Mário Sérgio – O “Vesgo” – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

O futebol brasileiro  apresenta vários nomes todos os anos, poucos fazem história por várias rivais, sendo reconhecido por várias torcidas como gênio. Mário Sérgio Pontes de Paiva é sem dúvida alguma,  um desses singulares casos.

Cria da Gávea tinha tudo para despontar como mais um craque formado pelo celeiro que mostrou ao mundo Zico, Adílio e Junior dentre outros daquela geração de ouro, mas seu temperamento forte não o deixaram permanecer no time rubro negro.

Oriundo do futebol de salão, tinha uma técnica expirada, como um verdadeiro craque conduzia suas equipes sempre da forma mais ofensiva, muitas vezes fora acusado de ser “fominha”, por puxar o jogo para si e prender muito bola, mas de seu pé canhoto sempre saia algo espetacular, passes que rasgavam o tapete verde e encontravam atacantes ávidos por marcar gols.

Foram 13 camisas vestidas, treze torcidas apaixonadas, títulos nos principais campeonatos do Brasil, e o mundo conquistado em uma carreira de 18 anos  marcada por polêmicas e muito futebol.

Vestiu vermelho e preto na boa terra, e pelo Vitória levantou o campeonato baiano de 72, suas boas atuações o trouxeram de volta ao Rio de Janeiro, para ser uma das principais engrenagens da primeira máquina tricolor, e junto de Rivelino e Edinho levantaram o estadual de 75 e no ano seguinte o bi campeonato. Mas uma indisposição com o mandatário tricolor o fizeram vestir o alvinegro ainda em 76. Pelo Botafogo que tinha formado um senhor time “problemático”, mas bom de bola, com Dé, Renê e Paulo Cesar, esse escrete da estrela solitária foi apelidado de “Time Camburão” pelo jornalista Roberto Porto, que além de escriba também era um botafoguense dos bons.

Mário Sérgio chega para vestir  vermelho no sul do país, a pedido de ninguém menos do que de Falcão. No Internacional foi fundamental na conquista do nacional de 79 de forma invicta. Suas jogadas espetaculares faziam a festa de Bira e realmente o time sobrou em campo de forma absoluta naquele ano. Em 80 chegou a disputar a final da Libertadores, o título não veio, mas com a saída de Falcão para ser o Rei em Roma, tornou-se o principal jogador da equipe que ainda levou o gauchão de 81.

Sua idolatria conquistada por méritos próprios no Internacional não o impediram de vestir as cores do Grêmio, sua habilidade singular o fizeram ditar o ritmo do jogo mais importante da historia do time do olímpico,  O Vesgo, deixava os marcadores alemães extremamente confusos com seus passes, olhar para um lado e lançar para o outro, melhor jogador da partida foi Renato, mas pelos gols, claro o mais importante , mas Mário Sérgio foi sem duvida alguma o responsável central pelas jogadas que pintaram o mundo de tricolor em 83, foi apenas um jogo que trouxe a maior conquista do Grêmio de Futebol Porto Alegrense.

No “Grenal” da entrega das faixas, já em 84 vestindo vermelho novamente recebeu a faixa azul do mundial e foi aplaudido e ovacionado pelas duas torcidas, fato que mostrou toda sua idolatria no sul, ídolo marcante tanto de Colorados e Tricolores.

No Verdão, foi pego no doping depois de um jogo contra o São Paulo, onde vários jornalistas viram um certo Doutor Marco Aurélio Cunha, médico do São Paulo oferecendo uma famigerada “Soda Limonada” ao jogador, resultado positivo para cocaína lhe rendera um gancho de 6 meses. Mário ainda voltaria a mostrar seu bom futebol ao alviverde, mas o clima não estava mais como no começo e depois de uma passagem pelo Botafogo de São Paulo, o craque foi para a Suíça.

Depois do clima gelado dos alpes, o sol da boa terra novamente, agora vestindo as cores do Tricolor de Aço. Pelo Bahia, Mário já não conseguia acompanhar o ritmo dos outros jogadores, contusões e a idade já cobravam o preço e vestindo a 10, pediu para sair depois de um primeiro tempo na quinta rodada do brasileirão de 87, despediu-se dos jogadores, da comissão técnica e encerrou assim sua notável carreira de jogador profissional.

Mário Sergio, foi um dos melhores canhotos que o futebol brasileiro produziu, jogador diferenciado que por seu temperamento não jogou a copa de 82, substituído por Éder na convocação final, que deu tiros ao alto para assustar a torcida do São José, quando atuava pelo São Paulo, um dos primeiros casos de afastamento por doping no futebol nacional, mas nenhuma dessas manchas chega perto de suas conquistas dentro de campo.

O Vesgo foi sem dúvida um dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos.

Mário Sérgio Pontes de Paiva se foi desse mundo no dia 28 de novembro de 2016 no acidente aéreo  que vitimou a delegação da Chapecoense a caminho da final da Copa Sul-americana.
       
*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia, além de vascaíno.

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