Por Marcelo Guido
Futebol é cor, é luz, é espetáculo! Poucos jogadores levaram isso tão a sério como Ricardo Lucas Figueiredo Monte Raso – para muitos, o simples Dodô.
Abençoado com o dom de fazer o diferencial para alegria de privilegiados que puderam vê-lo jogar. Aliás, jogar não: encantar torcidas. Era essa sua função dentro de campo.
Cria da base do Nacional, honrou as camisas do Paraná Clube, São Paulo, Santos, Palmeiras, Vasco, Fluminense, Oita Trinita – JAP, Goiás, Portuguesa, Barra da Tijuca, Al Ain – EAU, Americana e Grêmio Osasco – mas encontrou sua eterna morada no Botafogo.
Foram duas passagens pelo Alvinegro Carioca, onde Dodô pode ser colocado como ídolo da apaixonada torcida da estrela solitária. Dodô era a esperança dos abençoados botafoguenses. Era o cara de quem podia-se esperar algo dentro de campo.
Os deuses da bola deveriam rir à toa novamente com a camisa sete de General Severiano; o peso que vestiu Mané, caiu como uma luva no corpo esguio, de velocidade superior e inteligente do atacante. Seu oficio máximo não passava incólume, Dodô era especialista em fazer gols bonitos.
A bola parecia encontrar o pé do artilheiro e morrer com suavidade dentro das metas, mas não sem antes desafiar as leis da física, do tempo e do espaço. Dodô era um verdadeiro artista que parecia assinar cada tento como uma verdadeira obra de arte.
Foram 124 vezes que Dodô honrou a camisa listrada, e nos deixou felizes 90 vezes; vieram os títulos do Estadual de 2006 e Taça Guanabara também em 2006, e a artilharia do campeonato. Títulos guardados no coração e na memória de todo botafoguense.
Dodô encarnava a alma Botafoguense em cada jogo; como um ser sobrenatural, escondia a bola e distribuía talento em jogadas que pareciam fictícias dentro das quatro linhas. Parecia abusar da sorte, mas era apenas seu jeito mágico de jogar.
Ainda teve o Campeonato Paranaense de 1996, pelo Paraná. E o Paulistão de 1998 pelo Tricolor, onde o craque também assinou seu nome na história, com 19 tentos sagrados na artilharia daquele ano. No Morumbi foram 169 jogos e 93 gols.
Digno de frases e notas, seu gol pelo Fluminense contra o Arsenal da Argentina na libertadores de 2008 foi uma verdadeira paulada de primeira de fora dá área; um gol que beira o absurdo.
Na Vila famosa, não à toa foi-lhe ofertada a Dez. Talvez seu destino fosse brilhar.
Um jogador que vestiu dois dos mantos mais sagrados da história do futebol – a Sete do Botafogo e a Dez do Santos – não pode ficar de fora das linhas tortas traçadas pela história da bola.
Foram ao todo, 751 jogos e 406 gols por vários pavilhões.
Certa vez, em devaneios etílicos levantei a possibilidade de renomear o “Prêmio Puskás” que honra o gol mais bonito do ano em todo o mundo para “Prêmio Dodô”. Entre risadas e negativas, sem desmerecer o grande Húngaro, perguntei aos presentes:
Puskás, jogou a Libertadores? Não. Jogou na altitude de La Paz? Não. Pisou no solo sagrado dos Defensores Del Chaco? Não. Vestiu a Dez do Pelé e a Sete do Garrincha? Não. Foi garfado covardemente pelo Marcelo de Lima Henrique? Não. Ganhou a descomunal Taça Guanabara? Não.
Pelos serviços prestados ao futebol espetáculo, não lhes restam admitir que tal homenagem seria mais que justa.
* Marcelo Guido é Jornalista. Pai da Lanna Guido e do Bento Guido e Maridão da Bia.