E se eu tivesse dublê? – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Seria legal, né? Eu não me preocuparia com tropeções, quedas, acidentes. É muita viagem da minha cabeça? Tudo bem. Estou aqui é para viajar mesmo. Se não puder soltar minha imaginação neste espaço, totalmente autoral, onde mais?

Aqui eu nem preciso de dublê. Aqui eu sou o dublê, sem deixar de ser o astro do filme. Posso me jogar de cima da montanha mais alta. Posso morrer numa cena e aparecer vivo em outra, sem um arranhão sequer. Mas na vida aí fora não é assim e é preciso tomar muito cuidado.

Fico vendo esses skatistas em suas manobras radicais. Se eu tivesse dublê, arriscaria umas manobras bem loucas. Qualquer escorregão mais fora do controle e eis o meu dublê caindo por mim. E nem precisaria me preocupar com ele, que seria um profissional supertreinado para me substituir nas cenas de perigo e usaria os equipamentos de proteção mais incrementados possíveis, aqueles que os dublês de Hollywood usam.

E poderia ir além do aspecto físico. O meu dublê estaria em condições de enfrentar qualquer situação em que eu me metesse. Fazer uma prova para um concurso público, por exemplo. No momento em que as questões ficassem complicadas de ser resolvidas, apareceria o dublê pronto para atuar em meu auxílio e responderia com total precisão.

Outras situações: se eu tivesse que ficar até tarde no trabalho, o dublê ficaria trabalhando no meu lugar enquanto eu iria me divertir na balada. Como ele seria onipresente, também iria comigo ao bar ou à boate. Se acontecesse de eu ficar muito bêbado a ponto de ir ao chão, a cada vez que eu caísse seria o dublê caindo, não eu. No dia seguinte, caso a ressaca tomasse conta, eu ficaria de boa, enquanto o dublê é que teria os incômodos.

Acho até que, em algumas ocasiões, esse dublê existe e se chama anjo da guarda. Só a existência de um ser assim pode explicar as vezes em que saio pela madrugada, enlouquecidamente bêbado, e chego em casa são e salvo de qualquer distúrbio que acontece na noite. Vai ver que é ele que toma o meu lugar quando a coisa fica feia.

Vou ficar atento ao aparecimento do meu dublê-anjo da guarda. Vou recebê-lo com todas as honras e fazê-lo crer que sua presença é indispensável mesmo nos momentos em que não há sinal de perigo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *