Poema de agora: CARTA DE AMOR (@PedroStkls1)

CARTA DE AMOR

estou escrevendo uma carta de amor
álvaro de campos que me perdoe
toda reprodução acentuada
de sal saudade
manhãs engorduradas de esperas na varanda
na minha carta constam
linhas em papel opaco
de cabelos negros
de viagens para cartões postais
sorveterias e restaurantes
tem barulho de chuva
grande atração de domingos
pendurados no canto da casa
um encontro desfeito

e meu coração antiderrapante
para quedas entre uma e outra ilusão
vou enviar dentro de um envelope
sem qualquer possibilidade de
identificação destinada
na minha carta constará
que nos perdemos para sempre.

Pedro Stkls

MP-AP expede Recomendação para que Assembleia Legislativa instale ponto eletrônico

O Ministério Público do Estado do Amapá (MP-AP), por meio do Procedimento de Gestão Administrativo nº 0009186/2017, expediu, nesta terça-feira (19), Recomendação ao presidente da Assembleia Legislativa do Amapá (Alap), deputado estadual José Carlos Carvalho Barbosa, para que a instituição providencie a instalação do ponto eletrônico de frequência dos servidores, comissionados e efetivos, vinculados à Casa de Leis. A ação visa a transparência e facilidade na fiscalização da jornada de trabalho na administração estadual.

Conforme a Recomendação, o ponto eletrônico deve ser instalado no edifício-sede da Alap e em seus respectivos anexos no prazo de 180 (cento e oitenta) dias. O documento foi assinado pelo procurador-geral de Justiça do MP-AP, Márcio Augusto Alves, e pelo coordenador da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Cultural de Macapá (PRODEMAP), promotor de Justiça Adauto Barbosa.

Outras exigências contidas na Recomendação:

1. Que os pontos eletrônicos sejam instalados com câmeras ou em locais com acesso ao público, tais como: entrada dos prédios, saguão ou hall;

2. Que, imediatamente, a partir do recebimento desta Recomendação, passe a exigir, de todos os seus servidores, assinatura em cartão de ponto manual, com horários fidedignos de jornada de trabalho, até a efetiva implantação do ponto eletrônico, devendo as chefias imediatas assumirem a responsabilidade de conferência diária desses pontos manuais, bem como da veracidade das informações ali prestadas;

4. Estabelecimento de rotinas destinadas a fiscalizar o cumprimento do disposto na presente Recomendação, sob pena de responsabilidade pelas ilegalidades que vierem a ocorrer;

5. Apresentação, no prazo de 30 (trinta) dias, de cronograma detalhado das etapas e providências administrativas necessárias ao funcionamento do sistema de ponto eletrônico biométrico e à implantação das medidas acima descritas.

O PGJ do MP-AP ressaltou que a medida tem por finalidade garantir, além do efetivo cumprimento da jornada de trabalho, a obtenção de dados aptos a demonstrar a real carga horária desempenhada pelos servidores, efetivos ou não, da Alap, inclusive para efeito de instrução em procedimentos administrativos e inquéritos civis públicos.

O controle eletrônico de frequência representa uma ferramenta de gestão que fornece dados estatísticos, com a finalidade de auditar o comportamento da máquina pública, e dar credibilidade e transparência ao processo de avaliação do funcionalismo. A Recomendação é de caráter preventivo, com o objetivo de resguardar o interesse público e evitar eventuais demandas judiciais para responsabilização”, pontuou Márcio Augusto Alves.

SERVIÇO:

Elton Tavares
Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Estado do Amapá
Contato: (96) 3198-1616
E-mail: [email protected]

Inter Amazônias: uma Fronteira Musical: Clicia Di Micelli agora é Mestra e quem ganha com isso é a Cultura do Amapá

Foto: Márcia do Carmo

Durante dois anos, a professora, servidora pública e produtora cultural, Clicia Vieira Di Miceli, esteve mergulhada em pesquisas, estudos e viagens. O empenho e dedicação dela, que é apaixonada pela música e cultura do Amapá, resultou na aprovação de sua dissertação para mestrado, anteontem (16), na Universidade Federal do Amapá (Unifap), por meio do Mestrado Profissional em Estudos de Fronteira.

A Banca avaliadora, hiper-qualificada, foi formada pelo professores Jodival Maurício (orientador), da Unifap; Lucas Panitz, da Universidade do Rio Grande do Sul; Marie-Françoise Pindard, da Universidade da Guiana Francesa e Joseph Handerson, da Universidade Federal do Amapá.

Foto: Márcia do Carmo

Sim, a querida amiga agora é Mestra e seu trabalho resultou num belíssimo resultado da pesquisa, e um documentário sobre a relação musical entre Amapá e Platô das Guianas.

Denominado “Inter Amazônias: uma Fronteira Musical”, o doc discorre sobre a música tradicional e contemporânea do Amapá e Guianas. Entre os pontos do documentário, que focou na geografia musical da Amazônia (um elo perdido com o Brasil do outro lado do rio Amazonas), estão as origens da musicalidade, vasto acervo de canções e artistas, produção de instrumentos e indumentárias dos povos da floresta não só cantam, mas que dançam e completam esse arcabouço cultural.

Foto: Márcia do Carmo

Os aspectos da riqueza musical, que Clicia pontou, explicam o quanto a Amazônia amapaense tem parte de sua base sonora nas Guianas. As semelhanças dos ritmos musicais do Amapá e do Platô das Guianas é incrível.

Tudo no documentário é lindo. Desde sua abordagem, trilha sonora, riqueza de conteúdo e edição (palmas para o amigo André Cantuária).

Foto: Márcia do Carmo

Outra coisa muito legal foi ver todos os entrevistados lá na plateia, torcendo pela defesa. Um grupo de pessoas formado pelos maiores nomes da música do Amapá. Coisa linda mesmo.

Nossa (e deles) fantástica sonoridade ritualística aliada a imagens sensacionais fazem de “Inter Amazônias: uma Fronteira Musical”, um documentário essencial, não somente para a comunidade acadêmica, mas para nossa sociedade.

Foto: Márcia do Carmo

Como em tudo que se propõe a produzir (seu amor pela música e arte em geral a fez ativista da causa), a pesquisa de Clícia resultou em um material audiovisual e textual que consegue elucidar o quanto diferentes culturas e de matrizes religiosas variadas se entrelaçam musicalmente. Pois sua diversidade e clareza sobre o intercâmbio entre povos é de grande valia para a memória do nosso patrimônio imaterial. Um trabalho que se tornou um filme cheio de tradição, folclore e amor. A nós só resta aplaudir de pé.

Foto: Márcia do Carmo

“Os fatos folclóricos só são autênticos quando feitos pelo povo” – Hélio Pennafort.

Claro que depois a gente festejou a vitória de Clicia!

Elton Tavares – Jornalista que conheceu Clicia em 1989, quando ambos estudaram juntos e está orgulhoso da amiga.

Provas do concurso público da Afap acontecem neste domingo, 17

Foto: Maksuel Martins/Secom

Por Cinthya Peixe

Os 15.992 candidatos inscritos no concurso público da Agência de Fomento do Amapá (Afap) realizam provas neste domingo, 17. A Fundação Carlos Chagas já enviou por e-mail e disponibilizou no site da FCC o horário e local de provas, que serão realizadas somente no município de Macapá.

Para os cargos de nível médio, as provas objetivas acontecem no período da manhã, às 8h30 (horário local), com fechamento dos portões marcado para as 9h. Com duração de três horas, não será permitida a saída do candidato do local de realização, antes de decorridas duas horas.

Já para os cargos de nível superior, as provas objetivas e de redação estão agendadas para as 14h (horário local), com fechamento dos portões previsto para as 14h30. O teste terá a duração de 3h30 e, também não será autorizada a saída do candidato antes de decorridas duas horas, sob pena de eliminação do certame.

É necessário comparecer ao local da prova com antecedência mínima de 30 minutos do horário determinado para o fechamento do portão de acesso, munido de caneta esferográfica de material transparente de tinta azul ou preta, fabricada em material transparente; documento de identificação original com foto e do cartão informativo do candidato, disponibilizado pela FCC.

Vagas

O concurso oferece vagas para nível médio e superior nos municípios de Macapá, Santana, Laranjal do Jari e Oiapoque. São 29 vagas imediatas e 200 para cadastro reserva.

Para nível médio, os cargos são: Assistente Administrativo de Fomento (10 vagas imediatas) e Agente de Fomento Externo (10 vagas imediatas, sendo sete para Macapá, uma para Santana, uma para Oiapoque e uma para Laranjal do Jari).

Para nível superior, os cargos são para Analista de Fomento – Advogado (três vagas imediatas); Contador (três vagas imediatas); Tecnólogo da Informação (uma vaga imediata); Economista (uma vaga imediata) e Analista de Fomento – Crédito (uma vaga).

As remunerações para cargos de nível médio serão de R$ 2.074,11 e para os de nível superior R$ 3.319,77, além de vale-alimentação.

VAZANTE – Conto de Luiz Jorge Ferreira

Ele há muitos anos não bebe água…

Ocupado em recolher as datas, as que são ocupadas por episódios trágicos.

Arranca dos Calendários da parede as folhas numeradas marcando as datas dos meses, e os dias das semanas.

E as coloca dentro de um saco de plástico bege que chama de Existência.

Sua mulher doutro lado da sala, onde nestes últimos anos eles transformaram em sala, quarto, cozinha e área de seus raros banhos…o observa em silêncio…sua ocupação, aparar as bordas desniveladas da papelada que ele ensaca para lhes dar um primoroso acabamento…

Ele não bebe água…embora a vasilha que ela encheu na bica que a chuva transborda e deixa escorrer abundante, houvesse chegando ao meio, só ela havia consumido o líquido.

Ele, da água não beberá um gole.

Estava magro e ressecado, como uma mala velha de couro, e sua calça e camisa pareciam tão secas como ele próprio.

Estava recolhendo o que ele próprio chamava de sobrevivência…para ensacar nos sacos chamados por ele de Existência.

Os discos, as fichas telefônicas, as gaiolas onde antes pulavam os Curiós, o tapete espesso onde procriaram três gerações de gatos Siameses, e estampilhas de imagens de toureiros, damas tocando castanholas, e espadachins portentosos.

Um monte de sacos amontoados no caminho do antigo corredor que ia rumo ao quintal… desaparecerá…o barulho da televisão, agora mais um chiado continuo, que fala inaudível, se fazia presente…longinquamente.

E vários pacotes de vela, para serem acessas em sequência, pois a tempos se fora a luz elétrica, não que não houvesse fios, apenas quebraram-se as lâmpadas, vieram as velas.

A casa era triste…as dobras da rua defronte pareciam querer fugir dali…mas ele não bebia água…

As árvores plantadas no quintal decorando de folhas o chão,os troncos não eram mais de madeira, eram agora de papel machê, porque também não bebiam água…

Ele catando passos, falas, espirros, algazarras, sorrisos, e desenhos feitos a mão, em determinados momentos,fazia trejeitos e repetia monólogos, cuja a única testemunha eram os ponteiros do relógio, que ele usará para prender um cadarço de sapato na parede para nele dependurar coisa esquecidas…

Um caos…a própria vida começou a evitar aquela casa.

A noite passava ao largo.

A chuva deixou de vir…

Um silêncio triste, sentou debaixo das árvores, e ficou calado.

Tudo era um traçado de ensacar coisas deles, e de tudo,e o todo, que ele achava que era um grão.

Ela doutro lado da então agora uma coisa qualquer chamada antes de sala, se transformou, em água.

E ele cabisbaixo entrando no derradeiro saco, não bebeu.

* Além de contista, Luiz Jorge Ferreira é poeta, escritor e médico amapaense que reside em São Paulo e também é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames).

Poema de agora: Para um certo lugar atolado no Ontem. – Luiz Jorge Ferreira

Para um certo lugar atolado no Ontem

Planto chuvas como se Abril fosse bissexto.
Molho textos como se tardes nascessem do mar.
Amanheço em mim, assustado com a possibilidade de voar.
Mas não saio de ti, nem que o avesso apareça por traz da pintura de R.Peixe…ou esculturas de Rodin.

Enxerto pecados em virtudes, canto com Alaúde uma Ave Maria agnóstica, que na surdina do barulho infernal dos sapateios, finge ser muda.
Mas eu a traduzo para a linguagem gestual dos mudos, e ela fica lilás e sensual.

Com as lágrimas que pulam para a calçada…
Afogo rosas todas esculpidas em barro como o de Brumadinho.
E ponho em fila todas as vidas abortadas e nuas pelas valas espremidas.

Planto chuvas e as carrego sobre os ombros, que imagino largos, a Noroeste do Riacho que chamo de lama.
Da casa a céu aberto que chamo de alma.
Da imensidão de saudade, que chamo de drama.
Do paneiro cheio de palavras átonas e tônicas … que chamo de poema.

E se eu soubesse que viraria lama.
Teria atirado minha chuva na tua cara!

Luiz Jorge Ferreira

 

*Poema do livro “Nunca mais vou sair de mim, sem levar as Asas”.

Poema de agora: Transcriação – (@cantigadeninar)

Transcriação

Ereção a cada palavra.
O sêmen na caligrafia,
O desejo que escorre em fila,
Os dedos penetram uma linha.
Jorra e se espalha em cores,
A língua sem dissabores.
A preliminar veloz,
A escolha de um título feroz
Que resuma toda a cópula.
Eis que o processo de criação
Nada mais é que procriação
De uma espécie feita de tinta.


Na safadeza explícita,
Não me julgo prostituta
Pois ofereço-me gratuita
A serviço de um verso.
E nesse coito,
Papel-eu-pena,
Masturbo, com carinho, um poema…
E no ápice, sem aborto,
Gozo, enfim, uma estrofe:
– Engole ou cospe?
E orgulhosa, exibo minha cria:
Um orgasmo em poesia.

Lara Utzig

Operação Boogeyman: PF combate crime de pornografia intanto-juvenil no AP

A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (7/2) a Operação Boogeyman*, que visa combater o compartilhamento de material de pornografia infanto-juvenil através da internet no estado do Amapá.

Durante as investigações foi identificado, por meio da utilização de software específico, o local de onde ocorrem os compartilhamentos e provavelmente onde estão armazenados os arquivos contendo imagens e/ou vídeos pornográficos infantil-juvenil. Essa prática criminosa vem ocorrendo desde o ano de 2017.

Nesta operação, foi dado cumprimento a um mandado de busca e apreensão em Macapá/AP. No momento da busca, um indivíduo, de 31 anos, foi preso em flagrante na posse de mais de 40 Gb de arquivos com imagens de abuso sexual, que foram apreendidos.

O preso foi conduzido à Superintendência de Polícia Federal para prestar depoimento e responderá, pelos crimes de compartilhamento e armazenamento de registro contendo pornografia de criança ou adolescente. Se condenado, as penas podem chegar a 10 anos de reclusão.

* O nome Boogeyman (monstro da cultura inglesa) é um fantasma sombrio e amorfo, que se esconde em lugares obscuros para assustar vítimas inocentes. Ele é mais um incômodo do que um perigo, e o seu poder é facilmente neutralizado pelo brilho da luz.

Comunicação Social da Polícia Federal no Amapá
[email protected] | www.pf.gov.br
(96) 3213-7500

Cidade Lançante (crônica de Fernando Canto em homenagem à Macapá)

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Por Fernando Canto

Esta baía é uma grande gamela de líquidas contorções, ondas que bailam sob a música do vento.

Esta baía não guarda mais o sangue inglês do comandante Roger Frey que pereceu sob a espada implacável do capitão Ayres Chichorro a 14 de julho de 1632, um dia claro, aliás, de verão amazônico, quando o sol derretia naus e o piche dos tombadilhos. Nem o sol, nem o vento, nem o oceano lá adiante cogitavam que naquela mesma data, dali a 157 anos o povo francês tomaria a Bastilha.

Na margem esquerda deste rio imensurável uma floresta úmida abrigava uns seres esquisitos, cabeludos e cheios de penas coloridas que os portugueses conheciam por Tucuju, Tikuju, Tecoju ou Tecoyen. Segundo ensina a mestra Dominique esse era um povo de origem Aruaque, ocupante da Costa Sul do Amapá que se tornou aliado dos holandeses, dos franceses e dos irlandeses. Por isso foi atacado impiedosamente por uma expedição do desbravador Pedro Teixeira no ano da graça de 1624. Sua história, no contexto da nossa, dá conta que após a façanha do capitão português esse povo procurou abrigo no Cabo do Norte, mas foi reduzido pelos jesuítas a uma missão no baixo Araguari e pelos capuchinhos no baixo Jari. É provável que um pequeno grupo tenha sobrevivido ao sul do município de Mazagão até o início do século XIX. Desse pequenino grupo restaram apenas as cinzas do tempo e um soluço quase imperceptível que morre a cada segundo na agonia de todos os silêncios.

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Esta baía guarda estranhos segredos: uns são contados em língua morta, quando o hálito da madrugada sopra depois que a lua assim determina. Esses são de difícil entendimento. Os outros pairam nos escaninhos dos tabocais ou na boca das pirararas. Dificilmente serão contados.

O estuário deste rio dadivoso acelera a corrente de 2,5 quilômetros por hora para jogar no oceano cerca de 220 mil metros cúbicos de água por segundo. O inacreditável é que apenas o desaguar de 24 horas daria para abastecer de água potável uma cidade superpovoada como São Paulo por quase 30 anos. Números são números, diria o matemático. Nessa foz está a redenção de nossa terra, diz o sonhador sem perder sua utopia. Do barro e dos detritos aluviais se faz a vida. E ela está ali dentro das águas à espera da sustentação das mãos trabalhadoras.

Esta baía não se faz só de águas e barcos deslizando ao sabor das ondas. Ela abriga uma pequena jóia nascida sobre a várzea dos aturiás, velada há dois séculos por uma fortaleza plantada em cima de falésias.

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Foto: Juvenal Canto

Macapá, velho pomar das macabas, carrega dentro de si a similitude de um éden tropical das narrativas dos antigos viajantes, até por ser banhada por tantos líquidos e cheiros advindos diariamente pela chuva refrescante e pela espuma das lançantes marés.

Macaba, Maca-paba:gordura, óleo, seiva do fruto da palmeira, vida e princípio desta terra, posto que a sombra traz a ternura e contrasta com o benefício da luz que se espraia por glebas de esperança.

Antiga terra da maleita e da febre terçã. Terra do “já teve” já não és. Mas alguns homens ainda jogam em teu traçado xadrez e, silenciosos, manipulam segredos e conspiram contra ti, a degradar-te e degredando teus verdadeiros sonhos e tua vocação para o abrigar da vida que se espera. Mesmo assim a felicidade bem insiste em se hospedar em ti.

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Embora batizada com nome de santo – especialíssimo no panteão católico – teus habitantes não ficam isentos dos perigos: pés se torcem ou se fraturam todos os dias nos buracos das ruas outrora bem cuidadas.

Agora eu fico aqui me perguntando: por que quando te fundaram ergueram um pelourinho? – “Símbolo das franquias municipais”, dirão os doutos e sisudos professores. Ora, quantos homens não castigaram seus escravos até à morte após a partida do governador Francisco, porque estes aproveitaram para fugir durante a solenidade.

Um tralhoto viu e contou ao Mucuim que diz-que o Ouvidor-Geral e Corregedor Paschoal de Abranches Madeira Fernando tomou um porre de excelente vinho do Porto ofertado a ele nesse dia pelo plenipotenciário capitão-general Mendonça Furtado, que daqui zarpou para o rio Negro para demarcar as fronteiras do reino, a mando de Pombal. Foi um dia de festa aquele 04 de fevereiro de 1758, porque nasceu naquele instante a vila de São José de Macapá.

E ela cresceu e se fez linda e amada, pois os caruanas das águas vez por outra rondam em espirais por aí, passeando em livros abertos, nos teclados dos computadores, pelas portas e pelos filtros dos aparelhos de ar condicionado, nos protegendo das agruras naturais e das decisões de homens isentos do compromisso de te amar.

Parabéns, Macapá!

* Texto escrito em 2001.

Homenagem à Macapá – Por @BernadethFarias

SãoJosé

Por Benadeth Farias

Índios, brancos, negros, mamelucos, mulatos, cafuzos. Uma rica mistura de origens, um povo que se aperfeiçoa a cada geração. Gente morena que traz na alma fé e graça. Força talhada na miscigenação. Povo hospitaleiro com sangue guerreiro. Terra tucuju, beleza de norte a sul. Macapá das bacabas, do açaí, e até da sucuri. Terra do peixe farto, que traz no prato o gosto do pirarucu saboreado com um suco de cupuaçú. Gastronomia regional que já atravessou outro canal. Do açaí ao peixe e camarão, uma delicia saboreada com um bom pirão.

Na feira do tradicional mercado central, o corre corre em direção ao canal. Na procura por uma refeição, quem não tomou aquela garapa com pastelão? Mas no momento atual, o churrasquinho de gato virou prato principal e custa apenas um real.

10477421_776613925694154_8676649923332490034_oMacapá do majestoso rio amazonas, ora calmo, rasante, lançante, imponente feito gente. Protegido por São José nos quer sempre perto, de braço aberto. Na orla da capital, um cenário tropical, a música regional embala o casal.

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Cidade do Marco Zero, dois hemisférios, um verdadeiro mistério. No Estádio Zerão muita emoção. É a bola no pé de quem tem sempre fé. E na Catedral de São José muita oração. Fiéis em ação para pedir proteção.

No corredor da folia, muita energia, gingado e alegria. Com o samba no pé, e no coração haja emoção. Terra de batuque e marabaixo. Do grupo pilão que canta com empolgação. Do Zé que vai para o mato apanhar açaí, sem esquecer o tucupi.

Macapá do Negro Sacaca, das grandes áreas de ressaca. Das plantas medicinais milagrosas usadas por mulheres fogosas. Do Curiaú de fora e de dentro que se tornou um alento. Macapá da Fazendinha, das brincadeiras de cirandinha. Cidade de encantos e cantos.

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Poesia, simpatia, alegria, não faltam a Macapá. Inspiração tem até para sobrar. Falo da cidade que surgiu a partir de um destacamento militar. Proteger a fronteira do Brasil foi um grande desafio, mas estou aqui para relembrar que o governador do Grão Pará fundou Macapá.

Cidade que oferece amor, trabalho e dedicação aos filhos de nascimento e aqueles de coração. Macapá é um refugio de sonhos e concretização de realidades. Beleza natural, diversidade cultural. Povo caloroso e guerreiro, com o coração cheio de amor para dar, alegria de viver, tristeza nem pensar, assim é Macapá.

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Desenvolvimento, turismo e beleza, combinação perfeita e que com certeza atrai quem procura a natureza. Pontos inexplorados, cenários que mexem com a imaginação e são inspiração

E com ousadia arrisquei fazer essa rima em forma de poesia que me deu muita alegria. Macapá é simplesmente o lugar onde quero sempre morar.

*Bernadeth Farias é jornalista com 29 anos de experiência no Amapá. Há anos atua de forma brilhante na chefia da Comunicação Institucional do Tribunal de Justiça do Amapá (Tjap), além de querida amiga minha.  

Música de agora: Coração Tropical – Amadeu Cavalcante


Coração Tropical – Amadeu Cavalcante

Meu Coração tropical
Amanheceu Batucando por você
Eu não sou anormal
Aqui no outro lado do Brasil
O amor é tão natural quanto taperebá
E você ainda me vem com esse cheiro de fruta
na boca, na boca

Ja passou carnaval
Mas ainda não chegou São João
O meu peito anda em festa
E assim eu te fiz esta canção
Sob o sol
Macapá
Lagoa dos Indios,
Quebra Mar
Não deu brega, nem samba, batuque ou bolero
So uma canção de mim

Amanheci cantando por você
Amanheci vivendo por você
Do seu amor eu peço biz

Poema de agora: AS ANGÚSTIAS SE CURVAM – Saulo Mendes

AS ANGÚSTIAS SE CURVAM

As angústias se curvam
ao peso de uma só dor.
Uma só memória cala
a força, a vontade, a cor.
Poderíamos estar juntos
se não fosse a conjuntura.
Doze espinhos são encravados
aos gritos, sem compostura,
na forma bruta da morte,
na desmemória dos jovens
na face da própria sorte.

Doze horas são passadas
antes que a última vez
se projetasse ao futuro
na glória de cada mês.
Doze instantes sem tarjeta
mudaram-se em flores mortas
cresceu força da sarjeta
rompendo amarras e portas.
Nova vida rompeu seio
E aos gritos cada manhã,
queimou formas, vias e meios
conformou todo o amanhã.
É preciso ainda esperar,
ainda espero, ainda que venha
a doce força de um mar.

Saulo Mendes

*Saulo Mendes foi um poeta carioca que se instalou por aqui nos anos 70, Era compositor, poeta, radialista e diretor teatral, inclusive montou duas peças, de autoria dele: o Louco, encenada no auditório da Rádio Educadora e Morte e Vida Severina, encenada no Cine Teatro Territorial. Foi casado com a cantora Lurdinha Mon’Alverne e morreu nos anos 80 em acidente na Br-156.
**Contribuição de Fernando Canto.

A fundação de Macapá – Por Fernando Canto

Por Fernando Canto

Segundo o historiador amapaense, Estácio Vidal Picanço, “a cidade de Macapá teve sua origem primitiva de um destacamento militar que se aquartelava sob as ruínas da fortaleza de Santo Antônio de Macapá, por volta de 1738, comandada por Manoel Pereira de Abreu”.

Imagem: Google

Dez anos mais tarde, o rei D João V criou a Província dos Tucujus, abrangendo o que seria hoje os municípios de Macapá, Mazagão e Amapá. O povoamento definitivo da Província ocorreu quando o governador Mendonça Furtado, nomeado pelo próprio irmão – ninguém menos do que o Marquês de Pombal, no reinado de D. José I -, por volta de 1751, trouxe os primeiros colonos da ilha dos Açores para garantir a defesa deste pedaço de solo, que desde o século XVI vinha sendo cobiçado por várias potências estrangeiras.

Imagem: google

Quando Mendonça Furtado viajava de Belém para a capitania de São José do Rio Negro, hoje Estado do Amazonas, onde iria ver de perto os serviços de demarcação e estabelecimento das terras, já vinha com a incumbência de fundar a Vila de São José de Macapá, no antigo povoado da Província dos Tucujus.

O governador aqui chegou no dia primeiro de fevereiro de 1758 e três dias depois mandou levantar o pelourinho na praça São Sebastião, para simbolizar as franquias municipais, declarando solenemente fundada e instalada a Vila de São José de Macapá, que se mantinha com atividades de pecuária, agricultura e coleta de produtos da floresta.

Fortaleza de São José de Macapá – Foto: blog Amapá, minha terra amada.

Pela Lei Provincial do Pará, de número 281, do dia 06 de setembro de 1856, Macapá recebeu os foros de cidade, quase um século depois de sua elevação a Vila. No século seguinte, Macapá foi promovida a Capital do Território Federal do Amapá, em 31 de maio de 1944.

Hoje, Macapá desfruta a condição de terceira metrópole da Amazônia pelas suas características urbanas. Uma cidade planejada com ruas largas e praças espaçosas. Para Estácio Vidal, pesquisando a origem do vocábulo “Macapá”, o significado mais aproximado da palavra é de procedência tupi, o qual, de acordo com outro historiador, Teodoro Sampaio, vem de Maca-Paba – estância de macabas, corruptela de bacaba, fruto de uma palmeira abundante na região.

Foto: Blog Porta Retrato

A turma do buraco

De modo geral, na Amazônia, mesmo em virtude do não-planejamento urbano, podemos encontrar as cidades verdes e cheias de árvores Belém é conhecida como “Cidade das Mangueiras” e, a seu exemplo, Macapá possui inúmeras dessas árvores, plantadas em suas principais vias.

Mesmo sendo desaconselhável a arborização com plantas frutíferas, mormente espécies que dão frutos grandes, deliciosos e carnudos, por causa dos inconvenientes no trânsito e na limpeza pública, Macapá tem uma história significativa sobre o assunto, que remonta à época do primeiro governo amapaense, Janary Nunes, em 1944 realizaria um trabalho pioneiro num lugar “contaminado pela miséria’, como diria mais tarde Álvaro da Cunha, o inventor da “Mística do Amapá”.

Começava então um processo de urbanização, acompanhado por um sistema fenomenal de arborização, incentivado por professores e membros do governo, e executados por alunos que seriam conhecidos como a “Turma do Buraco”. A arborização começou a ser feita por essa turma de estudantes, dos quais muitos ocuparam cargos importantes na administração do Território e do Estado, ou são profissionais liberais de reconhecimento e respeito.

Essa eficiente turma era selecionada nas escolas e encaminhada anualmente à Prefeitura para fazer serviços de poda, conservação de ruas, limpeza de canais e buracos, irrigação, drenagem e outros serviços de reparos. Na época, a cidade se abastecia de água no Poço do Mato, que no verão não era suficiente para a conservação das plantas, havendo a necessidade da tarefa desses estudantes, os quais, antes de mais nada, ganhavam uma gratificação da Prefeitura para ajudar nas despesas do colégio.

Foto: Blog do João Silva

Esse ato de plantar mangueiras, levado a cabo pela Turma do Buraco, não deve ser olhado hoje pelos urbanistas como algo ruim para a urbanização e ornamentação das ruas e praças. Em Macapá plantamos o que gostamos e comemos. Isso é louvável não porque dá somente sombras, não porque libera o oxigênio que respiramos, mas também porque mata a fome de muitos desvalidos. Hoje, quando andamos pela cidade, abrigando-nos do sol inclemente, facilmente nos sentamos à sombra de uma mangueira para descansar. E como é bom podermos saborear o seu fruto.