Por Thomé Azevedo
Projeto de documentário “Mazagão – Mito, memória e migração” está com tudo pronto para levar a equipe de produção e os protagonistas, no próximo dia 22 de março, do Brasil até o sítio de El Jadida na costa marroquina, reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco.
El Jadida, antes chamada de “Mazagan”, foi a última fortificação lusitana no Norte da África, de onde vieram no ano de 1770 as famílias de colonos portugueses para habitar um pedaço da floresta amazônica, onde hoje está a cidade de Mazagão Velho, no Amapá.
O documentário mergulha no imaginário e na história do povo de Mazagão, revelando a trajetória de uma cidade que atravessou o Oceano Atlântico e que este ano completa 246 anos. O roteiro trás a tona o encontro de dois mundos e tempos: o da cidade do passado e suas histórias de batalhas gloriosas, com a comunidade atual que luta para manter suas tradições. As festas tradicionais, como a de São Tiago, com suas encenações de batalhas entre “cristãos e mouros” e cavalhadas pelas ruas da cidade, são cheias de simbologia que tem como ponto de partida o continente africano. Servem de base para a pesquisa que vem sendo desenvolvida desde 2002 por Gavin Andrews, cineasta canadense radicado no Brasil.
O documentário elegeu dois personagens mazaganenses que serão levados em um “retorno” inédito à terra dos seus ancestrais, onde conhecerão a África e os verdadeiros “mouros”, para refletir sobre suas origens, seus mitos de fundação e o seu futuro como povo. Os protagonistas dessa história são Jozué Videira, 48 anos, autônomo, mestre artesão de instrumentos de percussão e mobilizador cultural através de um ponto de cultura que mantém no quintal da sua casa e Joseane Brito, 29 anos, que além de se orgulhar da sua comunidade é professora de historia e historiadora por paixão.
“É uma comunidade que descende dessas origens africanas que os moradores da Mazagão africana trouxeram em sua bagagem, esse legado histórico, riquíssimo e maravilhoso, que hoje a comunidade preserva com toda dedicação,” conta Joseane.
A equipe permanecerá em El Jadida durante quatro dias produzindo material para a edição do filme. Acontecerá no dia 26 de março um encontro entre os brasileiros e representantes da cidade e autoridades locais promovida pelo Fórum Nacional da Cidade, uma entidade da sociedade civil marroquina. A visita dos mazaganenses promete ser o catalisador de um intercâmbio cultural entre as duas cidades.
“A Festa de São Tiago é feita do ponto de vista dos cristãos e eles iriam contar a história em favor deles e não dos muçulmanos,” disse Jozué, que se prepara para embarcar pela primeira vez em viagem internacional. “Eu queria entender esse outro ponto de vista.”
O documentário foi aprovado no edital do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) da Agencia Nacional de Cinema – ANCINE e será destinado inicialmente para as TVs públicas e educativas brasileiras. O projeto é uma produção do Espaço Vídeo, estabelecida em Porto Velho (RO) em parceria com a Castanha Filmes do Amapá. Essa serie de editais visa à regionalização da produção audiovisual independente no Brasil e faz parte do Programa “Brasil de Todas as Telas”, através do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDE.
Além do cineasta Gavin Andrews, fazem parte da equipe os amapaenses Cassandra Oliveira na co-direção, Ana Vidigal na direção de produção, Aron Miranda no som direto e Thomé Azevedo como assistente de produção.
Fonte: Portal Lado B