FESTA DO DIVINO EM MAZAGÃO – Por Fernando Canto

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Por Fernando Canto

A vila de Mazagão Velho, distante cerca de 60 quilômetros de Macapá, é um dos lugares mais pródigos de manifestações culturais do Amapá. Traz uma tradição de 17 festas anuais somente no ciclo santoral. Uma das mais expressivas é a do Divino Espírito Santo, que ocorre com intensidade nos dias 23 e 24 de agosto com diversos quadros durante a sua programação.

Começa no dia 16 de agosto com a trasladação da imagem do santo (na realidade é uma coroa de prata ornada de fitas e flores) para a vila do Carvão. Dia 22 retorna a Mazagão Velho e no dia 23, às 20h00 inicia com uma folia, realizada dentro da igreja e que depois se desloca para a casa dos festeiros, com os foliões cantando nas ruas. Depois disso o Marabaixo é praticado a noite toda.

Mas é no dia 24 que a festa atinge o seu clímax. Bem cedo explodem os fogos e os rojões da alvorada, acorfesta1dando a cidade e os japiins que fazem seus ninhos em frente à igreja de Nossa Senhora da Assunção. Às 07h00 é rezada a missa com a igreja lotada de fiéis e no seu término é procedida a “Coroação da Imperatriz”. É feito um ritual com cântico próprio na presença do padre que faz a coroação de uma criança escolhida para a função no ano anterior. Ela fica sentada numa grande cadeira, trajando um vestido branco ricamente ornado. Em seguida todos saem da igreja para organizar um cortejo onde mais onze crianças, também vestidas de branco, percorrem até o centro comunitário. A “Imperatriz”, juntamente com a “Trinchante”, espécie de Dama de Honra que segura a coroa da “Imperatriz”, e a “Pega-na-capa”, que segura o seu manto, são colocadas em um quadrado formado por quatro meninas que a conduzem sob o cerco de quatro varetas pintadas de tinta dourada, de aproximadamente 1,20m. Por isso são denominadas “Varas-douradas”. À frente da “Imperatriz” mais quatro meninas conduzem cada uma um bolo, enfeitado com pombas brancas. São as chamadas “Paga-fogaças” Um pouco adiante delas vai outra menina chamada “Alferes Bandeira” carregando a bandeira branca do Divino Espírito Santo, acompfesta11anhada de um porta-estandarte adulto, que leva uma grande bandeira vermelha com o símbolo do Espírito Santo. O séquito, formado pelas foliãs, os organizadores da festa e pelo povo, passa pelas ruas até o centro comunitário, onde será feito o sorteio das festeiras para o próximo ano. É uma espécie de competição que tem torcida e muita animação. Todas as famílias querem que suas filhas sejam algumas das figuras, sendo, porém, a “Imperatriz” a mais esperada e desejada.

Enquanto ocorre o sorteio é servido o chocolate com pão ou com beiju cica (feito de mandioca e trigo). O chocolate é produzido na comunidade após a semente do cacau ficar vários dias no sol, ser torrado e pilado. Depois é ralado e escoado com ovo batido e açúcar. Em seguida é feito o leilão dos donativos arrecadados junto à comunidade e o cortejo volta para a igreja e se desfaz.

images (1) (1)Só depois do meio-dia é que começa a tradição do Marabaixo de rua, quando os participantes tocam as caixas de madeira e couro e entoam cantos seculares pelas casas que adentram com o consentimento prévio dos proprietários e festeiros. Nessas casas são distribuídas as bebidas e as comidas, principalmente o caldo e a “gengibirra”, bebida típica que vai conduzida em um tonel sobre um carro de mão e fartamente distribuída aos que acompanham o Marabaixo. Às 18h00 é feita a “Derrubada do Mastro” em frente ao centro comunitário, e assim se encerra a festa do Divino Espírito Santo de Mazagão Velho.

Esta descrição que faço aqui tem por objetivo instigar estudantes universitários e os futuros pesquisadores da cultura a olharem Mazagão Velho como um manancial para estudos nessa área. Seria bem interessante que ao lado da realização desses estudos houvesse também a divulgação do material coletado e, sobretudo a “devolução” das imagens à comunidade, que sempre colabora com os pesquisadores, mas reclama, com junta razão, que nunca ninguém mostra fotos ou filmes, ou ainda os resultados práticos das pesquisas.

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