Sobre viajar (por @heyjjhenni )


Viajar, mais do que colocar uma quantidade de roupas na mala e embarcar rumo ao desconhecido é nos preencher desse desconhecido e finalmente, embarcar. É muitas vezes abrir mão de coisas que seriam importantes para nós e partir. É um exercício de autoconhecimento, um pouco às avessas, mas é.

A melhor parte de viajar é conhecer pessoas legais. Esbarrar em pessoas que estão tão perdidas quanto nós, mas levam isso com a maior alegria do mundo, afinal, essa é uma das maiores graças de por o pé na estrada. Conhecer outros lugares através de histórias e fotografias, e… já começar a planejar a próxima viagem! Muitas promessas são feitas: “um dia eu irei!”, “quando for, vou te procurar”. São frutos de sentimentos verdadeiros, mas a gente acaba aprendendo que muitas vezes o “até um dia”, é na verdade um adeus com vergonha de sair. Daí a contradição, a pior parte de viajar é conhecer pessoas legais.

Os perrengues de viagem são sempre os melhores! O desespero bate quando já estamos chegando aos 45 do segundo tempo e não surge uma carona, a comida tá pouca e a grana menor ainda, se começa a pensar no conforto que é estar em casa. E surgem frases como “criar raízes” na mente. Curiosamente, sempre se dá um jeito, por intermédio divino ou esforço próprio, aí todo papo de criar raízes vai por água a baixo e se lembra porque colocamos a mochila na costa.

Depois de todo o processo correr, às vezes bem, voltar pra casa é uma sensação diferente. Um misto de felicidade de verdade e vontade de voar de novo!

Jhenni Quaresma

Uma foto pra chamar de minha (@heyjjhenni)


A fotografia sempre esteve presente na minha vida, meu pai, um amante da arte, fez questão de registrar todos os momentos possíveis até que eu pudesse registrá-los sozinha. Em 2009 quando ele finalmente entregou uma câmera nas minhas mãos e me permitiu sair buscando o que capturar, eu descobri muitas ruas da minha cidade e descobri também que adorava isso!

Desde então, venho tentando aprender sobre a história da fotografia e sensibilizando o olhar. Aprendi a fazer uma exposição correta e aprendi também que o peso da fotografia é bem maior do que um dia pude imaginar, se um dia eu quis fotografar pessoas bonitas em ambientes bonitos, hoje eu volto as câmeras pra onde eu me importo: pra dentro de mim. Ter uma boa foto dos meus pais ou uma foto real para chamar de minha é uma das maiores graças que já tive.

Como a melhor forma de falar de fotografia é fotografando, fotos:



Jhenni Quaresma 

Pelo direito de ter cabelo curto


Quando entrei no ensino médio, resolvi abandonar meus longos fios e usar cabelo curto, não foi algo fácil de acostumar, passei então o resto dos anos deixando o cabelo crescer, tudo isso para descobrir que me sinto mais bonita de cabelo curto. Tesoura de novo então! Desde então, a cada fase nova da minha vida os fios iam perdendo comprimento, até o dia que realizei um sono de infância: passar a máquina no cabelo. Sonho realizado, eu me sentindo melhor, fim de história… ou não. Toda mulher de cabelo curto coleciona uma série de frases “nada-a-ver” sobre seu corte.

Hoje pela manhã, após ver minha nova “proeza capilar”, um amigo que há muito não via, perguntou se eu tinha virada lésbica, não preciso explicar o quanto foi uma colocação absurda, pelo esteriótipo de toda mulher que tem cabelo curto é lésbica. Sempre rola um questionário quanto à feminilidade também, mal sabem que ter cabelo curto foi uma das maiores afirmações da minha feminilidade que encontrei. Decidir o que e como usar, sem importar os padrões de beleza das revistas e novelas, foi uma forma de afirmar minha independência e luta pelo meu corpo.

A coleção vai longe, “mas seu namorado deixou?”, “quando ficar velha, vai se arrepender”, “assim fica difícil de puxar na hora do sexo” e outras asneiras que a gente ignora jogando os poucos fios que restam ao vento. Que aliás, é uma das melhores coisas de se ter um cabelo curto: poder sentir vento na nuca e sofrer menos com o calor.

Jhenni Quaresma

O pequeno grande amapaense


Lembrando um dia desses, sobre uma lista de manias de amapaense que li em algum canto desse vasto território chamado internet, concluí que meu sobrinho de apenas dois anos é um dos mais belos exemplos de amapaense que já vi. Deixa eu explicar: o garoto tem lá suas manias que todo bom amapaense entende bem. A primeira palavra do pequeno, reza a lenda, foi “fifinha” (farinha). Desde então, ele tem exercitado a pronuncia da palavra todos os dias, todos os momentos. 

A cada três palavras, uma é fifinha! Durante o almoço, jantar, lanche, naquela leve acordada à tarde… Falando em comida, adivinhem a preferida, depois de fifinha, claro? “Caí” (açaí)! Não se pode mexer no armário onde se guarda as tigelas, “é caí, ti?” 

Soltamos então a piadinha do “pode cair”, e ele, como bom amapaense, retribui com aquele olhar que a gente já sabe que vai que futuramente vai vir acompanhado de um “égua do bicho engraçado”. 

À tarde, após um leve lanche, aquele pirão de açaí, se ele ouve a palavra “praça”, corre pra se arrumar. E belo amapaense, no alto da sua independência dos dois anos de idade, escolhe a melhor roupa para ir dar uma simples volta na Zagury. Camisa do Patati, calça do Patatá, tênis do Patati e Patatá, lá vamos nós. Na sua grande moto, ele pisa e solta o pedal a todo o momento. Vai fazendo barulho para todos saberem que está passando, sai desviando de um buraco e caindo em outro pelas calçadas da cidade, desvia um pedestre, quando não, simplesmente avança sem o mínimo respeito, pra variar. 

À noite, senta na frente da TV e assiste o jornal das sete, o jornal nacional, a novela, faz novamente mais um lanche leve e vai dormir. Às vezes quando está sem sono, abre o berreiro ou coloca música no celular dos pais pra tocar, pros vizinhos de quarto saberem que está sem sono e escutarem música junto, e a gente já fica imaginando como vai ser futuramente…

Jhenni Quaresma

Segunda-feira, pra variar ( @heyjjhenni)

Por Jhenni Quaresma

Acordei tarde. Mais cinco minutinhos e pelos meus cálculos já estou uma hora atrasada para minha primeira atividade. Banho rápido. Não vai dar tempo para o café, vou ter que esperar o almoço. Correria. Como pude dormir tanto no primeiro dia de uma semana tão importante? Essa vai ser uma semana extremamente complicada, campanha para o DCE da Unifap e ao que parece o nível das discussões irão de mal à pior, porque, segundo um amigo, minha decisão de me juntar a uma chapa foi “muito triste, mas fazer o que né?!”.

Meio caminho feito e vou imaginando como reorganizarei minhas atividades do dia, pensamento vai e vem, já estou dentro do ônibus. Sento próximo ao cobrador, terei alguns minutos de completa paz. Até que uma voz corta meu silencio quase monástico:

“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.”

Eu conheço esses versos! Olho para trás e vejo um garoto de cabeça baixa e lendo alguns papeis em voz alta, viro novamente pra frente e passo a ser ouvinte do rapazinho que está ensaiando alguns poemas.

Ele tenta um da Cecília Meireles:

“Perdoa-me, folha seca, 
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo, 
e até do amor me perdi.”

Vou acompanhando palavra por palavra, Canção de Outono!

E ele continua lendo pequenos poemas, alguns não sei de quem são, mas são bonitos, vou ouvindo… Faltam duas paradas para eu descer e ele está lendo Mário Quintana. Começo a ficar agoniada, será que ele não vai terminar logo esse poema? Uma parada para eu descer e ele está lendo algum que eu não faço idéia de quem seja. Ok, posso descer agora e já tive uma boa dose diária de poesia, e de uma forma bem inusitada, ou posso continuar no ônibus e ir escutando o garotinho, afinal, o dia começou tão mal por conta do meu atraso e já amaldiçoei minhas próximas três gerações pelo meus “cinco minutinhos” …

Conclusão: Pelos meus cálculos, estou agora duas horas atrasada para minhas atividades do dia, darei uma enorme volta dentro do ônibus e o rapaz da poesia já desceu. Fui tentar poetizar uma segunda-feira e me ferrei.

Jhenni Quaresma: nossa nova colaboradora (@heyjjhenni )


Após fazer amizade com a colega jornalista Jhenni Quaresma, resolvi convidá-la para colaborar com este blog. O que motivou o convite foi o conteúdo dos posts da moça no Facebook. Textos sempre muito inteligentes. Como de costume, depois dela aceitar que eu a encha o saco por textos semanais sem remuneração, pedi uma descrição. Deu nisso aí: 

“Jhenni Quaresma: estudante de jornalismo, já quis fazer pedagogia e história. Apaixonada por poesia, fotografia, teatro, circo e contrabaixo, tenta fazer um ou outro sempre que pode. Já trabalhou como repórter para um programa de rádio e atualmente colabora com o Movimento de Iniciativa Cultural Liberdade ao Rock. Um dia ainda vai largar tudo e virar monge. “Hare Krishna!”

Seja bem vinda, Jhenni. Tenho certeza que você enriquecerá o De Rocha. Valeu por topar!

Elton Tavares