Marieta (texto experimental & tal de Ronaldo Rodrigues)

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Marieta subiu na carreta nem se importando com as caretas das ninfetas que ficavam à tarde no maior alarde com suas lambretas pretas estacionadas na sarjeta.

Avistou o monge lá longe, sozinho no caminho de espinhos.

Notou seu cansaço e seu passo lasso em descompasso.

Ele atravessava o deserto com seu andar incerto, espantando os insetos.

Marieta ofereceu uma carona e o monge aceitou na hora sem demora.

Ele que não era ingrato, de bom grado, dizendo obrigado, embarcou naquele caminhão grandão que transportava gente carente pelo sertão.

Marieta seguiu então em direção ao rio, cruzou a ponte e o mirante, descortinando um novo horizonte e embarcou mais três pessoas que andavam à toa, ao léu, tendo por testemunha só chão e céu.

Marieta desde menina franzina cumpria aquela sina de peregrina transportando gente de todo lugar sem nunca cansar nem pensar em parar.

Um dia haveria de parar e como o povo iria se virar?

O caminhão percorria o chão do sertão e estava quase para deixá-la na mão.

Quando o caminhão então de supetão parasse de vez, Marieta continuaria a pé, ela e sua fé, que nunca deu marcha-ré, carregando gente pela mão.

E se seu corpo cansasse e cessasse sua respiração não faltaria inspiração.

Continuaria na outra vida ajudando a multidão a encontrar a direção.

Seria uma santa dirigindo uma jamanta giganta carregada de boa intenção.

Ronaldo Rodrigues

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