Há sete anos: trampo e pororoca no Araguari, uma aventura no Rio encantado

Há sete anos, viajamos, eu e a fotografa Márcia do Carmo, juntamente com uma equipe de técnicos da Prefeitura Municipal de Macapá (PMM) para as localidades do Igarapé Novo e Bom Amigo. Essas duas comunidades, apesar de fazerem parte do território da capital do Amapá, ficam isoladas, localizadas no Rio Araguari.

A expedição foi denominada “Pororoca Solidária”, pois consistiu em ações sociais da PMM, em parceria com um grupo de surfistas da onda (fenômeno natural) homônima a missão nas referidas localidades. Duas embarcações fazem parte da ação, um barco de madeira de porte mediano e uma balsa, onde os surfistas nos seguem.

O barco, nomeado “Renascer I”, partiu para a foz do baixo Rio Araguari com 13 pessoas, sendo três homens na a tripulação (comandante Celso e os embarcadiços “Farinha” e “Botinho”) e a equipe da PMM (eu, Márcia, Gláucia, Renata, Sandro, Diléia, Adélia, Galma, Roberta e Débora) – pessoal gente boa, com quem dividimos trampo, andanças por quilômetros em pura lama, comida, água, picadas de mosquito, entre outras coisas.

A viagem de ida foi um pouco tensa, por conta de um estranho nevoeiro que surgiu às 4h da manhã . O piloto me disse que nunca tinha visto algo parecido e a visibilidade estava comprometida. Como se já não bastasse, a profundidade, cerca de 23m, não permitiu que o comandante ancorasse o barco, o que nos fez seguir – com velocidade mínima – totalmente cegos, pelo Rio Amazonas (por onde navegamos antes de chegar ao Rio Araguari). Mas correu tudo bem.

Eu e Márcia fizemos fotos lindas. As imagens vão desde a alvorada no Rio Araguari aos guarás (pássaros da região). As noites foram longas, muitos mosquitos. Haja repelente! Foi osso!

Fomos até a comunidade de Igarapé Novo. Andamos cerca de 1,5 km (distância para ir e o mesmo para voltar ao barco) com lama até o joelho até chegar às casas dos ribeirinhos onde distribuímos alimentos e fizemos o recadastramento deles no programa Federal “Bolsa Família”. Além disso, cruzamos com a TV Amapá (Globo local), que também cobriram a ação social da sexta-feira, na comunidade Bom Amigo. O dia foi proveitoso!

Após as missões de trabalho, a ansiedade de ver a Pororoca tomou conta da maioria de nós.

Na manhã de sábado, pela primeira vez na vida, vi e vivi a Pororoca. A grande onda dos rios da Amazônia. Foi muito melhor que eu imaginava. Eu, a fotógrafa Márcia do Carmo e três colegas esperamos a onda na “curva da onça”, local onde a Pororoca arrebentou sobre nós. O fenômeno nos atingiu e logo alagou a enseada onde estávamos. Aliás, ficamos em um local bem de frente para a onda. Foi sensacional!

No domingo, fomos novamente acompanhar a Pororoca, mas agora, de cima da lancha “voadeira”. Ficamos muito perto da grande onda. Pena que eu e Márcia fomos em embarcações diferentes. A que eu estava deu problema no motor e logo mudei para a lancha pilotada pelo prático Riley.

Já a que a Márcia estava, encalhou e foi pega pela onda. Graças a Deus ninguém se machucou. A adrenalina de estar na crista da Pororoca, mesmo em uma lancha, é incrível! As fotos falam mais que palavras.

Nosso retorno à Macapá ocorreu após o almoço de domingo. Todos extasiados pela visão e sacodes da Pororoca. A viagem de volta não foi tão tranquila, pois a maré estava revolta, mas chegamos bem.

A expedição foi uma experiência de vida inexplicável e única, que adorei ter vivenciado. Aprendi muito naqueles oito dias. Tudo bem que nem tudo foi como eu pensava nesta viagem. Mas nossa missão foi cumprida.

Obrigado a todos que viveram esses momentos comigo, pois foi demais paid’égua e inesquecível. Saio dessa odisseia maravilhado com a beleza da região, com a Pororoca e peculiaridades do Araguari que como cantou Amadeu Cavalcante: é um rio encantado! É exatamente isso!

Parafraseando outro poeta, Gonzaguinha disse: “o movimento da vida não deixa que a vida seja sempre igual”. É isso! Modéstia à parte, monotonia é algo que não está incluso na minha rotina de jornalista. Já estou com saudades de uma aventura dessas . Boa terça-feira pra todos nós!

Elton Tavares

*Republicado por motivos de saudades dessas coisas. 

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