CIA VIVA DE TEATRO: Um mundo de sonhos que pode mudar a vida das pessoas

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Por Manoel do Vale

Ele é pernambucano de Caruaru. Ela é de Belém. Quem os vê juntos, no corre-corre do cotidiano, poderia achar que são o casal da música “O Casamento dos Pequenos Burgueses”, de Chico Buarque.

Na vida eles já fizeram de tudo um bocado. De donos de restaurante natural à confecção de bijuterias. Na cozinha da casa aonde moram, no Jardim Marco Zero, as panelas, já aposentadas, todas muito limpas e ariadas, são exibidas como troféus desse tempo de luta e perrengue. E também de grandes vitórias.

Mas a paixão que manteve este casal junto nos tempos de montanha russa, sempre foi o teatro. Paiodhy Rodrigues tem formação em teatro, no gênero dramático. Guiga é mamulengueiro de Caruaru, Pernambuco.

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Os dois se conheceram em Belém na década de 1980, e de lá vieram para Macapá viver, entre outras coisas, da arte de representar. Aqui eles fundaram a Cia. Viva de Teatro para fazer o corre pelas escolas. A experiência com os movimentos de esquerda na capital paraense, rendeu a companhia um convite para engrossar o movimento pela aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, que os fez levar o teatro de bonecos a praticamente todo o dando apoio lúdico à criação dos núcleos de discussão do Estatuto. Além de dar oficinas de teatro de boneco aos agentes da Pastoral da criança.

Daí vem o trabalho articulado com os temas transversais (aqueles que fazem parte do dia a dia das crianças, entre eles violência, meio ambiente, direitos humanos, inclusão, entre outros), que é a marca da Cia Viva e já rendeu importantes prêmios à trupe, como o prêmio Mirian Muniz de teatro, dado pela Fundação Nacional de Arte (Funarte), e o Mais Cultura nas Escolas, do Ministério da Cultura.

Para as apresentações nas escolas, Guiga e Paiodhy contam atualmente com três peças prontas, nas quais utilizam os bonecos de mão.

“O homem empresta a alma ao boneco, e, juntos, fazem o milagre da transformação”, disse Guiga Melo, citando o historiador Hermilo Borba Filho.

Guiga é o único mamulengueiro em atividade no Amapá, profissão a qual ele empresta a alma há mais de 30 anos. E foi a paixão pelo teatro que levou o mamulengueiro a sentar no banco da sala de aula. Ele é estudante de Pedagogia.

Hoje formada em Pedagogia, começando uma pós em Psicologia da Educação, Paiodhy vem se especializando na construção do teatro como ferramenta pedagógica e de inclusão.

O casal reclama da falta de visão dos agentes públicos da área da cultura tanto do estado quanto do município, que concentram seus recursos e energia em eventos sazonais, quando deveriam centrar forças nos projetos para se trabalhar os temas culturais no cotidiano das comunidades, de forma perene e continuada.

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“Mas eles vão pelo que é mais fácil, e traz maior e mais rápida visibilidade, quando o certo seria trabalhar os projetos de base, articulados com as escolas, que nos renderiam músicos, escritores, atores e outros artistas de alta qualidade”, enfatizou Paiodhy.

“O cachê vem no chapéu. Quem tem, vê. E quem não tem, vê também. Se fosse de outro jeito, não seria um trabalho voltado para a inclusão, como a gente propõe”, comentou Guiga Melo, afirmando que é possível viver de teatro em Macapá. Uma vida modesta, mas bem divertida. E é aqui que acaba a semelhança com os personagens da música que Chico Buarque compôs para a peça O Casamento dos Pequenos Burgueses.

Fotos: Cia Viva de Teatro

Fonte: SelesNafes.com

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