Discos que formaram meu caráter (Parte 18): Os Cães Ladram, mas a Caravana não Para (1997) – Planet Hemp


Muito bem caros amigos, continuando nossa longa trajetória pela estrada encantada dos bons discos, estamos de novo aqui para falar de música, bandas e afins. Outra vez falando de som. Peço minutos de sua atenção para falar de “Os cães Ladram, mas a caravana não para”. Sim senhores esse é o nome da obra.

Já corria o ano de 1997, e o Planet ainda respirava os bons ares do sucesso, sim amiguinhos, a bomba já tinha sido lançada com “Usuário” (Já falei desse) e agora todos esperavam oque iria acontecer com o grupo. Seria a banda do D2 mais uma daquelas de um disco só? Mas uma daquelas fadadas bandas que só são lembradas naquelas horrendas coletâneas “caça niqueis”, que as gravadoras lançam no Natal? É amigos, os caras tinham que provar valor agora, já eram exigidos a responsa de um segundo disco é sempre maior.

Bom, os caras já tinham lançado um disco deveras “temático”, se queriam chocar a sociedade conseguiram, mas não tinha como ficar vivendo daquilo. E 1995 já estava meio longe. Então para não ficar presos em apenas “Maconha” eles vem com força total e colocando o dedo cada vez mais fundo na ferida, sim eles estavam afim de conquistar de vez o Brasil e agora o mundo. O caminho não tinha mais volta.

Com reunião da banda com um comparsa novo, o famigerado Gustavo “Black Alien”, figura carimbadíssima no underground carioca, eles voltam dois anos depois com a carteira cheia de grana a cabeça cheia de ideias e claro fumaça (ahahahaahha) para lançar mais um Vinil estrondosamente revigorante. Sim o Planet começou a colocar seu nome na história do Rock “brasilis”.

Vamos a elas:

O disco começa a todo vapor logo com “Zerovinteum”, um verdadeiro retrato do caos que vive o cidadão comum Rio de Janeiro, são eles que chamam a atenção para “Guerra Civil”, que rola no dia-dia de quem mora lá, vai para “Queimando Tudo”, sim o assunto principal, temática escolhida pelos caras não poderia ficar de fora, sim eles continuavam “…queimando tudo ate a última ponta”, 

Com “Hip Hop Rio”, como o próprio letra diz é um “som que entra na cabeça e não tem hora”, chegando em “Bossa”, vinhetinha deveras relaxante, essencial para explosiva “100% Hardcore”, pesadíssima, boa como todo hardcore, excelente para colocar aqueles demônios para fora. 

Partindo para “Biruta”, instrumental, coloque sua cabeça no lugar para ouvir “Mão na Cabeça”, falando de policia, e de como o cidadão e tratado como refém pelo estado, que ainda te coloca leis que você é obrigado a respeitar, seguindo a linha “O Bicho tá Pegando”, ainda fala do descontentamento do cidadão, dizendo que para sobreviver, tem que ser “Malandro”, “Adoled (The Ocean)” letra em cima de batidas clássicas do Led Zeppelin, falam da manipulação sofrida pelas pessoas, mas já mostrando que nem todos escutam e seguem as normas. 

Em “Seus Amigos”, Hardcore de primeira linha, pra ver todo mundo “quebrar a cabeça”, “ Paga Pau” um cotidiano, uma mostra de quem segue sem ser escutado. Já “Rappers Reais” é um recado para a galera que andava com muito “glamour” no rap. Por sua vez,“Nega do Cabelo Duro”, é uma releitura do clássico de David Nasser e Rubens Soares. Continua com “Hemp Family”, mostrando muito das influencias, que a banda tem, como Funk Fuckrs, O Rappa, etc…Sim era uma união formada. 

A penúltima, “Que me Cobrou”, é hardcore do caralho, só digo isso. Termina tudo com um recado clássico um velho e bom “Se liga”, o sonho de uma juventude politizada, com opinião própria, só isso.

Ou seja, quem esperava um disco que falasse do mesmo assunto, se fode quando vê um verdadeiro calhamaço de verdades. Sim os críticos que achavam que eles estavam mortos se surpreenderam quando escutaram as letras mortais desse disco. Fora a evolução musical latente com o Dj Zé Gonzales de cima, e as outras influencias como samba e o Hardcore, coisas tão dissonantes que eles conseguiram como poucos misturar e fazer algo plausível. 

Longe de ser uma banda de rap, hip hop, reggae ou hardcore, os caras, em minha opinião, são um banda politica. Se antes tudo se resumia a Maconha, agora eles apontam sua verve para as autoridades (policia, políticos), para situação nacional, falam de racismo e segregação, ou seja um disco recheado de assuntos indigestos.

Um disco como esse é clássico. A partir desse disco o Planet Hemp coloca-se como um dos “pilares” da geração 90.

Marcelo Guido é Punk, pai, marido, jornalista e professor “…Muita saudade da torre”.

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