Devaneio de agora: A hora do “vamos-ver” (por @MarileiaMaciel)

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E finalmente chega o dia em que encaramos a vida de frente, sem máscaras, sem medo, na real. Esse dia não é marcado e nem previsto em sonhos, horóscopo, cartas ou qualquer jogo de olhar o futuro. Ele simplesmente chega. Olhamos por cima do ombro pra fazer uma avaliação, às vezes dolorida, umas nos dão a certeza que fizemos a coisa certa, no momento exato, e, outras nem tanto, mas não há como voltar atrás.

Esse dia imprevisto chega em silencio intenso, que dá a impressão que perdemos a audição. Mesmo sem hora, é bom estarmos preparados pra ele. Fugir é como se esconder da morte: ninguém consegue. É a hora do “vamos-ver”, do “pega-pra-capar”.

Somente depois dele ao meu lado é que o identifiquei. Agradeci porque chegou quando eu mais precisava. Entrou calado e ficou sentadinho, me olhando, como quem diz: “e aí? vamos lá? Sou todo ouvidos. Sou seu espelho, pode falar, chorar, rir, ter saudade, pode se expor”. Veio junto com o peso do tempo nas costas, que se espalhou por todo o meu corpo, também sem pedir licença.

Esse dia tem a independência de um ancião sem satisfação pra dar, a não ser pra si próprio, e para alguns só chega na última hora, quando nada mais há para ser feito – a não ser fechar os olhos. Vem mesmo que sua história de lutas, vitórias, derrotas, amores e dores, tenha dado a ilusória impressão de que nada mais poderia acontecer, que já se sabe de tudo, acumulou o que queria, tem estudo, emprego, carreira, família, saúde e dinheiro. Então ele vem mostrar que a vida é bem mais que isso.

O meu dia de eu encarar a vida ainda não acabou, continua aqui ao meu lado, me observando tomar iniciativas, encaminhar decisões. Entro nele toda manhã, caminho com ele ao nascer do sol, depois o deixo de lado pra cuidar do presente, depois volto, me concentro e então continuamos nossa rotina, como uma boa paciente com seu analista. Ele demora ao meu lado porque é sábio, são anos acompanhando os outros com paciência, e entende que ainda preciso dele, que não pode ir sem que eu me compreenda.

É o dia mais demorado de uma vida inteira, sem lua nem sol, totalmente inteiro, pra dar a chance de eu vasculhar meu âmago, entrar em minhas veias, desvendar meu coração e andar por cada pedaço da minha mente, até que eu, finalmente, me despeça desse longo dia camarada e caminhe sem medo, pisando firme.

Mariléia Maciel – jornalista e amiga querida deste blogueiro

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