Criança diz cada uma…- Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

“Criança diz cada uma” era uma seção da revista Pais & Filhos que eu gostava de ler, no começo dos anos 1980. A página, assinada por Pedro Bloch, jornalista e médico foniatra, pioneiro na área de fonoaudiologia, era um painel humorístico que explorava muito bem a lógica que só criança tem. Ele anotava tudo o que as crianças consultadas por ele diziam/faziam. Eu também tinha essa mania, anotar coisas que meus sobrinhos diziam/faziam, e sabia que um dia iria publicar. Acrescentando tiradas dos meus filhos, filhos e sobrinhos de amigos, apresento aqui e agora esses flagrantes de inteligência infantil.
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Meu sobrinho Rodrigo, após longa reflexão:
– Tio! Dinheiro custa caro, né?
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Meu filho Pedro: Pai, droga não é proibida?
Eu: Sim, filho. É proibida.
Pedro: E por que tem tanta drogaria na cidade?
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De novo o Pedro. Era período de horário eleitoral gratuito na televisão, o Pedro trocando de canal e vendo sempre a mesma programação: o candidato falando das suas propostas. Aí, vendo que só tinha aquilo em todos os canais, me saiu com esta:
– Pai, estamos cercados!
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Meu filho Artur, naquela fase de imitação de bichos.
– Como é que o cachorro faz, Artur?
– Au! Au!
– E o gato?
– Miaaau!
– E a vaquinha?
– Muuuuuuu!
– E o pintinho?
– Tá ati! Falou o Artur, apontando para o próprio.
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Esta foi com o Lucas, sobrinho do Manoel. Cheguei à casa dos dois quando o Manoel tinha saído pra tirar cópia da chave:
– E aí, Lucas? Cadê teu tio?
– Foi tirar xerox da chave!
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O Arthur, filho da Telmah, vendo os garis recolhendo o lixo:
– Mãe! Tão roubando todo o nosso lixo!
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Diálogos entre a mãe Karen e a filha Clarice.
Clarice: Voxê vai tabalhar de novo?
Karen: Vou sim!
Clarice: Eu quero tabalhar também… como pinxesa!

Karen: Clarice, você tá com sono?
Clarice: Não! Tô feliz!

Karen: Clarice, que música é essa que estás cantando?
Clarice: A música da tua vida!
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Gabriel, filho da Tânia e do Marcelo.
Gabriel chegou da escola descabelado, com a roupa suja e amassada.
Tânia: Gabriel, eu vou à tua escola ver como andas.
Gabriel: Precisa ir à escola pra ver como eu ando? Eu ando assim, mãe, ó…
Deu uns quatro passos e disse:
– Mãe, a senhora fala cada besteira…

Tânia estava dirigindo e ouvindo Legião Urbana. No carro, estavam a mãe e a tia da Tânia, duas senhoras muito recatadas, e o Gabriel. Eis que entra a parte em que o Renato Russo diz “Se não for masturbação, use camisinha”. Gabriel virou para a avó:
– Vó, o que é masturbação? A senhora pode me ensinar com detalhes?

Tânia e Gabriel entram num ônibus lotado e uma senhora, muito solícita, se oferece para que Gabriel prossiga a viagem sentado em seu colo. A senhora puxa conversa com Gabriel:
– E você gosta de fazer o quê?
– Gosto de ouvir música.
– Que bom! Eu também adoro música! Gosto do Calipso, gosto do Luan Santana, gosto da…
Gabriel, com a franqueza brutal das crianças, interveio:
– Poxa! A senhora só gosta de música ruim!
E a cara da Tânia ficou onde?
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Vem história da Espanha, onde vivem a mãe Ana Cláudia e a filha Ana Belén.
Ana Belén estava com um pouco de tosse e ouviu Ana Cláudia dizer que, dependendo de como passasse aquela noite, iria ou não pro colégio no dia seguinte. Quando amanheceu, ela começou a tossir (forçando a tosse) e a mãe Ana reclamou:
– Ana Belén, você não tossiu a noite toda! Como começou a tossir só agora, justo na hora de ir pro colégio?
– Claro, mamãe! Eu estava dormindo, como ia tossir?
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Andréa falando sobre o sobrinho Leonardo.
Eu estava vestida com uma daquelas roupas velhinhas e confortáveis que gostamos de vestir em casa. Ele me olhou seriamente e disse:
– Coitadinha da titia, tão pobrezinha! Usando um vestido toooodo furado!

Uma criança reconhece a inocência de um animal. A Amanda, enquanto brincava com o Aslam:
– Tia Andréa, às vezes eu esqueço que o Aslam é um cachorro. Ele parece uma gente criança.
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Cleia contando histórias da Laura.
Laura havia se afastado da gente na praia e ficamos 20 minutos procurando por ela. A encontramos brincando com areia debaixo de uma mesa, distante de nós.
Depois de termos falado sobre isso por uma semana, voltamos à praia e, num momento em que Laura estava novamente brincando na areia, alguém vai até ela e pergunta:
– Está bem, Laura?
Ela olha pro alto e, com toda a inocência, pergunta:
– Tô perdida?

Outra da Laura.
Mãe e filha passeando pela cidade.
– Mãe, bora comprar sorvete?
– Não temos dinheiro!
– Então, bora comprar dinheiro?

Cleia e o sobrinho Herbert.
Em visita ao filho da Cleia, que tinha acabado de nascer, Herbert olha o bebê no berço e logo pergunta:
– Quanto custou?
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Quem vai querer refrigerante? E a Luana responde:
– Eu quero uma Santa Uva!
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O Enzo, após dar um arroto daqueles:
– Ops! Amarrotei!
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– Mãe, me dá um irmãozinho?
– Mas como vou te dar um irmãozinho?
– A gente compra! Passa no cartão e depois a gente recebe na portaria!
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E os dialetos que as crianças inventam? O Rauan quando queria tomar água:
– Gapiaga!
E quando queria jogar videogame:
– Gapiogôgo!
Bom, a família tinha que se esforçar um pouco, mas acabava entendendo.
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Mateus falando para o pai Marcelo:
– Pai, tô com uma África na boca!
Era afta, mas ele não deixa de ter razão. A África está mesmo por toda parte de nós.
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Meu grande amigo e agora vovô, Euclides foi interpelado pela Maria Eduarda, de 4 anos:
– Vô, por que você não arruma sua mesa de trabalho como pede pra eu fazer com as minhas coisas?
Euclides se recolheu a um silêncio envergonhado, mas sorridente, e tratou de arrumar a mesa.
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– Tio, o senhor vai brincar comigo ou ficar bêbido com o meu pai?
Perguntou a Maitê, sobrinha do Elton. O meu amigo, claro, preferiu brincar com a menina. Sábia escolha.
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Nesta história, personagens reais, nomes fictícios. Vai que a criança, hoje adulta, fique constrangida.
José Nilson levou seu filho Eduardo para o trabalho. Ficaram os dois na sala, José Nilson trabalhando e o filho lendo uns gibis. O menino ficou tão distraído que não notou a moça da limpeza entrar. De repente, ele fala para o José Nilson:
– Pai, eu quero pei…
Antes de terminar a frase, ele nota a presença da moça, fica envergonhado e sai correndo da sala. Até hoje permanece esse mistério: o que será que ele queria fazer?
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É isto. Vou recolher mais histórias e, quem sabe, não sai uma continuação desta crônica? Mandem aí.

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