F L I P – Conto de Luiz Jorge Ferreira

Conto de Luiz Jorge Ferreira

Flip… meu idoso cão, meu peralta cão… sobe as escadas na velocidade da luz, dividida por um bilionésimo de segundo.

Branco, pequeno, resmungão, ansioso, e afobado, dentro dos limites das suas artroses, parece comigo.

Veio cobrar a ausência dos sacos de lixo que revira quando eu o ponho para brincar na garagem, de onde sai todo sujo, de lixo orgânico que separo dos papéis, plásticos e demais sobras.

Resmunga na linguagem dos cães, refuga, remarca o seu território urinando aos quatro cantos da sala, que transformei em espaço mais importante da casa…

TV… Computador… Rádio… Pilha de Papéis Escritos a Mão, ou impressos, livros terminados e não publicados, monte de meias, cartas importantes e sombras desfiguradas pelos anos, que às vezes puxam a cauda do Flip, e ele reage grunindo em Dó Maior.

Mas hoje ele está emputecido, porque prevendo chuva a Noroeste, segundo o homem da meteorologia, vai chover metade do céu em Osasco.

Ele fica proibido de brincar na garagem.

Isso tudo eu explico para ele, que me olha e mexe as orelhas como se achasse um saco o lixo ser abandonado a sua sorte dentro de um caminhão que o tritura sem piedade.

Ele, Flip, não… o puxa delicadamente pelos buracos que faz no saco, e os empilha conforme o odor que espalham.

Um técnico em repartir podres.

Desce furioso, ouviu o som dos lixeiros, gritando pela rua, se aproximando, quanto mais perto, mais forte ele percebe o ruído da roda dianteira do lado da direita do caminhão, azedo ruído, é a roda que mais raspa de encontro com a calçada desnivelada em frente a nossa casa.

Pula no portão fechado, os lixeiros não temem, estão acostumados com o brabo Dog.

Às vezes lhe atiram pedaços de pão, que ele ignora, e passa dias urinando nele, para apodrecê-lo mais rapidamente, acho eu.

Hoje… não…

Vê os sacos de plástico escuro saírem do seu ângulo de visão, o cheiro, não, este fica com ele…

Até que eu o leve para o banho quinzenal no Pet Shop, duas quadras adiante.

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