Juninho Pernambucano: O Reizinho – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

A magia da bola, os campos gramados riscados a cal, as marcas fatais a idolatria merecida; o futebol fabrica e mostra os abençoados com o dom divino de tratar bem a pelota. E foi assim que Antônio Augusto Ribeiro Reis Junior veio para o mundo.

Tendo seus pés magistralmente moldados, como se fossem fabricados com o único objetivo de extasiar multidões e fazer sorrir os admiradores do bom futebol.

Honrou as camisas do Sport, Lyon, Al- Gharafa, New York Red Bulls, mas fez do Vasco da Gama seu Reino.

Cerebral, comandava como poucos a nau vascaína, com passes precisos e uma pontaria que parecia calibrada à mão. Juninho fazia a bola viajar para os fundos das redes com um capricho singular.

Três passagens por São Januário o imortalizaram na colina. A torcida – sua mais fiel corte – canta seu nome ainda hoje. Monumental como deve ser lembrado. Três estreias com gols marcantes: 1995 contra o Santos, 2011 contra o Corinthians (esse no seu primeiro toque na bola) e 2013 contra o Fluminense. Sem modéstia, vi os três.

A vontade sempre mostrada em campo, eram as suas credenciais, ao convocar seu exército para luta, batendo no peito como um verdadeiro rei, para conquistar a virada histórica em pleno Parque Antártica, ou calar um estádio Hermano inteiro em 1998, abrindo caminho para a conquista da América. Mandar com dedo em riste a torcida tricolor sair do lugar conquistado por direito pela torcida vascaína. Juninho não vestia à toa a camisa da Cruz de Malta. Ele a encarnava como segunda pele.

Por desmandos de dirigentes, saiu como campeão brasileiro e foi conquistar a França. Oito títulos nacionais em oito anos com a camisa olímpica. Tornando-se ídolo imortal também por lá.

De volta ao Brasil, para sua raiz. Ser Vasco o fez, em um mundo milionário, jogar por salário mínimo (só o amor explica certas coisas). Bicampeão Brasileiro, Campeão da Libertadores, Campeão Copa Mercosul, Campeão do Torneio Rio – São Paulo, Campeão Carioca. Quando as pernas não aguentaram mais o ritmo, Juninho preferiu sair a macular sua história.

Para ele, jogar era para vencer e não iludir quem sempre lhe quis bem.

Conquistou o Nordeste e o Pernambucano com o Sport também, levantou troféus com todas as camisas que vestiu: 33 canecos no total. Foram 202 gols em 839 jogos. Considerado o maior cobrador de faltas do futebol mundial.

Juninho era a elegância extrema dentro das quatro linhas, era a inteligência a serviço do espetáculo. E acima de tudo, o suor e a garra podiam ser sempre sentidos pela torcida.

Sem medo de ser leviano, um dos maiores jogadores que pude ver jogar. Ao se despedir do futebol, soube da saída de alguém que nasceu para vestir a camisa do Vasco.

Mais que um jogador de futebol, um ser pensante que nunca se privou de dar sua opinião. Ao se despedir da seleção, disse que espaço deveria ser dado aos novos talentos e que o ego deveria ser deixado de lado. Peitou o próprio Eurico Miranda para ser respeitado no Vasco. Saiu da rede Globo por não concordar com a maneira como a emissora via os clubes de futebol – sempre para favorecimento de alguns clubes, em detrimento de outros.

Um ponto de vista sempre coeso pelas causas humanitárias, duro e preciso contra o nazismo crescente e latente em todos os lugares, faz dele com certeza um ser humano ímpar.

Mais do que tudo, um símbolo de resistência, coisa que o futebol moderno não consegue ver em seus craques.

Juninho fez da Cruz de Malta seu coração e, como um verdadeiro Rei, honrou-a como muito poucos fizeram. Talvez ele tenha saído para ser exemplo, mas voltou por amor e seu lugar está garantido no coração de todo vascaíno.

Vida longa ao Rei e que sua memória nunca seja esquecida. Pelas bênçãos de São Januário, saiba que a colina sempre será sua morada.

DEUS COM QUATRO LETRAS (*) – Por Fernando Canto

Por Fernando Canto

A palavra “Deus” tem a particularidade de se escrever apenas com quatro letras na maioria dos idiomas conhecidos. Vejam alguns:

Em Português – Deus
Em Francês – Dieu
Em Alemão – Gott
Em Assírio – Adat
Germano – Godt
Árabe – Alah
Sânscrito – Dova
Espanhol – Dios
Grego – Toos
Japonês – Shin
Hindu – Hakk
Egípcio – Amon

(*) Texto publicado no jornal “O Arte Cultor”, Macapá-AP, Ano I, nº 003, 2001.

O homem curvo – Crônica de Fernando Canto

 

Crônica de Fernando Canto

Meus olhos infantis ainda enxergam o homem sentado na ponta do trapiche; a trouxa ao lado e a calça escura balançando ao vento. Sua silhueta lembra um soldado descansando da campanha e o jeito magro e curvo parece mostrar mais lassidão, assim como um cavalo magro e velho pastando em campo infértil.

Há três dias aquele homem está sentado no mesmo lugar como se estivesse pescando sem linha, sem caniço ou anzol na maré seca de ondas ralas. Isso é motivo de preocupação. Mas a minha preocupação infantil é jogar meu futebol na praia lamacenta da frente da cidade. Não consigo, porém, me concentrar. A bola é chutada para dentro do rio que já vem enchendo. É lateral. Vou pegá-la adiante e vejo o homem mais perto. Ele está lá. Impassível. É uma estátua viva. “Joga a bola G.”, meus amigos gritam. Eu deixo a pelada de praia, me visto, apanho os jornais que me restam para vender e resolvo ir onde o homem está.

Um sol de equinócio racha meus cabelos escorridos e o solado dos meus pés acostumados que são a andar descalços sobre a enorme ponte de madeira. Ando quase 500 metros, encontrando pessoas e vou vendendo jornais. Ainda bem que o vento espanta esse sol abrasador. Barco chega, barco parte, ancora, aporta e descarrega. E o homem lá. Seu modo esquisito de se comportar dá a impressão que compartilha um segredo com as águas ondeantes do rio, pois elas chegam e varam os pilares do ancorandouro associando uma música estranha aos meus ouvidos.

Aproximo hesitante do homem curvo e ele não dá a mínima. Nem diz, como os outros adultos “Sai daí menino, é perigoso ficar na beira do trapiche”. Ofereço-lhe o último exemplar do jornal e ele fala “Não sei ler”. Mas eu respondo “Eu leio pro senhor”. “Não precisa, ele diz, eu sei de tudo o que se passou aí atrás, por isso estou aqui olhando as águas.”

Sento ao lado dele e fico horas jogando conversa fora. Parece que agora sei tudo sobre ele e entendo porque ele está ali há tanto tempo sem dormir, sem se alimentar e sem fazer as necessidades fisiológicas. Compreendo sua sede de olhar o rio que vem e que vai, assim como se apresenta o destino no meu entendimento de menino trabalhador. No calor da empatia lhe pergunto tudo. Ele me diz que só não pode dizer o que traz na sua trouxa. Fico aflito, mas ele me conforta, passando as mãos nos meus cabelos.

A manhã passa e um dia inteiro fica no passado. Eu ainda estou ao lado do homem contemplando o rio e os pássaros que flecham com seus voos o céu do poente e da nascente. Não sei quantos dias já se passaram. Sei apenas que num certo momento, na hora em que nascem os raios de sol, ele me fita e diz: “Vou embora. Mas vou deixar minha trouxa aqui neste trapiche. Por favor não abra. Adeus”.

Como se suas pernas fossem de pau, compridas, iguais às dos palhaços do Circo Garcia, ele levanta e segue para dentro do rio até desaparecer no canal.

Lembro que chorei muito. Ao chegar em casa a febre inevitável do encantamento me fez delirar por tantos dias que quase fui internado no Hospital Geral. Mas nada como um chá de ervas e outros esforços familiares para eu ficar bom. Até benzeção e banho de cheiro me ajudaram na retirada do quebranto.

Ao olhar, hoje, o rio e as ondas se quebrarem no trapiche, na emoção de pisar no baluarte de Nossa Senhora da Conceição, sobre a Fortaleza de São José de Macapá, não vejo mais a silhueta do homem curvo. Mas tenho a ligeira impressão que ele ainda está lá. Não sumiu no canal. Todavia, creio que se ele não estiver, está a sua trouxa de sarrapilha encostada num pau de amarração dos barcos. E nela, intuo, reside algo bom, tão bom quanto a esperança que precisa ser guardada numa trouxa qualquer, sob pena de homens e crianças perderem o encantamento que mora no barro e emerge sempre do fundo do rio.

*Publicado no livro “Trapiche – Ancoradouro de Sonhos”. Edição comemorativa à reconstrução do Trapiche Eliezer Levy. Org. Márcia Corrêa. Desenho de Manoel Bispo e foto do pescado feita Alexandre Brito. Foto do antigo porto, em frente da capital amapaense (1966) cedida pelo jornalista e estudioso da história do Amapá, Edgar Rodrigues.

Minhas dezenas de fitas K7 e a nostalgia (crônica republicada)

Ano passado, ao procurar meus livros dentro do armário do quarto, dei de cara com minhas duas caixas de sapatos repletas de fitas cassete. Constituída por dois carretéis de fitas magnéticas, a fita cassete é popularmente abreviada como K7. Esse tipo de “tecnologia” foi desenvolvida pela empresa Phillips, em 1963, para substituir a fita de rolo e o formato 8-track, que eram semelhantes, mas muito menos práticos e mais espaçosos.

A tecnologia desse artefato traz uma fita de áudio de 3,15 milímetros de largura, que rodava a uma velocidade de 4,76 centímetros por segundo. Antigamente a gente ouvia tudo na fita K7, no vinil e, muito depois, CD. Hoje, apesar de alguns ainda usarem o “Compact Disc”, quase tudo é no MP3 e MP4.

Minhas caixas, com quase 40 fitas, têm de tudo: Sony, Maxell, Bulk, Basf, Phillips e TDK, de 40, 60 e 90 minutos. A maioria não pmicrosystemossui mais capa, mas as que ainda têm estão com os nomes das músicas ordenadamente anotadas no papel interior da fita.

Naquela época, nós caçávamos sons novos como as bruxas eram perseguidas durante a Inquisição, ou seja, incansavelmente. Época de micro system Sanyo (Alguém aí se lembra do que é “rewind”?), walkman Sony e festas de garagem.

Dentro das caixas os velhos companheiros: Depeche Mode, The Smiths, New Order,The Cure, Iron, U2, A-ha, David Bowie, Queen, Pearl Jam e Nirvana (muito Nirvana) Titãs, Ira!,Paralamas, Legião Urbana (muito Legião), Barão Vermelho, Engenheiros… todos esses e outros heróis da juventude. Além de umas do velho Chico Buarque.Fita Cassete - Foto

Fizeram sucesso no final de 80, todos os 90 e início dos anos dois mil. Não tenho vergonha de ser tão antiquado. Meu brother André fala sempre, em tom pejorativo, que todo mundo já gravava CDs em 1999 e eu fitas. Bons tempos!

Aliás, gravar fitas era porreta. Quando curtia muito um som, todo um continha somente uma música (podia ser 30 ou 45 minMinhasFitasutos de cada lado, com a mesma canção). Às vezes, ficava com o dedo no tape deck, esperando o locutor da FM calar a boca e soltar o som para que eu o tomasse. Oh, saudades!

Enrolar e desenrolar fitas com lápis ou caneta, sem falar em limpar cabeçotes do tape deck, isso sim é nostalgia.

A fita cassete não voltou como o vinil, que hoje é objeto cult. No máximo, estão em forma de adesivos de smarthfones (que acho legal pra cacete).

imagesÉ, minhas velhas e empoeiradas caixas de sapato não estão somente repletas de fitas cassete, mas de ótimas lembranças. Eu as olhei por dezenas de minutos e as guardei novamente no armário, na memória e no coração…

Elton Tavares

*Informações sobre a construção das fitas encontradas no site Wikipédia

Nossa doce Bárbara em mais uma novela da Rede Globo (atriz paraense que cresceu no Amapá sempre brilha em “Éramos Seis”)

Bárbara, a última (mas para nós, a primeira sempre) da esquerda para direita, com colegas de elenco.

A minha querida amiga Bárbara Castro (também conhecida como Bárbara Vento ou Bárbara Altamira) brilha mais uma vez na televisão brasileira.

Atualmente, ela vive a personagem Dita na novela Éramos Seis, funcionária de Assad (Werger Schünemann). Em seu núcleo estão grandes atrizes como, Mayana Neiva e Rayssa Bratillieri. Bárbara compõe o time de talentos na segunda fase da novela e estará em cena até o final da obra.

Bárbara Vento é uma atriz paraense nascida em Altamira (PA) e criada em Macapá. Ela também é diretora e musicista. Formada em Artes Cênicas pela Escola Estadual de Teatro Martins Pena (RJ) e em Direção Cinematográfica pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro (RJ).

Bárbara destacou-se, na segunda metade dos anos 90, no Teatro amapaense, com o diretor Guiga Melo (figuraça, outro amigo querido). Sempre me disse que seria uma grande atriz. Lançou-se à sorte quando viajou para o Rio de Janeiro, em meados de 2002.

Na TV Globo, participou no elenco das minisséries Hoje é Dia de Maria, de Luiz Fernando Carvalho (2005), Amazônia, de Galvez a Chico Mendes (2007), de Marco Schechtmen e Filhos da Pátria (2016), de Maurício Farias.

Longa trajetória no Teatro

No teatro, trabalha com o grupo Tá na Rua, atuou nos espetáculos Mambembe Canta Mambembe, no Teatro Villa-Lobos em 2004, e O Castiçal, de Giordanno Bruno, Teatro Carlos Gomes (RJ), em 2003. Participou do Encontro Brasil-New York – Queens College. Projeto Morrinho. (2013), intercâmbio com o Grupo Os Quentes da Madrugada, da Irmandade de São Benedito (PA/RJ) Espetáculo Pororoca no SESI Jacarepaguá Xtudo (RJ) Lançamento do CD autoral “Altamirando” (RJ). Núcleo de dança do Show de Dona Onete no Black to Black e Circo Voador 2017 (RJ).

Estreou o espetáculo TupinamBárbara em homenagem às mulheres da Amazônia. No Festival, artístico e literário entre o Brasil e a Europa, Palavras e Maravilhas (2017). Dirigiu e atuou na apresentação do Projeto Carimbaby na Flip (2019) Paraty -RJ.

Trabalho no Cinema

No Cinema dirigiu e atuou nos curtas metragens Desculpem as obras, estamos em transtorno (2012), Filme Tucuju (2011), Pistoleira da Liberdade (2011), entre outros. Atuou em Cleópatra (2007), longa-metragem de Júlio Bressane; Ou ficar a Pátria Livre (2011), documentário de Silvio Tendler; Operação Morengueira (2005), curta metragem de Godô Quincas e Chico Serra; Simãozinho Sonhador (2009/2010), de Manoel do Vale Doc- TV – Macapá-AP. Amazônia Caruana (2011 – em produção), longa de Tizuka Yamazaki; fez a direção e argumento do documentário de curta-metragem Exu Rei (2017), lançado no Encontro Zózimo Bulbul de Cinema Negro – Brasil, África e Caribe no Cine Odeon (RJ) / Mostra do filme livre – RJ- SP – DF / CineTvbrasil (2018). Mostra Internacional de Cinema Negro Sesc Vila Mariana – São Paulo (2019).

Bárbara sempre foi uma menina doce, sorridente, sonhadora e muito talentosa. Aliás, o talento é de família. Seus irmãos são músicos, com pais incentivadores da cultura.

Eu sempre soube que ela iria longe, inclusive escrevi algumas vezes neste site a cada conquista da querida atriz. Dessa vez, aproveitei as informações dela para essa publicação. Continue pisando forte e botando pra quebrar, Vento do Norte, nossa doce Bárbara.

A vida é feita de ciclos e hoje começa mais um na minha vida profissional

Com a jornalista Tanha Silva, nova gerente de comunicação do MP-A

Onde trabalhei e trabalho, cheguei a convite. Foi assim nas duas gestões no Governo do Amapá (GEA), Prefeitura de Macapá (PMM) e duas administrações do Tribunal Regional do Amapá (TRE/AP), na assessoria de comunicação do senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) e desde 2017, no Ministério Público do Amapá. Ao todo, são quase 14 anos de jornalismo e 10 de assessoramento de imprensa.

Hoje (13), começa uma nova etapa na minha trajetória profissional, pois deixei a gerência de comunicação do MP-AP, cargo agora assumido pela renomada jornalista Tanha Silva. Como a vida é feita de ciclos, é necessário compreender que eles são diferentes, podem nos agregar experiências novas e também transformadoras. Aliás, sobre existência, existem muitas pessoas que vivem várias vidas. Me enquadro neste grupo. Sinto muito pelos que não vivem nenhuma, somente existem.

Equipe da Assessoria de Comunicação do MP, na confra 2019

Estou feliz, pois seguirei na equipe da Assessoria do MP-AP como assessor de comunicação. Nessa nova etapa da carreira, serei como sempre fui, verdadeiro. Trabalharei com o afinco e a seriedade de sempre. Sim, darei tudo de mim.

Durante estes dois anos e meio à frente da Ascom MP-AP, tive a ajuda de muitos queridos da imprensa e de outras assessorias, apoio este que recebi por onde passei e sou grato.

Agradeço também aos colegas de trampo (da equipe e que já deixaram a Ascom): Gilvana Santos, Mariléia Maciel, Ana Girlene, Camila Karina, Julyane Costa, Luanderson Guimarães, Sávio Leite, Rafaela Bittencourt, Yasmin Salomão, Anitta Flexa, Ana Beatriz Santana, Vanessa Albino e Nelson Carlos. Estes jornalistas e designers tramparam muito comigo neste período.

Sou grato, ainda, ao apoio da Alcilene Cavalcante, Bernadeth Farias, Marcelle Nunes, Patrícia Andrade, Jaci Rocha, Mary Rocha, Márcia do Carmo, Sal Lima (essas sete últimas pessoas pela ajuda fora do local de trampo, mas para com o trabalho) e a confiança da procuradora-Geral do MP-AP, Ivana Cei. Além da minha família, claro. Maria Lúcia (mãe) e Emerson Tavares, vocês são os melhores amigos da vida toda.

Maria Lúcia (mãe) e Emerson Tavares (irmão). Apoio sempre!

Se errei algumas vezes, peço desculpas, mas foi com o objetivo de acertar, sempre com boa vontade, respeito, honestidade, franqueza, seriedade, ética e sinceridade. Desejo sucesso para a Tanha Silva. Ela pode contar comigo e com essa equipe maravilhosa. Vamos juntos! É isso!

Elton Tavares

MERCADO CENTRAL – Por Ruben Bemerguy

Foto: Blog Porta Retrato

Por Ruben Bemerguy

É curioso quando você encontra a história em você.

A história que não vem dos livros de história.

História que você conta pra você porque você sabe a História de memória.

História entreolhos, franca. História cúmplice. História-saudade-vida-viva.

Foto: Blog Porta Retrato

Quando em 1953 desaferrolharam as portas do Mercado eu ainda não havia nascido, mas o papai e a mamãe já navegavam naquela tenda cintilante de carne e osso.

Então, íntimos do Mercado, papai e a mamãe me confiaram um segredo que, segundo eles, só poderia ser por mim revelado se o Mercado, as genitálias do Mercado, a epiderme do Mercado, o ar que o Mercado respira, fossem cuidados pela cidade Macapá.

Se o açaí e a bacaba fossem do Mercado sonegados; se sua horta se fizesse infecta; se seus talhos lhe fossem extraídos; se suas roupas não fossem passadas em brasa-carvão; se suas joias não fossem em lustre eternizadas, esse segredo se obrigaria a dormir comigo em abrigo eterno.

Foto: Floriano Lima

Imaginei dias a fio, anos a fio, que esse segredo dormiria comigo em abrigo eterno.

Meu pai e minha mãe, afinal, foram minhas primeiras constatações de autoridade e até hoje o são. Nunca poderia ou posso faltar-lhes com o dever de lealdade absoluta. Segredo é a jura que fiz.

Quantas vezes, para disfarçar nosso segredo, não fui mandado ao Mercado Central fazer mandados? Não tenho a conta. Conta, papai e mamãe tinham nos talhos do Mercado Central.

Foto: Floriano Lima

Dos mandados que cumpri e que não tenho conta, ainda lembro, como se no caminho do Mercado Central estivesse, indo buscar mandioca, vísceras, carne, peixe, chicória, cebola, cebolinha, jerimum e “de um tudo”, enrolado em sacos de cimento vendidos do avesso.

Agora, já resolvido em 58 anos de idade e que volto ao Mercado Central o descubro em luz, amado, majestoso e como houvesse guardado, também em segredo, por tantos anos, a mandioca, as vísceras, a carne, o peixe, a chicória, a cebola, a cebolinha, o jerimum e “de um tudo”, para que outra vez eu as trouxesse enrolados em sacos de cimento vendidos do avesso para casa do papai e da mamãe.

Se o descubro assim sublime e bem cuidado em Caxixi, Ganzá, Agogô de Castanha, Matraca, Maracá e Tambor, posso, então, revelar o segredo que guardei em silenciosa clave musical por tanto tempo.

O segredo se referia ao vizinho de frente do Mercado Central, a Fortaleza de São José de Macapá. Na verdade ao contraste entre o Mercado Central e a Fortaleza de São José de Macapá.

Foto: Ascom PMM

A Fortaleza é uma edificação militar, construída pelo império europeu para proteger império europeu e a Colônia do império europeu.

A Fortaleza, me contou o segredo, tem as pedras suadas do Rio Pedreira – Forte em dor – os indígenas capturados – Forte em dor – os escravos negros comprados – Forte em dor – todas as peças de artilharia – Forte em dor – e ganhou forma em 18 anos – Forte, muito Forte em dor.

A Fortaleza foi, para meu segredo, um Forte guarda dor.

O Mercado Central, ao contrário, me contou o segredo, banhou-se de Amazonas desde o berço. Rezou terço. Deitou o perfume de bruços e aos soluços, em compasso e traço, se fez homem e se fez mulher. Se fez menino e se fez menina. O Mercado Central se faz Macapá.

Foto: Gabriel Flores

O Mercado Central, também me contou o segredo, nos fez voar o voo mais límpido e solene voo-urubu e, então, plainamos todos em Tamuatás, Tucunarés, Pirarucus ao leite da mandioca, erva jambu.

O Mercado Central, definiu o segredo, não foi içado Forte ou em dor e, por isso, nos construiu em igualdade e livres no mais absoluto Sabor-Sereno-Macapá.

Foto: Gabriel Flores

A existência própria do Mercado Central foi a de devolver ao Rio Pedreira as pedras suadas do Rio Pedreira. Aos indígenas capturados, seus cantos. Aos escravos negros comprados o encanto dos passos livres.

O Mercado Central se fez em nós.

E sem nenhum combate.

Desconfortáveis encontros casuais – *Texto republicado, pois sempre rola algo assim. 

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Encontro um velho conhecido.

Ele: “cara, você tá muito gordo!”. Eu, (em pensamento, digo eu sei caralho, vai tomar no cu!): Ah, cara, sabe comé, sem exercícios físicos, sem tempo pra muita coisa, muita cerveja e porcarias gordurosas (que amo).

Sem nenhum assunto, fico em silêncio.

Ele: virei médico e você?

Eu: sou jornalista.

Ele: ah, legal (com um ar de desdém que vi ao encontrar outros velhos conhecidos advogados, administradores, contadores, ou alguma outra profissão mais rentável).

Aí um de nós subitamente diz que está atrasado e marca uma gelada qualquer dia com nossas respectivas esposas ou namoradas e vamos embora. Com certeza, passaremos mais 10 anos sem nos falarmos, graças a Deus.

Elton Tavares

*Texto republicado, pois sempre rola algo assim. 

CORNUCÓPIA DE DESEJOS – Conto muito porreta de Fernando Canto

Conto de Fernando Canto

Por querer expressar meu pensamento sobre as coisas em meu idioma, às vezes arrebato o próprio coração em sofridas angustiosidades e dissentimentos infaláveis. Por isso monologo no granito e lavo em água este contraste, esta antagonia de imprescindível falação que ponho em tua trompa de eustáquio para te martelar suavemente a dentro.

É o caso do amor ensolarado que sinto agora, neste mirífico momento. Um assunto ressoante, uma prosa-cornucópia (onde a abundância reina) a refratar-se sem a culpa do inexpressável parlar.

Não vejo como não ensopar-me de enluação neste conto de candura quase irrevelável, posto que o meu amor possa entender-me ou espumar-se para sempre para o inevitável espanto que a declaração enseja. Paresque um salto com vara numa olimpíada de abismos.

Assim eu declaro: a cobra norato, o boitatá e as luzes do fogo-fátuo se expiram na noite cadente. Oh, teus olhos não! Teus olhos ternuram a medida do dia, solfejam histórias e cantam paisagens inescrutáveis para os sonostortos dos mortais. Eu sou o arauto deste cenário-testamento a castigar retumbantemente o couro dos tambores; eu anuncio a sublime compreensão do “amooor” que ecoa em gargalhadas sobre as ondas do Amazonas, aqui na Beira-rio, sob um céu azul intensificado de lilás quando anoitece. Eu declaro ainda: a pedra em sua bruta forma tem dentro de si os elementos primordiais que suprem tua sede de amar. Ora, Balance a pedra e sinta o gutigúti da sua oferenda. Lapide-a, pois ela provém da terra, e então perceberá o calor do fogo da paixão libertadora e o ar morno que movimentará o sangue pelas entranhas.

Num átimo, um áugure qualquer (que são muitos e banais) lerá tua sorte: dirá augúrios, claro. Um áuspice (que estão cada vez mais raros) dirá tua sina no raro voo dos louva-deuses. E te auspiciará de boas-novas e de valores inequívocos.

Ora, dizendo isso afirmo que sou aquele que nem sabe discursar suas dores, inda que saiba do futuro, pois habito o limiar do tempo. Eu sou a timidez em prosa e verso, aluno de poesia, mas prenhe de pecados, porque ingiro virtudes nos bares da noite e não sei segredar projetos inexequíveis. Não sei, juro pueril e ludicamente (mas com toda a sinceridade de uma parlenda) pela fé da mucura, torno a jurar pela fé do guará, torno a repetir pela fé do jabuti, que não sei mentir ao sabor do vento dos ventiladores que me sopram fumaça de charutos cubanos.

Descobri que sei de ti mais do sabes da pedra em teu caminho. Sou teu (adi)vinho incontestável, ad-mirador de tua trajetória. Por isso do alto da minha velada arrogância sei que tu também me amas.

Mas é de ti que quero o conteúdo dessa bilha onde Ianejar – aquele heroi dos índios waiãpi – e seus pareceiros se abrigaram do fogo ardente e do dilúvio. É por ti que generalizo a farsa da criação sem pesadelos cosmogônicos. Eu me agonizo em mistérios. Eu eternizo o meu olhar nessa paixão. E me enleio como as borboletas que viajam ao paraíso pelo buraco sem-fundo do fim da terra.

Por isso eu sei que te amo.

Por isso vago ainda em fluidos imemoriais sempre presentes, antes do esquecimento das vitórias que juntos comemoramos.

Por isso a ternura há de ser o mais farto elemento da imensa cornucópia de desejos que realizamos juntos.

Hoje é o Dia Mundial da Paz

Hoje é Dia Mundial da Paz e como temos uma sessão chamada “datas curiosas”, é claro que não deixamos passar batido. A data foi instituída oficialmente pelo papa Paulo VI em 1967, que escreveu uma mensagem propondo a criação da data, a ser festejado no dia 1 de janeiro de cada ano por apontar o caminho da vida humana para o futuro, com o mesmo fim em mãos: a paz(1.relação entre pessoas que não estão em conflito; acordo, concórdia; 2. relação tranquila entre cidadãos; ausência de problemas, de violência).

A paz é um sentimento de harmonia com outras pessoas e a relação entre os seres humanos e o tempo sempre foi de admiração e agradecimento. Há mais de 2000 mil anos, os povos babilônicos comemoravam o início do ano apenas em março, devido à chegada da primavera no hemisfério norte.

Era nessa época que eles voltavam a praticar a agricultura e esse momento ficou conhecido como o reinício da vida. Os romanos definiram posteriormente o dia 1º de janeiro como a data símbolo dessa renovação de vida, o Ano Novo. Em 1582, ela foi inserida no calendário gregoriano, promulgado pelo Papa Gregório XIII.

Ente ano, o tema é: “A paz como caminho de esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica”.

Papa Francisco na Audiência Geral. Foto: Daniel Ibáñez / ACI Prensa

Na mensagem, o Papa Francisco disse: “a fratura entre os membros de uma sociedade, o aumento das desigualdades sociais e a recusa de empregar os meios para um desenvolvimento humano integral colocam em perigo a prossecução do bem comum. Inversamente, o trabalho paciente, baseado na força da palavra e da verdade, pode despertar nas pessoas a capacidade de compaixão e solidariedade criativa”.

O texto completo traz como referências principais dois eventos que marcaram o Vaticano este ano: o Sínodo dos Bispos para a Amazônia, realizado em outubro, e a viagem do Santo Padre ao Japão, no fim de novembro.

A esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis”, escreve o Pontífice. Entre esses obstáculos, o Papa cita as guerras e os conflitos que continuam ocorrendo, que marcam a humanidade na alma. Toda guerra, reforça, é um fratricídio.

Hoje, o pontífice celebrou missa no Vaticano para celebrar a data. Assistam aqui:

Entro neste novo ano totalmente desarmado de sentimentos ruins. Espero que assim eu permaneça. Portanto, queridos leitores, que em 2020 tenhamos muita paz em nossos trabalhos, família e demais relações. Que a Força esteja conosco!

Elton Tavares

Fontes: CNBB, Calendarr Brasil e Acidigital.

Viagem para mudar – Crônica paid’égua de Fernando Canto sobre o ano novo

Crônica de Fernando Canto

Na cachaça do ano novo é muito comum fazermos resoluções e promessas de mudança no comportamento, no trabalho e nas relações sociais. Planejamos novas ações e juramos mudar, custe o que custar. E temos poder para isso. Se quisermos mudar para melhor porque não tentar? O problema é sair da nossa zona de conforto e experimentar algo que pode ser ruim ou bom. No entanto resistimos às mudanças.

Um famoso psiquiatra austríaco, Viktor Franki, disse que a coisa mais importante que a psicologia pode e deve fazer é nos impressionar com nossos próprios poderes, principalmente nosso poder de mudar e crescer. Porém não é sempre que nos esforçamos se estamos no nosso conforto e nem sempre desejamos mergulhar em águas desconhecidas, correr esses riscos…

Assistindo ao mundo em movimento é que podemos perceber que estamos indo junto com ele, em uma viagem sem volta, num trem galáctico, rumo às estrelas do infinito. Daí é possível entender que consciente ou inconscientemente somos empurrados a estados e condições diversos, pois os processos de mudança são inexoráveis e inerentes à dinâmica da vida. E assim também as organizações sociais.

Desta forma, ao pensarmos as mudanças que querermos por necessidade, certamente tomamos consciência dos eventos a nossa volta e seus efeitos em relação às nossas escolhas. E é então que alimentamos nossas expectativas sobre a nossa atuação no passado recente. Nessa expectativa é melhor fazer um sobrevoo sobre nós mesmos e olhar os sinais e sintomas de mudança que precisamos, para que possamos mudar.

Lá fora nossas esperanças ainda não morreram. Há sinais de troca e de mudanças estruturais. Novos sonhos são acalentados diariamente pelas pessoas e muitas delas que exercem ou que exercerão cargos de decisão indubitavelmente terão de fazer surgir, pelo trabalho, mudanças em todos os níveis, que serão acompanhadas pelas pessoas que os escolheram numa dialética constante, praticada cotidianamente, principalmente pela imprensa

Transformar, modificar, revolucionar não é apenas mais uma necessidade dos seres humanos. As organizações aprendem muito rapidamente que suas fronteiras mudam a cada minuto, e por isso se voltam para o enfrentamento de novos desafios e buscam nos seus servidores graus maiores de eficiência que podem evoluir e acompanhar suas novas necessidades com pragmatismo e equilíbrio. No entanto nem sempre os debates, cursos, palestras e ensinamentos sensibilizam os atores sociais, notadamente no serviço público, onde se percebe claramente que a empolgação das pessoas é efêmera, e que elas oferecem mais suas próprias críticas e medos que suas habilidades, conhecimentos e capacidades analíticas. Quase em nada contribuem para a totalidade e missão das instituições pelo conformismo e conforto que estão aninhadas com suas limitações em se adaptarem às novas tecnologias, na tensão infindável da luta diária.

Nem tudo, porém, está perdido. Apesar de sempre haver resistência ao novo, a História está aí para dar seu testemunho de sucesso àqueles que ousaram acreditar em si mesmos e conseguiram mudar o mundo. Para transformar, e para transformar-se é necessário ter suporte emocional e equilíbrio, algo que estabeleça a harmonia e desperte o potencial interior que todos os seres humanos possuem para mudar.

Nesse sentido podemos aprender que falar em mudança não requer se basear em livros de auto-ajuda, nem sequer na espiritualidade. Na viagem do trem rumo às estrelas começamos a nos conscientizar dos impactos que causamos quando decidimos fazer mudanças e o que elas provocam nas dimensões físicas de um órgão ou nos conteúdos culturais das pessoas e nas suas emoções.

(*) Publicado no Jornal do Dia em dezembro de 2008.

Cai dentro, 2020. Feliz ano novo! (meus votos para todos nós, pois o futuro está ali, dobrando a esquina)

2020 está ali, dobrando a esquina. Que todos nós, eu, você e demais pessoas que estão lendo este texto, assim como nossos amores, sigamos saudáveis e sejamos felizes no ano que chegará logo. A vida boa e lôca. Só é feliz quem arrisca. Vamo com toda a força no novo ciclo.

Mesmo com todos os desafios, injustiças de toda ordem, homens e mulheres que xingam em nome de Deus e são obscuros adoradores de armas, sobrevivemos ao difícil 2019.

Sou grato aos meus companheiros de jornada, tanto os familiares, amigos e colegas de trabalho, quanto aos que me ajudaram e não estão inclusos em nenhum destes grupos citados. Fomos felizes em 2019, apesar de TUDO. A vida que construí e os momentos que compartilhei com pessoas que amo são tudo para mim. Agradeço de coração aos meus e, como diz o jornalista Luiz Melo: “obrigado por gostar de mim, apesar de mim”.

Que tenhamos luz e sabedoria para encarar as adversidades e os desalmados que certamente aparecerão no novo ciclo. E que nos esforcemos para sermos pessoas melhores que em 2020. Esse “vinte, vinte”, como disse uma amiga, será desafiador.

Que em 2020 tenhamos muito boa vontade, forças positivas, disposição e autoconfiança para corrermos atrás de tudo o que desejamos alcançar. Tenho certeza de que muita alegria nos espera no ano vindouro. Pelo menos a esperança nisso não é pouca.

Viverei 2020 como se fosse o último ano de minha vida, podem apostar (sempre faço isso). O ano novo promete. Que ele se cumpra então, que seja mágico/fabuloso e sem muitas aporrinhações. E quando fraquejarmos, que ainda haja amor e força para recomeçar.

Tomara que eu e você sigamos lutando por uma vida digna, menos ordinária, no combate a dias e noites tediosas, e cheia de amor. Ou paixões. Afinal, tudo depende de você. E se possível, sem “muitas fingidades”, como dizia Guimarães Rosa. E isso sempre contou pra caralho. E continuará contando sempre!

A todos os que fazem parte da minha vida e aos leitores do De Rocha, desejo um ano novo transbordante de amor e paz. Na hora em que os fogos explodirem no céu e o Ano Novo chegar, desejo que vocês estejam felizes, com boa comida, boa bebida e pessoas que amam.

O escritor Rubem Alves, no livro de crônicas intitulado “Pimentas”, disse: “a gente fala as palavras sem pensar em seu sentido. ‘Benção vem de bendição’. Que vem de ‘dizer o bem ou bem dizer’. De bem dizer nasce ‘Benzer’. Quem bem diz é feiticeiro ou mágico. Vive no mundo do encantamento, onde as palavras são poderosas. Lá, basta dizer a palavra para que ela aconteça”. Então, que Deus continue nos abençoando!

Boas energias, muita saúde e prosperidade. “Difícil de ver. Sempre em movimento está o futuro”, disse uma vez o mestre Yoda. 2020, vem com tudo, cai dentro! Feliz ano novo!

Elton Tavares

Lá se vai mais um ano -`Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Hoje, 31/12 de 2019, fecharemos mais um ciclo, mais uma década, mais um marco imaginário no qual sempre nos colocamos, teremos mais tempo.

2020 está na nossa porta, a turma da Austrália, que nossos colegas “terraplanistas” insistem em dizer que não existe, vão comemorar primeiro, como sempre. Esses caras, se existirem (risos) devem ser uns privilegiados.

Vem aí mais umas quatro estações de novo, mesmo que sejam apenas singularidades terrenas, ou apenas muito sol e muita chuva, como se tem sempre por aqui.

Vem aí mais oportunidade para se reconstruir, para sermos melhores, para mudarmos. E se não deu neste ano, que tenhamos força para conquistar o objetivo no ano que vai entrar.

Que tenhamos tempo para usufruir, para abraçar quem sempre nos quer bem, para andar na chuva e sorrir como crianças, que os interesses mundanos e hostis não nos façam perder frações preciosas de existência.

Que sejamos mais corteses, mas menos submissos. Que nossas ambições não ultrapassem nossa moralidade e quem se aproximar só nos traga positividade. Procuremos o sucesso, mas nunca em troca da infelicidade alheia.

O livro da vida que cada um escreve vai ganhar novos capítulos. Tristezas e decepções por decreto devem ficar em 2019. Não levemos nada de ruim para os próximos 12 meses. E que nossas conjecturas humanas só nos levem para o lado do bem.

Serão mais 365 batalhas que serão vencidas com coração, que o ano novo traga força para matar quantos leões aparecerem e que nada, mais nada mesmo, nos tire a capacidade de tentarmos ser felizes.

Se 2019 não foi bom, comemore, já tá acabando, se foi , comemore mais ainda.

Eu do fundo do coração desejo um ano não menos que espetacular para todos, que se tivermos que chorar que seja de alegria, e que nossos desafios se tornem conquistas. Nunca esqueçamos que somos responsáveis pela nossa própria história.

E parafraseando “Mar de Gente”, “ brinde casa, brinde a vida, brinde amores, brinde a família”.

Feliz Ano Novo.

*Marcelo Guido – Jornalista, Pai da Lanna e do Bento e Maridão da Bia.

Nostalgia e Luz – Crônica de Natal de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Hoje de manhã me vi subitamente abatido por um ataque de nostalgia.

No meu caminho para o trabalho observei um homem ateando fogo no lixo. Tinha uma vassoura nas mãos e cuidava com atenção para que as chamas não se espalhassem sobre a calçada. Aquele ato, pensei, era um resquício da herança cultural indígena tão presente em nossa vida cotidiana.

De repente me veio a lembrança do tempo que Macapá caminhava lenta, em sua vivência pacata sob o sol do equador, quando vizinhos se respeitavam e eram amigos; quando cada um sabia das necessidades do outro e ninguém hesitava em pedir uma xícara de óleo, um pouquinho de farinha, um teco de colorau, de pó de café ou de pimenta-do-reino, ou quando trocavam gentilmente deliciosos pratos de comida, feita com abundância para a família.

Lembro que às vezes, pela manhã, minha mãe varria as folhas do cutiteiro que sombreava a frente de nossa casa e fazia a sua fogueira no lixo amontoado. Ele também era o alvo dos moleques da baixada que quebravam nossas telhas com as tentativas de apanharem os frutos jogando pedras e paus na árvore. A pequena fogueira fazia pouca fumaça, mas ia se juntando com a fumaça da vizinha e da outra vizinha e da outra vizinha. E ninguém se incomodava porque a fumaça era fugaz, se dispersava com o vento vindo das marés do Amazonas, lá adiante.

À noite trafegava em sua beleza estelar na escuridão. Crianças brincavam de roda à boca da noite e adolescentes gastavam suas energias na brincadeira de “pira” ou de “bandeirinha”, sob a luz da lua ou das lâmpadas pálidas dos postes da CEA. E, quando a luz se apagava, íamos até mesmo ouvir dos mais velhos as histórias de assombração, pregar peças de visagens aos poucos passantes da noite ou observar os satélites que cruzavam os céus do equador entre as estrelas.

Naquele tempo meu pai deixava aberta a porta de casa para que eu e meus irmãos não incomodássemos seu sono, certo de que ninguém ousaria abri-la para roubar. Era um tempo em que bastava a presença de um cãozinho para o possível gatuno se escafeder. E até as criações de galinhas e patos não eram protegidas da ousadia das “mucuras velhas” de plantão, que roubavam os animais para fazer tira-gosto de suas bebedeiras noturnas. Ah! E como eles sabiam fazer isso. Há casos em que roubavam a própria casa.

Os quintais não tinham cerca, tinham caminhos de atalhos, tinham campinhos, leiras de verduras e árvores frutíferas. As ruas eram tão nossas que ao fim da tarde viravam campos de futebol, em jogos que só terminavam ao anoitecer. Cada um respeitava seu cada qual: o dono da bola podia ser ruim no jogo, mas era o dono, e pronto. Ninguém furtava a merenda do colega nem caderno nem brinquedo.

Ainda que eu não queira culpá-la, mas depois que a televisão chegou nada mais foi igual. A molecada ia assistir a programação na casa do seu João de Deus onde havia o único aparelho de TV no bairro. Seu João colocava um vidro azul no vídeo para que as cenas das novelas “Meu Pedacinho de Chão” e “Vejo a Lua no Céu” parecessem mais coloridas. Doce ilusão! E dava o exemplo de patriotismo acompanhando em pé com a mão no peito o Hino Nacional, no fechamento da programação, por volta de meia-noite. O sagrado jantar familiar ficou mais apressado porque a novela ia começar e todos iam para a sala assistir aos folhetins de Janete Clair.

Mas ainda que brote da minha memória, eu não vejo com saudade essas lembranças. A saudade é mais profunda, é mais poética e mais densa que a nostalgia, que é uma palavra originária do grego e significa “regressar”, “voltar para casa”. E nesse regresso emocional, observo que as pessoas quase já não varrem as folhas que caem das árvores na frente de suas casas, nem fazem mais fogueira com medo de denúncias de vizinhos aos órgãos ambientais e por acharem que é um trabalho exclusivo dos garis da Prefeitura. E assim, as fumaças que eram como bandeiras ou cantos de galos se espalhando, já não enfeitam mais as manhãs ensolaradas da minha cidade. A solidariedade dos vizinhos foi substituída pela individualidade de cada morador aprisionado em suas portas e muros gradeados, pelo medo tácito da violência urbana.

As pedras jogadas nas mangueiras e cutiteiros se transformaram em duras palavras atiradas até em quem não tem telhado de vidro. A energia vital dos adolescentes é gasta nas baladas, quando longe dos pais, muitos enveredam pelos caminhos das drogas. As antigas histórias de assombração agora são contadas pelo Rádio e pela TV nos noticiários da violência no trânsito, brigas de gangues e mortes cruéis por motivos fúteis. O olhar real da juventude que acompanhava o curso dos satélites no céu escuro da noite tornou-se um virtual olhar, onde o romantismo de outrora foi trocado pela racionalidade dos programas dos computadores e celulares on line na Internet e pela comunicação ingênua das redes sociais.

Ah, os ladrões… Desde que mundo é mundo temos ladrões, prostitutas e assassinos e os seus trabalhos diferenciados sob a Lei, porque não há sociedade sem crime, ainda que teimemos em construir nossa utopia. Os ladrões de um passado (nem tão longe assim) eram de patos e galinhas, que ao menos não sujavam o nome de nossa terra e nem nos envergonhavam nacionalmente com negociatas políticas e atos de corrupção explícita.

Nem se comparam com muitos da atualidade que usam a pele de cordeiro para, como lobos ferozes, roubar o dinheiro público, enriquecer às custas do povo e trair cinicamente os que neles confiaram pelo voto. Naquele tempo as cercas inexistentes nos quintais davam a todos a liberdade de fazer seus próprios caminhos, de realizar seus atalhos e se apressar para a vida que viçava lá fora, principalmente pelo caminho da educação, pulsante nas escolas públicas, onde os professores eram mais que isso: eram educadores e amigos. Ensinavam também, como no ato do seu João de Deus em frente à TV ouvindo o hino nacional, a respeitar os valores da Pátria, apesar da era de obscurantismo da ditadura militar.

Hoje olhamos para os costumes sociais e familiares em mudança e nos molhamos de nostalgia. Tudo mudou com os avanços tecnológicos, que tanto facilitam a nossa vida. E tudo começou com a televisão, essa invenção incrível, pois quando a luz apagava na hora de um programa ninguém mais conversava. A família ia para o pátio da casa olhar a rua espelhada de chuva, e uns se perguntavam aos outros: será que foi geral? Será que ela vai voltar? Já pensou? Ficar sem TV o resto da noite… Afirmo, pois, com certa tristeza que foi aí que começou a morte do diálogo familiar.

E as ruas? Ora as ruas. Ruas de tempos abençoados que não testemunharam atropelamentos fatídicos, apenas quedas de bicicleta ou boladas na cara de algum passante desatento. Ruas da minha cidade transformada, ruas que hoje absorvem o sangue dos mortos diariamente em cada esquina, ruas não mais tangidas pelos protestos do povo inconformado, ruas esburacadas pela angústia no rosto da juventude sem emprego, ruas que se tornam rios de chuva e trazem doenças inevitáveis, ruas que lêem os passos cansados dos que tem pouca mobilidade física, ruas escuras, ruas das violências noturnas, ruas dos loucos, dos bêbados, das putas, dos travestis e dos moralistas de plantão.

Mas elas são também as ruas dos sonhadores como nós, que tentamos enfeitar a madrugada e trazer a música e o sol no cavalo alado da nostalgia, para iluminar um mundo futuro ausente de dor e de vergonha, mas cheio de luz e de perdão.

Não deixemos, pois, por isso mesmo, a luz ir embora dos nossos corações.