CLOSE DE LADO – Conto de Luiz Jorge Ferreira

Eu entro em cena puxando um cavalo manco emprestado de Hollywood. Ela está deitada. O sinal marrom que eu chamo de “boa pinta”, ela o disfarçou com um pouco mais de pó de arroz.

Fala no meu ouvido uma frase quase inaudível e eu respondo com uma frase em inglês ouvida e decorada de um diálogo do seriado de Bat Masterson.

Ela olha-me tão próxima que eu me convenço que um dos seus soutiens tem mais recheio que o outro. Ou, então, como publicaram as revistas de fofoca: implantou silicone. Diga alto e ríspido. “- Abandone-me!” – grita o Diretor fitando-me com doçura.

Olho de soslaio, a minha maneira, que permite que a câmera de um close nas minhas lentes azuis bifocais. O Diretor cospe, grita e se despenteia. Eu o conheci num baile da Praça Marechal vestido de Colombina.

Como manda o script, aplico na atriz um tapa no seu rosto. Ela, em seguida, gira sobre a cama e cai. Retiro o braço com dois quilos de maquiagem presa à palma da mão. “- Vagabunda!” – grito. Caprichando nas sílabas.

Um cowboy, que não reconheço, com uma bonita proteção de couro na calça rancheira corre em sua direção. Ela grita: “- Help! Help!” Um Help sem sotaque. Em seguida, como se estivesse ferida, desmaia. O iluminador sacode o facho de luz criando um belo efeito.

Acho um barato ela ter sentido o tapa que tanto havíamos ensaiado. Impressiono-me com o filete de sangue escorrendo de seus lábios e o repentino inchaço. O cowboy parece que vai sacar o revólver. Mantenho a minha mão direita, suja de cosmético, atrás da cintura. O Diretor berra comigo alguma coisa como: “- Filho de uma mulher mexicana, mãe de dez filhos que nunca casou.”

Com certeza refere-se a minha Madre. O cowboy saca. Eu saco num relance que aquele cara é o marido da atriz. Abandono o cavalo manco no quarto e desço para o Saloon, onde tomo um trago e saio…

Breve, no aeroporto, decola um avião da TAM. Ouço o estampido do primeiro tiro já em Quixeramubim. Mesmo assim, me agacho um pouco.

*Conto do livro Antena de Arame – 1° Edição,em 2016, pela Rumo Editorial. São Paulo.

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