História do Kairo Moto Taxi o Melhor de Macapá!!! Diretamente de Mazagão!

Kairo – Foto: Maksuel Martins

Uma crônica de Kairo Moto-taxi

Depois de um longo tempo sem contar minhas histórias estou retornando, mas Kairo, porque estava sumido? Isso é fácil de explicar! Eu estou focado na faculdade, TCC, Estágios outras 7 ou 8 matérias que confesso que nem sei o nome de todas, tive que parar um pouco e centrar, simplesmente porque eu sei onde quero chegar e vou conseguir, vocês me entendem! Afinal meu sonho depende desse momento, lembre-se que “Depois da chuva, vem bonança”. Agora estou de férias, o que talvez meus professores e coordenadores ainda não saibam, mas eu me dei férias, meu curso minhas regras. Pah !!!

Lazer? quando falamos em lazer lembramos logo de domingo e essa história é de um domingo maravilhoso, daqueles que o sol está deslumbrante e o céu parece que foi pintado à mão, o vento e o balanço das árvores estão na mesma sintonia dos cantos dos passarinhos e os típicos desenhos nas nuvens estão lá esperando por sua imaginação. As ruas? nossa! Parece que não vivemos em Macapá, o trânsito organizado, as pessoas trafegando com calma e paz, como se o relógio não existisse, como se o amanhã não fosse chegar. Pra mim moto – taxista, é um dos melhores dias para se dirigir, até porque as melhores ruas (asfaltadas) estão vazias, claro que não são muitas as ruas boas de nossa cidade, 5 ou 10 no máximo, o resto está do jeito que tá.

Eu vinha na rua Padre Júlio, devagar, sem pressa alguma, sentindo o vento no rosto e o sol no corpo, estava vindo no sentido CENTRO/ALVORADA, ao chegar próximo ao 34º BIS, na parada de ônibus, vi uma moça, sentada, de certo ia pra Santana pensei, fui me aproximando e a moça se levantou, logo meu coração se alegrou, corrida pra Santana é uma raridade e é um dinheiro bom, tirando é claro os buracos das ruas de lá e o engenheiro de trânsito que anda complicando a vida dos santanenses ( mas ele é profissional, não somos dignos de reclamar). Ela timidamente acenou pra mim e eu com o meu grande sorriso me aproximei.

Os Cabelos tinham uma cor natural, um cinza de causar inveja a qualquer um, era fácil de notar que não era pintado pelo simples fato da raiz do cabelo combinar com o resto e as pontas estarem super bem hidratadas (cabelo pintado é uma desgraça pra deixar pontas duplas, nunca vi!), no cabelo um laço vermelho Carmin com alguns arames dourados, os arames davam forma a um laço perfeito, olhos claros um tom à menos da cor de mel, mas existiam raízes escuras no olhos da moça, sabe quando você olha microscopicamente para um olho humano, era desse jeito, só que sem o microscópio, o nariz era o que a minha avó chamava de Afiladinho (o que ao meu ver é um nariz proporcional ao tamanho do rosto), usava um brinco simples, um única pedra (imitação de um diamante, já tinha visto um idêntico nas lojas de bijuterias no centro), os lábios, esses sim chamavam atenção, ela usava um batom rosa pink, sabe aquele rosa que não é legal (Sei que é uma questão de gosto, mas eu não achei super mega legal para um look que ela vestia, achei que fugiu do contexto) era um rosa tipo de trabalho escolar ( pra facilitar a sua imaginação era o rosa das laranjinhas de morango, sabe? Aquelas que o tiozinho passa vendendo na rua da sua casa? Era esse tom de rosa!) Usava um colar daqueles que você compra no catalogo da Hermes, Aqueles que vem um coração e uma chave e você da a outra parte para alguém que você acha “especial” o que de fato me vez pensar que ela fosse comprometida, uma saia rodada (indiana envelope), presa por um único elástico na cintura, a saia ia até a ponta dos pés, e escondia uma tatuagem, um nome! (Se for o nome do namorado é mandinga, para que o bofe fique sempre aos pés dela, você não sabia dessa neh ? Rs) uma blusinha branca, sem detalhes, ela cortou a etiqueta (isso é fácil de notar, geralmente a etiqueta de blusas brancas são pretas e quando você corta fica um listra pretra na costura), uma sandalinha rasteira daquelas feita com coro de bode (25 reais no mercado Central) tirando o cabelo que era um pouco mais liso, poderia dizer que ela era parecida com Maria Bethânia, antes da fama é claro e antes da idade chegar.

Então ela me pergunta!

Ela: -Quanto o senhor me leva em Mazagão? (Meu coração bateu tão forte, se é bom ir pra Santana, imagina ir pra Mazagão).

Eu: (Com a voz tremula respondi) 45,00 reais, Boa tarde!

Ela: Poxa moço! Tá muito caro! Senhor poderia fazer um desconto?

Eu: Claro! Vamos por 40 reais, pode ser?

Ela: Poxa, ainda continua caro, mas eu estou desesperada, estou com muita pressa e a van vai demorar, então vou ter que aceitar.

Eu: Tudo bem, vamos chegar rapidinho.

Ela: vá o mais depressa possível!

Começamos uma conversa tímida, ela me falou que tinha um compromisso, algo relacionado a igreja. Engraçado que quando passamos o cabralzinho ela segurou na minha cintura, disse que estava com frio, achei estranho, o sol torrando na moleira e ela com frio? Perguntei:

Eu: – Você está bem? Tá doente?

Ela me disse que não, mas que era pra eu reduzir a velocidade, fiquei sem entender! Mas o mundo feminino têm dessas coisas, continuamos dentro da velocidade permitida, mas as vezes ela apertava a minha cintura, eu comecei a pensar que ela não tinha resistido ao meu corpo e de vez enquanto tirava uma casquinha! Mas a medida que íamos nos afastando da cidade ela me apertava com mais força e confesso que tenho um corpo sensível e já tava começando a doer aqueles apertos, mas continuei a viagem.

Em um determinado momento parei a moto porque já não aguentava ela me apertando, falei:

– Moça o que está acontecendo? Você tá me apertando!
– Ela respondeu em um tom de susto e timidez: Nada não senhor!

Eu: Como nada? Você tá pra quebrar meu espinhaço (vovó falava assim), tá doendo! Não sei se é fetiche!? Mas se for me avise pra eu entrar na brincadeira, porque sem saber parece mais agressão. Rsrsrs

Ela: desculpe, não foi minha intensão! É que eu tô com vergonha de falar mas acho que não vou aguentar!

Eu: Minha filha me conte então! Deus só trabalha nas coisas reveladas.

Ela: Eu tô com dor de barriga!!!

Nesse momento eu juro, juro que pensei que ela estava transportando drogas no estômago pra Mazagão, já imaginei ela vomitando tudo ali mesmo no meio da rua, a polícia chegando e até eu explicar que nariz de porco não é tomada eu já tava lascado.

Eu: Mana! Mas dá pra aguentar até sua casa? Estamos no meio do nada!

Ela: Moço, eu acho que não! Tô tentando segurar, tô morta de vergonha!

Eu: Xuxu, não fique com vergonha, todo mundo caga (Mas por dentro eu tava rindo litros), não se preocupe, vamos conseguir chegar.

O problema nessa situação é que o Cú tem uma espécie de GPS e a medida que vamos chegando perto de casa ou de onde vamos parar, vai apertando o negócio, vamos perdendo o controle da situação e eu comecei a imaginar a minha moto destruída de merda. Você já deve ter passado por isso, você chega na frente da sua casa, vai abrindo a porta, aí vai tirando a roupa, começa o desespero… kkkk ….só de imaginar eu me espoco na risada.

Resolvi então perguntar:

Eu: Xuxu, sei que não é legal mas tô vendo que você não tá bem! Estou preocupado com você!

Você já percebeu que nessas situações, essas perguntas, só aumentam a vontade ?

Ela: Moço, eu não tô aguentando! Me ajuda. O que eu faço, se eu chegar em casa assim meu marido vai desconfiar!

Eu disse: Oi? Hein? Como assim seu marido vai desconfiar?

Ela desconversou, mas aquilo ficou gravado no meu coração como os dez mandamentos ficaram gravados naquela tábua, pensei, vamos resolver uma merda de cada vez.

Perguntei: você acha que não vai aguentar?

Ela: Não moço! Não aguento… me ajude.

No caminho lembrei de um antigo matadouro de bois, fica bem próximo da fábrica de Coca-Cola, eu conhecia bem o local pois jogava Airsoft lá, então disse para ela que poderíamos parar e deixar fluir o fluxo normal da vida.

Ela concordou em ir, chegamos no local com ela se contorcendo parecia uma cobra! Ela disse que estava com medo de entrar sozinha, eu disse:

– Moça vai ser constrangedor pra ambos se eu entrar com você!

Ela: Mas moço eu tô com medo (com a aquela cara do gato de botas) me ajuda que eu te pago o valor que você quiser.

Eu: Moça, não é pelo dinheiro, mas vamos lá! (era pelo dinheiro sim).

Entramos no local, era cheio de Mato, tem várias construções abandonadas e à medida que eu ia entrando fui imaginando a merda que eu estava fazendo na minha vida “E se alguém visse eu entrando ali e chamasse a polícia” e ” se entra alguém ali” mas enfim… fomos!

Falei pra ela: Ali!!! Naquela casinha, ela correu em direção de lá como Forest Gump naquela corrida no começo do filme, corre forest, corre! Corre! Só quem assistiu vai entender essa referência, eu com aquele sorriso cínico no rosto pude escutar a miséria que ela fez ali dentro, meu Mano, o negócio tava tenso.

Sabe quando pato tá na lama e caga, era assim, só que pior, muitooooooo pior.

Eu ria, ria tanto, aquele riso em silêncio! Por dentro.

Afinal não poderia constranger a moça, ela já tava na merda.

Ela terminou mas aí então lembramos de um detalhe muito importante como ela ia se limpar?

Ela me perguntou: Moço! E agora?

Nessa hora lembrei de uma brincadeira de escola, gente juro que foi involuntário, mas eu fiz!

Respondi: Caga na mão e joga fora!

Até ela riu, rimos da situação, era o que restava.

Pensei, pensei… até que lembrei da flanela, disse: – Moça, a única coisa que eu tenho aqui é uma flanela!

Ela: Serve!

O problema é que minha flanela tava velha, e se você não sabe, fique sabendo. Flanela boa é flanela velha! Fiquei com pena de dar.

Mas não tinha outro jeito! E vinha a pior parte, entregar a flanela pra ela, iria vê aquela cena trágica, antes de entrar expliquei, moça! Você só tem um tiro!

Ela: tiro?

Eu: Sim! Pois só tem uma flanela, você não tem outra chance, então pense bem como vai fazer isso.

Fui, prendi a respiração e fui!

Mar menino, como pode uma menina com o rosto tão angelical fazer uma desgraça daquela, parecia que tinha 10 pessoas ali com ela. Nessa hora não aguentei e ri! Acabei soltando a respiração com o riso, ohhh fedor da miséria, será que ela tava comendo carniça?

Pedi desculpas!

Ela: Tudo bem! Eu no seu lugar também iria rir.

Eu: Moça, precisamos ir! Aqui pode ser perigoso.

Ela se limpou, acabou com minha flanela, viemos andando juntos, parecíamos grandes amigos, pra você vê como as situações unem as pessoas.

 

Ela começou a contar sua história… tinha ido de Mazagão para Macapá encontrar o Boy Magia (Amante), no motel ele pediu um tira gosto (coisa que eu acho muito estranho, cara vai no motel pra comer tira gosto) e ela pra não fazer desfeita comeu.

Ele não pôde deixar ela em Mazagão, porque segundo ela, o pessoal de lá é um tanto curioso acerca da vida dos outros e ao verem ela chegar em um carro diferente a notícia iria se espalhar que nem rastro de pólvora, então ela sempre faz isso, volta de van.

Ela: Moço! lá todo mundo sabe da vida de todo mundo, até o fato de eu chegar com você… todo mundo vai saber.

Eu: Curuzes!!! Tá nesse nível…

Ela: tá!

Eu: Mas você acha que vai lhe trazer problemas?

Ela: Não! Meu marido é bem compreensível!

Não aguentei e ri: Sei!

Ela: Moço e agora? Quanto você vai me cobrar por tudo isso?

Eu: Vai ficar 80 reais tudo!

Ela: Moço eu só tenho 50 aqui, quando chegar lá eu pego o resto com meu marido!

Eu: Mas ele não vai ficar chateado?

Ela: Não! Não!

Eu: Mas me dê logo esses 50,00 porque eu já passei por tanta coisa nessa vida que agora eu tô vilhaco.

Ela: ela me entregou os 50,00 e seguimos viagem.

Ela ia me agradecendo, dizendo que fui muito gentil, que nenhum outro motorista iria fazer isso por ela.

Eu disse: É… Gentileza Gera Gentileza!

Ela: verdade!

Já estávamos chegando no local onde ela disse que morava, infelizmente eu não posso descrever muito o local, porque a galera de Mazagão vai saber onde é e quem é a moça.

Mas era uma casa até bonita!

Parei a moto, ela entrou, voltou dizendo que o marido não estava! E por incrível que pareça era notável que os vizinhos estavam nos observando, estava me sentindo no Big Brother Mazagão.

Foi aí que ela me disse: Senhor não quer entrar? Vou só tomar um banho.

Eu disse: Não! Não! Só queria meu dinheiro mesmo.

Ela disse: Deixa eu te fazer uma gentileza!

Eu: Moça, eu te ajudei, só quero meu dinheiro e pronto.

Foi aí que apareceu o marido dela, estatura mediana, cabelo cortado estilo militar, olhos era bem fechadinhos, parece olhos de japonês, nariz bem fino, era um nariz com aquele osso bem no meio (parecido com o do Luciano Hulk) a barba por fazer, uma camisa do Brasil, a camisa tava velha já, uma bermuda preta, as unhas estavam horríveis, especialmente a dos pés.

Ela disse: amor! É um moto taxista.

Ele: Isso eu tô vendo!

Quando eu vi ele respondendo daquela forma pra ela eu descobri porque ela ia atrás do Boy Magia, ela com sorriso cínico, pediu para que ele pagasse o restante da minha corrida.

Ele: Mas pra onde você tava ?

Ela: Ela riu! Depois eu te conto.

Ele olhou pra mim com cara de raiva e disse: Eai cara! Quanto é que falta?

Eu: 30 reais, senhor!

Ele: Tudo isso cara? Pow tá de sacanagem?

Ela piscou pra mim, como se explorasse pra eu não contar nada.

Ele continuou reclamando, xingando, enquanto tirava o dinheiro da carteira.

Chegou perto de mim com a quantia e me entregou.

Eu peguei o dinheiro, criei coragem já com a moto ligada, em ponto de partida e disse:

Senhor, sua esposa vale muito mais que 30 reais, cuide dela, respeite e dê amor.

Afinal todo mundo recebe aquilo que oferece!

O homem ficou me olhando, como se não soubesse o que fazer e eu parti rumo a Macapá Cyte.

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