De repente… quarenta! – Texto de Clícia Di Micelli, lido durante a festa do seu aniversário, no último sábado, 20

Há exatamente uma semana, minha amiga Clícia di Micelli completou 40 anos. Durante sua festa de aniversário, ela leu um texto lindão que resume não somente sua vida, mas toda uma geração. Editei e exclui particularidades da broda e deixei o texto para todos que, como eu, fizeram ou farão 40 anos este ano. Leiam e se emocionem:

“Obrigada pela presença de todos. Não escolhi um tema pra minha festa, escolhi um título:De repente… quarenta!

Atravessei 4 décadas conhecendo centenas de pessoas, mas a gente só se dedica àqueles que o nosso coração elege. Tirando a relação familiar que aprendemos a conviver e amar desde que nascemos, os amigos que fazemos ao longo da vida são todos aqueles que o nosso coração se apaixona. Nasci em 76. Entre meados de 70 e o início desse novo século é o perí
odo que compreende a minha existência, e são os símbolos desse tempo histórico que fiz questão de trazer pra essa comemoração de hoje.

Não é festa Ploc, festa Retrô, festa Anos 80; tão pouco Baile da Saudade. Nada disso. É a festa de quem viveu um bocado de coisa nesse período e de repente… quarenta! Imagino que, se existissem imagens da nossa infância e adolescência, sempre apareceríamos dando gargalhadas, dividindo segredos e sendo felizes. tumblr_mr4qpgm6JF1qzissjo1_1280Quarenta anos se passaram e todas essas referências estão aqui. Não tenho como esquecer que ocupava minhas tardes vendo os desenhos Hanna Barbera (Manda Chuva, Os Herculoides, Wally Gator, Jonny Quest, Tartaruga Touchê, Coêlho Ricochete e tantos outros); Que eu sonhava em voar no balão com a turma do Balão Mágico; Que eu daria meu mundo pra assistir o show dos Menudos; Que as tardes de sábado eram animadas pelo Chacrinha e que, aos domingos, o Beto Carreiro aparecia chibante no intervalo dos Trapalhões.

Brunzwick-Geraldo_oQue Os Goonees foi o primeiro filme que assisti no cinema, pra ser mais precisa, no Cine Veneza e que a minha heroína era a Mulher Maravilha… Também que eu dormia mais tarde nas noites de Armação Ilimitada; E que eu ficava angustiada quando a turma da Caverna do Dragão desistia de voltar pra casa, mesmo diante do portal, porque um deles ficou pra trás; É claro que juntei moedas no cofrinho da Caixa Econômica Federal; Lembro bem, que ir na carreta da Cobal era chato; bom mesmo era acompanhar a mamãe as compras no Brunzwik lá tinha um parquinho pra gente brincar; Que eu joguei moeda para o Poraquê da Lobras, em Belém; Que eu pulei carnaval nos bailes infantis do Esporte Clube Macapá, do Lions Clube, do Círculo e da APA.paquitas primeira geração

Cresci e pude desfrutar das temporadas noturnas do Círculo Militar, comandadas pela Banda Placa Luminosa; Não posso negar: fui criança aprendendo a escrever errado no universo “X” da Xuxa. Sonhar em ser Paquita era o óbvio, mas um dia chegou a fase em que sonhar com os Paquitos era bem mais interessante. É claro que eu rebobinei fita K7 com caneta BIC; Que eu sofria com o desencontro amoroso da Duda e Lucas / Malu Mader e Taumaturgo Ferreira na novela Top Model, casal que tinha como trilha a lindíssima música “Oceano”, do Djavan.

São muito vivas as lembranças negativas que os Planos econômicos dos governos Sarney e Collor causaram às famílias brasileiras. Várias vezes fui guardar lugar na fila pra mamãe entrar na Romana em busca de leite e outros produtos básicos, que tinham sumido das prateleiras dos mercados. Era tempo dos preços congelados do Plano Cruzado, que evoluiu pra Cruzado Novo e outras desastrosas tentativas de salvar a economia do Brasil. Vi o papai amargar a falência. Os pequenos comerciantes não sobreviveram e sucumbiram diante de um país que vivia sob uma economia desgovernada.

tumblr_lm27e1NFdu1qkgabpo1_500Assisti ao “Caçador de Marajá” desafiar o povo a sair às ruas de verde amarelo, e nós, o povo, fomos de preto. Fui pra rua no “Fora Collor”, sou geração cara-pintada! Vibrei muito vendo a Magic Paula e a Hortência desestruturarem as adversárias com as cestas de 3 pontos; Também jorrei lágrimas de amor assistindo Ghost – do outro lado da vida. Cristiane F… drogada e prostituída, debate obrigatório nas feiras de ciência das escolas secundaristas; É claro que eu tinha as fotos do John Lennon, Fernanda Abreu, Engenheiros do Hawai, Marina Lima e Heróis da Resistência na porta do meu guarda-roupa.

images (2)Eles dividiam espaço com os adesivos das marcas K e K, Company e Redley; Eu tirava minhas dúvidas mais intimas, devorando a revista Capricho; Eu sonhava em assistir a um show de rock nacional no Circo Voador; Carnaval de rua?

Desfilei quando ainda era da Av. FAB, pela Maracatu da Favela, é claro! Vi o Território Federal do Amapá se transformar em Estado; pelas rádios, Tvs e murmurinhos acompanhei o desenvolvimento e o fortalecimento da música amapaense, quando os artistas que se apresentavam nos bares de Macapá – Amadeu Cavalcante, Zé Miguel, Osmar Jr e Val Milhomem – partiram para o trabalho autoral, lançando hits e lotando, emanos 90 blog (1) noites de espetáculo, o então recém inaugurado Teatro das Bacabeiras; Comemorei minha aprovação na Unifap, em 95, com a musiquinha do Pinduca, acho que essa não sai de moda. É cafona, enche o saco, mas é bacana e tem que rolar. Entreguei fita VHS na locadora sem rebobinar e paguei taxa extra por isso; Segui o trio elétrico do Marco Monteiro no efêmero e marcante carnaval de Mosqueiro; Já tive o grande prazer de ver o Chico Buarque de Holanda caminhando sem camisa nas areias do Leblon; Já desfilei no templo do carnaval, a Marquês de Sapucaí. Pra uma boa foliã, isso é muita coisa.

Pororoca_foto_M_RCIA_DO_CARMOTive a honra de compartilhar horas de conversa com a gentil, elegante e imortal Tia Chiquinha; E vi de perto o encontro do rio Amazonas com o Oceano Atlântico, e pude presenciar o fenômeno da pororoca antes da foz do Araguari se transformar em pasto.

E a vida segue… Continuamos vivendo estórias e construindo a história! História sem mitos nem falsos heróis. História de verdade, com cenário de verdade e gente de verdade. E é com toda essa memória afetiva que planejei essa festa pra gente. Queridos amigos, sei que me alonguei, mas senti vontade de fazer isso e me permiti. Inclusive, quero dizer a todos que escrever tudo isso me fez muito bem e hoje entro na casa dos 40 mais leve e mais feliz.tumblr_lfykbyT8th1qggaj4o1_400

O tempo é generoso… E, a propósito, respondendo à pergunta da Mafalda, digo a ela que nascemos com muita antecedência pra gente acumular histórias e relembrá-las na festa de comemorações dos nossos 40 anos. Portanto, um brinde à vida e à generosidade do tempo. Tim-tim!”.

*A querida aniversariante ainda falou sobre sua família e amigos, mas preferi publicar somente essa linda viagem no tempo. Do nosso tempo. Tomara que a gente viva, ela, eu e todos que amo dessa geração, pelo menos mais 40 anos. Valeu, Clícia!

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