Há 25 anos, morreu meu pai, Zé Penha Tavares (o meu herói)

Meu pai, Zé Penha. Um cara sensacional!

Um discurso que sempre pautou a minha vida foi o amor pela minha família. Há exatos 25 anos, em uma manhã de segunda-feira cinzenta, no Hospital São Camilo, morreu José Penha Tavares, o meu pai. O meu herói. Já que “Recordar, do latim Re-cordis, significa ‘passar pelo coração”, como li em um livro de Eduardo Galeano e dito também em outro texto pelo amigo Fernando Canto, passo pelo meu essas memórias.

Filho de João Espíndola Tavares e Perolina Penha Tavares, nasceu no município de Mazagão, em 1950, de onde veio o casal. Era o primogênito de cinco filhos.

Ele começou a trabalhar aos 14 anos, aos 20 foi morar em Belém (PA), sempre conseguiu administrar diversão e responsa, com alguns vacilos é claro, mas quem não os comete? Na verdade, papai nunca se prendeu ao dinheiro, nunca foi ambicioso. Mas isso não diminui o grande homem que ele foi.

Após o seu falecimento, li no jornal da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), onde ele trabalhava: “Feliz, brincalhão, sempre educado e querido por todos. Tinha a pavulagem de só querer menina bonita a seu lado, seja em casa ou entre amigos, mas quem se atreve a culpá-lo por este extremo defeito?”.

Zé Penha pode não ter sido um marido exemplar, mas com certeza foi um grande pai. Cansou de fazer “das tripas coração” para os filhos terem uma boa educação, as melhores roupas e bons brinquedos. Quando nos tornamos adolescentes, nos mostrou que deveríamos viver o lado bom da vida, sacar o melhor das pessoas, dizia que todos temos defeitos e virtudes, mas que devíamos aprender a dividir tais peculiaridades.

Papai e mamãe, em 1990.

Penha não gostava de se envolver em política. Ele gostava mesmo era de viver, viver tudo ao mesmo tempo. Família, amigos, noitadas, era um “bom vivant” nato. Tinha amigos em todas as classes sociais, a pessoa poderia ser rica ou pobre, inteligente ou idiota, branca ou preto, mulher ou homem, hétero ou homo, não importava, ele tratava os outros com respeito. Aquele cara era extraordinário!

Esportista, foi goleiro amador dos clubes São José e Ypiranga, dos times do Banco da Amazônia (BASA) e Companhia de eletricidade do Amapá (CEA) e tantos outros, das incontáveis peladas.

Atravessamos tempestades juntos, o divórcio, as mortes do Itacimar Simões, seu melhor amigo e do seu pai, João Espíndola, com muito apoio mútuo. Sempre com uma relação de amizade extrema. Ele nos ensinou a valorizar a vida, vivê-la intensamente sem nos preocuparmos com coisas menores a não ser com as pessoas que amamos. Sempre amigo, presente, amoroso, atencioso e brincalhão.

Zé Penha, com as mãos nos ombros da Clara (sua namorada na época), eu (em pé com a mão no ombro do meu irmão) e Emerson. 1997.

Com ele aprendi muito sobre cultura, comportamento, filosofia de vida, e aprendi que para ser bom, não era necessário ser religioso. “Se você não pode ajudar, não atrapalhe, não faço mal a ninguém” – Dizia ele.

Acredito que quem vive rápido e intensamente, acaba indo embora cedo. Ele não costumava cuidar muito da própria saúde, o câncer de pulmão (papai era fumante desde os 13 anos) o matou, em poucos meses, da descoberta ao “embarque para Cayenne”, como ele mesmo brincava.

Serei eternamente grato a todos que ajudaram de alguma forma naqueles dias difíceis, com destaque para Clara Santos, sua namorada, que segurou a onda até o fim. E, é claro, minha família. Sempre que a saudade bate mais forte, eu converso com ele, pois acredito que as pessoas morrem, mas nunca em nossos corações.

José Penha Tavares foi muito mais de que pai, foi um grande amigo. Nosso amor vem das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a próxima. Ele costumava dizer: “Elton, se eu lhe aviso sobre os perigos da vida, é porque já aconteceu comigo ou vi acontecer com alguém”.

Meu mais que maravilhoso irmão, Emerson Tavares, disse: “papai nos ensinou o segredo da vida: ser gente boa e companheiro com os que nos são caros (família e amigos)”. Sempre nos espelhamos nele. Para mim é um elogio quando falam que tenho o jeito dele, pois o Zé Penha foi um homem admirável, um verdadeiro ser humano!

Quem já passou por essa vida e não viveu, Pode ser mais, mas sabe menos do que eu”. A frase é do poeta Vinícius de Moraes. Ela define bem o meu pai, que passou rápido e intensamente por essa vida.

Queria que o Zé Penha tivesse vivido pra ver a Maitê, pra sacar que consegui me encontrar e ser um bom profissional, pra ver o grande cara que o Emerson se tornou. Enfim, pra tanta coisa legal. Também faço minhas as palavras do escritor Paulo Leminski: “haja hoje para tanto ontem”.

Ao Penha, dedico este texto, minha profunda gratidão e amor eterno. Até a próxima vez, papai!

Obs: texto republicado todo ano nesta data e assim será enquanto eu sentir saudade. E essa saudade, queridos leitores, nunca passa!

Elton Tavares

Dois anos sem a vovó Peró – Um texto sobre amor, gratidão e saudades

Hoje, 15 de março, completam dois anos da partida de Perolina Penha Tavares, nossa amada Peró. Sim, nossa linda e cheirosa matriarca virou saudade nesta mesma dada em 2021, vítima da Covid-19 (por conta disso, só nós despedimos de forma digna ano passado). A nonagenária mais linda do mundo sempre faz e sempre fará muita falta.

A gente fica triste, às vezes até choramos por conta da falta imensa que ela faz, mas o sentimento maior é o de gratidão. Somos gratos pela longa e feliz vida que ela teve e do quanto desfrutamos de seus ensinamentos e companhia incrível, sensacional, maravilhosa, entre outros tantos sinônimos do que a Peró foi e é para nós, sua/nossa família.

Perolina partiu com 94 anos. Teve uma vida longa e feliz. Venceu inúmeras situações tristes e complicadas em sua jornada, sempre com altivez e serenidade. Foi uma dama sábia. Vovó foi um exemplo de pessoa bem sucedida, mulher extraordinária, uma pessoa sensacional, ponderada, discreta e bem humorada. Sempre teve muita força em toda sua delicada forma de existir.

Gosto de pensar que a vovó encontrou com o vovô e com o papai. Sua ida é controversa, pois ela jamais irá embora da gente. Penso nela todos os dias. Nosso amor vem das vidas passadas, atravessou esta e com certeza a próxima.

Volto a dizer, esse texto é somente um registro do amor e gratidão por tudo que ela foi e é em nossas vidas. Um beijo em ti, vovó, estejas tu onde estiveres, aí nas estrelas, além de aqui no meu coração. Até a próxima vez, Peró.

Elton Tavares

Corredores do IETA – Texto Poético de Luiz Jorge Ferreira

Antigo IETA – Foto: Blog da Alcinéa.

Texto Poético de Luiz Jorge Ferreira

….eu ando pelos corredores do IETA
Onde Luiz Tadeu fala com Luiz Tadeu
E Eduardo fala com Eduardo
E meu passado de mal a morte com a vida, nem comigo fala na língua do ‘ P’.
Nem faz caretas para o Bieca …Abel…Alípio…e
as lindas meninas dublê de Beth e Edla.
Ando hoje ouvindo Johnny Rivers…
Ando sem sorrisos ando sem meus livros de Geografia, Inglês, e Português.
Ando calçando meu sapato Preto Vulcabraz e uma calça azul que mamãe ganhou para mim do Governo Federal do Amapá .
Mas estou como estaria se não fosse um sonho…
Feliz…

Antigo IETA – Foto: Blog Porta Retrato

Por um triz não voei
ao ser empurrado por um brisa fujona, que veio redemoinhando folhas secas lá da Pracinha defronte ao lar dos Mortos…eu fui a lona e acordei.
…longe está meu coração repuxando todas essas lembranças e as transformando em doces cocadas…coloridas de amarelas.
Como amo o poder de retornar ao passado
mesmo ele passeando assim…uma calça azul doada, um calçado muito pouco macio esse Sapato Vulcabraz…e uma brisa fujona que depois de inúmeras voltas na Praça esperou eu deitar em Osasco 60 anos depois e me empurrou de volta ao passado…
E eu humanamente…voltei.
Os corredores do IETA são estáticos e meu coração viciado a mudar de Norte…sangra sem dor nas Gonzaguinhas Canções.

Saudade de Macapá – Crônica saudosa de Ronaldo Rodrigues #Macapa265Anos

Crônica saudosa de Ronaldo Rodrigues

Eu não passei a infância e a adolescência em Macapá. Foi lá em Curuçá/PA (infância) e Belém do Pará (resto da infância, adolescência e parte da vida adulta). Talvez essas duas cidades tenham me preparado para reconhecer em Macapá também a minha cidade. A cidade que, com as duas citadas acima, dá forma triangular ao meu coração e completa minha geografia humana. A cidade que não vivi na infância e adolescência, mas da qual eu estaria, certamente, morrendo/vivendo de saudade hoje.

Saudade do maior rio do mundo rodeando a Fortaleza de Macapá. Saudade das festas populares que aconteciam no local onde hoje é o Teatro das Bacabeiras. Saudade do Igarapé das Mulheres, de viajar na nave que o poeta Osmar Júnior faz lembrar naquela música que é uma obra-prima.

Saudade de ir à Fazendinha curtir uma domingueira com familiares e amigos. Saudade de passear pelo velho trapiche. Saudade da praia do Araxá e dos bares do Aturiá. Saudade das tertúlias da sede do Trem e dos bailes de Carnaval do Amapá Clube. Saudade do Jet’s Bar, do Gato Azul, do Maguila, do Lennon, do Urca Bar e do Royal. Saudade do La Boheme, último empreendimento do Nena Leão, o Rei da Noite. Saudade do Liverpool Rock Bar.

Saudade da Banca do Dorimar, da Casa Leão do Norte, do Flip Guaraná, do Largo dos Inocentes, do Formigueiro. Saudade do Poço do Mato.

Saudade do Quiosque Norte e Nordeste, informalmente conhecido como Bar da Floriano, comandado pelo casal gente boa Neide e Alceu. Saudade do indefectível Antônio, garçom meio marrento, mas também gente boa, que se dividia entre as mesas servindo a uma galera que não estava nem aí pra sanidade.

Saudade de ir, na companhia do Euclides Campos de Moraes, descolar umas namoradinhas nas festas no Círculo Militar ou no Teleclube. Saudade de curtir uma noitada na companhia do Alcy Araújo e Isnard Lima. Saudade do Hélio Penafort, Correa Neto, Sacaca, Suerda, Macunaíma, Ivo Cannuty, Babá, Bi Trindade, Pai Véio e Pai d’Égua. Saudade do Fred Lavoura, do Foa, do Pururuca.

Saudade de ir às terças-feiras assistir ao Projeto Botequim, no antigo Sesc Centro. Compromisso selado de uma galera que, em certo momento, nem se interessava mais em saber qual o artista que iria se apresentar. O nosso encontro era o que nos atraía. Depois, sair pela noite e, esgotadas todas as opções de bar, tomar a saideira na sede da Úbma.

Saudade do tio Duca, do bar do Metralha, do Tigrão. Saudade do Xixi e do Xiri Molhado, do Bang Bar, do Cabaré Safári, do Bar Caboclo, do Hollywood, do Juçarão. Saudade do Pau Preto, hoje Black Dick, do Bar da Loura, da Casa das Máquinas, da Casa Amarela, do Fundo de Kintal.

Saudade de sair com a minha turma de rebeldes do Colégio Amapaense e tomar umas inocentes brejas no Xodó, pitoresco bar capitaneado pelo não menos pitoresco Albino.

Saudade de assistir a um bom filme de Tarzan no Cine João XXIII, no Cine Macapá, no Orange, no Veneza ou no Territorial. Saudade de ir com a minha galerinha (que devia se chamar patota naquela época) tomar sorvete no Novotel.

Saudade das conspirações contra a ditadura. Saudade do Chaguinha. Saudade do Moap (Movimento Artístico Amapaense), onde o mestre R. Peixe agitava arte, com Olivar Cunha e o indomável Estêvão da Silva.

Saudade do início do grupo Pilão, de ouvir o Canto do Fernando. Saudade dos primeiros acordes do Movimento Costa Norte. Saudade do Nonato Leal solando seu violão mágico e do Mestre Oscar regendo sua orquestra.

Saudade de me sentir chocado com as peças do Celso Dias, como A Santificação de Agarantu, que custou ao autor um processo de excomunhão.

Saudade de ouvir histórias sobre o engasga-engasga. Saudade de ficar aterrorizado com a seringa contaminada do Bambolê.

Saudade do tacacá da tia Bebé e da tia Luci. Saudade do salgado da tia Nenê, de degustar um quitute da Zinoca e da Dedeca. Saudade da arte de Niná Nakanishi. Saudade de Ladislau, tia Gertudes, tia Chiquinha, Julião Ramos, mãe Luzia.

Saudade dos craques Bira, Aldo, Jasson. Saudade do Zé Penha, goleiro que defendeu as cores do Ypiranga e São José.

Saudade de ouvir aquele amontoado de sons no Complexo Zagury, com cada quiosque levando uma música ao vivo. Lula Jerônimo e Lady Púrpura pontificavam por lá. E o Fineias (de vasta cabeleira e antes de incorporar o Nelluty ao seu nome) cantando e tocando seu teclado. Por falar em Fineias, saudade da Jéssica Kandomblé.

Saudade de sair deslizando no papelão como se fosse um carrinho de rolimã lá na praça Zagury. Saudade de andar de patins e skate no estacionamento do Banco do Brasil. Saudade de roubar manga da fazenda do seu Barbosa, que, quando descobria, recebia a molecada com tiros de sal disparados por uma velha espingarda de ar comprimido. Saudade de pedalar por uma rampa tosca, ao lado do trapiche, e saltar com bike e tudo dentro do rio Amazonas.

Saudade do Museu da Imagem e do Som na gestão do Alexandre Brito, único período em que o MIS realmente aconteceu. Saudade das maquinações artísticas do Espaço Caos. Saudade do Festival Quebramar. Saudade das intervenções urbanas do grupo Urucum. Saudade do Arthur Leandro, do Antônio Messias e da Niudes Pereira.

Saudade das festas que aconteciam na casa do Ronaldo Rony, do Edson Índio, do Mariozinho Dias e do Ginoflex. Saudade das idas ao Lontra do Pedreira e à Ilha de Santana. Saudade da casa da Av. Maria Quitéria onde alguns amigos, como Celso Dias e Roni Moraes, se reuniam e de onde saíram muitas músicas.

Saudade dos desfiles cívicos e carnavalescos na Avenida Fab. Saudade das festas de marabaixo no Curiaú. Saudade de, não só ver a Banda passar, mas sair na Banda.

Saudade de uma vida inteira desta cidade que existe em mim somente há 25 anos, mas pulsa dentro do meu peito como se aqui eu tivesse vivido sempre, sem, é claro, desmerecer os lugares em que estive antes. Tudo vai se somando na memória afetiva, real e fictícia deste cronista, filho adotivo e emotivo desta terra.

Macapá celebra hoje seus 265 anos de eterna juventude. E haja fôôôôôôôlego! Vamos à festa!

*Colaboraram para esta crônica Andressa Pereira, Wender Gemaque, Maria Lídia, Patrícia Andrade, Honorato Jr., Celso Dias, Pequeno e Elton Tavares.

Minhas dezenas de fitas K7 e a nostalgia – Crônica de Elton Tavares (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Arte de Ronaldo Rony

Certa vez, há alguns anos, ao procurar meus livros dentro do armário do quarto, dei de cara com minhas duas caixas de sapatos repletas de fitas cassete. Constituída por dois carretéis de fitas magnéticas, a fita cassete é popularmente abreviada como K7. Esse tipo de “tecnologia” foi desenvolvida pela empresa Phillips, em 1963, para substituir a fita de rolo e o formato 8-track, que eram semelhantes, mas muito menos práticos e mais espaçosos.

A tecnologia desse artefato traz uma fita de áudio de 3,15 milímetros de largura, que rodava a uma velocidade de 4,76 centímetros por segundo. Antigamente a gente ouvia tudo na fita K7, no vinil e, muito depois, CD. Hoje, apesar de alguns ainda usarem o “Compact Disc”, quase tudo é no MP3 e MP4.

Minhas caixas, com quase 40 fitas, têm de tudo: Sony, Maxell, Bulk, Basf, Phillips e TDK, de 40, 60 e 90 minutos. A maioria não possui mais capa, mas as que ainda têm estão com os nomes das músicas ordenadamente anotadas no papel interior da fita.

Naquela época, nós caçávamos sons novos como as bruxas eram perseguidas durante a Inquisição, ou seja, incansavelmente. Época de micro system Sanyo (Alguém aí se lembra do que é “rewind”?), walkman Sony e festas de garagem.

Dentro das caixas os velhos companheiros: Depeche Mode, The Smiths, New Order,The Cure, Iron, U2, A-ha, David Bowie, Queen, Pearl Jam e Nirvana (muito Nirvana) Titãs, Ira! ,Paralamas, Legião Urbana (muito Legião), Barão Vermelho, Engenheiros… todos esses e outros heróis da juventude. Além de umas do velho Chico Buarque.

Fizeram sucesso no final de 80, todos os 90 e início dos anos dois mil. Não tenho vergonha de ser tão antiquado. Meu brother André fala sempre, em tom pejorativo, que todo mundo já gravava CDs em 1999 e eu fitas. Bons tempos!

Aliás, gravar fitas era porreta. Quando curtia muito um som, todo um continha somente uma música (podia ser 30 ou 45 minutos de cada lado, com a mesma canção). Às vezes, ficava com o dedo no tape deck, esperando o locutor da FM calar a boca e soltar o som para que eu o tomasse. Oh, saudades!

Enrolar e desenrolar fitas com lápis ou caneta, sem falar em limpar cabeçotes do tape deck, isso sim é nostalgia.

Minhas fitas. Tenho dezenas até hoje. Sei que são inúteis, mas é o apego nostálgico.

A fita cassete não voltou como o vinil, que hoje é objeto cult. No máximo, estão em forma de adesivos de smarthfones (que acho legal pra cacete).

É, minhas velhas e empoeiradas caixas de sapato não estão somente repletas de fitas cassete, mas de ótimas lembranças. Eu as olhei por dezenas de minutos e as guardei novamente no armário, na memória e no coração…

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em 2020.

Saudades do Quiosque Norte Nordeste, o saudoso “Bar da Floriano” – Crônica de Elton Tavares – Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”

Fotos: Chico Terra (esquerda) – A poeta Patrícia Andrade no Quiosque – Foto: Aog Rocha (direita)

Crônica de Elton Tavares

Quem vive a boemia de Macapá há mais de 25 anos, certamente frequentou o Quiosque Norte Nordeste da Praça Floriano Peixoto. O “Bar da Floriano” era o ponto de encontro de poetas, artistas, músicos e malucos em geral. Os proprietários do boteco eram dona Neide e seu Alceu. Aliás, duas figuras queridas por todos que por ali curtiram na companhia de amigos.

O seu Alceu era sempre cara carismático e caladão. Quando descobriu que eu era filho do Penha, virei brother na hora, pois meu pai tinha sido seu amigo.

No Bar da Floriano rolou de tudo: Rock (lá, eu e um grupo de amigos inventamos o “Lago do Rock”, em 2004), Reggae, Samba, MPB, MPA, Clube do Vinil, saraus temáticos, declamação de poesia, lançamento de livros (como o Vanguarda), exibição de filmes, lançamento de fanzines (como os do Ronaldo Rony), venda de artesanato, entre outras tantas manifestações culturais.

Ilustração de Ronaldo Rony

Era fácil ver por lá figuras como o poeta Dinho Araújo, os músicos Nivito Guedes, Dylan Rocha, Sérgio Salles, Rebecca Braga, Chico Terra, a Patrícia Andrade, o Wedson Castro, o Ronaldo Rodrigues, o saudoso Gino Flex, etc. Enfim, uma porrada de gente legal.

O Bar foi fechado pela Prefeitura de Macapá em 2011 (acho eu, pois não lembro da data exata) e deixou a galera sem rumo, sem ninho, sem point. Pode soar como nostalgia, mas o boteco de banheiro sujo, goteiras e instalações rústicas deixou saudade numa moçada que conheço bem.

A cereja do bolo era o Antônio, garçom mais folgado e bruto como poucos, sempre com sua camiseta verde. Eu gostava daquele figura.

Marlonzinho, eu, Fausto, Patrick e Ronaldo Macarrão – 2004.

O comentário do amigo Chico Terra sobre o fechamento do Bar pelo poder público foi perfeito. Eu aqui reproduzo e assino embaixo:

“Era lugar de reunião de artistas e que varava madrugadas em paz. Mas o poder público mandou derrubar o quiosque que abrigava a poesia para dar lugar a uns ridículos pedalinhos que estão desativados agora, tudo em nome da intolerância, inclusive religiosa do gestor municipal de plantão (na época)”. É isso!

É, nós, os malucos da cidade politicamente incorretos, contávamos moedas para a coleta da birita no local, pois amávamos a crueza e falta de sofisticação do boteco. Bons tempos aqueles do Bar da Floriano, apesar de, às vezes sórdidos, mas sempre divertidos. Com toda certeza, uma lembrança feliz. É isso.

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em 2020.

Há 38 anos, a Legião Urbana lançava “Legião Urbana”– da série “Discos que formaram meu caráter” (por Marcelo Guido)

Por Marcelo Guido

Legião Urbana, o primeiro álbum da banda de mesmo nome, foi lançado em 2 de janeiro de 1985. Um disco politizado, rebelde e ao mesmo tempo romântico. Um marco na história do Rock Brasileiro.

Parece que foi ontem, mas já tem trinta e oito anos. 38 anos que a gente começou. Digo “a gente” por que eu e muitas pessoas nos incluímos nessa Legião Urbana e foi a partir desta bolacha que nossas vidas foram tocadas. Com influência mais punk, o álbum trouxe músicas que marcaram a carreira da banda.

“SERÁ”, que a “DANÇA” que querem que a gente participe é essa mesma?, Ou estamos enganados?

Seria apenas “O REGGAE”, que colocaram em uma batida lenta, para que um conformismo tomasse conta de nós. Mas temos um certo “BAADER-MEINHOF BLUES”, para lembrar que a violência é tão fascinante, apesar de nossa vida ser tão normal.

Ai, uma menina que me ensinou quase tudo que eu sei diz que eu tenho medo, mas eu lembro a ela que “AINDA É CEDO”, para me considerar um desnorteado, e estamos os dois “ PERDIDOS NO ESPAÇO”.

Eu a lembro que somos “SOLDADOS”, que pedimos esmolas, somos as sobras da “GERAÇÃO COCA COLA”, por que comemos lixo comercial e industrial e mesmo sem religião ainda somos o futuro da nação. Lembro a ela que basta fazer um dever de casa para crianças derrubarem reis.

Somos o combustível de tudo, somos o “PETRÓLEO DO FUTURO”. E realmente “POR ENQUANTO”, vendemos o’que é certo pra pessoa errada, espero crescer e aparecer.

Esse é o “TEOREMA” de nossas vidas, ou será só imaginação.

“Urbana Legio omnia vincit…” – (“Legião Urbana a tudo vence”).

*Marcelo Guido é punk, jornalista, pai da Lanna e do Bento, maridão da Bia. “…Não é me dominando assim, que você vai me entender.”

Lugar de maníaco é no manicômio, não na Presidência da República

O capitão Bruce Bairnsfather, que depois de participar da I Guerra Mundial virou cartunista:no Natal de 1914, pausa para celebrar a paz com inimigos, todos imersos na lama das trincheiras

Desde 1º de janeiro de 2019, entra ano, sai ano, e o Brasil – como nos versos cantados por Elis – não conhece o Brasil.

Desde 1º de janeiro de 2019, entra ano, sai ano, avançam a crueldade, a insensatez, a insensibilidade, o fanatismo e a compulsão em destruir o Brasil – ou acabar de destruí-lo.

Desde 1º de janeiro de 2019, entra ano, sai ano, e o Brasil – aquele que não conhece o próprio Brasil – chega a duvidar que este país, cantado em prosa e verso como um oásis de concórdia e de bonomia, como um país apenas do samba e do futebol, seria transformado num laboratório de sandices, em que o mais imbecil dos imbecis foi elevado, vejam só, ao status de mito.

Nos últimos dias de 2021, o emblema de tudo isso – a personificação em carne e osso, a mais perfeita tradução da crueldade, da insensatez, insensibilidade, do fanatismo e da compulsão em destruir o Brasil – protagonizou um show de horrores sob aplausos gerais de fanáticos.

Bolsonaro tirou férias, foi a Santa Catarina, andou de jet ski, dançou funk machista, deu cavalo de pau e externou uma declaração despudorada por dia.

Em meio a essa diversão dantesca, a Bahia contava seus desabrigados em decorrência de uma das maiores tragédias de sua história: até agora, 24 pessoas morreram, 53,9 mil ficaram desalojadas e 629 mil foram afetadas de alguma forma em consequência das enchentes causadas pelas chuvas.

Em meio ao seu exibicionismo de horrores, Bolsonaro recusou ajuda da Argentina e sequer dignou-se suspender um dia de suas traquinagens amalucadas para ir à Bahia para, pelo menos, apertar a mão de um dos sobreviventes.

Bolsonaro, nos últimos dias de 2021, anda de jet ski e se exibe para fanáticos, enquanto a Bahia conta seus mortos e milhares de desabrigados por enchentes: humano só na forma, não no conteúdo

É um elemento como esse que desgoverna o Brasil. É um sujeito como esse que infelicita o País. É um personagem dessa espécie que se abriga nos esconderijos indecorosos que a História reserva àqueles que, com todo o respeito, são humanos apenas na forma, mas não no conteúdo.

E tanto é assim que esse cidadão mostra-se cada vez mais infértil a mínimos sentimentos de humanidade, como os que ainda perduraram, intactos, até mesmo entre inimigos que travaram batalhas cruentas nas piores guerras a que a humanidade já assistiu.

Inimigos confraternizam nas trincheiras – Em sua maravilhosa coluna publicada em O Globo deste domingo (2), Dorrit Harazim lembra uma história comovente pinçada do livro de memórias de Bruce Bairnsfather, o capitão britânico na Grande Guerra de 1914-1918 que mais tarde se tornaria um celebrado cartunista europeu.

O Natal de 1914 era o primeiro daquele conflito que ceifou mais de 21 milhões de vidas. Bairnsfather e e seus companheiros do Primeiro Regimento Real tiritavam de frio numa trincheira enlameada da Bélgica. Por volta das 22h do dia 24 de dezembro, Bairnsfather percebeu um ruído novo no campo de batalha de Ploegsteert, vindo dos boches (como os Aliados chamavam os inimigos alemães).

Escreve Harazim:

“[Bairnsfather] Afinou o ouvido e percebeu, em meio a sombras noturnas, um murmurar de vozes. Seus companheiros também estranharam. Perceberam então tratar-se de cantorias – os temidos soldados do Exército alemão, também entrincheirados e invisíveis, entoavam canções de Natal! Os britânicos decidiram cantar de volta. E subitamente ouviram alguém do lado inimigo gritando algo confuso, em inglês carregado de sotaque germânico. “Venham para cá”, dizia o boche. Um dos sargentos britânicos respondeu: ‘Nos encontramos a meio do caminho’. E assim foi. Feito catadores de caranguejos saindo dos manguezais do Delta do Parnaíba, recrutas encharcados dos dois lados começaram a emergir de suas trincheiras e a se olhar como o que eram: apenas homens, homens jovens longe de casa mandados para a guerra. Houve apertos de mão, oferecimento de tabaco e vinho (as provisões dos alemães eram bem melhores que as dos Aliados), e as cantorias bilíngues se estenderam noite adentro. Em troca de cigarros, os ingleses cortavam o cabelo dos alemães. ‘Naquele dia não disparamos um só tiro, parecia um sonho.'”

Leram bem?

Isso ocorreu numa guerra mundial, em que mais de 20 milhões de pessoas foram mortas.
Isso aconteceu entre inimigos.
Aconteceu numa trincheira, um reduto bélico em que vale tudo – ou quase tudo, inclusive, claro, matar e morrer.
Aconteceu no Natal de 1914.
Pois é a mesma Dorrit Harazim quem conclui em seu artigo.

“O Brasil já teve um leque bastante improvável de chefes de nação – inclusive a galeria militar cujo programa de manutenção no poder incluiu matar seus adversários políticos. Ainda assim, Jair Bolsonaro consegue ser único – seu ostensivo desprezo pelo povo que governa, pela dor do outro, é maníaco. E lugar de maníaco é no manicômio, não na Presidência da República. Que venha 2022.”

É sim: lugar de maníaco é no manicômio, não na Presidência da República.
E que venha 2022.

Fonte: Espaço Aberto.

Sobre o extinto Bar da Euda (texto republicado por ser sexta-feira e os amantes dos botecos estarem com saudades de coisas assim)

Vez ou outra, gosto de reviver momentos ou lembrar de locais marcantes de Macapá, meu lugar no mundo. Afinal, “relembrar é rememorar”, como diz o poeta Fernando Canto.

Isso dentro do meu estilo de vida, pois amo a boemia. Hoje falarei um pouco sobre o extinto Bar da Euda, estabelecimento comercial que foi meio restaurante (durante o dia) e boteco raiz no centro da capital amapaense.

Hoje é sexta-feira, dia de tomar uma e de lembrar do Bar da Euda, estabelecimento que ficava localizado no centro de Macapá. Foi desde os anos 70, até 2013 (dona Euda faleceu em 2013 e seu filho, Miguel, conseguiu manter o bar até 2014) um espaço democrático para os halterocopistas se deliciarem com cervejas enevoadas, a tradicional cachaça de cravinho, tira gostos variados e a especialidade da casa, o “tempurá de camarão”, uma iguaria sem igual.

Lá éramos muito bem tratados pela saudosa dona Euda, o preço era justo e os frequentadores eram quase todos amigos. O Bar possuía bom atendimento, não tinha garçom de mau humor e banheiros sempre limpos. Ah, o bar não era sofisticado, tinha o modelo clássico de boteco, com mesas que invadem as calçadas.

Saudades de beber lá com o jornalista Tagaha Soares (que também virou saudades), o escritor Fernando Canto, meu herói literário tucuju ou gênio dos botecos Fernando Bedran (meu irmão diz que ele é melhor para tomar cerveja do que tira-gosto de charque), era festa!

Conheci figuras que molhavam a palavra por lá há mais de 30 anos. O Bar foi frequentado por biriteiros brancos, pretos, intelectuais, pseudointelectuais, religiosos, ateus, políticos, apolíticos, etc. Todos sempre de bem com a vida.

Enfim, o Bar da Euda foi um local aconchegante e sem frescura. Por lá, conversávamos sobre cultura, política, filosofia e sacanagem. Alguns até traçavam planos mirabolantes para dominar o mundo. Devaneios comuns nos botecos.

Muitas saudades da dona Euda, do bar e do bate papo descompromissado com a galera depois do trabalho, quando afogávamos o stress com boa bebida e companhia porreta, em um bar paidégua!

Há certas memórias que são como pedaços da gente, em que não podemos tocar sem algum gozo e dor, misturas de que se fazem saudades” – Machado de Assis.

Elton Tavares

A chegada do primeiro avião em Macapá – Crônica/resgate histórico paid’égua de Fernando Canto

Imagem encontrada no Blog Canto da Amazônia, de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Não obstante Macapá ser um burgo crescido em função da Fortaleza de São José, por aqui, após 1920, viviam algumas dezenas de habitantes arraigados em sua cultura e vida mansa. Muitos aspectos contados pelo Sr. Martinho Ramos – um dos líderes da festa do Divino Espírito Santo e da Santíssima Trindade, o Marabaixo – caracterizam todo o provincianismo de uma cidade que não imaginava crescer antes de ser escolhida a capital do Amapá, em 1944.

Mas Macapá foi crescendo, observada carinhosamente por muitos que hoje, aposentados, guardam a riqueza da memória e todo um micro-mundo que jamais afugenta o espírito e a naturalidade de gostar daqui. O Sr. Martinho Ramos sabe disso e o seu falar calmo contava, neste depoimento histórico, as transformações e as comparações da velha e da nova Macapá.

Avião Catalina anfíbio – Imagem: Google

“Quando passou por aqui o primeiro avião, eu estava com dois anos de idade, mas pelos meus antepassados eu soube de muitas coisas que se passaram na época (1923), inclusive o Sr. Eufrásio foi quem conseguiu nos dar uma grande música do Marabaixo, que tem o título de ‘A irmã Catita viu o salão/Assim, atracada assim eu não subo não’.

Avião Catalina anfíbio – Imagem encontrada no Facebook do Gilberto Almeida.

“O avião era uma Catalina, anfíbio, descia n’água e em terra. Mas como nós não tínhamos pista de pouso, eles resolveram descer na água. Então, o povo todo correu; aí o Sr. Eufrásio começou a enversar toda a história do avião:

– Corram, corram minha gente. Vamos na praça espiar, o barulho vem de cima e é n’água que vai pousar.

Padre Júlio [Maria Lombaerde] – Imagem encontrada no blog Porta Retrato

Em seguida, todo mundo correu lá pro Torrão, que era o nome de onde está localizado o Novotel. Na ocasião, o velho Eufrásio, observando que os ocupantes do aparelho eram todos alemães, fez:

– À cabeça do alemão, muito sol ele apanhou na taberna do Ventura, um guarda-chuva ele encontrou.

Seguindo, vieram à cidade onde nós tínhamos um padre alemão [na verdade, o padre era de origem belga], o padre Júlio [Maria Lombaerde], que, ao conversar com um dos tripulantes, soube que a gasolina deles havia acabado.

Marabaixo – Foto: Fernando Canto

“Eles estavam perdidos e sem gasolina. Foram recolhidos pelo padre Júlio e aqui ficaram. Logo depois que a maré encheu, eles abriram o avião para visitação pública. As pessoas foram até ao avião, mas não sabiam como entrar. Então um cidadão prontificou-se em auxiliá-las. Quando o cidadão quis atracar na cintura de uma mulher [a irmã Catita] para pô-la no avião, ela disse: “Atracada assim eu não subo não”. O velho Eufrásio viu e tirou o verso que é o estribilho da música (Viu a irmã Catita pelo salão/ Assim, atracada assim eu não subo não)”.

A irmã Catita não ficou aborrecida porque felizmente ela disse aquela expressão sem saber e sem se preocupar se havia um poeta observando tudo para dar a música do marabaixo que deu.

Sobre domingos de quando eu era moleque

Quando eu era moleque, nas manhãs de domingo, acordava com a MPB rolando no toca-discos de vinil, meu pai já tomando uma e minha mãe cozinhava (isso quando não íamos comer fora). O cheiro porreta da broca já exalava na casa. Meu irmão ainda tava na parte de cima do beliche, desmaiado. Eu o acordava pra começarmos a brincar, azucrinar e dominar o mundo.

Papai, sempre carinhoso, nos abraçava e cheirava. Mamãe, também amorosa, mas mais comedida, dava um beijo em cada um dos moleques. Uma vida vivida no amor. É assim até hoje, mas sem o velho Zé Penha. Que saudades!

Dedique-se a conhecer seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez” – Trecho do poema “Filtro Solar”.

Elton Tavares

Há 52 anos, rolava o Festival Woodstock – #Woodstock #Woodstock69

Há exatos 52 anos, rolou o Festival de Woodstock. O evento foi realizado, de 15 há 18 de agosto de 1969, em uma fazenda de 600 acres de Max Yasgur, na área rural de Bethel, no estado de Nova York (EUA). Com o objetivo de reunir lendas do rock, a festa levou milhares de jovens até lá. Foi o acontecimento mais importante da história da música.

Anunciado como “Uma Exposição Aquariana: 3 Dias de Paz & Música”, o festival deveria ocorrer originalmente na pequena cidade de Woodstock, mas os moradores locais não aceitaram, o que levou o evento para a Bethel, a uma hora e meia de distância (160 km de NY).

Cerca de 400 mil pessoas invadiram a cidade de Bethel para o Woodstock, onde residiam somente 2.300 cidadãos. Como a organização esperava “apenas” 60 mil pessoas, somando o público de todos os dias, a saída foi improvisar postos de alimentação gratuitos quando eles se depararam com uma massa sete vezes maior. Cidades vizinhas doaram frutas, enlatados e sanduíches.

Até hoje, o Woodstock é considerado um marco na história da música mundial. Mesmo depois de 52 anos, os relatos sobre o festival são de que o mundo parou por três dias de agosto de 69 (número sugestivo, não?) para uma grande confraternização e celebração .

Quem encerrou a festa foi nada mais, nada menos que o maior guitarrista da história. Ele mesmo, Jimi Hendrix. Antes dele, grandes nomes do rock estiveram no palco do festival, como Janis Joplin , Joe Cocker, Santana, Grateful Dead, Joan Baez, The Band, Johnny Winter e The Who.

Além de reunir alguns dos artistas mais consagrados do rock dos anos 60, o Woodstock foi a maior contestação social da juventude da época.

Woodstock pode ser considerada também a festa que teve a maior quantidade de penetras da história mundial. Em contrapartida muitos artistas convidados pensaram duas vezes em participar, The Doors e Led Zeppelin são os exemplos mais famosos. Os produtores até tentaram os The Beatles, que não toparam porque não convidaram a banda da Yoko Ono, obviamente uma negação de John Lennon.

Os que entraram para a História foram aqueles que se arriscaram, público e artistas que participaram e fizeram sua parte. Ao todo foram 35 apresentações. Literalmente eles deram um show.

Setlist dos shows que rolaram em Woodstock:

Richie Havens – Here comes the sun (George Harrison)
Sweetwater – Join the band (Alex Delzoppo, Fred Herrera)
Joan Baez – Diamonds and rust

Santana Oye como va (Tito Puente)
Grateful Dead – Fire on the mountain (Mickey Hart, Robert Hunter)
Janis Joplin Maybe (Richard Barrett)
The Who – My generation (Pete Townshend)

Joe Cocker – With a little help from my friends (John Lennon, Paul McCartney)
The Band – Mystery train (Junior Parker)
Johnny Winter – I smell smoke (Roger Reale, Jon Tiven, Sally Tiven)
Jimi Hendrix – Wait until tomorrow

Fontes: revistas, jornais, sites e nossas conversas de mesa de bar sobre Rock and Roll.

O breve relato sobre a Little Big, a saudosa banda de skatistas de Macapá

As lembranças do Facebook me trouxeram uma foto da saudosa banda Little Big. Na postagem, os componentes do grupo e brothers das antigas contavam causos e marcavam um reencontro. Aí bateu a nostalgia e resolvi republicar este texto. Saquem:

A primeira formação da Little Big foi com Antônio Malária, no vocal, Ronaldo Macarrão, no contrabaixo, Tibúrcio, na guitarra, e Paulo Neive, na bateria. Todos skatistas.

A banda quase acabou com a saída de Tibúrcio. Patrick Oliveira (hoje líder da stereovitrola) assumiu este posto de forma brilhante. Houve um rodízio na cozinha da Little. A bateria contou com participações do Zico, Ricardo Kokada e Kookimoto, mas quem emplacou mesmo foi o Mário (não lembro o sobrenome do Mário e nem sei por onde ele anda, mas o cara tocava muito).

Eles tocaram juntos da segunda metade dos anos 90 até meados de 2002. Era a banda que mais agitava o rock and roll em Macapá.

A Little foi a banda de garagem mais duradoura e badalada daquela época (certeza de casa cheia onde os caras tocavam). No repertório, tinha punk, indie, hardcore e manguebeat. Chegaram a desenvolver um som próprio, com composições do Antônio Malária, um flerte com o batuque e marabaixo, misturados ao rock.

A banda ganhou força com a percussão de Guiga e Marlon Bulhosa. Inspirados, chegaram ao topo do underground amapaense com as canções autorais “Baseados em si”, “São Jose”, “Beira mar” e “Lamento do Rio”. Quem viveu aqueles dias loucaços lembra bem do refrão: “Eu sou do Norte, por isso camarada, não vem forte”.

Com os amigos Ronaldo e Antônio, da Little Big.

A banda embalou festas marcantes do nosso rock, teve seus anos de sucesso pelas quadras de escolas, praças, pista de skate, bares (principalmente o Mosaico) e residências de Macapá. Quando os caras executavam “Killing In The Name“, do Rage Against The Machine, a casa vinha abaixo. Era PHODA!

Era rock em estado bruto, sem muitos recursos tecnológicos ou pedaleiras sofisticadas. Os caras agitavam qualquer festa. Quem foi ao Mosaico, African Bar, Expofeiras, Bar Lokau, festas no Trem Desportivo Clube e Sede dos Escoteiros, sabe do que falo.

Vários fatores deram fim à Little Big, como desentendimentos internos e intervenção familiar. Eles não estouraram como banda autoral porque não tiraram os pés da garagem.

Em 2012, os caras se reuniram e tocaram em uma festa, mas eu perdi a oportunidade de vê-los, pois estava para Laranjal do Jari a trabalho. A Little Big agitou as noites quentes de Macapá e embalou os piseiros de uma geração. Uma banda que faz parte da memória afetiva de muitos amapaenses roqueiros e já quarentões. E foi assim.

“De um tempo que fomos para sermos o que somos” – Fernando Canto.

Elton Tavares