Já Virou Sacanagem

por Arthur Muhlenberg 

Entre os muitos lemas dos camisas feia, O Time da Virada, Veni, Vidi, Vice, etc., existe um especialmente comovente. É aquele que diz Enquanto houver um coração infantil o Vasco será imortal. É maneiro, mas inexato. Vocês que já foram pais sabem muito bem que enquanto houver um coração infantil o choro só acaba em duas ocasiões: se rolar uma chupeta ou na hora de mamar. Se não rolar, é crise em São Januário.

Como a bola que o Gabriel mandou aos 45 minutos do segundo tempo em direção ao gol da baranga, naquele chutinho no mais puro estilo Hello Kitty, bateu na trave, rolou devagarinho por cima da linha e entrou lá do outro lado o placar marcou 2 x 1 pro Mengão Papaizão Severo. Sem uma marquise de fácil acesso, as bigodudas abriram o berreiro. A tardezinha começava a escurecer e os mais de 50 mil lugares vazios do Maraca ecoaram o choro profundo e sofrido da família vascaína. Ô dó…

O jogo foi feio pra caramba, o Flamengo ainda está em formação e o vice já está pleno processo de readaptação à Série B, joga igualzinho ao Olaria. Mas como é um clássico, sempre se espera contar com alguma dignidade inerente ao histórico do embate. Mas nada, nêgo quer mesmo avacalhar de vez com o carioqueta e escalaram um juiz pusilânime, que não coibiu a violência vascaína. Se não fosse a firmeza de caráter e o olhar treinado dos árbitros-auxiliares-vigias-de-linha-de-fundo o jogo poderia ter se transformado em um conflito com consequências imprevisíveis.

Mas graças a Elano e Gabriel, ágil como um dançarino de arrocha, acabou tudo bem e o Mengão passou o rodo na vasca. Mesmo não valendo nada é inegável que as vitórias que parecem ser roubadas são muito mais gostosas. Nem tanto pelos 3 pontos, que ponto de Carioca é igual dinheiro de Banco Imobiliário, mas pelo emputecimento generalizado que as vitórias controvertidas espalham na arcoírislândia. Vagabundo se rasga todo, estrebucha, a baba pende do lábio bovina e elástica. É uma delicia, em Lilliput todos chora.

Mas, se liguem. O Flamengo de Jayme ainda é um esboço, os caras ainda não sabem exatamente que papel desempenhar e ainda falta se familiarizarem com o novo esquema. O que gera uma profusão de passes errados, chegadas tardias e deslocamentos tão inúteis quanto estúpidos. Tudo bem que os caras jogaram cansadões da viagem, mas ainda não é aquele futebol bonito de se ver. Mesmo dando esse desconto, evoluímos.

Evoluímos principalmente na brodagem, na reafirmação do grupo. Como eu disse anteriormente, nada como compartilhar uma carne assada pra reforçar os laços afetivos, o sentido de coletividade e a sensação de pertencimento que são essenciais para o sucesso emocional de um grupo. Ter vencido um jogo com tanta perturbação, tanta bulha, e logo em cima da vasquinha, famosa fricoteira, estreita os laços de amizade, intensifica a cumplicidade.

Agora que a baranga foi finalizada na maldade, chega de zoeira. É hora de se preparar muito bem pros jogos da Liberta em casa. Tem dois compromissos do carioca antes que vão servir muito bem pro Jayme fazer os ajustes que o time precisa. Tem que dar um jeito no isolamento do Brocador, o cara tá largado lá na frente, não recebe uma bola maneira, todo jogo tem sido ele contra o mundo. Assim fica difícil. E tem que dar umas gemadas pros nossos laterais que tão mortinhos. Libertadores é o que interessa, o resto não tem pressa.

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