“Diabo Assado” – Por Fernando Canto

Por Fernando Canto

Aos 30 dias do mês em curso, na Delegacia de Ordem Social e de Bons Costumes Tradicionais, onde se achava presente o senhor Bacharel e doutor Degelado, digo, Delegado, o escrivão do seu cargo ao final assassinado, digo, assinado, e o acusado, este confessou que na noite anterior dançou uns bregas num lupanar denominado “Casa do Calipso” e depois pegou um táxi acompanhado de sua namorada, a menor N.E.M. de 16 anos, a quem convidou para dormir em sua casa, sita à rua Maria Eudóxia, s/nº, bairro dos Prazeres. O indivíduo acusado que tem a alcunha de “Diabo Assado” é um perigoso meliante que tem inúmeras entradas nesta Delegacia por assalto à mão armada e lesões corporais. Ele disse ao titular da DOSBCT que achava que não morava gente na casa do lado da sua e que resolveu se refrescar tomando um banho de piscina em companhia de N.E.M. às 3:00h da madrugada. “Diabo Assado” disse ainda que a noite estava quente e escura por isso resolveu ficar nu, e se caso alguém aparecesse não iria notar. Tomou então quatro garrafas de “duelo”, digo, garrafas de cachaça “duelo”, e viveu momentos de rei com sua namoradinha menor de idade.

Também disse que acordou meio “coiote” de tanto “goró” e com uma arma apontada para seu nariz. Reclamou que levou um chute no meio das pernas de um policial violento e que até o presente momento dói muito. Falou ao doutor Delegado que não se arrepende do que fez, e que seus vizinhos são uns burgueses chatos e metidos a bestas e até humilham os vizinhos pobres com aquele casarão bonito e quase desocupado, mas que quando sair daqui vai acertar as contas. O doutor Delegado perguntou por que ele matou a namorada N.E.M, e ele, surpreso, respondeu que achava que não tinha sido ele porque gostava muito dela e que só lembrava de tê-la jogado na piscina para ver se ela aprendia a nadar como um boto.

Nestes termos lavro o presente interrogatório que vai por mim assassinado, digo, assinado, nestes dias de dicífel, digo, difícil convivência pacífica entre vizinhos.

*Do livro “Equino CIO – Textuário do meio do Mundo”. Ed. Paka-Tatu, Belém, 2004.

  • Muito bem enredado e textual de maneira que ao ler, no princípio pensei que era facsimile de um B.O lavrado desse caso.
    Nem vou bater palmas de pé porque já estou dando pulos de alegria.

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