Égua-moleque-tu-é-doido: movimento estudantil invade prédio da Reitoria da Unifap

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O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), juntamente com a ANEL e outros movimentos estudantis, decidiram ter uma postura mais ativa. Na última quarta-feira (26), às 17h, os acadêmicos dos movimentos estudantis tomaram o prédio da reitoria em forma de protesto pelos cortes na educação por parte do Governo Federal e contra ataques da atual gestão da reitora Eliane Superti e da vice-reitora Adelma Barros.

“O nosso objetivo é conversar com a reitora de forma pública, já que ela se blinda de todas as formas, tanto judiciais quanto nas reuniões, pois ela fecha apenas com quem ela quer conversar”, informa o departamento de comunicação do DCE. Os estudantes pedem que as demandas que já foram apresentadas sejam atendidas e que o desrespeito dessa gestão com o movimento grevista tenha fim.

“Nosso intuito não é mais uma vez conversar com a reitoria Eliane Superti, nosso intuito é fazer com que as coisas que ela nos fala, as promessas, saiam do papel e sejam cumpridas, porque já tivemos mais de quinze reuniões com a reitora e, infelizmente, não temos retorno,” relata acadêmica do movimento. É aquela questão: se a palavra foi dada, que ela seja cumprida. A reitoria deve zelar pelos compromissos assumidos.

Segundo alunos ocupantes, eles só tornaram o movimento mais radical, mais duro, ocupando o prédio da reitoria, porque existe a intenção de chamar a atenção da sociedade e dos próprios funcionários da universidade deixando visível que a instituição apresenta um ensino precário, que a qualidade está deixando a desejar e que a atual gestão está muito aquém com os movimentos estudantis, com o movimento de greve dos técnicos e professores e com a qualidade da universidade.

“A gente quer provocar a população do nosso estado a ver a precariedade da universidade e fiquem solidários conosco, com a luta dos estudantes e que a gente consiga fazer com que a professora Eliane Superti tire as promessas do papel e faça, de fato, que a nossa universidade seja uma universidade gratuita, pública e de qualidade”, comenta.

Os estudantes estão acampados no prédio da reitoria, de onde dizem que só sairão quando a reitora for conversar com eles. O gabinete da reitora informou que a mesma está em Brasília negociando com o Governo Federal recursos para a universidade. Ela só retornará à Macapá hoje, sexta-feira (28).

Na manhã seguinte à invasão, na quinta-feira (27), os funcionários das pró-reitorias e do gabinete da reitora chegaram para trabalhar e se depararam com as portas do prédio interditadas. Os estudantes disseram que a vice-reitora, Adelma Barros, furou o protesto e subiu as escadas do prédio, juntamente com seus funcionários, para prosseguir com seus afazeres de mais um dia de gestão. Alguns funcionários pularam as janelas das salas para poderem trabalhar; outros resolveram respeitar a ocupação de demarcação de território por parte dos movimentos.

Ainda pela manhã, a vice-reitora oficializou a suspensão das atividades na instituição no dia 27 de agosto.

A reitoria ainda diz que os estudantes arrombaram a porta do gabinete da reitoria e que ligaram a central de refrigeração do local. Os alunos se defendem dizendo que “nada sumiu do local” e que a reitora, na noite em que o local foi ocupado, deixou a “central de ar” ligada. A reportagem foi verificar as condições da tal porta e não encontrou nenhum vestígio de arrombamento da mesma.

A reportagem então procurou a vigilante do prédio que havia feito a averiguação do local na mesma manhã, antes da chegada da reitora em exercício. Ao ser questionada sobre o estado da fechadura da porta, a vigilante disse não estar autorizada a responder nada sobre o fato. “Não tenho autorização pra falar sobre isso, são ordens do chefe de segurança”, fala.

“Eles já mandaram cortar a internet aqui do prédio, disseram que vão cortar a água e a energia também. Ameaçaram chamar a polícia, mas em público dizem que não criminalizam os movimentos estudantis e grevistas”, disse um manifestante.

Segundo a vice-reitora, os estudantes não apresentaram nenhuma reivindicação. “Ontem, quando eles se apresentaram aqui, eu os chamei para conversar, quando começaram a montar as barracas, eles não aceitaram” – mostrando os documentos sobre a mesa. “Então fica difícil de entender. Afinal de contas, o que querem?” questiona. O que, de certa forma, confronta sua fala, uma vez que o documento apresentado à equipe de reportagem, Ofício n° 566/2015 – Reitoria/UNIFAP, deixa claro que a Reitoria está aberta ao diálogo para discutir as questões propostas pelo Diretório, isto é, já existiam propostas.

Não sabendo do motivo pelo qual os acadêmicos invadiram o prédio da reitoria, a vice-reitora conta que entrou em contato com o presidente do DCE e pediu informações a respeito da invasão, mas o mesmo não soube prestar esclarecimento e que retornaria para dar melhores informações. “Ele disse que tava fora. Que tava chegando e que iria ver o que tava acontecendo. Depois me ligou e disse que estão se organizando em um movimento que, de certo modo, é nacional, que precisava se marcar território. Foi isso que eu soube; um movimento de se marcar território, porque isso é nacional”, explica.

A vice-reitora ainda comenta sobre a atual gestão está sempre aberta ao diálogo e que tem feito todos os esforços necessários para atender as demandas acadêmicas. “Internamente, a gente sempre tem ouvido os estudantes e tudo o que eles reivindicam são pautas nossas também. Um RU com mais qualidade, a gente está se esforçando para fazer, a casa do estudante, mais bolsas para alunos”, reforça.

Mesmo com os auxílios financeiros a “disposição” da comunidade acadêmica, como alimentação, transporte, xerox, moradia, sabe-se que o sistema de seleção ainda é falho. Este ano, o edital de seleção exigia que o público interessado nos auxílios apresentasse, no ato da inscrição, o documento original com foto de todos os integrantes do grupo familiar com quem reside. Até que ponto se faz necessário tirar o documento original de todos os integrantes do grupo familiar?

Em uma reunião fechada, o pró-reitor da Pró-reitoria de Extensões e Ações Comunitárias afirmou, segundo alunos presentes na reunião, que com um auxílio de 200 reais fornecidos a estudantes é possível “rachar” uma moradia, pagar conta de energia, entre outras coisas. “Em que mundo ele vive?”, ironizou um aluno envolvido na ocupação do prédio da reitoria. É possível sobreviver, sim, com essa quantia mensal, porém é impossível ter qualidade de vida e dignidade sobrevivendo dessa forma. Essa gestão não demonstra compromisso com a dignidade e qualidade de vida dos seus alunos.

Em outra reunião restrita a membros grevistas e a representação estudantil, a reitora Eliane Superti teria se exaltado e ameaçado entrar com um processo administrativo contra todos aqueles que descumprirem o “acordo” feito para não bloquear nem fechar o portão que dá acesso à instituição de ensino superior. “Ela ainda disse que não tava nem aí, que ia botar processo administrativo em todo mundo e não tava nem vendo quem era. Essa é a nossa maior revolta”, disse um estudante membro do DCE.

“Todo esforço a gente tem feito. Agora, a gente também precisa reconhecer que há limitadores. Nós não podemos em um passe de mágica realizar todos os sonhos de cada um de nós. Evidentemente que não é possível que em uma reitoria, que nós só estamos aqui há nove meses, nós consigamos resolver os problemas de quinhentos anos de educação. O esforço está posto,” conclui a vice-reitora.

Fonte: Jornal do Dia

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