Discos que Formaram meu Caráter (Parte 34) – “… And out come The Wolves” – Rancid (1995) – Por Marcelo Guido

 


Por Marcelo Guido

Muito bem companheiros Rockers perdidos mundo afora, seus escarlates seres da não-obviedade, o mensageiro dos discos e sons do universo paralelo vem com sua nave muito louca trazendo para vocês mais um disco que marcou minha vida e provavelmente a vida de muitos de vocês. Com vocês :
“…And out come The Wolves” – Rancid (1995)! Palmas pra ele!

Formada em 1991 em Albany, na Califórnia, o Rancid já figurava como uma das principais influências da nova fase do Punk Rock, junto ao Bad Religion, The Offspring e Green Day: a turma da lendária gravadora Epitaph Records, sem dúvida alguma, a nata da boa música.

Vindos de dois seminais álbuns, (1993) e “Lest´s Go” (1994) os caras estavam na pressão para manter o caldo fervendo. Um eventual fracasso poderia colocar os planos de Tim Armstrong e Matt Freeman por água abaixo. Com as guitarras em riste, os caras abusaram da criatividade e lançaram os singles “Roots Radicals” e “I Wanna Riot”. Com boa aceitação do público, saíram em uma grande tour se apresentando nas grandes cidades americanas. Tudo parecia convergir bem para que a linha continuasse reta rumo ao sucesso.

Com letras que falam do dia de pessoas comuns, vitórias pessoais e desafios que aparecem no decorrer da vida e crítica social, os caras conseguiram arrematar uma multidão de fãs em toda parte.

A Juventude clamava por isso no rock and roll; era a nova virada do punk, arquitetada por caras que deixavam os dragões alados para o metal e a depressão para as grandes bandas conceituadas e surfavam em uma nova onda; o legal era falar de coisas comuns, mais Punk Rock impossível.

Eu, então com 15 anos, ser em formação, camisa preta e All Star, comecei a prestar mais atenção nisso; acabei chegando a este disco sem conhecer a banda, sem informação nenhuma. Me deparei com o disco na seção de “Rock” no estande de disco da Domestilar, loja onde um dia foi o Tecidos do Povo (momento histórico e nostálgico ) e confesso que comprei no impulso – no esquema “pela capa” -, junto com o “ Vamos invadir sua Praia” do Ultraje a Rigor (já falei desse).

Ao escutar os primeiros acordes de “Maxweel Murder”, a energia pulsante dos caras me contagiou e eu, a partir daquele momento, já me considerei fã da banda. As levadas de baixo e guitarra junto a uma letra bem trabalhada, que me fez pesquisar bem e, inclusive, tentar melhorar meu inglês de quinta série, junto a atitude dos caras que balanceavam um Ska bem digno e um punk contundente. Nada mais Hardcore possível.

Vamos ao que interessa e destrinchar este belo artefato de boas canções :

“Maxwell Murder”, história de um velho punk que morreu assassinado, mas que não perdeu sua influência. “The 11th Hour”, a hora de acordar para a realidade, todos temos esse momento. “Roots Radicals” , levada um pouco mais para um Ska , com a vivacidade do punk clássico. “Time Bomb”, você pode se tornar uma bomba relógio quando o conformismo toma conta da sua vida. “Olimpya WA”, a volta para sua cidade, uma ode aonde você se sente realmente seguro. “Lock, Step & Gone”, o sentimento de que você pode fazer alguma coisa, coisas quietas geralmente escondem o errado. “Junkie Man”, o problema de quem convive com elas, as drogas. “Listed M.I.A”, a vontade de desaparecer dos problemas. “Ruby Soho”, o término de relação sempre leva um pouco dos dois. “ Daly City Train”, a historia de Jackyl, que era um artista completo e não teve reconhecimento em vida. “Journey To The End Of The East Bay”, a história que remete a muitas bandas, que mesmo com muita força de vontade não encontram o sucesso, mas fazem por diversão. “She`s Automatic” , história de amor, um cara que encontra uma garota perfeita . “Old Friend”, a preocupação com os que realmente importam. “Disorder and Disarray” , quando não se intende o que está se passando, o por quê de tanta busca por poder, grana e afins. “The Wars End” , a incompreensão por parte da sociedade, o diferente não comum geralmente assusta. “You Don`t Care Nothin” , a importância que damos para quem realmente não merece . “As Wicked”, pequenas observações de histórias cotidianas, a sua pode estar presente. “Avenues and Alleyways” , a descoberta da onde vêm seus problemas, agora procure resolver todos. “The Way I Feel About You”, desculpas são algo desnecessário quando se quer mudança .

Um disco raivoso, seguro e extremamente sincero. Não tinha como dar errado.

Lançado no dia 22 de agosto de 1995, figurou logo entre os 40 mais da lista da Billboard .

Um Álbum que já nasceu clássico. Com momentos do mais puro e revivalista punk real. Sem ser cometido, não deixa nunca de ser um disco de puro fervor underground; a bolacha está qualificada na lista da revista Rock Hard dos 500 álbuns de rock e metal de todos os tempos .

Se você não conhece, corre atrás. Tua medalha de foda corre risco.

A arte da capa é uma homenagem ao Minor Threat (Banda super foda). O nome é um epígrafe de um dos poemas presente no livro “The Basketball Diares” de Jim Carroll, (vivido por Leonardo DiCaprio nos cinemas) .

Uma bolacha que começa bem, a partir do nome, capa, letras e, claro, no som e atitude. Punk em tudo.

Um disco realmente fundamental feito pelo Rancid, uma banda que abre portas.

Quando a mesmice tomar conta da música, o Punk Rock sempre vai estar a postos para mudar o cenário

Lembro que apresentei este disco pro Antônio Malária, e o bicho pirou no som. Ainda bem que ficamos brothers.

Marcelo Guido é Jornalista. Pai da Lanna Guido e do Bento Guido . Maridão da Bia.

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