Emílio Santiago : 40 anos de música pouco ouvida no Brasil


Um dos melhores cantores do Brasil de todos os tempos, Emílio Santiago (6 de dezembro de 1946 – 20 de março de 2013) sai de cena, aos 66 anos, mas deixa discografia farta, iniciada há exatos 40 anos com a gravação, em 1973, de compacto com as músicas Transa de amor (Sebastião Tapajós e Marilena Amaral) e Saravá Nega (Odibar). 

Pouco ouvida e pouco valorizada no Brasil, tal discografia totaliza 30 álbuns – lançados entre 1975 e 2012 – e quatro DVDs. Já no primeiro dos 30 LPs do cantor, Emílio Santiago (Cid, 1975), ficou evidente o gosto por repertório apurado que, no caso desse disco, inclui músicas de compositores como João Donato, João Nogueira (1941 – 2000), Jorge Ben Jor e Ivan Lins. 

Mas é fato que o supra-sumo dessa obra fonográfica reside no acervo da gravadora Universal Music. São os 10 álbuns gravados e lançados por Emílio entre 1976 e 1984, sobretudo os dos anos 70. O primeiro dessa fase, Brasileiríssimas (Philips, 1976), é espécie de precursor da série Aquarela brasileira – a coleção de sete volumes lançados entre 1988 e 1994 que transformou Emílio Santiago, enfim, num cantor popular – e nem se destaca tanto no período. 

As obras-primas da discografia do intérprete na década de 70 são Feito para ouvir (1977), Emílio (1978) e O canto crescente de Emílio Santiago (1979), sendo que somente o primeiro ganhou edição em CD no Brasil, sem sua capa original, via Dubas. São discos em que o canto naturalmente refinado do artista – sofisticado, sim, mas nunca pomposo – se aliou a repertório impecável e a arranjos tão classudos quanto a voz que este já saudoso cantor carioca treinara nas boates do Rio de Janeiro (RJ) no início dos anos 70. 

Já os discos da primeira fase da década de 80 – títulos como Ensaios de amor (1982) e Tá na hora (1984) – resultam mais oscilantes, embora todos tenham bom nível. Finda a série Aquarela brasileira, Emílio – já com cotação mais alta no mercado fonográfico – exercitou sua liberdade artística e gravou alguns discos que mereciam ter obtido maior repercussão comercial. Perdido de amor (Som Livre, 1995) – tributo ao cantor carioca Dick Farney (1921 – 1987), produzido por Marco Mazzola – e Bossa Nova (Sony Music, 2000) são discos excelentes que reiteraram a maestria de um cantor carismático que sempre teve ginga na voz de barítono. 

Embora seu vozeirão tenha transcendido rótulos e ritmos, Emílio Santiago também se beneficiou das conquistas estéticas da bossa para projetar seu canto sempre macio. Que caía no samba com suingue espetacular. Último título de estúdio da discografia de Emílio Santiago, Só danço samba – tributo ao rei dos bailes Ed Lincoln (1932 – 2012), produzido com apuro por José Milton – o fecho irretocável de obra fonográfica que merece urgente reavaliação e urgentes reedições em CD. Para bem da música popular do Brasil.

1. Emílio Santiago (1975)
2. Brasileiríssimas (1976)
3. Comigo é assim (1977)
4. Feito para ouvir (1977)
5. Emílio (1978)
6. O canto crescente de Emílio Santiago (1979)
7. Guerreiro coração (1980)
8. Amor de lua (1981)
9. Ensaios de amor (1982)
10. Mais que um momento (1983)
11. Tá na hora (1984)
12. Aquarela Brasileira (1988)
13. Aquarela brasileira 2 (1989)
14. Aquarela brasileira 3 (1990)
15. Aquarela brasileira 4 (1991)
16. Aquarela brasileira 5 (1992)
17. Aquarela brasileira 6 (1993)
18. Aquarela brasileira 7 (1994)
19. Perdido de amor (1995)
20. Dias de luna (1996)
21. Emílio Santiago (1996)
22. Emílio Santiago (1997)
23. Preciso dizer que te amo (1998)
24. Bossa nova (2000)
25. Um sorriso nos lábios (2001)
26. Emílio Santiago encontra João Donato (2003)
27. O melhor das Aquarelas (2005)
28. De um jeito diferente (2007)
29. Só danço samba (2010)
30. Só danço samba ao vivo (2012)

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