Detalhista ao extremo ao descrever a operação da PF, a reportagem omite o fato de que o então candidato e atual governador Camilo Capiberibe foi o único dos candidatos a denunciar o esquema e a apoiar decididamente a ação da PF, inclusive pedindo o impeachment do governador Pedro Paulo.
Mais grave: a reportagem, fazendo ilações sobre a atuação de Camilo Capiberibe quando este era deputado estadual e sobre atividades públicas de alguns de seus parentes, induz o leitor a pensar que o governador fazia parte do esquema montado por seus adversários políticos, quando, na verdade, ele sempre esteve na linha de frente do combate a essas práticas e a seus representantes.
De acordo com a PF, o esquema desviava recursos da União que eram repassados à Secretaria de Educação do Estado do Amapá, provenientes do Fundeb e Fundef. A maioria dos contratos firmados pela Secretaria de Educação não respeitava as formalidades legais e beneficiava empresas previamente selecionadas. O mesmo esquema era executado em outros órgãos públicos – Tribunal de Contas do Estado, Assembleia Legislativa, Prefeitura de Macapá, Secretarias de Estado de Justiça e Segurança Pública, de Saúde, de Inclusão e Mobilização Social, de Desporto e Lazer e no Instituto de Administração Penitenciária. Todo esse esquema foi montado durante os governos de Waldez Góes e Pedro Paulo Dias.
As acusações sobre abusos supostamente cometidos pelo governador quando ele era deputado estadual devem ser investigadas – embora, é preciso ressaltar, não tenha havido nenhuma ilegalidade no uso de verbas da Assembleia Legislativa. Mas comparar esses supostos abusos com a gigantesca máquina de desvios e corrupção instalada no Estado do Amapá pelos aliados do senador José Sarney é ofender a inteligência do leitor, com o nítido objetivo eleitoreiro de confundir a opinião pública fazendo parecer que aqueles que sempre estiveram à frente do combate à corrupção também estariam envolvidos na operação “Mãos Limpas”.