Discos que Formaram meu Caráter (Parte 49) – “Adiós Amigos” – Ramones (1995) – Por Marcelo Guido

Por Marcelo Guido

Salve moçada!

Todos trancados em seus lares escolhendo quem matar para a economia não parar… O viajante dos sons está de volta para mais uma rodada de discos, músicas e afins.

Com a nave a toda velocidade, som na altura máxima, com orgulho apresento a vocês:

“Adiós Amigos”, o 14º álbum dos Ramones. Todos de pé!

Estamos agora em 1995, e os caras dos Ramones encaravam a velhice. Estava ou não na hora de se aposentar? A relevância da banda nunca esteve em xeque, mas os tempos eram outros.

Passando incólumes pelos tempos da discoteca, pelos anos 80, a “new wave”, o pós-punk, o grunge e outros caralhos, Joey e Jonhy já pareciam cansados da vida que escolheram.

Somando isso aos problemas de saúde de Joey (que teve em toda a sua vida adulta um constante entra e sai de hospitais), a idade e o estilo de vida começavam a cobrar um preço; Joey acabara de ser diagnosticado com um severo câncer linfático e, como bom Ramone que era, deixou a doença em segredo.

Com 13 discos de estúdio e discos ao vivo que pareciam transportar os fãs para os shows, reconhecimento formado por uma legião de fãs no mundo inteiro, sempre citados como referência por vários músicos e banda planeta afora, os caras já tinham salvado o Rock and Roll da ameaça do “Progressivo” com seus solos intermináveis e suas reflexões sem sentido de bons músicos que sabiam ler partituras. Os Ramones não deviam nada a ninguém.

A preocupação maior era não se tornar uma paródia de si mesmo e aceitar de uma vez que a estrada dos tijolos amarelos estava chegando no fim.

Os shows que nos tempos áureos chegavam a 150 no ano, tinham sido reduzidos a um terço, o acolhimento da América do Sul para os caras depois de “Mondo Bizarro” deu um gás na banda, os problemas de saúde de Joey já eram bastante latentes, ausências em parte das apresentações, máscara de oxigênio no palco, o Ramone que mais vestiu a camisa da eterna adolescência parecia realmente querer um descanso.

Os Ramones, estavam realmente em dúvidas quanto ao futuro e, talvez, as crises que todos nós temos tenham também chegado nos caras naquela época. As 13 faixas do disco trazem profundas reflexões sobre amor, dor, ódio e futuro, mas tudo muito rápido e intenso como só eles sabiam fazer e, sendo assim, por respeito a seus muitos admiradores, entraram em estúdio em fevereiro de 1995 e em junho do mesmo ano apresentaram este belo exemplar de som, anunciando que seria o derradeiro trabalho.

Vamos ao que interessa e dissecar essa bolacha:

O disco começa com “I Don`t Want To Grow Up”, cover do Tom Waits é desafiadora, uma franca negação do mundo real, incertezas sobre o futuro, dúvidas sobre a própria vida. “Maki Monsters For My Friends” a autocrítica feita, somos os nossos próprios monstros. “Its Not for Me to Know”, a desistência contra o que não pode ser evitado, você fez tudo o que era possível. “The Crusher”, composta por Dee Ramone, já tinha sido gravada no primeiro disco solo dele, ganhou nova roupagem na voz de Joey, mostra que ainda se tem disposição para lutar contra desafios. “Life`s a Gas”, simples, são daquelas canções que marcam pela intensidade, foi o single do disco. “Take the Pain Away”, pessoal, uma caminhada constante pelo alivio, você só quer acabar com a dor. “I Love You”, cover do Johnny Thunders , a simplicidade em falar de amor. “Cretin Family”, todos contra você uma resposta à o clássico “Pinhead”, se antes os Ramones era o lar dos desajustados, tinha agora tornado parte do Mainstrean. “Have Nice Day”, ironia nas saudações diárias, escuta se sempre um bom dia em uma derrota. “Scattergun”, a segurança que você se propõe a ter. “Got a Lot Say”, tudo a dizer, mas não sabe agora. “She Talks To Rainbows”, triste, mas verdadeira, mostra o lado desesperançoso de quem se entretém com tudo e com todos. “Born To Die in Berlin”, uma significativa ode aos entorpecentes.

Rápido, intenso e formidável que puta disco.

O respeito pelos fãs – algo que sempre foi uma marca dos caras – esteve presente neste álbum. Essencial na discografia de quem pretende gostar de Rock and Roll.

Medalha de ouro. Se tu não conheces, na moral, mereces ser deitado na porrada.

Um disco que, apesar de ter sido anunciado como último trabalho, não perdeu a “aura Ramônica” e, longe de ser um caça-níquéis, feito por caras cansados e desgostosos, soa como um verdadeiro “The best of”, de tanto esmero e vontade.

A capa, uma das mais horríveis e esdrúxulas já feitas, eram dois dinossauros com sombreiros, com o título em espanhol.

É sem dúvida alguma, um daqueles discos verdadeiramente pensados, com canções eternas; um daqueles que tu colocas pra tocar do começo ao fim sem medo.

Sim, foi o último e acabaram em grande estilo. O mundo teve que sobreviver sem os Ramones. “Não queremos nos estender além da conta”, declarou Joey Ramone.

E no final, a saída por cima; “Adiós Amigos” mostrou que máxima de Bruce Wayne é verdadeira: “Ou você morre como um herói, ou vive o bastante para se tornar um vilão”. Os Ramones foram simplesmente fodas do começo ao fim.

Este texto é dedicado a Renato Atayde, Luis “Espalha Lixo” Xavier, Fábio “Macumba” Evangelista e Alex “Skoria” Rodrigues que, assim como eu, também tiveram o caráter formado por Ramones.

Ramones Forever.

*Marcelo Guido é jornalista. Pai da Lanna Guido e do Bento Guido. Maridão da Bia.

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