Dez motivos para não ser jornalista

Se você é daqueles que diz “aaai, eu A-DO-RO jornalismooô” ou tem orgulho de ser chicoteado na sua senzala moderna ralando de 12 a 18 horas por dia em prol da notícia, não leia este texto. Agora se já tomou a pílula vermelha e abriu os olhos da merda de escolha profissional que você fez, aproveite. Ainda assim você vai ficar puto pelo que está escrito.

Se NÃO é jornalista e quando vê o Zeca Camargo dando a volta ao mundo 783 vezes pra fazer reportagens inúteis e pensa “nossa, du garalhion, eu posso fazer isso com as duas mãos amarradas nas costas”, preste bem atenção nesta lista. E se está prestes a pagar mais de R$ 800 mensais por um curso de jornalismo e investir o tempo precioso de quatro anos por um diploma invalidado pelo STF, fique atento também, porque isto pode poupar muitas dores de cabeça.
Antes que me diga “seu frustrado, sai dessa porra, então”, me antecipo e respondo: esta profissão é como uma doença. Depois de contaminado, dificilmente, se escapa dela, mesmo querendo. E as razões são muitas, principalmente, quando não se tem uma boa retaguarda, como um papai que banque sua viagem para você encontrar seu próprio eu em Santiago de Compostela.
1) O salário.
Já ouvi dizer que sujeitos, como Paulo Henrique Amorim e William Bonner, ganham rios de dinheiro como jornalista. De fato, existe os muito bem remunerados, como em qualquer profissão. Mas, a média de fodidos e mal pagos é muito maior no meio jornalístico. Em Belém, por exemplo, há empresas pagando cerca de R$ 680 para um profissional recém-formado. Não dá dois salários mínimos. Jornalistas mais experientes para ter uma renda maior precisam se esfolar em dois ou três empregos e ainda trabalhar como free lancer. Uma merreca dessas é muita sacanagem com qualquer um.
2) Não há vagas!
O registro no Sindicato da categoria aponta cerca dois mil jornalista em Belém. Contanto todo mundo, deve haver uns quatro mil, presumo. As faculdades cospem por ano mais uns 250 a 300 no mercado. E me pergunto: onde este povo está se enfiando pra ganhar o pão que o diabo amassou todo santo dia? O fato é que a capital tem poucas opções. Ou você trabalha para os Maiorana ou para os Barbalho ou nas poucas assessorias de imprensa estabelecidas. Não é a toa que muitos migram, geralmente, para São Paulo em busca do troco. E lá percebem que o bicho pega também.
3) Não viva, trabalhe!
Constam na pauta, no Karma, na carne, passou na novela, está na lei: o turno do jornalista é de 5 horas. Nossa, que moleza. Sento a bunda em frente ao computador e é só esperar passar o tempo e cair fora. Não, amiguinho, não é assim. Você vai passar muito mais tempo dentro de uma redação ou na assessoria. Apurar a notícia é trabalhoso e demanda tempo. O texto seja de jornal, de programas de TV ou rádio não surge do nada e, geralmente, para deixá-lo redondo precisa camelar muito, falar com 30 pessoas e dar 315 telefonemas, com a pressão do dead-line a maltratar seu coração. Portanto, você vai trabalhar pra caralho – muito mais do que aquele seu amigo que se formou em Direito e ganha igualmente mal, mas labora muito menos.
4) Saúde zero.
Você vai morrer cedo. Mas, não se importe tanto, o fluxo contínuo de informações e as experiências vão te dar a impressão de que tem 150 anos quando chegar aos 40. Em compensação, o corpo vai reclamar. Estresse, problemas de coluna, prisão de ventre, câncer, gastrite, cirrose, hipertensão, diabetes, depressão, transtorno bipolar e lesões por esforço repetitivo. Um combo de males que podem agir simultaneamente na sua carcaça, levando em consideração a vida desregrada sem hora para almoçar, alimentação ruim, ingestão de álcool em demasia e, muitas vezes, nicotina além da conta para aliviar a pressão. Jornalistas dificilmente passam dos 60 anos e se passam viram colunistas sociais. Melhor morrer antes.
5) Os maiorais.
Agora que já sabe sobre salário, oferta de emprego, volume de trabalho, chegou a hora de falar das pessoas. É um ponto delicado, mas é preciso ser dito: jornalista é chato pra caralho. A maioria se acha muita coisa; trata mal seu semelhante por prazer e complexo de superioridade; é impertinente e maldosa; se ressente do sucesso alheio; fala muito mal dos outros. Grande parte é composta de boçais com rei na barriga mesmo não tendo R$ 6 pra pagar um prato feito no fim do mês. Se forem bons no que fazem, piora muito, porque se acham no direito sentar no trono do altíssimo e rechaçar contato com reles mortais; Jornalistas, a maioria, subestimam quem não é jornalista. Portanto, o convívio não é dos melhores com eles. Caminhar nas redações torna-se difícil com egos tão inflados disputando os espaços.
6) Vida social, who?
Esqueça. O termo que denota convívio com amigos, esposas, maridos, filhos e demais familiares está fora do glossário jornalístico. O volume de trabalho é grande e a grana pequenininha, então, você vai ter que se desdobrar em, pelo menos, dois empregos. Faça as contas: 5 horas + 5 horas de trabalho = 10 horas. Estou sendo benevolente. Digamos que cada um dos empregos exija uma hora extra. Aí, já são 12 horas. Acrescente aí mais uma hora e meia ou duas para os deslocamentos diários casa/trabalhos/casa: 14 horas. Lembre-se que você tem que dormir: ponha aí 6 horas apenas, mesmo que o ideal seja oito. Temos ai um total de 20 horas ocupadas com o labor e descanso, não é? Isto, em uma situação muito favorável. Sobraram quatro horas, amigo. E agora? Ou vai pro bar ou dá uma com a patroa ou afaga os filhos ou visita a mãe e o pai ou lê um pouquinho. Escolhe só duas opções, afinal, não se pode ter tudo na vida.
7) Feriados e fim de semanas? Sonha!
Chegam os feriado prolongados, festas como Círio, Natal e Ano Novo. Que ótimo, não é? Peeeeen. Errado. Criou-se – não sei qual o filho da puta responsável – a idéia de que jornais não podem parar. As pessoas têm que estar informadas o tempo inteiro, mesmo se não há nada a informar. Daí, que o jornalista (como outros profissionais também, sejamos justos) tem que trabalhar quando todo mundo está se divertindo. Escalas de fim de semana também cortam o barato de quem pensa que vai dar uma esticada à praia mais próxima. Mas, pensando bem, se você é um liso, como é que quer viajar? Trabalha, nego, trabalha.
8) Cabeça de nós todo.
Muita gente acha que jornalista sabe um pouco de tudo devido a natureza da sua atividade. Inclusive alguns do ramo estimulam essa impressão deturpada. Daí, muita gente acha que pode puxar assunto sobre qualquer coisa com esses profissionais. O que você acha das últimas descobertas da física quântica? Quem é o quarto colocado na série Z do Brasileirão? Quem deve vencer as eleições de 2016? Como se faz para sair a foto do meu filho no caderno infantil? E o meu casamento, tem como publicar uma notinha na coluna social? Algumas perguntas que você não sabe ou por não pertencer à determinada área de atividade ou, simplesmente, porque você não sabe mesmo. E isto também cansa e enche o saco.
9) Rotina, rotina, rotina!
Se você acredita “ai, vou ser jornalista, porque é uma profissão sem rotina”. Pára com a doidice e escute: há rotina sim. Uma rotina estafante inclusive. Mesmo aqueles que viajam muito, conhecendo várias cidades, Estados e até países, têm uma hora que se cansam justamente dessa repetição: sobe e desde de avião, entra e sai de hotel, chegadas e partidas. Nas redações, nem se fala: repetição de tarefas resumida em receber ou pensar pautas (assuntos), apurar e finalizar o trabalho, seja escrevendo, gravando em frente às câmeras ou falando no rádio. Então, nego, se não quer rotina, vire hippie e sai por aí vendendo artesanato. É mais emocionante e pode render uma grana melhor.
10) Liberdade, liberdade, fecha as asas sobre nós!
“Serei jornalista pra lutar contra as mazelas do mundo com minhas palavras”. Se liga, mané. Se você, jovem mancebo, acha que vai fazer jornalismo para proteger os ‘frascos e comprimidos’, desista ou pule fora do esquema dos grandes meios de comunicação. Comunicação é política e política é comunicação. Os donos dos meios só permitem essa defesa até onde esbarra em seus interesses. Portanto, darling, aquela sua vontade de fazer denúncias mil só vai pra frente nos grandes meios se for conveniente. Geralmente, não é. Existem os pequenos meios, claro, mas não precisa ser jornalista pra se inserir neles. Crie um blog, bobinho, e fale o que quiser.

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