Discos que formaram meu caráter (Parte 21) – Mantra – Shelter (1995)


Muito bem moçada, aqui estamos de volta para encher vocês. Encher de informação, de cultura, um singelo “Blábláblá” legal. Espero que curtam mais uma passagem louca por essa fantástica, ou melhor, “fodástica” viajem pelo mundo da música, discos e afins. Vamos a ela.

Estamos no ano de 1995, efervescência total, um ano sem Kurt e ainda respirávamos uma extrema alegria por conta do ainda bem sucedido “Plano real”, moeda forte, poder de compra e os caralhos. Deixando de enrolação, vamos ao que interessa.

Hoje falaremos de um disco de uma banda, que para muitos pode ser obscura, mas não menos respeitável. É com alegria que apresento a vocês “Mantra”, quarto disco do Shelter de 1995.

Na batalha desde o começo dos anos 90, o Shelter começa como um projeto paralelo do vocalista Ray Cappo que deixava um pouco de lado o lendário Youth of Today (grande banda), para explorar seu lado mais melódico e sua ideologia Hare Krishna, que se tornaria a maior peculiaridade da banda.

Cappo, junto guitarrista John Porceel (outro oriundo da já citada banda Youth of Today), já tinham certo nome respeitado no underground nova iorquino, principalmente na cena “Straight Edge” (uma linha do Hardcore) que prega o não consumo de bebidas alcoólicas, abstinência de drogas e a busca por uma vida mais saudável, dentre outras diretrizes. Era o começo do “Krishnacore”.

A banda saiu em turnê pelo território americano e conseguiu uma legião de fãs com seu discurso apurado, baseado nos ensinamentos da religião hindu. E em um comportamento que mostrava a valorização da vida, contra o consumismo e da postura “destrua tudo e a todos”. Shelter começava a chamar atenção dentro e fora dos EUA. Depois dos excelentes “Perfection of Desire” (1990), “Quest of  Certanity” ( 1992) e “Attaing The Supreme(1993)”, os caras arregaçam as mangas e produziram “Mantra”, com toda força e positividade.

Vamos às faixas:

O disco começa 100% com a bela “Message of The Bhagavat”, inspirada no milenar livro de Bhagavat, um dos pilares do Hinduísmo, vai para “Civilized Man” uma critica voraz a civilidade humana, que coloca o homem como o ser importante sobre todas as classes de animais. Segue com “Here We Go”, minha favorita, a valorização do sexo sobre o sentimento, a busca pela dita felicidade comercial. Em “Appreciation”, o questionamento sobre a época em que vivemos, a não valorização dos outros seres vivos. Já em “Empathy” nunca é tarde para procurar por mudanças. 

Chegamos em “Not The Flesh”, uma critica contra o racismo, guerras baseadas em pigmentos de pele. “Chance” fala das oportunidades que nós são dadas, temos que estar atentos a elas, pode não novas oportunidades. Continua com “Mantra”, musica que nomeia o disco, uma busca pela felicidade. Em “Surrender to Your TV” a escravização da sociedade pela televisão. Continua com “Letter To a Friend”, a mudança de atitude, mas não de ideal punk para todo sempre. Finalizando “Metamorphosis”, a mudança, a procura pela melhora, não nascemos como somos procuramos evolução.

Depois deste verdadeiro calhamaço de positividade, recheado de um discurso coerente, a banda passou a ser reconhecida mundialmente. 

Um dos discos mais bem gravados por uma banda de Hardcore, conseguindo unificar o som pesado com questões pessoais, causas humanitárias e existenciais, não pode deixar de receber sua medalha de Clássico.

Eu indico para você, que esta de bobeira a procura de bons sons e não quer cair na mesmice.

A música alternativa e o Hardcore sempre tiveram como particularidade a junção de temas e elementos um tanto estranhos, mas ao mesmo tempo bem singulares. Neste caso é marcante a mistura da cultura Hindu com a pesada musica ocidental. Mostra que varias “artérias” podem ser abertas, basta vontade de fazer música boa e honesta. 

Marcelo Guido e Punk, pai, marido, jornalista e professor “… Odeia Ricota e Tofú”

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