De Rocha! – Resenha do livro “Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, feita pelo jornalista Silvio Neto

Foto: Flávio Cavalcante

Por Silvio Neto

Sempre gostei de línguas…

Hummm… dessas que você pensou também(rsrs). Mas aqui me refiro mesmo à linguagem, essa capacidade humana de se comunicar. Afinal, o que seria de nós sem a comunicação?

A linguagem serve pra comunicar e compartilhar informações, expressar a identidade em uma comunidade e para o entretenimento.

Expressões típicas e gírias de uma determinada região são prova disso. Elas são usadas informalmente, em conversas do dia a dia; fogem da tal da norma culta e reinventam as palavras com um sentido inteiramente novo.

Veja por exemplo a gíria “de rocha”. Ela é usada quando você confirma que o que disse é verdade, que se trata de algo sério. Você pode empregá-la na frase: “Égua, mano! Tu já viste o livro que o Eltão lançou? Tédoido, tá muito firme. De Rocha!”

Foto: Flávio Cavalcante

Viu como é simples? Principalmente quando a gente fala do trabalho de um amigo muito querido como é o caso do jornalista amapaense Elton Tavares, que lançou na última sexta-feira (18) o seu primeiro livro, que traz estampada no título a cara de um povo e de uma geração: Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias.

O livro, que conta com capa e ilustrações do cartunista Ronaldo Rony e projeto gráfico limpo e de excelente leitura de Adauto Brito, é um apanhado de textos publicados no site do autor – todos muito bem revisados por Marcelle Nunes – contando ainda com a presença do escritor Fernando Canto no texto de prefácio.

O livro tem 246 páginas, mas não se espante! É um livro fácil de se ler em um dia. Os textos são curtos, leves, diretos, com uma linguagem própria de quem vive navegando pela internet. Mas ao mesmo tempo, Elton acerta em cheio em alguns textos carregados de saudade, saudosismo, reflexões sobre a vida e humor ácido.

Complementando os textos, os traços dos cartoons de Ronaldo Rony dão um toque a mais no humor leve e descontraído do livro, onde até o famoso personagem criado pelo artista, o Capitão Açaí, dá o ar de sua graça numa cena desconcertante (não vou dizer onde é. Leia o livro!).

Na contracapa, Elton se apresenta como sendo, entre tantas outras coisas, um gordo marrento. Mas à medida que você navega pelas páginas do livro, você vai descobrindo (se você não o conhece pessoalmente) ou confirmando (caso o conheça) que, na verdade, ele é gordo sim; mas o que tem de tamanho, tem também de verdade, lealdade, carisma e “genteboalidade” – tudo bem, essa gíria não existe mas, foda-se! – Se você tem alguma dúvida, leia o texto confessional Eu me inventei (Crônica sincera).

Em textos do tipo Como escrever um texto polêmico; Os Tulius Detritus e Os Dicks Vigaristas que encontramos na vida, Elton consegue lançar seu olhar ferino sobre os bastidores do jornalismo amapaense e, com a sutileza cínica que lhe é peculiar (e eu realmente acho isso uma ótima qualidade), dá belas cutucadas nos maus colegas de profissão que, infelizmente, ainda teimam em existir (ô, raça!).

Silvio Neto e Elton Tavares, no lançamento do livro – Foto: Sal Lima

A boemia é outro elemento “eltoniano” que não podia faltar, aflorando em textos deliciosos, como em Comentários nas mesas de bar nessa época do ano; É, eu gosto e Em tempos de copa do mundo. Muitos com pitadas de saudosismo, como em Saudades do Quiosque Norte-Nordeste, o saudoso “Bar da Floriano” e O antigo Bar Xodó e o velho Albino.

Saudosismo bom mesmo fica por conta de textos como Minhas dezenas de fitas k7 e a nostalgia; O Capitão Caverna, o meu super-herói favorito; Sobre insônia e cartas de amor; Sobre domingos de quando eu era moleque e o hilário A Santa Inquisição do Fofão.

No mais, Elton presta uma grande homenagem à sua família, em especial ao seu pai, Zé Penha e aos seus amigos de “rockada” e de boteco. Também aos velhos loucos que mantêm a sanidade do mundo e, como não poderia deixar de ser, a sua terra, Macapá. Seguindo o conselho de Tolstói, em meio à universalidade que é a internet, Elton soube muito bem pintar a sua aldeia com seu Blog De Rocha e com seu livro Crônicas de Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias. E pra terminar, como ele mesmo gosta de dizer: É isso!

Serviço: O livro está à venda na Livraria Public (Villa Nova Shopping – Macapá) ou com o autor (96-991474038).

Silvio Neto é jornalista e pilota o blog “A Vida é Foda”.
Fonte: A Vida é Foda.

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