LUAZINHA – Conto de Luiz Jorge Ferreira

Conto de Luiz Jorge Ferreira

A Lua-mãe gritou quando ela se afastou em direção as poças de água formadas pela chuva no chão das ruas.

– Alguém ainda vai apanhar você…hein!

A Luazinha fez de contas que não era com ela, e desceu em direção ao meio da rua. Fizera assim muitas, e muitas vezes.

Banhava-se por horas nas poças, e iluminava tudo ao seu redor, brincava e divertia-se a espantar os cachorros e os gatos que assustados com aquele brilho repentino saiam em disparada. Porem esta noite com o calor que fazia, ela descuidou-se e quando percebeu alguém lhe pegou.

Atraído pela brilhante luz vindo daquela poça, o catador de latas sentou-se feliz, com aquele brilhante pedaço de metal, que nunca houverá apanhado em sua vida,com certeza ganharia com ele um bom dinheiro do homem que comprava sucata.O certo era que não pesava muito, mas brilhava demais, devia ter muito valor.Abriu o saco de plastico preto, e colocou aquele objeto brilhante lá para dentro. Fechou a boca do saco, e o colocou as costas, rumando para a sua casa.

La dentro a Luazinha gritava…Solte-me…Solte-me…Solte-me! Mas ele não entendia a língua das luas, e continuou andando.

Mãe Lua ficou preocupada com a demora da filha,… e quando amanheceu cruzou nos céus com o Sol seu pai, contou a ele, que respondeu…

Vai demorar tempo para que eu volte a encontrar você, Lua mãe,pode sair do céu para procura-la, disse queimando de raiva.

Assim Dona Lua ficou encarregada de aparecer de dia , para procurar a Luazinha.

Chegando em casa o catador de latas, colocou o saco em um canto da casa, e foi deitar.Não jantou nem nada.A mulher e a filha , curiosas, foram mexer, e quase correram quando abriram o saco, e a Luazinha brilhou iluminando a sala. _- Mãe que coisa linda! Quero esta coisa linda para mim. – Não de manhã , vamos vender este pedaço de luz para o homem que conserta aqueles relógios de parede de mostradores bonitos e luminosos, deve ser parte de um deles.

Ficou assim combinado. Não foram dormir sem antes enrolar a Luazinha, em um monte de panos velhos, e guarda-la para de manha ir procurar o relojoeiro.

Este, quando lá chegaram, de manhã, olhou com a lupa, fechou as cortinas para melhor observar o brilho.

– Não é parte de relógio, ou outro aparelho que eu conheça, não me interessa , podem levar de volta…Disse !

As duas começaram a enrolar a Luazinha nos trapos em que haviam-na trazido…e ela gritavam…Deixem-me ir…Deixem-me ir…mas elas não conheciam língua de lua, e ficou por isso mesmo.

A mãe não se deu por vencida, e correu para o comprador de velho ferro. Chegando lá lhe mostrou o objeto redondo e luminoso de brilho tão lindo. Ele mexeu, mexeu, usou a marreta , usou o esmeril, e por fim o maçarico.

– Não me interessa, podem levar, para mim não tem utilidade nenhuma.

Elas voltaram a embrulhar a Luazinha nos trapos. Soltem-me…Soltem-me…pedia a Luazinha. Mas elas não entendia língua de lua ,e foram embora com ela embrulhada.

A mãe disse…não podemos chegar novamente com isso em casa.seu pai vai nos bater se souber que mexemos nas suas coisas.

Resolveram então jogar o embrulho em um campinho de futebol, onde alguns meninos soltavam pipas.

Um deles se aproximou, desmanchou o embrulho, e tomou um tremendo susto com aquela esfera colorida, e fulgurante, que mudava de cor, de forma, de brilho, a todo o momento. Que seria aquilo?

A Luazinha gritava…Solte-me…Solte-me…Solte-me…e eles como entendiam língua de lua, conversaram com ela.

Depois de ouvirem-na em silêncio, ficaram pensando o que fazer.

Não podiam chamar seu pai, o Sol , que já brilhava no céu, pois ele ao vir busca-la, derreteria tudo na terra.

Nem por sua mãe que a esta hora estava doutro lado da terra.

Então resolveram amarrar a Luazinha na linha de uma de suas pipas, e faze-la chegar ao céu.

Para ajudar sopraram com toda a força de seus pulmões, com tanta força que desmaiaram…

Quando despertaram, correram assustados para casa, perceberam que falando entre si, se entendiam perfeitamente, mas que ao falarem com outras pessoas, e pessoas da família, não eram entendidos, e espantavam-se com a cara de espanto que elas faziam.

Isto demorou muitos dias, para dar o tempo de se fazer Lua Nova de novo, e a Lua Mãe desceu um luar que lhes adormeceu, e lhes fez esquecer a língua de Lua.

Noutro dia já começaram a falar, e serem entendidos por todos.

A Luazinha ficou feliz pois tudo havia terminado bem.

E quando passeando pelo céu, vê as pipas que eles continuam a empinar, as poças d’água, e o catador de latas, abre um enorme sorriso, que se espalha como luz brilhante para a alegria da escuridão da rua.

* Do livro “A Pizza Literária” (Décima Quinta Fornada) – Rumo Editorial – 2018 – São Paulo.

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