Com participação de Nilson Chaves: Zé Miguel retoma carreira com o projeto Conexão Amazônia

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Nilson Chaves e Zé Miguel – Foto: Chico Terra.

No próximo sábado, 30, quem a música regional poderá acompanhar a retomada da carreira do cantor e compositor Zé Miguel. Ele inicia um novo projeto chamado de Conexão Amazônia, que na verdade é um recomeço do movimento Costa Norte criado nos anos 90, quando os compositores da Amazônia se uniram para disseminar a música da região.

Para o início do Conexão Amazônia, Zé Miguel terá a companhia de vários compositores, entre eles um dos fundadores do movimento, o cantor e compositor paraense Nilson Chaves, que na década de 90 viu a necessidade da criação de um movimento de disseminação das produções artísticas da Amazônia. SelesNafes.Com conversou com o compositor, que está deixando a política partidária de lado e traça novos caminhos para sua carreira. Acompanhe os principais trechos da entrevista concedida a Anderson Calandrini.

SelesNafes.Com: Como surgiu o movimento Costa Norte?

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Artistas como Osmar Júnior e Val Milhomem participaram do projeto Costa Norte

Zé Miguel: O Nilson chaves foi um dos primeiros artistas da Amazônia a colocar em prática a ideia do movimento. Ele percebeu que “uma andorinha só não faz verão”. Em outras palavras, ele percebeu que se tivesse se isolado no Pará, teria feito um sucesso efêmero como o que aconteceu com outros nomes da música que foram esquecidos com o tempo. Assim nasceu o movimento. Nós cantávamos as composições do Nilson e ele nos cantava lá no Pará. Então começamos a disseminar as nossas composições. Essa parceria nos fez conhecidos do público de todas as idades e estruturou nossas carreiras até hoje.

E qual foi o resultado de todo esse processo?

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Zé Miguel quer reunir novamente os cantores da Região Norte em um projeto comum

Um dos resultados desse movimento foi a perpetuação de músicas como Vida Boa, lançada em 1991, mas que hoje é cantarolada por crianças dentro das escolas. Tudo porque os pais que escutaram essas músicas lá atrás, perpetuam nossa cultura musical dentro de suas casas. Ela é uma música regionalíssima, de temática fechada, mas que hoje é cantada por garotos de 13 e 14 anos. É um fenômeno parecido com o que aconteceu com a Legião Urbana e os Beatles, guardadas as devidas proporções, é claro.

Além da disseminação através do movimento, o que você acha que a população vê em suas composições que possam explicar essa perpetuação?

A gente mexe com a questão da identidade do povo da Amazônia. Quando cantamos uma canção, sempre buscamos mexer com a identidade. Levar ao consumidor do produto uma localização regional, seja com relação à floresta, seja com relação às questões urbanas. Na nossa região você pode comer açaí e caviar numa boa. Aqui, se você tem condições de comer caviar você vai comer, mas isso não te impede de comer um belo pirão de açaí com tamuatá. Buscamos mexer com essa localização. Nós vivemos isso, e a nossa música nos permite buscar essa identidade.

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Faz parte do projeto uma revista que conta a história da música regional

E como o projeto Conexão Amazônia ajudará nessa disseminação?

Esse movimento vai abrir espaço no mercado para a música da Amazônia. O projeto tem o objetivo de levar essa relação para o resto do país. Vamos começar embrionariamente através desses encontros, como o que acontecerá no dia 30. Vamos cantar com a presença de Nilson Chaves. Depois provavelmente serei convidado pelo Nilson para um show em Belém. Também receberei artistas de outros estados, para que possamos dar força a esse universo que começa agora no final do mês. O objetivo é criar um grande evento para disseminar nossas composições, reunindo os setes estados da Amazônia em Macapá e contando se possível com as Guianas, que fazem fronteiras com a Amazônia. Vamos montar um grande movimento em forma de feira e promover debates no Norte do Brasil. Nossa pretensão é encerrar o projeto com um grande show no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

Também há um projeto de uma revista que contará a história da música regional?

Esse era um projeto antigo que hoje se tornou realidade. Estava escrevendo um livro e vi que esse material poderia ser dividido para contar a história do movimento Costa Norte. Uma forma de não deixar essa história se perder. Na 1ª edição da Revista Memória em Movimento, traremos a minha vida e obra, onde conto um pouco da minha trajetória, da minha discografia. Já tenho um segundo número que chamará “Origens” onde conto como conheci os compositores do Costa Norte, Osmar Júnior, Roneri, Amadeu e outros.

Você passou um período afastado do meio musical por ter assumido a Secretaria de Estado da Cultura, como foi essa etapa afastado dos palcos?

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Nos anos 90 a voz do Amapá ecoou pelo Brasil – Foto: Antônio Sena

O período que passei na secretaria eu me afastei das atividades artísticas. Passei três anos e seis meses. Nesse período fiz apenas dois shows. Uma parada brusca, já que eu vinha de uma fase de viver da música. Fazia quatro shows grandes em um mês e isso permitia me sustentar, construir minha casa, ter um bom carro. Por conta desse afastamento os convites também pararam. Quando resolvi retomar minha carreira esbarrei em algumas dificuldades, já que novos artistas surgem e nossos trabalhos são engavetados. Então resolvi minha vida política. Essa questão hoje está resolvida. Já fiz tudo o que podia fazer. Todo o meu envolvimento chegou ao fim. Agora quero retomar minha vida musical e voltar a ativa, resgatando a música da região com a ajuda dos velhos e novos compositores do Norte.

Fonte: SelesNafes.Com

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