D. Aristides e a terapia de Deus – Crônica de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Quando o Santo Padre visitou o Brasil, em julho de 1980, esteve também no Pará. João Paulo II foi a Belém para ver os hansenianos da Colônia de Marituba, onde seu amigo, D. Aristides Piróvano, há pouco mais de dois anos, desenvolveu um extraordinário trabalho de amor e dedicação ao próximo.

Aristides Piróvano era ligado ao PIME – Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras – órgão que tem missões espalhadas em vários países do mundo. Depois de deixar o cargo de Superior Geral daquele instituto, optou servir no Brasil: “Quando consegui passar o encargo para outro, eleito e aprovado pela Santa Sé, como bispo, tive o direito de escolher – aposentar-me ou optar por serviço à minha escolha. Decidi voltar ao Brasil e vir para Marituba.”

O trabalho que D. Aristides desenvolveu na Colônia de Marituba (23 km. de Belém) foi praticamente a continuação de uma série de esforços empreendidos no decorrer de uma vida eclesiástica. Alto, magro, barbas longas e brancas, de um falar agradável e quase sem sotaque, bastante dinâmico no seu trabalho, o bispo dizia que uma de suas principais metas na Colônia era “ser amigo de todos”, em virtude de ali existirem pessoas de várias religiões.

D. Aristides Piróvano trabalhou no sentido de proporcionar aos internos a oportunidade de sair da Colônia e juntarem-se às suas famílias, através do aprendizado de uma profissão. “Minha tarefa é terrível. Começo às cinco e meia da manhã e termino geralmente às onze da noite. Não tenho mais um minuto de tempo.”

Como primeiro Prelado em Macapá, D. Aristides e seu grupo conseguiram construir escolas e prédios e ainda prestar assistência até o interior para os mais necessitados. Para o clérigo, Macapá representava uma grande família, com algumas divergências, mas depois tudo voltava a seu devido lugar. D. Aristides chegou a comentar o Marabaixo, confessando-se muito amigo de Julião Ramos, porém arrematou: “Folclore é folclore, religião é coisa séria e não podemos misturar as coisas. A Igreja não é contrária à diversão do povo, mas não se pode misturar a água benta com o diabo”.

Dessa forma, lembrou ele da proibição feita aos negros, que antes dançavam o Marabaixo dentro da Igreja-Matriz, por ocasião da Festa do Divino Espírito Santo: “Reclamávamos desse folclore que depois acabava sempre com festa, sempre com orgias, principalmente no interior. Quando você voltava lá, no ano seguinte, tinha filhos para batizar daquela festa”(risos).


*Texto dos anos 80.
* Dom Aristide Pirovano morreu em 3 de fevereiro de 1997. Ele foi o segundo bispo prelado da Diocese de Macapá.
Fotos encontradas no Blog Porta Retrato, PIME Amapá e Tribuna Amapaense.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *