Com o pastor alemão do rock nas ruas de Macapá, em busca da mulher que será a mãe de seu próximo filho. No caso, uma filha que se chamará Lilith (crônica de Ronaldo Rodrigues)


Coloco Bob Dylan na vitrola (no som do computador) para escrever esta crônica ouvindo Jokerman.

Pois bem. Como eu ia dizendo/escrevendo ou esquecendo, peguei uma carona no acaso, que promove os melhores encontros, e fiz companhia ao bardo conturbado do bairro da Vacaria em seu passeio pelas ruas esburacadas e sem calçada da Tucujulândia, nas adjacências de Macondo.


Pra quem não sabe, ou mesmo pra quem já sabe, Vacaria é aquele lugar que as leis e seus perpetradores transformaram em Santa Inês. Com certeza, sem consulta popular. Ele me diz que não há uma Inês sequer no bairro, o que poderia justificar o nome.

Outras indignações ligadas a nomes de bairro vêm à mente, como a Favela, transformada em Santa Rita, e a quase morte do poético nome Laguinho.

Pois bem, de novo. Pegamos um ônibus pra assustar os passageiros com nossos papos sobre literatura e morte e suicídio e carma e drogas. Um brinde a tudo isso nesta manhã quente de segunda-feira.


Fomos ao Museu da Imagem e do Som, no Teatro das Bacabeiras. Não sei se tem a ver com administração atual, mas o Museu da Imagem e do Som estava fechado. Sem som e sem imagem. Mas prossigamos por este vale de lágrimas que nem sempre vale uma lágrima.

O anjo Galahell procurava uma mulher bruta, inculta, um campo pronto a ser semeado com toda a sorte de dialetos, delírios, música e a santa diabólica poesia. Ao som da história e da histeria do rock.

Uma mulher para ser a mãe de sua filha, que se chamará Lilith, aquela mesma que foi repudiada pela Bíblia por ser a face insubmissa da mulher. O livro sequer aponta a sua existência. Em seu lugar, colocaram a doce Eva, num paraíso que se perderia por conta da própria dona de casa, para que ela carregasse esse peso e que fosse justificada toda a carga de históricas e histéricas injustiças contra a mulher.


Galahell, que iniciou o dia como agnóstico, ateu ou coisa parecida, constatou a existência de Deus nas mulheres que passavam a nossa volta, todas Nefertites (eis que é chegada a mais bela). Todas escapando da proposta de ser a mulher que daria à luz uma outra mulher para que se iniciasse o novo ciclo da evolução humana: a pós-história, a que tem possibilidade de dar certo.

Tudo isso ainda há pouco, na manhã radiante de segunda-feira, 3 de junho de 2013, século XXI, milênio III, aniversário de meu filho Pedro. Com ele a sabedoria e a glória.

Aumento o som e vamos com Bob Dylan: knockin’ on heaven’s door.

Ronaldo Rodrigues

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