Chamando… Chamando… Chamando…

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Crônica de Ronaldo Rodrigues

Acordei com a campainha do celular tocando. Será apropriado dizer campainha do celular? Celular é moderno, mas campainha é tão antiga. De qualquer forma, foi assim que aconteceu. O celular me despertou. Mas como assim? Se o volume do meu celular era muito baixo. Eu vivi11358785_10200615936918453_1419432848_na reclamando disso. Como eu poderia ouvir o celular tocando se nem quando eu dormia na mesma cama que ele eu conseguia ouvir? Calma, vou explicar. É que eu fui condenado a ficar separado do meu celular. Eu estava numa penitenciária de segurança máxima, que ficava no centro de uma ilha. Meu celular estava preso em outra penitenciária de segurança máxima, no centro de outra ilha, a 300 quilômetros de distância.

E eu ali, ouvindo meu celular tocando. Outro mistério me ocorreu: eu nunca tinha sido acordado pelo celular. Ninguém ligava pra mim. Nenhum amigo. Nenhuma garota. Ninguém me convidando pra sair pela noite e correr perigo. Logo naquele momento alguém resolvia me ligar. Agora devo admitir um lapso: quando escrevi que ninguém me ligava, não era verdade. Eu recebia muitas ligações da operadora do celular, através de seus operadores de telemarketing, aquela gente que adora estar falando desta forma estapafúrdia de estar falando, tentando estar empurrando um plano miraculoso pela goela abaixo e pelo bolso adentro. Outra pessoa que me ligava, insistentemente, era uma mulher. Eu aproveitava o fato de a campainha do celular tocar baixo pra fingir que não escutava mesmo. Mas às vezes eu me descuidava e atendia. Era a advogada da empresa administradora do meu cartão de crédito tentando me lascar um processo violento em cima do lombo por atraso de pagamento. No meu caso, não era atraso. Era extinção.10846807_10200615937078457_1714495846_n

E o meu celular tocando. Consegui subornar os guardas e fugi da penitenciária. Consegui subornar o dono de um barco parado no precário porto da ilha. Cheguei à ilha onde estava o meu celular, preso e tocando como um louco. Subornei os guardas da penitenciária e cheguei ao celular justamente quando ele parou de tocar. Chegou a Morte, com aquele traje pretinho básico. Chegou assim, bem à minha frente, ao meu lado, por cima de mim. Essa eu não consegui subornar.

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