Crônica sem nome – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Meu nome é Logan. Meu nome é Kuntá Kintê. Meu nome não é Johnny.

Fico procurando algo que ainda não tenha nome, mas não encontro. Tudo já foi nomeado, catalogado, ordenado.

Gente, bicho, rio, planeta, bacilo, vírus, doença, comida. Não há nada no mundo virgem de nome. Eu bem que gostaria de nomear uma estrela, um tipo de rocha, uma droga, uma árvore. Poxa. Cheguei tarde ao batismo das coisas.

Tem lances curiosos a respeito de nomes. Doença, por exemplo. Médicos como Hansen, Parkinson, Alzheimer e Carlos Chagas são pessoas que passaram grande parte de suas vidas pesquisando, procurando a cura de uma doença e o que acontece? Ela recebeu o nome de quem tentou vencê-la. Vide mal de Hansen, mal de Parkinson, mal de Alzheimer, doença de Chagas…

Outra coisa intrigante a respeito de nomes é o nosso nome. É algo que nos marca para sempre e sequer participamos de sua escolha. Eu tive algum problema com meu nome. Até gostar dele, eu achava que deveríamos receber um nome provisório e escolheríamos o nosso nome quando chegássemos a certa idade. Afinal, é aquilo que nos acompanha por toda a vida e vai além da morte. Hoje já aceito o meu nome, não me imagino com outro e acho estranho alguém mais se chamar Ronaldo. Mas que é uma arbitrariedade o nome de uma pessoa ser escolhido sem que sua opinião seja levada em conta, isso eu vou pensar sempre.

Quando comecei a ler e sacar os nomes dos escritores, eu tinha certeza absoluta de que jamais obteria sucesso sendo Ronaldo Rodrigues. Pensava que, para ser escritor, poeta e tal, tinha que ter nome pomposo, tipo Machado de Assis, Monteiro Lobato, Castro Alves. Foi uma barreira, até entender que poderia inventar um nome, um pseudônimo, um codinome, uma senha, um nome artístico e tal. Então resolvi usar o meu nome mesmo, ainda que não seja um nome como Carlos Drummond de Andrade, Dalcídio Jurandir, Franz Kafka ou Manuel Bandeira. E confesso que tem dado certo resultado.

Há duas histórias de nomes de que gosto muito e vou relatar aqui: quando estava grávida, a mãe de um cantor/compositor sonhou que estava na beira do cais e passou um navio. Ela leu o nome do navio e não vacilou, colocou o mesmo nome no menino, que veio a ser um dos nossos artistas mais talentosos: Djavan.

Outra história, que creio que deva ser mais conhecida, é a do nome de um grande escritor, cartunista, teatrólogo, poeta e por aí vai. O nome escolhido era Milton, só que o escrivão do cartório tinha uma letra meio garranchosa e, quando anotou o nome do garoto, o t ficou sem o traço, que foi parar em cima do o, semelhante a um til, e o n ficou parecido com um r. E deu nesse nome originalíssimo, como era o seu dono: Millôr. Será que era o Todo Poderoso que estava ali fazendo freela de escrivão? Porque é uma confirmação perfeita do dito popular: Deus escreve certo por linhas tortas, já que o garoto passou para a história da arte com esse nome criado ao acaso (se é que acaso existe).

Agora digo tchau, voltando ao início deste texto, em que reclamava do fato de tudo já ter nome. Mas se aparecer algo assim, precisando ser nomeado, será que eu consigo pensar em alguma coisa? Pois não consegui colocar nome nem mesmo nesta crônica…

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