Crônica de Lulih Rojanski
Eu quis dar nome às estranhas sensações que me despertaram de uma longa letargia por volta do mês de setembro. Acordava mais cedo que de hábito e necessitava abrir as janelas para sentir entrar o ar fresco das primeiras horas, queria estar debaixo das árvores, ouvindo o farfalhar das folhagens, suspirava a cada minuto, ainda que uma nova paixão fosse uma possibilidade muito remota. Sentia nos pés uma energia concentrada, como se eles tivessem vida própria, e me convidavam a andar, e a andar, por caminhos onde eu pudesse perceber os odores da paisagem sem precisar esfregar uma folha no nariz.
Tinha sempre um sorriso na cara, contrariando a elegância de não expor com tanto descaro as marcas do tempo. Por que estranhar a felicidade, eu poderia apenas me perguntar, mas havia algo mais que a felicidade que eu já conhecia e que passeava meio entediada pela insipidez de minha rotina.
O psiquiatra que me ajuda a consertar meus transtornos não teve dúvidas: ansiedade. Outras cápsulas noturnas que me fariam acordar mais tarde pela manhã resolveriam tudo, e eu poderia retornar tranquila ao reino dos caramujos. Minha sorte foi falar antes com vovó, que por sinal, também andava se esgueirando por debaixo das árvores e suspirando para os lagartos que escalavam os galhos: Não é doença, minha filha – disse ela. É a síndrome da primavera. Sente-se aqui e se deixe florescer.
2 Comentários para "Estranheza – Crônica de Lulih Rojanski"
Primaveramente deformando o Tédio.
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