NEM LÍNGUA DE CACHORRO AJUNTA – Crônica de Fernando Canto ( e recado pros manés de plantão)

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Crônica de Fernando Canto

As más línguas, quando querem, destroem qualquer situação, pessoa ou relação aparentemente estável. Já vi coisas se transformarem da noite para o dia em verdade absoluta, bastando para isso uma pequena interrogação irônica ou uma afirmação leviana, por um balançar de cabeça de pessoas consideradas sérias.

Em muitas dessas situações inventadas está escondida a verdadeira intenção do difamador, que lança seus “diabinhos” e deixa que eles corram como rastilho aceso em direção à banana de dinamite. Daí, os pedaços voam e se esmiúçam cada vez mais na cabeça dos ingênuos que se convencem dos fafofoca1tos e espalham a falsa notícia, para a satisfação do interessado. A estratégia do caluniador conta sempre com o apoio das “rádios cipós” que se ancoram pelos corredores das repartições públicas, pelas esquinas e bares. Elas são fontes secundárias de informações pelo princípio empírico e popular de que “onde há fumaça há fogo”, e, aliás, aproveitada com muita competência por apressados comunicadores locais, nem um pouco interessados em checarem a “notícia” plantada.

Muitas vezes, e sem querer, somos atores nesse processo, que é da natureza humana, uma vez que vivemos em grupo, nos comunicamos por diversos meios e temos interesses comuns e particulares. levianoTemos desejos e conflitos políticos e portamos uma conduta psicológica calcada em personalidades próprias e bem diferentes uma das outras. Talvez por isso nem nos damos conta que ao recebermos uma mensagem, seja de onde e de quem vier, nos tornamos personagens que vão beneficiar ou maltratar alguém ou alguma coisa.

Os políticos, de modo geral, se valem desses expedientes quando querem salvaguardar seus interesses, mormente na hora que os argumentos se esgotam. 1355812829Já descrevi aqui neste espaço invenções articuladas com o propósito de inverter o jogo das eleições. Lembro que ouvi pessoas sérias afirmarem ter visto o marido de certa candidata a prefeita sangrando no Pronto Socorro, por causa de um tiro dado pelo irmão do candidato que venceria as eleições. Lembro ainda que em outra eleição deu no rádio que o candidato mais velho a prefeito da capital havia falecido. O boato crescera tão rápido logo pela manhã que um batalhão de repórteres saíra à cata do suposto morto. Quando ele se manifestou nas rádios já era tarde. Seus eleitores não queriam “perder o voto” e já haviam votado em outros candidatos. Esses são apenas pequenos episódios que envolvem boatos e fofocas no meio político, onde um criativo mundo se articula diariamente em permanente conflito na busca da estabilidade e poderes.facefofoca

A calúnia, a difamação e a injúria são crimes previstos em lei. São palavras diferentes para ações legais muito semelhantes que tiram o sono dos “bocudos” quando têm de pagar indenizações na justiça a alguém a quem ofenderam moralmente de forma leviana e irresponsável. São elementos do controle social necessários à estabilidade da sociedade, dada à variabilidade e às diferenças das influências ambientes.cachorro_calor[6]Nosso comportamento é motivado pelas necessidades psicológicas herdadas e pelos anseios sociais adquiridos. Somos induzidos a agir por isso e conforme nossas necessidades, ambições e interesses de ordem pessoal. Daí, também, advém os desvios de conduta, os excessos temperamentais e a ausência de educação e controle que fazem as pessoas disseminarem suas opiniões ofensivas à dignidade de alguém. A Lei serve para controlar e punir esses crimes. Mas, uma vez feito o estrago, difícil é a reparação. Segundo o seu Jurandir, do Bailique: “Depois que o caldo cai no chão nem língua de cachorro ajunta”.

* Crônica de novembro de 2007 e publicada no livro Adoradores do Sol, de 2010.

O dia que encontrei Lemmy (Essa semana fez 8 anos).

Essa semana, na última segunda-feira (15), completou oito anos que encontrei Ian “Lemmy” Kilmister, cantor inglês fundador, vocalista, baixista e líder da banda inglesa de heavy metal Motörhead (com 40 anos de carreira). O cara, que morreu em 28 de dezembro de 2015 (vítima de câncer) é um ícone do Rock and Roll e uma lenda da música mundial. Ele tinha 70 anos.

Esqueci de publicar ontem, mas por tudo que Lemmy fez e representa, republico hoje o texto do dia que o encontrei.

Eu e Lemmy – São Paulo – 2011 – Foto: Emerson Tavares

O dia que encontrei Lemmy 

Aeroporto de Congonhas (SP), aproximadamente 17h do dia 15 de abril de 2011. Eu, meu irmão Emerson Tavares e minha cunhada Andresa Ferreira tomávamos uns chopps enquanto esperávamos a hora de embarcar de volta ao Norte, eles para Belém (PA) e eu para a minha amada Macapá.

Estávamos perto da entrada do saguão do Terminal, aí entra aquela figura de preto, chapéu de Caubói, bigodão e cara amarrada. Era Lemmy, líder do Motorhead. Não perdemos tempo, pedi para bater uma foto com a lenda do rock, ele me olhou com desdém, mas parou de andar para o click do meu irmão.

Mesmo com a pouca simpatia do astro, fiquei feliz, pois não é todo dia que um jornalista de Macapá encontra um ícone do “roquenrou” mundial. Para quem não saca, aí embaixo tem informações sobre Lemmy, colhidas pelo ex-colaborador deste site, André Mont’alverne. Leiam:

Lemmy era o avô do heavy metal. Lemmy era o padrinho do thrash metal. Lemmy, mesmo britânico, era a síntese do rock’n’roll de Los Angeles. Lemmy foi roadie de Jimi Hendrix e teve um filho com uma groupie que perdeu a virgindade com John Lennon. Lemmy era fã de Beatles, de Little Richards e de Elvis Presley. Lemmy é uma lenda.  Lemmy é Lemmy. É inexplicável.

Bem, pensando com um pouco mais de racionalidade, talvez não seja tão “inexplicável” assim o verdadeiro fascínio que a figura de Ian “Lemmy” Kilmister exerce em qualquer pessoa que ame o rock and roll. E quando escrevo “qualquer pessoa”, não estou sendo bondosamente genérico, mas afirmando categoricamente que não há um ser humano roqueiro sequer que:

a) não tenha o devido respeito e paixão pelo Motörhead; b) que não considere “Lemmy” como uma espécie de divindade. No fundo, é fácil e difícil – e desconcertante – ao mesmo tempo entender porque a figura de Lemmy suscita reverência. Para isto, é preciso deixar de lado os pudores politicamente corretos e encarar a verdade: no fundo, bem lá no fundo, todos nós queremos ser como Lemmy. Buscamos obter o mesmo grau de respeito que a sua figura e suas palavras causam nas pessoas. Buscamos causar a mesma sensação que Lemmy propicia quando entra em qualquer ambiente, que é um silêncio que chega a ser ensurdecedor. Buscamos envelhecer como Lemmy, que foi dono de seu próprio nariz e sem a menor intenção de agradar a quem quer que seja.

Com seu inseparável chapéu preto, roupas de coloração idem e as inacreditáveis botas brancas, Lemmy é uma versão roqueira e real do cowboy sem nome eternizado por Clint Eastwood no cinema. Para os adolescentes, ele é um personagem de histórias em quadrinhos – ou videogame, se preferir – que ganhou vida. E se o Motörhead existiu por 40 anos, é porque Lemmy comandou as coisas da maneira que leva a sua vida: integridade em relação a tudo aquilo em que acredita.

Com certeza, os lobos uivaram para o homem que morreu em 2015, mas a lenda será eterna. O “Ás de Espada” teve uma vida longa, feliz e gloriosa. A ele, minhas homenagens. Valeu, Lemmy!!

Elton Tavares

Três Tempos – Por Lara Utzig (@cantigadeninar)

Segunda-feira, rumo à UNIFAP, pista do meio, 40-50 km/h, passa o Macapá Shopping, semáforo da Leopoldo Machado com a Feliciano Coelho. Freio. Colada no ônibus da Sião Thur-transportando-os-filhos-de-Deus-tá-estressado-vai-orar vidro abaixado folder do Amapá da Sorte distribuído por fantasias felpudas e calorentas malabares com facas moeda de um real gracias, señorita, buenos días

Segunda-feira, retorno da UNIFAP, pista da direita, 40-50 km/h, em frente ao Hipercenter Santa Lúcia, semáforo da Jovino Dinoá com a Acelino de Leão. Freio. Ajude a pagar minha faculdade comprando uma trufa pendurado fazendo acrobacias no tecido aéreo um Homem-Aranha circense prefere árvores em vez de arranha-céus moeda de cinquenta centavos gracias, señorita, buenos días

Final de semana, sem destino, rolê pela cidade, pista da esquerda, 50-60 km/h, na diagonal a praça da Bandeira, saudades do Liberdade ao Rock, quem sabe hoje praça Floriano Peixoto, ou a Veiga Cabral, talvez um filme no Cine Imperator, semáforo da Eliezer Levy com a Avenida FAB. Freio. Contribua para que possamos ir para um retiro espiritual qualquer valor serve Jesus te ama a moça sobe pallets e caixotes de feira apodrecidos fazem papel de escada no alto malabares dessa vez com tochas acesas o fogo moeda de vinte e cinco centavos gracias, señorita, buenos días engraçado que nesses anos todos nunca ouvi nenhum artista de rua gringo me agradecendo thank you so much have a nice day

Lara Utzig

Há seis anos, o The Cure se apresentou em São Paulo. Foi o melhor show que assisti na vida

 

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Até hoje, não consigo descrever com presteza o que senti na noite de 6 de abril de 2013. Há exatamente seis anos, a banda inglesa The Cure se apresentou na Arena Anhembi, na capital paulista. Foram 3h15 de show. E que show! Com certeza o melhor que vi na vida. Coisa de fã de Rock.

Algumas semanas antes do show, Roberth Smith (“a cara, a voz e a força do The Cure”), cconcedeu uma entrevista ao programa “Fantástico” (vídeo). Ele disse que como não eram mais jovens (ele tinha 53 anos em 2013) não faria vários shows, mas poucos com muita intensidade. O astro prometeu e cumpriu.Algumas semanas antes do show, Roberth Smith (“a cara, a voz e a força do The Cure”) concedeu uma entrevista ao programa “Fantástico” (vídeo). Ele disse que como não eram mais jovens (ele tinha 53 anos em 2013) não fariam vários shows, mas poucos com muita intensidade. O astro prometeu e cumpriu.

Sabe, eu sempre fui fã de Rock And Roll. Já vi muitos shows sensacionais e fui pra muitas festas doideiras, mas naquele dia, ao lado do meu irmão e companheiro de aventuras Emerson Tavares, vivemos o auge dessa vida rocker. O show do The Cure conseguiu superar as apresentações do Radiohead em 2009, U2 em 2011, New Order e Johnny Marr (2014), Interpol, Smashing Pumpkins, Morrissey e Pearl Jam (2015) e Lollapalooza 2017 (Duran Duran, Strokes e Metallica).

O que as 30 mil pessoas que estavam na Arena Anhembi naquela noite viram foi impressionante, fantástico e todos os sinônimos para o show da vida de muitos (como eu e meu irmão). O The Cure emocionou e empolgou. Foram 40 músicas. Todas cantadas pelo público. E eu e Emerson ficamos na Budzone, área vip, ou seja, perto do palco e confortável. Firme demais!

Robert Smith (voz e guitarra), Jason Cooper (bateria), Roger ´O Donnell (teclados), Simon Gallup (baixo) e Reeves Gabrels (guitarra), fizeram um show caralhento, cheio de hits e canções despintadas. Agradeço a Deus todos os dias por ter vivido aquilo.

“Não foi um show… foi uma apoteose! Infinitamente melhor que as duas apresentações que assisti em 1996. Como vinho, cada vez melhores com o tempo” – Disse o amigo Nilson Montoril.

Os amigos que viram o show no Rio de Janeiro, dois dias antes, disseram que o de Sampa foi muito mais paid’égua. Uma das canções clássicas da banda diz que “Garotos não choram”. Naquela noite, era menina e barbado chorando, rindo, dançando, cantando, pulando etc. Bestificados com aquele showzaço do caralho, eu e Emerson choramos. De felicidade e emoção, claro. Inesquecível!

Obs: Se já não bastasse tamanha felicidade, no dia seguinte ao show, encontrei a banda no Aeroporto de Guarulhos (SP). Robert foi muito simpático e ganhei uma foto pra posteridade. Até a próxima, The Cure!

Elton Tavares


Veja as músicas que o The Cure tocou em São Paulo:

“Open”
“High”
“The End of the World”
“Lovesong”
“Push”
“Inbetween Days”
“Just Like Heaven”
“From the Edge of the Deep Green Sea”
“Pictures of You”
“Lullaby”
“Fascination Street”
“Sleep When I’m Dead”
“Play For Today”
“A Forest”
“Bananafishbones”
“Shake Dog Shake”
“Charlotte Sometimes”
“The Walk”
“Mint Car”
“Friday I’m in Love”
“Doing the Unstuck”
“Trust”
“Want”
“The Hungry Ghost”
“Wrong Number”
“One Hundred Years”
“End”

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“The Kiss”
“If Only Tonight We Could Sleep”
“Fight”

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“Dressing Up”
“The Lovecats”
“The Caterpillar”
“Close To Me”
“Hot Hot Hot!!!”
“Let’s Go to Bed”
“Why Can’t I Be You?”
“Boys Don’t Cry”
“10:15 [Saturday Night]”
“Killing An Arab”

25 anos do lançamento do disco Raimundos (1994 foi um grande ano mesmo) – Por Marcelo Guido

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Hoje, 2 de abril, completam exatos 25 anos do lançamento do disco Raimundos (1994). Raimundos foi o disco de estreia do da banda homônima (que fez estrondoso sucesso), lançado em 1994 pelo selo Banguela Records, criado pela banda paulista Titãs em parceria com Carlos Eduardo Miranda.

Apesar do clipe da música “Nega Jurema” ser de produção precária, a pedidos do público, ele participou da escolha da audiência na MTV, para representar o Brasil nos Estados Unidos, que concorreu nada mais, nada menos, com o videoclipe “Territory”, da banda mineira de thrash metal Sepultura (que saiu vencedora).

Para celebrar esse clássico álbum do Rock Nacional, republico o texto do amigo Marcelo Guido.

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Discos que formaram meu caráter (Parte 2) – Raimundos (1994)

Então amiguinhos, estamos aqui de novo para falar de mais uma bela “bolacha”, que com certeza fez muita gente, assim como eu, também botar a cabeça pra balançar, poguear e pirar conforme a música.

O disco em questão trata-se de “Raimundos”, primeiro álbum da banda homônima (qualquer semelhança com Ramones não é mera coincidência) que veio do Distrito Federal dar uma nova cara para o Rock Brazuca, no começo dos já longínquos anos 90.

O momento histórico da música brasileira não era lá aquela maravilha, diga-se de passagem, sertanejo e um tal de “new pagode” tomavam conta de todas as paradas musicais naquela época, realmente era um verdadeiro cenário de terror para os fãs do velho e bom rock and roll.raimundos-1

As bandas nacionais sobreviventes dos anos 80 já se encontravam naquele esquema de “vamos fazer um disco conceitual, e sair em turnê para tocar o que a gente já gravou”, patético. (Menção honrosa para os excelentes “Descobrimento do Brasil de 93 da Legião Urbana e “Titanomaquia” dos Titãs, também do mesmo ano”).

Nesse sombrio cenário vê que aparece do cerrado, quatro moleques que falam palavrão a torto e a direito, trazendo uma energia que faltava para aquele angu enjoativo que se tornou a música brasileira.

imagesProduzido pelo Carlos Miranda e lançado pelo selo “Banguela” dos Titãs, “Raimundos” chegou fácil a 150 mil copias. Além disso, o álbum foi inovador por mostrar para nós o “forrócore”, a mistura do forró tradicional com o hardcore, coisa nunca tentada antes.

Meu primeiro contato com o disco foi através de meu grande amigo, Adriano Bago (que hoje também é um Guarani Kaiowa), que em um esquema “brodagem” me presenteou com uma fita gravada onde se encontrava a balada de duplo sentindo “Selim”.

Quando ouvi aquilo pela primeira vez, pensei: “Que porra é essa???”. Tratava-se de algo inovador, os versos da canção que diziam “Eu queria ser o banquinho da bicicleta pra ficar bem no meio das pernas…” era tão novo que me fazia lembrar que ser o caderninho da menina já estava muito ultrapassado. Aquilo sim era Rock, ou melhor, aquilo eu queria ouvir.

Recheado de palavrões, chegou de dois pés e colocou os caras no cenário nacional que era muito difícil na época, já que não tinha ninguém dançando de shortinho coreografias pré-ensaiadas.

O disco mostrou de cara que a banda tinha muito a dizer, o que se tornaria fato no decorrer da década, “Puteiro em João Pessoa” abre o disco contando logo história de uma transa adolescente (virou quadrinho nas mãos do Angeli), vai para “Palhas do Coqueiro”,”MM`S”, que tem a participação do João Gordo, “Nega Jurema” que vem descendo a ladeira trazendo uma sacola de Maria “Tonteira”, enfim, um discaço.

Antes de tudo, é importante falar que o disco remodelou o cenário musical e influenciou praticamente todas as bandas que se formaram depois na década de 90. Considero “Raimundos “como obra fundamental porque a molecada mandou à merda todos os conceitos reinantes na época, com suas guitarras barulhentas pra caralho (será que posso usar esse termo no site do Elton?), letras sujas e bateria passado por cima de tudo com muito orgulho. Foda-se a surdez (opa de novo).

“Puteiro em João Pessoa, MM`S, Be-a-bá”, “Marujo”, “Selim”, realmente entraram no gosto da garotada que estava na rua nos anos 90.“Raimundos” nos mostrou também, que não era mais legal parecermos ingleses como nos anos 80, que legal mesmo era chamar o Zenilton pra tocar….“Por isso que o Raimundos nunca vai se acabar”.

* Marcelo Guido, é Punk, Pai da Lanna e Bento, Jornalista, Professor e Marido da Bia.

O homem mais velho do mundo (Crônica de Édi Prado sobre um verdadeiro mentiroso)

 

Mentir é feio quando o mentiroso é incompetente. Mas conheço um jornalista bem robusto até na mente prodigiosa, só para contar mentiras. É um profissional na área. O maior que o “seo Zuza’.

Quando ele não está mentindo está pensando em mentir. Quando ele não está mentindo nem pensando em mentir, está pensando nova mentira. Quando não está repetindo o mesmo texto até a nova mentira, ele está reciclando e atualizando as mentiras passadas. Quando ele não está fazendo nenhuma dessas opções, ele está fundindo as mentiras para sempre criar a sensação de novinhas.

E ele contava as histórias dele, os cursos que fez, os países que visitou e um atento jornalista, que anotava os detalhes da conversa, perguntou: quantos anos você tem? E o mentiroso, que tinha 50 e disse que estava com 35 anos.

O jornalista então disse que alguma coisa estava errada, porque só de cursos ele já estava com 135 anos, fora as viagens, os locais por onde havia trabalhado.

O computador, o rascunho técnico, foi feito por ele e roubaram da casa dele, quando morava na Serra e depois de anos não é que surge o computador, do meso jeito que ele havia projetado?

Foi ele quem inventou a Asa Delta e foi quem fez o primeiro salto lá em Pedra Branca. Ele disse que a história da Serra do Navio, do manganês no Amapá, que escreveu primeiro foi ele. Copiaram e não deram o crédito a ele. Vai processar.

Trata-se de um legítimo Pinóquio e ele está entre nós, de uma forma ou de outra. Eu não acredito em Whisky serrano, mas que existe, existe.

Édi Prado – Jornalista

A Legião Urbana somos nós, os fãs! (dois anos e meio depois do primeiro show, banda se apresenta novamente em Macapá)

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Foto: Aog Rocha

Sabem quando você tem certeza de estar vivendo algo único na vida? Foi isso que senti no dia 22 de julho de 2016, no Ceta Ecotel. Dois anos e meio depois do antológico o show “Legião XXX anos”, a da lendária banda Legião Urbana se apresenta em Macapá, no mesmo local (essa é a parte ruim, mas a gente vai assim mesmo). Republico esse texto, pois aquele momento foi um reencontro de velhos e queridos amigos.

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Foto: Aog Rocha

“Porra, os caras estão ali mesmo…Caralho!”, foi o que pensei meio atordoado quando a banda subiu ao palco e começou a tocar. Quando Renato morreu, em 1996, pensei que nunca assistiria um show da Legião. Há um ano, mais um sonho da juventude foi realizado. Talvez um dos mais improváveis de se concretizar. E foi melhor do que eu imaginaria em um sonho bom.

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Foto: Aog Rocha

Dado e Bonfá foram extremante carismáticos, corteses e elogiosos com nossa quente capital. Villa-Lobos e Marcelo deram vida ao espetáculo. Aliás, a Legião Urbana está mais viva do que nunca. Renato Russo deu o ar da graça via vídeo, onde contou sobre a trajetória de sua banda e nos emocionou. E o André Frateschi, hein? O cara é foda mesmo. Sim, foda, pois mostrou atitude. Os músicos de apoio idem.

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Foto: Aog Rocha

Nada tirou o brilho do espetáculo. Nem o calor de sempre no Ceta, a cerveja quente do open bar furado, atendimento precário ou as falhas no som (podiam ter deixado isso para os safadões da vida, com a Legião não, pô). Mesmo assim foi um daqueles momentos únicos na vida e estou muito feliz por ter vivido aquilo.

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Velhos e queridos amigos. Mais de 20 anos de amizade e Legião Urbana!

Sei tudo sobre a Legião Urbana. Todas as letras das canções e curiosidades por trás das músicas. Tive todos os discos (LP’s e CD’s), mas hoje são arquivos de MP3 na memória do computador; Li livros sobre a banda (o meu preferido é o “Conversações com Renato Russo”, recomendo); Assisti uma porrada de documentários sobre o grupo…Enfim, sou fã dos caras a vida toda. Mas nada se comparou ao show.

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Foto: Aog Rocha

Sai de lá cansado, suado, meio rouco e extasiado, com o coração cheio de uma alegria imensurável. O show beirou a perfeição.

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Ficamos realmente suspensos, perdidos no espaço/tempo de nossas emoções e vivências. Cada menino ou menina (de 30 ou 40 e poucos anos) presente no show tem uma história diferente, mas com trilha sonora parecida: Legião Urbana.

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Foto: Geison Castro

Como eu já disse, as músicas da banda mexem com minhas emoções. O show entrou pra galeria de momentos inesquecíveis da minha existência. Foi uma grande carga emocional, repleto de memória afetiva, que resultou em suor no corpo e nos olhos. Sim, chorei ali.

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Com a Rejane Melo e Ligia Pontes. Décadas de amizade e Legião <3

Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar? Pois é, não foi só imaginação. E sim, nós conseguimos vencer, pois Legião Urbana Vence Tudo e nós, os fãs, somos a verdadeira Legião. Quem não foi, perdeu. E fim de papo. Força sempre!

URBANA LEGIO OMNIA VINCIT!

Elton Tavares
Fotos cedidas pelo fotógrafo e amigo Aog Rocha

 

Há 21 anos, morreu meu pai, Zé Penha Tavares (o meu eterno herói)

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Há exatos 21 anos, em uma manhã de segunda-feira cinzenta, no Hospital São Camilo, morreu José Penha Tavares, o meu pai. O meu hepapaiemama (1)rói. Já que “Recordar, do latim Re-cordis, que significa passar pelo coração“, como li em um livro de Eduardo Galeano, passo pelo meu essas memórias.

Filho de João Espíndola Tavares e Perolina Penha Tavares. Nasceu no município de Mazagão, em 1950, de onde veio o casal. Era o primogênito de cinco filhos.

Ele começou a trabalhar aos 14 anos, aos 20 foi morar em Belém (PA), sempre conseguiu administrar diversão e responsa, com alguns vacilos é claro, mas quem não os comete? Na verdade, papai nunca se prendeu ao dinheiro, nunca foi ambicioso. Mas isso não diminui o grande homem que ele foi.

Em 1975, casou-se com minha mãe, Maria Lúcia, com quem teve dois filhos, eu e Emerson. O velho não foi um marido perfeito, era boêmio, motivo que o levou se divorciar de minha mãe, em 1992.

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Papai e mamãe

Após o seu falecimento, li no jornal da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), onde ele trabalhava: “Feliz, brincalhão, sempre educado e querido por todos. Tinha a pavulagem de só querer menina bonita a seu lado, seja em casa ou entre amigos, mas quem se atreve à culpá-lo por este extremo defeito?”.

Zé Penha pode não ter sido um marido exemplar, mas com certeza foi um grande pai. Cansou de fazer “das tripas coração” para os filhos terem uma boa educação, as melhores roupas e os bons brinquedos. Quando nos tornamos adolescentes, nos mostrou que deveríamos viver o lado bom da vida, sacar o melhor das pessoas, dizia que todos temos defeitos e virtudes, mas que devíamos aprender a dividir tais peculiaridades.

papaigoleiroPenha não gostava de se envolver em política. Ele gostava mesmo era de viver, viver tudo ao mesmo tempo. Família, amigos, noitadas, era um “bom vivant” nato. Tinha amigos em todas as classes sociais, a pessoa poderia ser rica ou pobre, inteligente ou idiota, branca ou preto, mulher ou homem, hétero ou homo, não importava, ele tratava os outros com respeito. Aquele cara era extraordinário!

Esportista, foi goleiro amador dos clubes São José e Ypiranga, dos times do Banco da Amazônia (BASA) e Companhia de eletricidade do Amapá (CEA) e tantos outros, das incontáveis peladas.

Atravessamos tempestades juntos, o divórcio, as mortes do Itacimar Simões, seu melhor amigo e do seu pai, João Espíndola, com muito apoio mútuo. Sempre com uma relação de amizade extrema. Ele nos ensinou a valorizar a vida, vivê-la intensamente sem nos preocuparmos com coisas menores a não ser com as pessoas que amamos. Sempre amigo, presente, amoroso, atencioso e brincalhão.Euepapai1995

Com ele aprendi muito sobre cultura, comportamento, filosofia de vida, e aprendi que para ser bom, não era necessário ser religioso. “Se você não pode ajudar, não atrapalhe, não faço mal a ninguém” – Dizia ele.

Acredito que quem vive rápido e intensamente, acaba indo embora cedo. Ele não costumava cuidar muito da própria saúde, o câncer de pulmão (papai era fumante desde os 13 anos) o matou, em poucos meses, da descoberta ao “embarque para Cayenne”, como ele mesmo brincava.

 tumblr_n03jon7LIX1rc8ucwo1_500Serei eternamente grato a todos que ajudaram de alguma forma naqueles dias difíceis, com destaque para Clara Santos, sua namorada, que segurou a onda até o fim. E, é claro, minha família. Sempre que a saudade bate mais forte, eu converso com ele, pois acredito que as pessoas morrem, mas nunca em nossos corações.

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Papai e Emerson

José Penha Tavares foi muito mais de que pai, foi um grande amigo. Nosso amor vem das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a próxima. Ele costumava dizer: “Elton, se eu lhe aviso sobre os perigos da vida, é porque já aconteceu comigo ou vi acontecer com alguém”.

Meu mais que maravilhoso irmão, Emerson Tavares, disse: “Papai nos ensinou o segredo da vida: ser gente boa e companheiro com os que nos são caros (família e amigos). Sempre nos espelhamos nele.Para mim é um elogio quando falam que tenho o jeito dele, pois o Zé Penha foi um homem admirável, um verdadeiro ser humano!”.

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Papai (com as mãos nos ombros da Clara, sua namorada), eu (de pé) e meu irmão Emerson (sentado de camisa branca). 1997. Saudade!

Quem já passou por essa vida e não viveu, Pode ser mais, mas sabe menos do que eu”. A frase é do poeta Vinícius de Moraes. Ela define bem o meu pai, que passou rápido e intensamente por essa vida.

eu e papai245Também faço minhas as palavras do escritor Paulo Leminski: “Haja hoje para tanto ontem”. Ao Penha, dedico este texto, minha profunda gratidão e amor eterno. Até a próxima vez, papai!

Obs: Texto republicado todo ano nesta data e assim será enquanto eu sentir saudade. E essa saudade, queridos leitores, nunca passa!

Elton Tavares

Se vivo, Renato Russo faria 59 anos hoje. Viva o maior poeta do Rock brasileiro!

Renato Manfredini Júnior não foi só mais um carioca que cresceu em Brasília (DF). Renato Manfredini Júnior nasceu em 27 de março de 1960 no Rio de Janeiro. Ele viveu parte da infância com a família em Nova York e, aos 13 anos, se mudou para Brasília. O cara foi um cantor e compositor sem igual. Liderou a Legião Urbana (composta por ele, Marcelo Bonfá, Dado Villa Lobos e Renato Rocha) e obteve um enorme sucesso de público e crítica.

Se estivesse vivo, hoje o maior poeta do Rock brasileiro faria 59 anos.

A Legião foi e sempre será a maior de todas as bandas deste país. Eles venderam 20 milhões de discos durante a carreira, mais de uma década após a morte de Renato Russo, a banda ainda apresenta vendagens expressivas. O som dos caras me remete ao passado, à situações, pessoas, alegrias e perrengues; enfim, foi a trilha sonora da adolescência de minha geração. Renato foi genial, sereno e místico. Um melancólico poeta românico, quase piegas, mas visceral. Era capaz de compor canções doces, musicar a história cinematográfica do tal João do Santo Cristo, cantada na poesia pós-punk de cordel (159 versos e quase 10 minutos) intitulada Faroeste Caboclo ou melhorar Camões (desculpem a blasfêmia lírica), como em Monte Castelo.

Como disse meu sábio amigo Silvio Neto: “Renato Russo foi Poeta pós-punk, de toda uma Geração Coca-Cola. Intelectual, bissexual assumido desde os 18 anos de idade, ele foi uma espécie de Jim Morrison brasileiro, não pela sua beleza física, mas pela consistência de suas letras que poderiam muito bem ter sido publicadas em livro sem a necessidade de ser musicadas”. Cirúrgico!

Em 11 de outubro de 1996, Renato Russo morreu, vitimado pela Aids. E como ele mesmo dizia: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, pois o para sempre não dura muito tempo. A Legião Urbana acabou oficialmente no dia 22 de outubro de 1996 e reuniu-se novamente 20 anos depois, em 2016, com outro vocalista e saiu em turnê pelo Brasil. Mas essa é outra história.

A força e universalidade das composições de Renato emocionaram toda uma geração e continuam mexendo com a gente. Acho que será sempre assim. Não sei o que Renato teria feito se tivesse mais tempo, mas com o pouco tempo que teve, fez muito. Fez demais pela música e arte nacional. O artista foi um dos nossos heróis (ainda tem quem não goste ou reconheça, mas paciência). Pena que o futuro não será mais como foi antigamente. Por tudo isso e muito mais, hoje homenageio Russo, que se eternizou pela sua música, poesia e atitude.

Valeu, Renato. Força sempre!

URBANA LEGIO OMNIA VINCIT (Legião Urbana Vence Tudo).

Elton Tavares

Há dois anos, Lollapalooza 2017: uma lindona experiência de vida

Foto: Elton Tavares

Há dois anos, estávamos  no Festival Lollapalooza 2017. Eu, meu irmão Emerson e nossos queridos amigos Anderson. O evento, muito porreta, aconteceu nos dias 25 e 26 de março, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo (SP). Por lá curtimos sons legais, provamos fortes e saborosos venenos (como vodcas islandesas) e assistimos bandas que amamos como The XX, Metallica, Duran Duran e The Strokes. Isso sem falar nas excelentes apresentações de Rancid, Jimmy Eat World e Criolo.

No primeiro dia do Festival, teve o The XX, grupo britânico com som “intimista”. A apresentação dos ingleses foi perfeita. O show teve uma carga de energia positiva, num clima friozinho do início da noite. Muita gente foi às lágrimas. Realmente foi um lance muito legal de ter assistido, sentido e vivido.

“Rodas punks” e falta de ângulo impediram a aproximação para boas fotos do Metallica, mas foi um showzaço

Nono show de uma das maiores bandas do mundo no Brasil e a primeira de metal em seis anos de Festival Lollapalooza, o Metallica chegou de voadora e fechou a primeira noite como um furacão: arrebentando! Não pude fazer fotos legais, mas o grupo fez um show tão porrada que tá valendo!

E o Duran Duran? Porra, com roupas coloridas e dancinhas oitentistas, a banda inglesa nos fez viajar no tempo. Com setlist recheado de clássicos, os britânicos fizeram a alegria de quem foi vê-los no Palco Onix, na tarde do segundo dia do Lolla. A memória afetiva aflorou com as canções “Hungry Like the Wolf” e “Ordinary World”.

Haja nostalgia!

Para muitos, The Strokes não fez o show que esperavam. Para mim foi um showzaço. Os americanos fecharam a segunda noite debaixo de chuva, que não diminuiu a empolgação do público. Com um setlist repleto de clássicos, o que não falta na carreira dos caras, o grupo botou pra quebrar.

Engataram logo as canções “Someday”, “12:51”, “Reptilla” e “Is This it” . A presentação também contou com as músicas “New York City Cops” e a icônica “Last Night”. Enfim, foi muito paid’égua!

Fiz algumas fotos legais, cantei com meu sofrível inglês (a gente enrola) e nos emocionamos em vários momentos desse incrível evento.

Ah, li alguns comentários debochados e invejosos sobre o Lolla nas redes. Só digo uma coisa: se você tinha condições de ir e não foi, perdeu de otário(a), pois foi muito legal.

Resumo da ópera (rock), o sexto Lollapalooza no Brasil, evento que tive a felicidade de ir em quatro edições (antes desse, estive lá em 2014, 2015 e 2018) foi mais uma emocionante e lindona experiência de vida, pois é isso que faz tudo valer a pena. Valeu pra caralho!

Elton Tavares

*Mais algumas fotos minhas do Lolla aqui: 

Há dez anos, vi o Radiohead em São Paulo e foi muito firme!

 

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Foto: Elton Tavares

Existem experiências na vida que não esquecemos jamais. Em 22 de março de 2009, há exatamente dez anos, assisti ao show da banda inglesa Radiohead, em São Paulo (SP).

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Naquele dia, após comer uma picanha argentina no Mercado Municipal de Sampa, nos dirigimos para a Chácara do Jóquei, local do Festival “Just a Fest”, que contou com as bandas Los Hermanos (parte escrota daquele 22 de março), Kraft Werk, lendária banda alemã que detonou nos recursos visuais e eletrônicos, justamente como esperávamos. e, é claro, a Radiohead.

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Não sei como descrever o show do Radiohead, o ápice da viagem, o termo incrível é pequeno para a magnitude do espetáculo que eles proporcionaram, valeu cada centavo, as 6h de avião, a distância do local do evento (quase não conseguimos sair de lá, uma procissão a zero por hora, risos).

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Essa é uma das excelentes lembranças destes mais de 30 anos escutando e vivendo o Rock and Roll. Foi o primeiro grande show de uma banda gringa que assisti. De lá pra cá, rolou rock na história da minha vida. Graças a Deus!

Setlist do Show do Radiohead:

01. 15 Step
02. There There
03. The National Anthem
04. All I Need
05. Pyramid Song
06. Karma Police
07. Nude
08. Weird Fishes/Arpeggi
09. The Gloaming
10. Talk Show Host
11. Optimistic
12. Faust Arp
13. Jigsaw Falling Into Place
14. Idioteque
15. Climbing Up The Walls
16. Exit Music (For A Film)
17. Bodysnatchers
18. Videotape
19. Paranoid Android
20. Fake Plastic Trees
21. Lucky
22. Reckoner
23. House of Cards
24. You and Whose Army
25. Everything In Its Right Place
26. Creep

Eton Tavares

Viver o Rock!

Moedas e Curiosidades – “Notegeld da Amazônia” – Por @SMITHJUDOTEAM

Por José Ricardo Smith

Depois de uma longa e sofrida procura, finalmente encontrei e adicionei na minha coleção as cédulas literárias “Palavras”. A moeda social intitulada “Palavras” foi criada para ser utilizada na compra de obras literárias durante a II Feira do Livro do Amapá (FLAP), que se realizou no período de 26 de outubro a 1° de dezembro de 2013 em Macapá-AP.

Como tema “Leitura e Sustentabilidade”, a II Feira do Livro do Amapá foi uma excelente idéia para cultivar o hábito da leitura nos estudantes e o público em geral, e para isso contou com a seguinte programação: venda de livros, exposições, palestras, mesas de debates e apresentações de artistas em vários pontos da capital amapaense.

A moeda literária “Palavra” homenageia escritores e personalidades do Amapá, com valores e cores específicos nas cédulas.

O maranhense Simão Alves de Souza (1932-2019), conhecido como “Simãozinho Sonhador” ficou famoso por escrever poesias de cordel. Ao todo foram 22 livros escritos pelo ex-malabarista de circo, entre eles o “ABC da Mulher”, obra mais famosa do poeta.

O paraense Antônio Munhoz Lopes (1932-2017), conhecido como “Prof. Munhoz” dedicou quase 60 anos de sua vida à educação, poesia, música e história do Amapá.

O paraense Alcy Araújo Cavalcante (1924-1989), foi um escritor, poeta e jornalista que veio para Macapá em 1953. Alcy sempre esteve envolvido com as atividades culturais e intelectuais no Amapá, principalmente a literatura.

A paraense Zaide Soledade (1934-2015), apaixonada pela educação a professora Zaide foi estudar Pedagogia para aprender e ensinar melhor. Estudou também: Artes Dramáticas, Educação Física, Letras e Artes, entre outros cursos, inclusive na área de saúde.

A paraense Aracy Miranda de Mont’Alverne (1913-2002), conhecida como professora Aracy, teve brilhante atuação como poetisa, declamadora, musicista, escritora e teatróloga no estado do Amapá.

* José Ricardo Smith é professor e numismático.

Ninguém lê! – Crônica de Lulih Rojanski

Crônica de Lulih Rojanski

O que você está lendo? Qual foi o último livro que leu? Onde está o último livro que comprou? Quando o comprou? Onde está o último livro de cujo lançamento participou? Na estante, intacto, ignorado? Eu sinto muito por tudo isso. Honestamente, sinto muito, porque conheço as verdadeiras respostas a estas perguntas, por mais que nas redes sociais a maioria prefira dizer orgulhosa que está atolada em leituras, que tem dormido com Honoré de Balzac debaixo do travesseiro, que gastou em livros boa parte do décimo terceiro salário, que não vive sem Fernando Pessoa… Livros estão ficando no tempo do era uma vez. Editoras estão fechando as portas. Editores estão negociando selos com distribuidoras de literatura vendável e meia-boca. Escritores estão morrendo de desilusão com a cara enfiada na poeira de velhos livros, em arcaicas bibliotecas.

O grande leitor está morrendo. Ele sabe que só é importante para uma geração que está se extinguindo, vagando espaço para os grandes leitores de palavras abreviadas e emoticons sorridentes. Poesia é uma coisa de que o grande leitor de agora ouviu falar mas não sabe exatamente o que significa, como funciona, em que botão se aperta. Conto e crônica são coisas que um professor mencionou, mas ele não se lembra se foi na aula de geografia ou no último filme que baixou no computador. Ele pensa que romance é apenas uma anacrônica história de amor, mais desusada que um rádio de pilhas.

Estou contrariada. Não pertenço a este tempo em que redes sociais influenciam mentes mais do que os livros…

Eu não me preocupo com quem vai se ofender com o que digo. Os ofendidos estão de carapuça. Os que não estão compartilham da minha dor.

Fonte: Para-raio

O Dia em que eu chorei diante de uma tela de Antônio Bandeira – Conto de Fernando Canto

Conto de Fernando Canto

No dia em que eu chorei diante de uma tela de Antonio Bandeira, no Museu da Universidade, fiquei até com vergonha do púbico presente. Chorei, como dizem, copiosamente (Até hoje não sei porque falam isso, mas desconfio que é porque uma lágrima copia a outra). Que vergonha! Era apenas uma tela abstrata que explodia em cores, excelentemente pintada pelo famoso artista plástico cearense. Uma tela que falava de uma chuva de neve na Europa, onde ele viveu. Nela, o branco e o azul predominavam sobre os outros tons.

Chorei tanto que o curador da exposição me convidou para chorar no banheiro. Como eu recusei, ele mandou os seguranças me botarem para fora.

E lá fora eu continuei chorando no calor, vertendo um choro esquisito, um choro que jamais chorei em outra exposição. Não que eu me lembre. E olha que eu era chorão. Mas dessa vez eu estava mais sensível que todas, mais sensível do que naquela vez no Louvre quando inevitavelmente me derramei em prantos diante da mais bela e magnética tela que já vi em toda a minha vida: a Gioconda, de da Vinci.

Malditos! Sempre me botam pra fora das exposições de obras de pintores famosos.

Malditos! Não sabem que meu choro não é fingimento, pois eu não sou ator e muito menos produtor de pegadinhas para a televisão.

Malditos! Insensíveis! À flor da epiderme estão ouriçados pelos, e no peito bate um coração magoado e eles não sabem disso. Vão logo expulsando a gente e mandado olhar as pinturas de grafite, como se os pintores das ruas não soubessem pintar em sua linguagem pura e não acadêmica.

Bandeira é Bandeira, não o poeta, mas o pintor, este que eu só conhecia de ver catálogos impressos ou fotos repetidas em revistas de arte.

Antonio Bandeira não é o ator espanhol muito menos o dono do bar da esquina, mas o artista que me convida e me move a seguir seus quadros até chorar de paixão, pois nos seus traços eu nasço, vivo e morro na dimensão dos pigmentos e reentrâncias de cada pincelada decidida bruscamente. Ao olhar suas telas explodo minhas memórias e paixões de um tempo em que me encontrava entre o poder da escolha e o despoder de ficar ilhado em angústias. Um tempo de decisão de amar ou seguir, de me entregar ao insondável ou de viver. Contudo, meu sonho de viver era apenas uma paisagem tátil num horizonte tênue, enevoada pela ausência de razão com seu cromatismo cinza, que de repente encontrou na tela de Bandeira o dia nascente, a tarde e a noite iluminada. Por isso choro. E os curadores da exposição não deixam que eu me cure em nome da arte.

Malditos curadores!