em campo não existiria ninguém melhor para trajar vermelho e preto. Foram 847 vezes que o Maestro utilizou o manto para dar espetáculo, o atleta que mais vestiu a camisa rubro negra em partidas oficiais.

Em 1992, o destaque. Junior era a lembrança dos tempos áureos do Flamengo em campo. Redesenhou o paradigma de que o jogador com mais de 35 anos já deveria se aposentar. Ganhou alcunha de “Vovô Garoto” e capitaneou um time de novos talentos ao título nacional. E no melhor palco possível: o Maracanã, contra um grande rival carioca. Naqueles dois jogos, Junior transpirou talento, gols nas duas batalhas. E na segunda partida, um gol de falta que, de tão perfeito, deveria estar exposto na principal parede do Louvre em Paris. Aquilo sim, foi uma obra de arte.

Tal perfeição em suas atuações o fizeram ser eleito o melhor jogador brasileiro do ano – isso aos 38 anos de idade. Realmente, Junior era como vinho: quanto mais velho, melhor.

Sem dúvida alguma, um dos seres rubro-negros mais importantes de todos os tempos; um craque de primeira linha que foi, laureou apenas uma camisa no Brasil, respeitou sua gente e criou a mística em cima do vermelho e preto.

O “Capacete” parecia ser predestinado a conquistas; seu rico repertório de inesquecíveis jogadas jamais o deixaria como coadjuvante, aonde quer que jogasse, mas seu coração o fez ser o Flamengo.

A história de Junior, o Maestro e do Flamengo se unem em uma só. Consagrada por títulos, futebol arte e alegria.

*Marcelo Guido é jornalista, amante do futebol, pai da Lanna Guido e do Bento Guido e maridão da Bia.

Dia do Turismo Ecológico: de parques a ilha, conheça 5 roteiros para conhecer mais do Amapá

Recanto da Aldeia, praia que fica na Ilha de Santana, no Amapá — Foto: Marcelo Sá/Arquivo Pessoal

Por Victor Vidigal

O Amapá, como estado com área mais preservada do Brasil, tem muito a oferecer a quem procura a natureza, que valorize o meio ambiente e a cultura dos povos tradicionais e ribeirinhos. Pensando nisso, o G1 preparou, neste domingo (1º), Dia do Turismo Ecológico, um guia com 5 opções de passeios no estado.

As dicas vão desde lugares próximos da capital, como a Ilha de Santana, até os com mais dificuldade de acesso, como o Cabo Orange.

Cada roteiro conta com um comentário do guia de turismo Marcelo de Sá Gomes, especializado em turismo ecológico no Amapá. Ele deixa algumas dicas de passeios e uma média de custo, que pode variar dependendo da estação do ano, número de pessoas e objetivo da viagem.

Recanto da Aldeia tem praia para o Rio Amazonas — Foto: Marcelo Sá/Arquivo Pessoal

Ilha de Santana

A 23 quilômetros do Centro de Macapá essa é uma das opções mais próximas da capital para aos amantes da prática de “trekking”. Durante o percurso de mais de 3 quilômetros o turista tem contato com ecossistema de mata de várzea e cerrado, além de árvores como a Samaúma. A trilha não é formatada, mas tem um caminho usado pelos comunitários.

Atrativo principal: Ao final da trilha, chega-se ao Recanto da Aldeia, uma espécie de praia com areias claras, em uma das margens do Rio Amazonas.

Acesso para a Ilha de Santana pode ser feito de catraia — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

O guia de turismo Marcelo de Sá Gomes descreve que nesse roteiro o visitante pode conhecer a vivência da comunidade amazônica que conta com extrativismo de açaí, agricultura familiar, plantações de frutas e carpintaria naval.

“Lá ele ainda vai ter contato com extrativismo do açaí, agricultura familiar,plantações de acerola, bacaba, mandioca, caju, taperebá. Na parte oeste de ilha tem também a carpintaria naval, além de poder conhecer a pesca de camarão e duas espécies de botos”, disse Gomes.

Acesso: é considerado fácil, pela Rodovia JK. É feito de carro, motocicleta ou ônibus até o Porto do Grego, em Santana. De lá, o turista consegue ir de catraia à ilha. O tempo médio de deslocamento partindo do Centro de Macapá varia de uma a duas horas, dependendo do transporte escolhido.

Média de custo: de acordo com o guia de turismo, um passeio de um dia custa em média R$ 150 por pessoa, com transporte e guiamento. O trajeto só de catraia pode sair mais barato, R$ 2, da sede do município à ilha, mas é necessário conhecer a região para poder fazer a trilha.

Vila de Mazagão Velho guarda muito da história do Amapá — Foto: Gabriel Penha/Arquivo G1

Mazagão Velho

Ótima opção para quem busca conhecer mais sobre a religiosidade, história e cultural do Amapá. A vila, construída durante a época do império português, ainda guarda um pouco da arquitetura colonial em algumas casas, e um cemitério com restos mortais das pessoas que moravam na região.

Atrativo principal: uma escavação feita 2006 de um grupo de arqueólogos da Universidade Federal de Pernambuco que mostra as ruínas da primeira Igreja de Nossa Senhora de Assunção, construída no século 18.

Marcelo de Sá aponta outras atrações como um centro de cerâmica das culturas Maracá e Cunani, as mais tradicionais do estado, além de um passeio até o foz do Rio Mutuacá, que passa em frente a cidade, que deságua no Rio Amazonas. Ele ainda destaca a riqueza cultural da região.

Ruínas da primeira igreja em honra à Nossa Senhora de Assunção, em Mazagão Velho, no Amapá — Foto: Marcelo Sá/Arquivo Pessoal

“Cada época que a gente vai no Mazagão tem uma manifestação cultural. Não é só a festa de São Tiago, o resto do ano todinho tem muitas festas no município, como a festa de São Gonçalo, em janeiro”, disse o guia de turismo.

Acesso: é considerado fácil, pela AP-010. A cidade fica a cerca de 70 quilômetros de Macapá. Pode-se chegar por meio de carro, motocicleta ou ônibus, por estrada asfaltada. O tempo médio de deslocamento do Centro de Macapá até a cidade também varia de uma a duas horas, dependendo do transporte escolhido.

Centro de Cerâmica Maracá e Cunani em Mazagão Velho — Foto: Marcelo Sá/Arquivo Pessoal

Custo: de acordo com o guia de turismo um passeio de um dia custa em média R$ 90 por pessoa, com transporte e guiamento. Sem auxílio de guia, o passeio pode ser gratuito, já que as atrações não cobram valor para entrada.

Trilhas podem ser feitas na Floresta Nacional do Amapá (Flona) — Foto: Alex Silveira/O Globo

Floresta Nacional do Amapá

Para fazer a visita é necessário ter autorização do Instituto Chico Mendes da Preservação da Biodiversidade (ICMBio), contactar um guia que conheça o local e ser acompanhado por alguém da comunidade. A floresta com mais de 450 mil hectares é uma das Unidades de Conservação do estado.

Principal atrativo: a rica biodiversidade do local com espécies de animais e árvores ainda não catalogadas pela ciência.

O guia de turismo Marcelo de Sá Gomes explica que a Flona oferece diferentes roteiros desde caminhadas pela floresta, banhos e produtos artesanais. O turista pode decidir qual encaminhamento dar ao passeio.

“A gente apresenta o roteiro e ele [turista] escolhe aonde quer visitar. Além da floresta com várias árvores gigantescas, dentro desse roteiro tem cachoeiras, tem corredeiras e até a visita a uma cooperativa da região que trabalha com sabonetes e pastas de andiroba, copaíba, breu branco e fava”, explicou Gomes.

Turistas durante viagem à Floresta Nacional do Amapá — Foto: Marcelo Sá/Arquivo Pessoal

Acesso: a dificuldade é mediana. O principal acesso é feito pelo Rio Araguari partindo de Porto Grande, município a 102 quilômetros de Macapá (o acesso é pela BR-210). O tempo de deslocamento da capital até a Flona varia de 3 a 5 horas, dependendo da estação do ano.

Custo: de acordo com o guia de turismo um passeio de três dias dia custa em média R$ 1 mil por pessoa, contando transporte, guiamento. É recomendável que o turista leve material de acampamento e alimentação, pois no local não há hotel e nem restaurante.

Vila Brasil, em Oiapoque, e Camopi, comunidade fica do lado francês do Rio Oiapoque — Foto: Guillaume Feuillet/Parc amazonien de Guyane

Vila Brasil e Camopi

No extremo Norte do estado fica a Vila Brasil, um distrito de Oiapoque. Estando na área, é fácil também conhecer de bônus a comunidade Camopi, pertencente ao território da Guiana Francesa. Ambas as localidades estão na área do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, o maior do país.

Principal atrativo: intercâmbio cultural entre a população indígena brasileira e francesa.

Visitas a florestas precisam de guia — Foto: Rede Globo

Marcelo de Sá fala que a visita é mais do que um passeio, e sim uma expedição. As comunidades têm pousadas, o que facilita a vida do turista, mas durante a entrada em regiões de floresta não há infraestrutura.

Ele também ressalta que o turista precisa estar com passaporte regularizado por se tratar de um território estrangeiro. Também é necessária autorização do ICMbio para entrar no parque.

Acesso: é considerado difícil. É preciso ir até Oiapoque, a 590 quilômetros de Macapá, via BR-156. No município é feita uma viagem de barco, “subindo” o rio de mesmo nome da cidade. O deslocamento de Macapá até as comunidades leva em média 15 horas.

Custo: de acordo com o guia de turismo um passeio de 3 dias dia custa em média R$ 2 mil por pessoa, contando transporte e guiamento. Há viagens de ônibus com saída todos os dias da Rodoviária de Macapá rumo à sede de Oiapoque.

Vista do passeio feito de barco no Cabo Orange — Foto: Marcelo Sá/Arquivo Pessoal

Cabo Orange

Também uma região entre o Amapá e a Guiana Francesa, a viagem até o Parque Nacional do Cabo Orange é feita de barco pelo Rio Oiapoque. Até a chegada no parque, o turista passa por comunidades de pescadores e indígenas, além de regiões montanhosas na comuna francesa de Ouanary.

Principal atrativo: conhecer as montanhas do lado francês, e o ecossistema de manguezais, predominante na costa do Amapá.

O guia de turismo orienta que a saída de Oiapoque seja feita antes do amanhecer, para aproveitar a aurora e ver ecossistema “acordando” de dentro da embarcação. Ainda podem ser feitas caminhadas pelas montanhas de Ouanary.

Passeio no Cabo Orange, no Norte do Amapá — Foto: Marcelo Sá/Arquivo Pessoal

“Nesse percurso vai amanhecendo e a gente consegue visualizar a entrada de cardumes de peixes, revoada de pássaros, a gente conhece o ecossistema dos manguezais. Ficamos fazendo meio que zigue-zague entre Amapá e Guiana Francesa até a chegada no parque nacional, onde turista tira fotos e registra o momento da forma que preferir”, disse Gomes.

Acesso: também é considerado difícil e precisa do acompanhamento de um guia de turismo e autorização do ICMbio. A saída é feita pelo rio do município de Oiapoque até o Cabo Orange. O deslocamento de Macapá até o parque leva em média 15 horas.

Custo: de acordo com o guia de turismo, um passeio de 3 dias dia custa em média R$ 2 mil por pessoa, contando transporte e guiamento.

Fonte: G1 Amapá

Um fato recorda outro – Crônica de Luiz Jorge Ferreira

Crônica de Luiz Jorge Ferreira

Após ler um texto de Fernando Canto, em que ele traz nas recordações um pouco do Carnaval de Macapá… fui levado até ao princípio dos Anos 60, mais precisamente 62, em o período de maior frequência da garotada da minha geração moradora nas imediações da Sede Escoteira Veiga Cabral, no bairro do Laguinho, local em que muitos esportes eram praticados, e sob a batuta do Chefe Humberto, também, as artes… Encenações de Cordões Juninos, e Peças Teatrais… e Espetáculos Musicais.

Por época de quase Fevereiro de 1962, a recordação nos leva até o Bloco Caçula do Laguinho… Bloco Infantil criado a partir da observação de Seu Paulino, pai do Joaquim Ramos… O Quincas… exímio passista, que com outros meninos, ao lado de fora da Sede Escoteira, no espaço entre a Sede e o Campo de Treinamento do São José, munidos de latas vazias de Cera Poliflor e velhas frigideiras já sem uso batucavam, e obedeciam ao apito por assobio do Lelé, batucavam, cantavam e criavam Sambas, muitos até Copiados do Boêmios do Laguinho, ou dublês de alguns Sambas Enredos do Rio…

Seu Paulino colocou ordem na casa…

Fez os garotos obedecerem posicionamento, criou paradas para a batucada fazer um breque, conseguiu fantasias, para as Pastoras, Portas Estandartes e Mestres Salas e uniformes para os batuqueiros, tudo muito organizado…

Os “índios” do Cacique de Ramos, nos anos 1970. Foto: ilustrativa (encontrada no site Hypenesse)

Íamos já depois de muitos ensaios, as Batalhas de Confete, que aconteciam em vários bairros inclusive no próprio Laguinho, defronte a Casas Comerciais de importância renomada, por toda cidade em festa.

O Caçula do Laguinho, por ser formado por crianças na faixa dos 10 a 13 anos, tinha o acompanhamento dos pais ou responsáveis, D Josefa, era uma dessas pessoas, com muitos dos seus filhos e filhas sendo participantes… Pedro Ramos, Joaquim Ramos, Neck, algumas das suas filhas…

No Segundo ano de Desfile, no ano de 1963, o Bloco já criava seus Sambas, coletivamente, Nonato, Luiz, Lelé, Saçuca, Pedro, Zeca , Tomé, Munjoca, Arlindo, Queiroz, Joaquim, Zé Paulo, Sacaquinha, Seu Rô… as irmãs , as primas, e as amigas, engrossavam o coro…

Ano 1960 – “Batalha de Confete” em frente à Farmácia Serrano na descida da Rua Cândido Mendes, um dos locais utilizados nos primeiros anos do carnaval de rua de Macapá – Foto: Blog Porta Retrato

Os Caçulas do Laguinho, fizeram a alegria dos pais dessa petizada Carnavalescamente precoce… O pai do Saçuca… Seu Sussuarana, providenciava os couros para os instrumentos de percussão, e as caixas de madeira para criar os tambores, ou o Gabi ,ou o Zé Cueca ou o Cecilio davam um jeito de arrumar…

Afinar… era fácil… uma fogueira, e pô-los a esquentar seus couros, e baquetas a mão… batendo de leve e ouvindo o som apurar no tom.

Luiz Jorge e Pedro Ramos (esquerda) e Fernando Canto e Luiz Jorge (direita) – Fotos: Blog O Canto da Amazônia

Destes participantes do Caçula, amigos de infância, muitos munidos de seus Sambas, com o som dos seus repiques no ar, não estão mais conosco… porém muito destes enveredaram pelo caminho da Arte, e ainda nos proporcionam alegria com suas criações…

Foi ler o texto do Fernando… e parece que me arrumei na casa do Lelé, e desci a Av Ernestino Borges… frigideira na mão, pé tuira da poeira da rua, toda a felicidade na cara sorridente, nascendo as primeiras espinhas.

Giovanni: “ O Messias da Vila” – Por Marcelo Guido

Foto: site do Geovanni

Por Marcelo Guido

Quando os deuses da bola revolvem conceder talento eles geralmente não brincam sem serviço. Talvez estivessem cansados de ver o comum tomando conta do meio campo, ou queriam apenas ver alguém brincar com bola nos campos, como se estivesse no sonho e assim, magistralmente concederam o dom para Giovanni Silva de Oliveira, um dentre muitos Silvas no futebol.

Foto: site do Geovanni

Revelado pela gloriosa Tuna Luso, passou por Remo, Paysandu, São Carlense, Barcelona – ESP, Olympiacos – GRE , dentre outros, mas eternizou-se em três passagens pelo Santos.

Na Vila Belmiro fez sua morada, inteligente conquistou a torcida com passes precisos e gols, muitos gols.

Foto: site do Geovanni

A facilidade com que deixava os companheiros na cara do gol era algo extraordinário, que deixava boquiaberto os felizardos que o viram vestir o branco da baixada santista.

Elegante, conseguia abrir o peito e matar a bola com uma envergadura ímpar de 1,90 metros. Levou o despretensioso time do Santos de 1995 a final do campeonato nacional ao lado de Robert, Jamely e Marcelo Passos. O título acabou faltando, coisas do futebol.

Foto: site do Geovanni

Inesquecível na semi- final daquele ano contra o Fluminense de Renato e Joel Santana, só não fez chover, aliais fez. Uma chuva de gols, uma atuação de gala que lhe fez render a bola de ouro, e o prêmio de melhor jogador do campeonato.

Partiu para conquistar o velho mundo, foi ídolo da torcida Catalã. No Barcelona fez dupla com Rivaldo, meio campo que fazia tremer os adversários. Em seis anos de clube, seis canecos levantados. Chega na Grécia, e a terra de Zeus conhece um semideus da bola, o penta campeonato nacional atuando cinco anos em solo helenístico.

Foto: site do Geovanni

O meio campo era uma salão de baile, onde os craques disputavam a dama “bola” para lhe ser concedida uma dança, e o Messias estava sempre de terno. A pelota sua amiga corria em seu lugar. Ela tinha que correr.

Foto: site do Geovanni

Os críticos de seu futebol o diziam ser “lento”, mas a inteligência e a sapiência em saber os caminhos do campo o faziam diferenciado. Defendia a tese sagrada que o futebol não podia ser comum, não pode ser feijão com arroz, futebol e ousado tem ser tentado mesmo que se perca o lance.

Chegava na hora certa, decisivo, enganava adversários que não acreditavam que ganharia o lance, era craque que além de dar o espetáculo sabia fazer gol, e foram muitos.

Pelo Santos, 3 passagens, 3 faixas no peito. Os Paulistas de 2006 e 2010 e a Copa do Brasil de 2010 e a idolatria eterna de uma torcida que não via sua 10 vestida tão bem desde Pelé.

Solto, tendo o gol como objetivo, ereto, com a cabeça erguida sabedor dos caminhos aproveitava tal abençoada técnica e tamanho para destituir sem culpa adversários. E vestindo seus pavilhões, como um messias sabia levar seus times a o caminho das vitórias.

Foto: site do Geovanni

Felizes foram aqueles que foram Testemunhas de Giovanni, que jogou em um tempo que bom jogador e futebol brasileiro eram pleonasmos.

*Marcelo Guido é Jornalista. Pai do Bento Guido e da Lanna Guido. Maridão da Bia.

Evair: O Dom Alviverde – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Dezesseis metros e meio, um círculo cravado a onze metros do gol; um reino que faz com que homens uniformizados lutem com as forças que têm para conquistá-lo; a cada partida uma batalha: defensores e contra-atacantes e poucos deles podem se sagrar campeões, dentre eles está Evair Aparecido Paulino que, com precisão ímpar e chutes certeiros, fez por muitas vezes a alegria de multidões.

Cria do Guarani de Campinas, passou por Atalanta – ITA, Yokohama Flugels – JAP, Atlético Mineiro, Vasco da Gama, Portuguesa, São Paulo, Goiás, Coritiba e Figueirense; mas com duas passagens pelo Palmeiras escreveu seu nome na história do Parque Antártica e no coração palestrino.

Surgiu para o futebol vestindo o verde do Bugre Campineiro, mostrava técnica e desenvoltura com passes milimetricamente pensados para deixar os atacantes na cara do gol, nas categorias de base, chamando a atenção do técnico Lori Sandre, que o colocou no time de cima em 1984.

Mas sua habilidade o credenciou a jogar mais na frente. Nascia ali um dos maiores atacantes já vistos.

Sua credencial matadora foi apresentada logo em 1986, quando disputou tento a tento com Careca a artilharia do Brasileirão daquele ano, perdendo por um gol para a outra cria Bugrina. Em 1987 veio a convocação para Seleção que se sagrou campeã do Torneio Pan-Americano; em 1988, comandando o ataque do Guarani, conquistou a tão sonhada artilharia do Paulistão. Os amantes do futebol já sabiam que os deuses da bola abençoavam um novo homem-gol.

Partiu para a terra da bota para tentar o “scudeto”, quando o campeonato italiano concentrava a nata dos melhores jogadores do mundo, sua equipe, o Atalanta. Em Bergamo, formou dupla de ataque com ninguém menos que Claudio Caniggia (aquele mesmo) e fez a alegria da torcida “nerazzura” 25 vezes em 76 partidas.

Volta para solo nacional em 1991, para fazer história no Palmeiras. Antes dos dólares, dos laticínios da Parmalat. Evair encontrou o calor humano da torcida, foi ídolo quando o Verdão amargava um jejum; era referência máxima do Alviverde. Sua elegância na área, objetividade máxima a marcar gols, o colocavam em um pedestal.

Em 1993, é formada a nova academia de futebol do Palmeiras – para quem gosta de futebol, um deleite. Formou com Edmundo e Edilson uma verdadeira linha atacante de raça. A conquista do Paulistão do mesmo ano, com gol de pênalti na final, selando um jejum de 16 anos contra o rival, naqueles 4×0 já o colocavam na história. A Comemoração, correndo em direção da torcida como um verdadeiro Cristo de braços abertos está na memória e no coração do Palmeirense.

Vieram ainda o Paulistão de 1994, o bicampeonato brasileiro 93/94 o torneio Rio-São Paulo em 1993. Destaque em um timaço recheado de craques de primeira categoria, o artilheiro estava consagrado.

Participou de toda conquista para vaga da copa de 1994, era nome quase certo na lista final de Parreira. O pé de uva surpreendeu a todos quando o deixou de fora, preterido na lista final por um garoto de 17 anos, que atendia pelo nome de Ronaldo.

Partiu para Terra do Sol Nascente, onde conquistou a Recopa e a Super Copa Asiática pelo Yokohama. Na terra do Imperador disputou 59 jogos e anotou 35 gols.

Na volta para o Brasil em 1997, fez uma passagem curta pelo Galo Mineiro, e assinou com o Vasco da Gama. Reedita a dupla que infernizou zagueiros adversários, ao lado de Edmundo. Inteligente, soube recuar e se mostrou um verdadeiro garçom de luxo para o Animal. Resultado: Campeão Brasileiro novamente, desta vez pela turma da fuzarca.

Mas em 1999 reencontrou sua amada torcida, depois de passagem pela gloriosa Lusa. O alviverde surgiu novamente imponente e conquistou sua maior gloria até hoje, a Libertadores. Com certeza absoluta, a tomada da América pelo Porco não teria a mesma doçura sem Evair em campo. Gol majestoso na final contra Desportivo Cali. Coroando de vez a carreira de Evair e, sem dúvida alguma, colocando-o de vez na história.

Ainda teve tempo de ser Campeão Paulista pelo Tricolor em 2000, mas nada que apagasse sua história no Verdão.

Exemplo de seriedade dentro de campo, soube parar quando não deu mais. Era a realeza convicta dentro da área. Inteligente demais no trato com a pelota. O gol, um objetivo a ser sempre conquistado. Elegante quando corria para bater um pênalti, majestoso em suas comemorações, eterno para torcidas, responsável pela retomada das glórias do Palmeiras.

Em seu título de nobreza não pode faltar a observação de que seu sangue não é azul, é Verde, como o gramado e como o manto que mais vestiu e defendeu.

Salve Dom Evair, o Cavaleiro Verde da grande área.

*Marcelo Guido é jornalista apaixonado pelo futebol. Pai da Lanna Guido e do Bento Guido. Maridão da Bia.

Dodô – “O Artilheiro dos Gols Bonitos” – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Futebol é cor, é luz, é espetáculo! Poucos jogadores levaram isso tão a sério como Ricardo Lucas Figueiredo Monte Raso – para muitos, o simples Dodô.

Abençoado com o dom de fazer o diferencial para alegria de privilegiados que puderam vê-lo jogar. Aliás, jogar não: encantar torcidas. Era essa sua função dentro de campo.

Cria da base do Nacional, honrou as camisas do Paraná Clube, São Paulo, Santos, Palmeiras, Vasco, Fluminense, Oita Trinita – JAP, Goiás, Portuguesa, Barra da Tijuca, Al Ain – EAU, Americana e Grêmio Osasco – mas encontrou sua eterna morada no Botafogo.

Foram duas passagens pelo Alvinegro Carioca, onde Dodô pode ser colocado como ídolo da apaixonada torcida da estrela solitária. Dodô era a esperança dos abençoados botafoguenses. Era o cara de quem podia-se esperar algo dentro de campo.

Os deuses da bola deveriam rir à toa novamente com a camisa sete de General Severiano; o peso que vestiu Mané, caiu como uma luva no corpo esguio, de velocidade superior e inteligente do atacante. Seu oficio máximo não passava incólume, Dodô era especialista em fazer gols bonitos.

A bola parecia encontrar o pé do artilheiro e morrer com suavidade dentro das metas, mas não sem antes desafiar as leis da física, do tempo e do espaço. Dodô era um verdadeiro artista que parecia assinar cada tento como uma verdadeira obra de arte.

Foram 124 vezes que Dodô honrou a camisa listrada, e nos deixou felizes 90 vezes; vieram os títulos do Estadual de 2006 e Taça Guanabara também em 2006, e a artilharia do campeonato. Títulos guardados no coração e na memória de todo botafoguense.

Dodô encarnava a alma Botafoguense em cada jogo; como um ser sobrenatural, escondia a bola e distribuía talento em jogadas que pareciam fictícias dentro das quatro linhas. Parecia abusar da sorte, mas era apenas seu jeito mágico de jogar.

Ainda teve o Campeonato Paranaense de 1996, pelo Paraná. E o Paulistão de 1998 pelo Tricolor, onde o craque também assinou seu nome na história, com 19 tentos sagrados na artilharia daquele ano. No Morumbi foram 169 jogos e 93 gols.

Digno de frases e notas, seu gol pelo Fluminense contra o Arsenal da Argentina na libertadores de 2008 foi uma verdadeira paulada de primeira de fora dá área; um gol que beira o absurdo.

Na Vila famosa, não à toa foi-lhe ofertada a Dez. Talvez seu destino fosse brilhar.

Um jogador que vestiu dois dos mantos mais sagrados da história do futebol – a Sete do Botafogo e a Dez do Santos – não pode ficar de fora das linhas tortas traçadas pela história da bola.

Foram ao todo, 751 jogos e 406 gols por vários pavilhões.

Certa vez, em devaneios etílicos levantei a possibilidade de renomear o “Prêmio Puskás” que honra o gol mais bonito do ano em todo o mundo para “Prêmio Dodô”. Entre risadas e negativas, sem desmerecer o grande Húngaro, perguntei aos presentes:

Puskás, jogou a Libertadores? Não. Jogou na altitude de La Paz? Não. Pisou no solo sagrado dos Defensores Del Chaco? Não. Vestiu a Dez do Pelé e a Sete do Garrincha? Não. Foi garfado covardemente pelo Marcelo de Lima Henrique? Não. Ganhou a descomunal Taça Guanabara? Não.

Pelos serviços prestados ao futebol espetáculo, não lhes restam admitir que tal homenagem seria mais que justa.

* Marcelo Guido é Jornalista. Pai da Lanna Guido e do Bento Guido e Maridão da Bia.

Discos que Formaram meu Caráter (Parte 43) – “Never Mind The Bollocks, Her`es The Sex Pistols” … Sex Pistols (1977) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Salve moçadinha esperta!

Ondas sonoras e nebulosas trazem de volta a nave louca do som. O alardeado viajante musical vem novamente salvar os leitores do tédio secular que, infelizmente, ainda assombra a vida de muitos.

Agora, deixem de lados suas preocupações mundanas, para celebrar mais um histórico artefato musical. Peço o mais digno respeito e salva de palmas para:

“Never Mind The Bollocks, Here’s The Sex Pistols”, o primeiro álbum de estúdio dos caras do Sex Pistols.

Corria o ano de 1977, e a merda estava agarrada na Inglaterra; a terra da Rainha andava mal das pernas: recessão fodida, desemprego em alta, inflação galopante. Uma verdadeira apatia tomava conta da população – principalmente da parte mais jovem. A ideia de seguir à risca a vida pré-moldada de seus pais doía nos nervos da garotada.

Em um espaço tomado pelo conformismo, uma centelha de revolta floresceu em Londres, para tomar de assalto e abalar todas as seculares estruturas da sociedade britânica. Estava vivo o Sex Pistols.

Capitaneados por Johnny Rotten e Sid Vicious, sobre a batuta de Malcolm McLaren, a molecada instaurou o caos nas rádios britânicas e colocou um alfinete sujo no chá das cinco daquela galera bem-nascida.

Aos poucos os caras chamaram a atenção da opinião pública. Seus shows eram um misto de cagada com energia; eram sempre motivo de problemas para os organizadores e autoridades; sempre acabavam em confusão. Nada mais Punk.

Canalizar aquilo tudo que estava ocorrendo, era questão de tempo e nesse contexto os caras entraram em estúdio para, da forma mais simples, com acordes pobres e sonoridade suja com letras que falavam o que os jovens queriam ouvir, atacaram a chutes de coturno toda a mesmice que pairava sobre a sociedade britânica.

Depois de serem rejeitados por quase todas as gravadoras do Reino Unido, finalmente assinaram com a Virgin e lançaram o single “God Save The Queen”, no qual atacavam veementemente a família real e toda a submissão imposta por ela à sociedade.

As rádios se recusavam a tocar e os caras eram atacados por onde andavam. Mas, o melhor aconteceu: a música estourou e – mesmo de forma clandestina – a molecada caiu no gosto da turma de Londres e de todo o Reino Unido.

Vamos deixar de lari-lari e esmiuçar todo esse histórico calhamaço de sons subversivos e revolucionários:

O disco começa a todo vapor com “Holidays in The Sun” uma crítica mensurável a os que tem grana para passar as férias em bons lugares. “Bodies” uma ode sobre aborto. “No Feelings”, a valorização das relações interesseiras. “Liar”, cobrança aos políticos, promessas não cumpridas. “God Save The Queen”, mesmo nome do hino nacional, uma ferrenha crítica à família real. “Problems”, problemas causados pelo conformismo, você não pode ficar só reclamando. “Seventeen”, questões sobre a idade. “Anarchy in the U.K.”, a chamada para a revolução anárquica. “Submission”, a submissão de todos perante a família real, e seus asseclas. “Pretty Vacant”, contra o sistema e contra todos, a mais bela identificação de um vagabundo. “New York”, crítica feroz à cena londrina. “E.M.I.” a aceitação cega é sempre um mau sinal.

Foda-se do disco! Forjado na amargura dos tempos difíceis, onde o grito de rebeldia – que estava preso a todo descontentamento de uma geração inteira – finalmente pode ser ouvido por todos.

Foi lançado dentro de um barco, para a polícia não encher o saco. Ficou em 38º lugar nas paradas britânicas e ganhou o mundo. Seu sucesso acabou implodindo o grupo, mas essa é outra história.

Não menos que medalha de ouro para ele na categoria disco foda. Essencial em qualquer coleção de quem se mete a entender de Rock.

Se você não conhece, nem tente sonhar com seu certificado de foda.

Never Mind The Bollocks, Here’s The Sex Pistols representou uma mudança radical em todo mundo; bandas como The Clash ou caras como o Billy Idol só surgiram depois dele. Antes de tudo, um disco que abriu muitas portas. A semente estava plantada.

Conheci este belo exemplar de som ainda nos meus 14 anos, e isso já era 1994; ajudou a moldar minha vida. Depois dele, nada de se conformar com o que estava preparado. Agora era viver pelas próprias perspectivas.

Importante historicamente, o último gênero musical que chutou tudo para o alto, destruiu e reconstruiu. E sem tirar ou colocar méritos de quem inventou o Punk. Este disco levou o movimento para as massas.

E mesmo hoje, 43 anos depois, continua inspirador, porque contra a mesmice do dia-a-dia não tem melhor remédio.

Não esquentem seus colhões, chegaram os Sex Pistols.

Marcelo Guido é Jornalista. Pai da Lanna Guido e do Bento Guido , Maridão da Bia.