Cicuta-beer (crônica de Ronaldo Rodrigues)

Acordo bêbado.

Ato ao pescoço minha corda-gravata rosa de bolinhas azuis e vou encarar meu sórdido e rentável emprego: espantalho das plantações de eletrodomésticos de Madame Nero.

Nas horas vagas, vou alimentar a coleção particular de Madame Nero, seus bichinhos de estimação: quinhentos e vinte e oito rinocerontes prateados que se alimentam exclusivamente de algodão doce.

Volto para casa cansado, mas cantarolando.

Vejo muitas pessoas na Praça Transcendental.

Entre mendigos e bêbados, encontro Morfeu dormindo num banco de mármore, abraçando uma garrafa quase vazia de cicuta-beer. Está coberto por vários jornais futuros que deixam ler, em manchetes imensas, a abolição dos ponteiros e dos relógios, dos arquivos e dos escritórios e anunciam A Grande Libertação do Dia.

Respiro aliviado a fumaça do rush e ciscos voadores invadem meus olhos. Mas nada mais tem importância. A vitória da Fraternidade Cósmica está garantida e seremos todos felizes.

Jogo meus tênis e tédio e temores na lata de lixo, me misturo aos bêbados e mendigos e passo a esperar o grande show dos Incendiários das Nuvens.

Ronaldo Rodrigues

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