Um recorte de jornal sobre meu pai, Zé Penha – Por @PradoEdi

Já escrevi muitas vezes sobre o quanto meu pai, Zé Penha, foi um cara porreta. Sou suspeito, o cara foi, é e sempre será meu herói. Mas quando outra pessoa o elogia, dá ainda mais orgulho de ser filho do negão mais gente boa que conheci. Esse recorte de jornal é de 1998, assinado pelo meu amigo e colega jornalista Édi Prado, publicado no informativo da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), onde meu velho trampava na época que embarcou para as estrelas. Saudades e amor sempre, Penhão!

Como hoje é sexta, sempre lembro do velho Liverpool Rock Bar

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Hoje é sexta-feira e toda sexta lembro do velho Liverpool Rock Bar, que foi um dos celeiros do rock amapaense. Fundado no final 2004, pelo seu Nelson e sua filha Vânia, o bar, mesmo sem estrutura, fez sucesso entre os amapaenses que gostam de rock and roll.

O Liver foi, até o final de 2009, o refúgio do underground amapaense. Um bar simples, entretanto, frequentado pelas pessoas mais descoladas da cidade. Na categoria “rocker”, foi o bar de rock mais duradouro da história de Macapá.

O Liverpool tinha mesas de bilhar adoradas por 90% dos frequentadores, bandas legais e tínhamos a certeza que íamos encontrar os amigos por lá.

No Liver iam músicos, skatistas, jornalistas, boêmios, malucos, caretas, homossexuais e heterossexuais. Era um local democrático, muito longe de uma “vibe” ou “point”. Alguns, mais exigentes, apelidaram o local de “Liverpalha”, mas viviam por lá.

Hoje temos locais melhores para curtir som, muito mais estruturados, refrigerados e tals, mas todos nós lembraremos do charme sujo que o Liver possuía. A gente quebrava tudo por lá (às vezes, literalmente). Saudades daquela bodega!

Elton Tavares

Segundo de abril (lá vem o Gino de novo)

Crônica de Ronaldo Rodrigues
 
O editor deste site bota uma pressão de vez em quando. Desta vez foi assim: E aí? Alguma coisa para hoje (ontem), primeiro de abril?
 
Retornei dizendo que de mentira, até aquele momento, só o meu salário. Rsrsrsrsrsr.
 
Mas hoje, segundo de abril, eu tenho algo a mostrar. Seria (seria, não. É!) aniversário do Ginoflex. A gente sempre festejava (aliás, continua festejando. Mais tarde, vou tomar umas por ele).
 
Depois que passou dos 50, o Gino não sabia exatamente qual a idade que inaugurava a cada 2 de abril. E eu dizia que ele não tinha nascido no dia primeiro de abril porque ninguém acreditaria. O Gino, qual o Tim Maia, era um personagem que extrapolava a vida real, transgredia qualquer padrão de normalidade. Nem os mais criativos ficcionistas conseguiriam imaginar suas verídicas aventuras.
 
Então, este texto vai em homenagem ao Ginoflex, que estaria completando 59 anos. Ou 57. Ou 58. Impossível saber. Ele mesmo não sabia, já que documentos de identidade já tinham se desgarrado dele há milênios. Eu brincava dizendo que ele era tão velho que, para saber com exatidão os números de sua existência, teríamos que submetê-lo ao teste do carbono 14, aquele elemento químico que detecta a idade dos fósseis. Não à toa ele era também chamado de Ginossauro.
 

Imagino o Gino (des)organizando sua festa de aniversário lá onde esteja neste momento. Som chiadinho de discos de vinil, muita cerveja e aquele cigarrinho que o deixava irritado. Quando faltava.
 
Parabéns, Gino! Continuaremos por aqui, festejando, fazendo um brinde a cada respiração, enquanto não somos convidados a nos retirar desta festa nem sempre divertida chamada vida.

Cinco anos sem Jork

Há cinco anos uma notícia triste, via telefonema do amigo Anderson Miranda: Jork Dean, funcionário da Caixa Econômica e músico, morreu. O brother que me avisou da tragédia era gerente do banco onde Jork trabalhava. A lembrança da rede social Facebook me recordou dessa perda. Pessoas bacanas ficam sempre vivas no coração da gente.

Jork tinha 37 anos. Ele foi vitima de uma briga de trânsito que resultou no seu assassinato. A comoção tomou conta dos malucos de Macapá, pois Jork era um cara querido e considerado. Conheci o Jork em 1991, quando cursamos juntos a 7º série, na Escola Alexandre Vaz Tavares (AVT).

O cara era um gozador, um sacana gente boa. Ele nunca andou comigo pra cima e pra baixo, mas quando nos encontrávamos era festa, principalmente nos eventos de rock. Também fizemos algumas malucagens juntos (risos).

Não tive coragem de ir ao seu velório e enterro, mas me disseram que foi diferente, ao estilo Jork de ser. A gente não tinha contato no cotidiano, mas existia brodagem entre mim e aquele sacana.

Jork era uma figura pouco (ou nada) ortodoxa, tocava porradas do Metal, mas também era apaixonado por Beatles e Raul Seixas. O cara fazia miséria no baixo, foi um dos melhores músicos amapenses de sua geração, embalou piseiros memoráveis nas noites quentes de Macapá, quando fazia parte da banda Sloth.

Sua morte foi transformada em alerta para crimes como o do que ele foi vítima e em arte, pois familiares e amigos do músico criaram o Festival “Jork and Roll, realizado anualmente na Praça da Bandeira, no centro de Macapá, no período do que seria seu aniversário.

Jorkdean era um figura alegre, sempre com um sorriso no rosto e direto, não fazia rodeios. Tinha personalidade e possuía uma sarcástica malacagem sutil peculiar.

Não é nenhum exagero afirmar que o Jork ajudou a puxar a fila e firmar no Rock no Amapá, sobretudo o Heavy Metal.

Hoje em dia, os roqueiros de Macapá fizeram de Jork uma referência, uma espécie de ícone do maluco gente boa. Ele nunca quis holofotes sobre si, mas sua memória merece ser tratada como tal. Além de extraordinário músico e atitude foda, ele era gente fina demais. Todos sentimos saudades. Valeu, Jork!

Elton Tavares

O que eu diria se pudesse te encontrar depois de 3 meses… (por Mariléia Maciel)

Dona Maria e Elis, mãe e neta de Mariléia Maciel.

Se foram 90 dias, e não passo sequer uma hora sem pensar na senhora com muita saudade no coração. Sei que estás bem agora, sem dores, sem as amarras da cama da UTI, na qual ficou presa exatos 55 dias, no processo de libertação para a nova vida, mas as lembranças de nossa rotina são imensas, e às vezes não tenho como conter a emoção. Todos os dias abro seu quarto como gostas, para o sol entrar. Agora que começamos a mexer em seu guarda-roupa, por necessidade de organizar a casa para receber a família. Ele continuava como a senhora deixou na última vez que a abriu, com seu barla, roupas, azeite de andiroba, e objetos que gostavas, mas te prometo que assim que eu puder vou arrumar, doar o que for servir para outras pessoas, e guardar o que for me trazer belas lembranças. Mas não quero com isso te prender aqui, porque agora és estrela, e esta condição não te permite mais ficar entre nós fisicamente.

Continuo a acordar de madrugada, mesmo não precisando mais, porque aprendi a gostar de ver o dia começar assim. És muito presente, e parece que a qualquer momento vais sair do banho pra começar a se arrumar na frente do espelho. É recente em minha memória sua teimosia pra tomar os remédios, o demorado café da manhã, e o passeio devagar na calçada, pra aquecer os ossos. Me faz falta o almoço meio-dia com a mesa cheia de comida e de gente, o café da tarde, e os cânticos da missa das 18h na televisão. Na hora de jantar, sempre uma indecisão, entre o café ou mingau, sopa, churrasco ou pizza, todas as vontades feitas antes de acabar dia e se preparar para dormir. O murmúrio da reza também me faz falta, e toda noite continuo com ela, pedindo por nós todos.

Em todo esse cotidiano tem sempre seus passos tão lentos e arrastados, sem barulho, mas que eu aprendi a sentir por força da necessidade, porque as noites eram longas e as idas ao banheiro comum, e dava medo pensar na senhora caída por sono e falta de apoio. Nestes anos que passamos cuidando uma da outra aprendi a não ter pressa, e puxei o freio de mão pra ver a vida com seus olhos, e a andar sem desespero. Aprendi o valor da bênção, e o “Deus te abençoe, minha filha” faz muita falta aos meus ouvidos. Aprendi a ser uma mãe mais madura com a senhora, que nunca conheceu sua mãe para pedir bênção e proteção, mas que nunca nos furtou destes cuidados.

Foram cinco anos em que me dediquei de coração à senhora, desde que papai partiu, e precisávamos nos unir mais para cuidar melhor, porque ficou longe do seu grande amor, e saudade dói no corpo, eu sei. Cresci muito espiritualmente, e valeram internamente mais que o mesmo tempo em uma faculdade, porque aprendi com cada dificuldade que passei para aprender a te entender. Só eu sei da grande alegria que era vê-la bem, sem dor nem tonteira. Não me arrependo de nada mãe, nem das oportunidades pessoais e profissionais que larguei, porque sempre apareceram pessoas que me abriram as portas para que eu pudesse trabalhar e ao mesmo tempo ficar com a senhora, nossa família pra me amparar, amigos que entendiam meu horário, e nunca deixaram de se esforçar para estar comigo, mesmo que por poucas horas. Não me arrependo das festas e passeios em que não estive, porque o que aprendi me valeram para esta e outras vidas, como a dar valor em uma noite bem dormida, no amanhecer caminhando, lendo ou produzindo textos, e em um fim de tarde olhando as maresias e o rio, sentada em uma cadeira.

Compreendo as últimas semanas em sua companhia como lições importantes para amadurecer a alma, dar valor em pequenos gestos, e em pessoas que nunca vi na vida, mas que foram essenciais. Nunca achei que subir as escadas do hospital poderia ser um treino emocional, porque para mim, escadas sempre foram uma via de acesso para um piso, mas quando se aproximava a hora da visita eu começava a pensar no que eu poderia ouvir na entrada da UTI dos enfermeiros e psicólogos ou dos médicos, se ia lhe encontrar dormindo ou acordada, consciente ou em delírio, no ventilador ou no bipap, com ou sem diálise e noradrenalina. Eram momentos de sofrimento, mas em cada degrau da escada eu buscava forças e me concentrava em sua saúde, e me controlava para chegar perto da senhora sem demonstrar o que estava sentindo por trás daquela máscara. Naqueles dias aprendi a acompanhar o tempo da natureza olhando o jardim com flores e coqueiro, as mudanças do sol durante o dia. Via as plantas viverem presas na raiz, e comparava à senhora, porque viver não depende de estar livre ou preso, a senhora estava viva, mas presa em uma cama, assim como as plantas nos vasos. Aprendi a valorizar cada profissional que cuidava da senhora, pessoas que nunca tínhamos visto antes, mas pela proximidade, passaram a fazer parte da nossa vida, e vi que o amor ao próximo não depende de anos de convivência, e sim de amor no coração. Foram dias de sentimentos confusos, fortalecimento da fé, e certeza que a vida não termina quando fechamos os olhos e os órgãos param de funcionar.

Tenho certeza que a senhora e papai estão bem, e saibam que a maior lição disso tudo foi a gratidão, a persistência, a fé, o perdão e o amor. Falamos nisso todos os dias, mas nem todos têm a oportunidade de exercer na prática estes sentimentos, e eu tive com vocês dois. Apesar da simplicidade, não é tão fácil assim praticar. Meu coração é só saudade, mas procuro substituir a tristeza pela gratidão por tudo o que fizeram por nós, pelo meu crescimento, por meus filhos, por me ensinarem o caminho certo, mesmo quando me esquivei deles, e tive a oportunidade de retornar novamente.

Vocês continuam a nos olhar, eu sei e sinto. Nosso compromisso continua até o dia em vamos nos reencontrar. A morte não é ruim, o que nos acaba é a saudade, mas me abençoem todos os dias, pra que eu tenha sempre forças para seguir, nunca desistir e ajudar quem deve ser ajudado. Assim que meu coração sinalizar vou começar a mudança, porque ainda é cedo para pensar nessas coisas, talvez amanhã, na próxima semana ou mês. Não tenho pressa.

Bênção, um beijo no coração, e que o próximo ano seja de muita paz e luz para todos nós.

Mariléia Maciel – Jornalista

Quem nos dera um adeus digno – Crônica de Elton Tavares

Várias vezes, sonhei que conversava uma última vez com uma pessoa que partiu. Sim, alguns dirão que tenho muita imaginação, outros que sou ficcionista ou até mesmo assombrado.

Bom, o lance é imaginário mesmo. Quase sempre, imaginamos viagens no tempo para falar com pessoas queridas que se foram ou quem sabe alertá-las sobre um perigo iminente.

Não falo de viagens no tempo provocadas por portais abertos no espaço-tempo como nos filmes “Donnie Darko” e “Efeito Borboleta”, cheios de possibilidades de mudanças e consequências.

Também não queria psicografia, entoação ou algo assim. Falo da oportunidade de uma aparição da pessoa. Do amigo ou ente querido se manifestar logo após a desencarnação. Dessa forma poderíamos dizer ou escutar qualquer coisa do tipo: ‘eu te amo, siga seu caminho, pois vou cuidar de tudo por aqui’

Óquei, pode soar meio lunático, mas sem querer ferir o código de ‘futuro pré-determinado’ denominado Destino, o sindico de tudo isso aqui, de codinome Deus, poderia colocar mais essa cláusula no livre arbítrio: a possibilidade de se despedir. Seria ótimo. E como seria!

Não se trata de “consertar” nada e sim uma última chance de diálogo. Uma conversa franca e um adeus digno.

Elton Tavares

Se vivo, meu pai faria 67 anos hoje

pai

No dia de hoje (17), se meu saudoso pai estivesse vivo, faria 67 anos. É difícil definir um modelo de vida, acredito que cada um vive da forma que lhe é aprazível. José Penha Tavares viveu tudo de forma intensa e foi um homem muito feliz.

O mais legal é que ele nunca fez mal a ninguém, sempre tratou as pessoas com respeito e foi muito amoroso com os seus. Meu irmão costuma dizer que ele nos ensinou o segredo da vida: “ser gente boa” (apesar de alguns gatos pingados não comungarem desta opinião sobre mim).

Quando o bicho pega, falo com ele. Uma espécie de monólogo, mas juro que sinto conforto em lhe contar meus raros problemas. Acredito que papai escuta e, de alguma forma, me ajuda. Devaneio? Não senhores e senhoras, é que aquele cara foi um grande pai, ah se foi. Portanto, deve mexer os pauzinhos lá por cima.

Ele partiu em 1998, faz e fará sempre falta. Sinto saudade todos os dias. Nosso amor vem das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a próxima. Gostaria de lhe dar um abraço hoje, desejar feliz aniversário e tomar muitas cervas com o Penhão, como costumávamos fazer.

Faço minhas as palavras do escritor Paulo Leminski: “haja hoje para tanto ontem”. ou a frase do poema Filtro Solar: “Dedique-se a conhecer seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez”. Saudade. Feliz aniversário, papai!

Elton Tavares

Poema de agora – Visita Indesejada – @alcinea

VISITA INDESEJADA

Tem uma saudade batendo na minha porta.
Não vou abrir.
Conheço bem essa figura.
Entra
se aboleta no sofá
e não quer mais ir embora.
Abusada
invade a cozinha
adentra o quarto
deita na cama.
Não vou abrir a porta, não.
Não estou pra esse tipo de visita.
Gosto daquela saudade
que chega de mansinho
trazendo lembranças perfumadas,
um verso e um riso
toma uma cafezinho
e vai embora.

(Alcinéa Cavalcante)

Monólogo Mundo Moderno – Texto genial e saudoso Chico Anysio

E vamos falar do mundo, mundo moderno marco malévolo mesclando mentiras modificando maneiras mascarando maracutaias majestoso manicômio meu monólogo mostra mentiras, mazelas, misérias, massacres miscigenação morticínio, maior maldade mundial madrugada, matuto magro, macrocéfalo mastiga média morna monta matumbo malhado munindo machado, martelo mochila murcha margeia mata maior manhazinha move moinho moendo macaxeira mandioca meio-dia mata marreco manjar melhorzinho meia-noite mima mulherzinha mimosa maria morena momento maravilha motivação mútua mas monocórdia mesmice muitos migram mastilentos maltrapilhos morarão modestamente malocas metropolitanas mocambos miseráveis menos moral menos mantimentos mais menosprezo metade morre mundo maligno misturando mendigos maltratados menores metralhados militares mandões meretrizes marafonas mocinhas, meras meninas, mariposas mortificando-se moralmente modestas moças maculadas mercenárias mulheres marcadas mundo medíocre milionários montam mansões magníficas melhor mármore mobília mirabolante máxima megalomania mordomo, mercedez, motorista, mãos magnatas manobrando milhões mas maioria morre minguando! moradia meiágua, menos, marquise mundo maluco máquina mortífera mundo moderno melhore melhore mais melhore muito melhore mesmo merecemos maldito mundo moderno mundinho merda!

Chico Anysio

Quatro anos sem Jork

Jork
Há quatro anos uma notícia triste, via telefonema do amigo Anderson Miranda: Jork Dean, funcionário da Caixa Econômica e músico morreu. O brother que me avisou da tragédia era gerente do banco onde Jork trabalhava. A lembrança da rede social Facebook me recordou dessa perda. Pessoas bacanas ficam sempre vivas no coração da gente.

Jork tinha 37 anos. Ele foi vitima de uma briga de trânsito que resultou no seu assassinato. A comoção tomou conta dos malucos de Macapá, pois Jork era um cara querido e considerado. Conheci o Jork em 1991, quando cursamos juntos a 7º série, na Escola Alexandre Vaz Tavares (AVT).

O cara era um gozador, um sacana gente boa. Ele nunca andou comigo pra cima e pra baixo, mas quando nos encontrávamos era festa, principalmente nos eventos de rock. Também fizemos algumas malucagens juntos (risos).

Não tive coragem de ir ao seu velório e enterro, mas me disseram que foi diferente, ao estilo Jork de ser. A gente não tinha contato no cotidiano, mas existia brodagem entre mim e aquele sacana. .

Jork era uma figura pouco (ou nada) ortodoxa, tocava porradas do Metal, mas também era apaixonado por Beatles e Raul Seixas. O cara fazia miséria no baixo, foi um dos melhores músicos amapenses de sua geração, embalou piseiros memoráveis nas noites quentes de Macapá, quando fazia parte da banda Sloth.

Sua morte foi transformada em alerta para crimes como o do que ele foi vítima e em arte, pois familiares e amigos do músico criaram o Festival “Jork and Roll, realizado anualmente na Praça da Bandeira, no centro de Macapá, no período do que seria seu aniversário.

Jorkdean era um figura alegre, sempre com um sorriso no rosto e direto, não fazia rodeios. Tinha personalidade e possuía uma sarcástica malacagem sutil peculiar.

Não é nenhum exagero afirmar que o Jork ajudou a puxar a fila e firmar no Rock no Amapá, sobretudo o Heavy Metal.

Hoje em dia, os roqueiros de Macapá fizeram de Jork uma referência, uma espécie de ícone do maluco gente boa. Ele nunca quis holofotes sobre si, mas sua memória merece ser tratada como tal. Além de extraordinário músico e atitude foda, ele era gente fina demais. Todos sentimos saudades. Valeu, Jork!

Elton Tavares

Quem nos dera um adeus digno

 
Várias vezes, sonhei que conversava uma última vez com uma pessoa que partiu. Sim, sim, alguns dirão que tenho muita imaginação, outros que sou ficcionista ou até mesmo assombrado. 
 
Bom, o lance não é imaginário mesmo. Quase sempre, imaginamos viagens no tempo  para falar com pessoas queridas que se foram ou quem sabe alertá-las sobre um perigo iminente. 
 
Não falo de viagens no tempo provocadas por portais abertos no espaço-tempo como nos filmes “Donnie Darko” e “Efeito Borboleta”, cheios de possibilidades de mudanças e conseqüências.

Também não queria psicografia, entoação ou algo assim. Falo da oportunidade de uma aparição da pessoa. Do amigo ou ente querido se manifestar logo após a desencarnação. 

Dessa forma podemos dizer ou escutar qualquer coisa do tipo: eu te amo, siga seu caminho, pois vou cuidar de tudo por aqui. É isso!
 pai

Óquei, pode soar meio lunático, mas sem querer ferir o código de ‘futuro pré-determinado’ denominado destino, o sindico de tudo isso aqui, de codinome Deus, poderia colocar mais essa cláusula no livre arbítrio: a possibilidade de se despedir. Seria ótimo. E como seria! 


Não, não se trata de “consertar” nada e sim uma última chance de diálogo. Uma conversa franca e um adeus digno. 
 
Elton Tavares

OUÇA BEM O QUE VOU GRITAR NO SEU OUVIDO – Poema de Fernando Canto

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OUÇA BEM O QUE VOU GRITAR NO SEU OUVIDO

Ouça bem o que vou gritar no seu ouvido:
Este avião segrega a minha dor e sequestra meu desejo.
Mas nem assim tirarei o ranço da mochila pra te machucar nesta viagem.
Sou, bem sabes, um viajante extemporâneo hoje em dia,
Ainda que tenha te seguido em prantos
Por desertos e luas paridas sem orgulho.
Sou estratégia, luta e morte agora.
Um calcanhar de sólido e obtuso aço
A deixar pegadas órfãs de grama ao caminhar.
Por ti gestei palavras e poemas
Ensanguentado de mágoas e lâminas enferrujadas no nosso jardim de amarílis, mas não deixei que mesmo à tua voz renitente a dor fosse objeto de vindita.
Mas ouça bem, porque neste avião a manobra de valsalsa me faz surdo e um surto de angústia povoa meu ser, posta a natureza falsa do cabelo da aeromoça que passa me ofertando um tango e um sanduíche no cartão de crédito.
Tiro da cartola um coelho e um moinho de lágrimas e te digo novamente: ouça-me bem, amore, a minha biografia foi filmada em celular e num segundo milhões de acessos contemplei. Ouça -me: despertei do sonho, da prisão do pesadelo que embalava minha rede branca na varanda. Meu coração já não sofre tanto por ti. Ouça -me. Ouça -me! Você pode me ouvir, sim. O avião pousou. Desembarca. Já!

Fernando Canto

Hoje seria aniversário do saudoso Antonio Sena, o “Paparazzo”…

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Eu e Paparazzo, na sala da Comunicação do Governo do Amapá – 2011

Hoje, o fotógrafo Antônio Sena Cantão, o popular “Paparazzo”, faria 68 anos. Trabalhei com o cara e me tornei seu amigo. O que foi uma grande honra, pois ele foi um homem de bem. Ele foi muito parceiro. Nunca reclamava de nada, pois encarava o trampo com um bom humor invejável.

A amizade que construí com Papa foi em cima dos perrengues na estradas, quando pegamos chuva e sol na moleira, cobrindo pautas do Governo do Amapá. Em 2011 e 2012, dividimos quartos de hotéis, nem sempre dignos, comida e cervejas. Muitas cervejas!

Todos nós, seus familiares, colegas de trabalho e amigos, ficamos muito tristes com a forma trágica que ele fez a passagem. É como dizem os franceses: “c’est la vie…

Mas, às vezes, a vida é foda.

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Porém, como aquele coroa era só alegria, se estivesse entre nós, certamente iria comemorar seu aniversário com cerveja gelada e ao som de um brega.

Sim, brega. Quando viajávamos, eu monopolizava o som do carro, afinal, era o chefe da equipe de comunicação na viagem. Lembro de uma vez que coloquei Pink floyd pra rolar e Papa, indignado, disparou: “Porra, Elton, bota um brega!”

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Eu entre o jornalista Tagaha Luz e o fotógrafo Antônio Sena, no Bar da Euda. Saudades!

Esteja onde estiver, o velho safado (como eu o chamava na brincadeira e ele retribuía com “gordo safado”) deve estar bem. Sempre com seus passos largos, cabeça fria, cabelos de algodão e sorrisão na cara. Dá uma saudade danada dele.

Agradeço a Deus por ter convivido com pessoas como o Paparazzo. Ele viverá pra sempre em nossos corações. .

A gente se vê do outro lado, Papa. E quem sabe, tomamos umas por este aniversário, pelos de outras vidas e das que virão. É isso.

Elton Tavares